quarta-feira, 17 de outubro de 2012

TBC, Revolução no Teatro Paulista - Por Luiz Domingues



Em 1948, o produtor e empresário, Franco Zampari, fundou o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), no coração do bairro da Bela Vista, o popular, "Bexiga", em São Paulo, capital. Importante marco na história da dramaturgia brasileira, esse teatro paulistano fez história e contou muitas histórias, sobretudo, por muitos anos, através de importantes espetáculos teatrais.
Em seus palcos (eram cinco salas em único prédio, inovador e moderno, para o final dos anos 1940), desfilou centenas de atores que brilharam na dramaturgia nacional e que posteriormente também migraram para estabelecer carreiras no cinema e na TV.
Do sucesso do TBC, surgiu a ideia para criar-se a Companhia cinematográfica Vera Cruz, outro empreendimento de Franco Zampari. Foi durante a noite do dia 11 de outubro de 1948, que o TBC iniciou as suas atividades com uma jornada dupla de teatro. Os espetáculos foram : "A Voz Humana", texto monólogo do diretor de cinema mundialmente famoso, Jean Cocteau e interpretado pela atriz francesa radicada no Brasil, Henriette Morineau; e "A Mulher do Próximo", texto de Abílio Pereira de Almeida, interpretado por Cacilda Becker.
A jornada dupla de teatro foi aclamada pelo público presente e recebeu entusiasmadas críticas da imprensa da época. O auge criativo do TBC deu-se entre 1948 e 1964, quando implantou-se a ideia de uma companhia organizada de teatro, com repertório e fechada no ideal de cooperação total entre diretores; atores & técnicos.
Nos seus anos de ouro, chegou a reunir um elenco invejável de atores, entre os quais : Cacilda Becker; Walmor Chagas; Tonia Carrero; Fernanda Montenegro; Dionísio Azevedo; Cleyde Yáconis; Nydia Lícia; Nathália Timberg; Paulo Autran; Sérgio Cardoso; Ítalo Rossi; Sérgio Britto; Tereza Rachel etc.
Com a mão forte de Franco Zampari, muitos diretores e técnicos europeus foram contratados. Adolfo Celi; Luciano Salce; Ruggero Jacobbi; Ziembinsky; e Gianni Ratto, entre outros diretores que fizeram história no teatro e cinema do Brasil.

Mas nem tudo foi flores e houve a ação de seus detratores. Os opositores reclamavam de um certo conservadorismo na escolha dos textos e pelo excesso de peças estrangeiras encenadas. De tanta pressão, o TBC passou a adotar uma postura mais nacionalista, já a partir da segunda metade dos anos cinquenta, ao encenar textos escritos por autores brasileiros, quase em pé de igualdade com os estrangeiros, em seu repertório. Entrou assim o trabalho de dramaturgos tais como : Dias Gomes; Gianfrancesco Guarnieri (este um italiano de nascimento, mas radicado no Brasil, há muitos anos; Jorge Andrade, e a única prata da casa desde o seu início, Abílio Pereira de Almeida.
O mesmo processo nacionalista foi ofertar chance a uma nova safra de diretores genuinamente brasileiros, com oportunidades a surgir para jovens talentos como : Flávio Rangel e Antunes Filho, por exemplo.
O Teatro passou por períodos de fechamento e reaberturas, mas nunca mais conseguiu suplantar o seu apogeu de seus primeiros anos de atividade, como sede de um grupo ativo e muito unido. Infelizmente fechado neste momento (2012), agora mostra-se apenas como um prédio velho na Rua Major Diogo e muita gente que passa apressadamente em sua calçada, hoje em dia, nem suspeita que outrora tenha sido um grande templo do teatro paulista e brasileiro.
Mas há uma luz no fim do túnel... a Funarte (Fundação Nacional de Artes, vinculada ao Ministério da Cultura), pretende reformar o velho TBC e tramita nos órgãos federais o projeto que moderniza-lo-á.
Das cinco salas antigas, haverá, possivelmente, uma redução para três, ao ampliar a capacidade de cada uma, como uma espécie de compensação. Outorgo o meu voto de confiança, ao esperar que esse projeto saia do papel e concretize-se ao final de 2013, conforme a projeção oficial prometida. Receberei de braços abertos esse resgate do patrimônio cultural de São Paulo.

Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu e republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012.

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