quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Gore Vidal, Polêmico até o Fim - Por Luiz Domingues


Gore Vidal partiu deste mundo no dia 31 de julho de 2012, ao deixar um legado e tanto, no campo da literatura. Os seus romances; ensaios; peças de teatro e roteiros para o cinema, obtiveram uma significativa importância para a cultura norteamericana, sem dúvida, todavia, foi como um ativista político dotado de uma verborragia muito afiada, foi em que ele incomodou o sistema para valer.

Para início de conversa, ele desconfiava da democracia e sobretudo do sistema eleitoral que teoricamente a sustenta e justifica. Uma vez disse : -"parece que um país democrático é um lugar onde são realizadas muitas eleições, a um custo alto, sem discutir questões substantivas e com candidatos intercambiáveis". E foi além : -"de quatro em quatro anos, a metade ingênua da população que vota, é incentivada a acreditar que, se pudermos eleger alguém simpático, tudo ficará bem. Mas não ficará" (existe em tal fala, alguma semelhança com o nosso Brasil-sil-sil ?).

Candidatou-se contudo, duas vezes, em 1960, ao concorrer como Deputado Federal pelo Estado de Nova York, e em1982, ao Senado, pela Califórnia. Perdeu em ambas, mas ainda assim, a revelar-se o candidato democrata mais votado. Sobre George W. Bush, sobre quem naturalmente detestava, fez duras críticas à época dos ataques de 11 de setembro. Um artigo seu, publicado no jornal britânico, "The Independent", gerou uma enorme polêmica, pois Vidal afirmou com todas as letras, que Bush sabia dos ataques antecipadamente e ao traçar assim um paralelo com Roosevelt, que supostamente também sabia de antemão que os japoneses atacariam Pearl Harbour, em 1941. E claro, que ambos os presidentes ganharam vantagem política em cima da vitimização e comoção pública em torno dessas ocorrências.

A alfinetar como sempre, disse uma vez que : -"A América fora inventada por homens inteligentes que nunca mais foram vistos depois de Kennedy"...

Ele mantinha os seus desafetos, também no mundo literário. Brigava constantemente com Truman Capote, que supostamente provocou-o primeiro, ao declarar que Vidal tinha sido expulso da Casa Branca por estar embriagado e ter insultado a mãe de Jackie Kennedy. Vidal retrucou, ao responder : "Capote elevou a mentira à condição de arte, uma arte menor"...

Suas brigas acabaram no tribunal, onde chegaram a agredir-se fisicamente e após muita discussão de seus advogados, fecharam um pacto de não agressão. Contudo, quando Capote faleceu, Vidal ironizou, a dizer : "uma boa iniciativa profissional"...

Com Norman Mailer, foi ainda pior, pois ambos trocaram socos em numa festa. A reação de Vidal foi dizer que : -"faltava palavras a Mailer". É histórica também, a cabeçada que Mailer desferiu em Vidal nos bastidores de um programa de TV, onde encontraram-se. Será que foi daí que Zinedine Zidane teve a ideia ? E o motivo da cabeçada teria sido o fato de Vidal ter comparado Mailer a Charles Manson !

Sobre Jack Kerouac, foi cáustico ao afirmar :- "isso não é escrever, é datilografar"...


Convidado a contribuir na roteirização desse filme épico, "Ben Hur", ele teria declarado que insinuara nas entrelinhas que os personagens Ben Hur e Messala tinham tido uma relação homossexual no passado, o que justificou a animosidade entre os personagens, ao culminar na famosa cena de luta em bigas. O ator, Charlton Heston, que interpretou, Ben Hur, negou veementemente que tenha construído o seu personagem baseado em tal premissa. As suas brigas com jornalistas também entraram para a história. Com William F. Bucley, o embate acalorou-se quando este o chamou de : "veado", ao vivo na TV, com Vidal a retrucar que Bucley seria um "criptonazista". Com a discussão a agravar-se, os produtores da TV, chamaram os comerciais...
O crítico, Harold Bloom, certa vez declarou : -"a imaginação de Vidal sobre a política norteamericana é tão poderosa que produz reverência"...
Viveu posteriormente mais calmo, na Itália, por muitos anos, onde foi amigo pessoal do filósofo, Ítalo Calvino e Federico Fellini (Vidal fez uma aparição como figurante no filme : "Roma"), e gerou polêmica apenas quando mandou retirar o seu nome como roteirista dos créditos do filme, "Calígula", quando percebeu que o polêmico diretor, Tinto Brass, com a concordância do ator britânico, Malcolm McDowell, tencionava inserir cenas de sexo explícito na edição final da obra.
E assim foi embora, Gore Vidal, reconhecidamente um bom escritor, mas que notabilizou-se muito mais por suas provocações incisivas.
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica e posteriormente republicada no Blog  Pedro da Veiga, ambas em 2012

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