quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Revista Música - Por Luiz Domingues


Uma pequena editora sediada na zona oeste da cidade de São Paulo, e ligada a um conservatório musical, produzia uma revista muito popular nos anos setenta, chamada: "Violão & Guitarra.

Apelidada como: "Vigu", foi sucesso entre estudantes de violão e guitarra, principalmente entre os iniciantes, pois a sua base editorial foi a publicação de letras de músicas populares do dito "Hit Parade", com a respectiva harmonia musical super simplificada através de cifras e indicações de como se montar os acordes, mediante o desenho dos dedos nos trastes do instrumento. Apesar das críticas de muitos músicos por se considerar as harmonias propostas muito equivocadas, o fato é que muita gente aprendeu o básico da digitação ao violão & guitarra, por consultar tal publicação.
Ao avançar como escola de música (Grupo AMA), a sua produção animou-se com o mercado editorial então vibrante, que apresentava uma profusão nas bancas através de publicações como a revista "POP", e a "Rock, a História e a Glória" e assim se propôs a lançar então, em 1976 , a revista: "Música".

A proposta editorial apresentou alguns diferenciais em relação à concorrência, todavia.  Se na revista, "Rock", o texto tinha conteúdo contracultural, acrescido de muita paixão explícita pela música e o Rock em específico, e na "POP", o fator comportamental da juventude classe média fora o seu mote, para a revista, "Música", a ênfase foi um texto mais rebuscado e preocupado em mostrar aspectos técnicos, tanto tecnológicos em relação aos instrumentos e equipamentos, quanto à parte didática da teoria musical, no afã de se explicar a performance de músicos famosos, mas principalmente a dar vazão à propaganda subliminar da escola de música que era o seu carro chefe como empreendimento do grupo que a criara.  

E no campo da apresentação do lay-out, mesmo ao ser impressa em preto e branco, a "Música", continha uma boa diagramação e uso de ilustrações fartas.

E ao seguir mais a linha do jornal anexo da "Rock" (Jornal de Música), e o encarte da "POP" (Hit Parade), era aberta a muitas vertentes da música, embora o Rock, incluso os seus representantes brasileiros, tivesse farta cobertura, exatamente por estar em um momento ainda em alta no meio artístico daquela época. 

Nesse caso, os pontos mais positivos ficaram por conta da cobertura de shows ao vivo e resenhas de discos, mesmo ao levar-se em conta que os seus articulistas mostravam-se mais exigentes nos aspectos técnicos do áudio, do que seus colegas de outras publicações, mais atentos ao valor artístico em si.

A meu ver, esse grau de perfeccionismo deu-se por conta da valorização do aspecto didático, que foi a especialidade da casa, visto que a publicação era o braço jornalístico de uma escola de música, e dessa forma, precisavam mostrar serviço nas análises mais profundas a respeito tanto da performance dos músicos, pelo ponto de vista da teoria musical, quanto na questão técnica dos equipamentos e instrumentos usados e assim a dar vazão às matérias técnicas que alimentavam as páginas das revistas e atraíam patrocinadores da indústria de instrumentos e equipamentos. 

Havia quem não gostasse de tanto rigor e mesmo que particularmente eu prefira a escrita da "Rock", bem mais leve e antenada no aspecto contracultural da produção artística da época, essa formalidade de professor de música/técnico de áudio não incomodou-me exatamente e eu achava e ainda acho, que uma visão paralela e diferente, só enriquecera o manancial de informações sobre um mesmo assunto.  

Ao seguir nessa linha, a "Música" concedia muitas notas sobre instrumentos e equipamentos, ao citar até a cotação de preços nos mercados de São Paulo e Rio de Janeiro, matérias técnicas a falar sobre testes tecnológicos etc.

E claro, houve o aspecto didático também, a aproveitar a sua expertise adquirida com a popular revista, "Vigu", publicava-se igualmente cifras e letras de músicas de sucesso, só que mais selecionadas, para priorizar o Rock e a MPB com qualidade, principalmente.
Uma edição muito comentada foi a que trouxe uma matéria boa com George Harrison, em 1979, quando o ex-Beatle veio ao Brasil quase secretamente para assistir o GP de Fórmula 1 no autódromo de Interlagos, em São Paulo. O boato espalhou-se, apesar dele estar incógnito, praticamente, o fato foi que a reportagem da "Música" foi atrás, como um dos poucos veículos que percebeu esse visitante ilustre a respirar o ar tupiniquim, além de ter acontecido uma entrevista para o programa "Fantástico", da Rede Globo, que ele concedeu e com isso, alvoroçou os fãs.

A revista pôs-se a perder o fôlego, no entanto, e já não conseguia enfrentar a sua maior concorrente ao final da década de setenta e início de oitenta, a "Som Três". Com mais estrutura, a "Som Três" prevaleceu e a "Música" fechou as sua portas em 1983.  

A pequena "Editora Imprima", mesmo fragilizada financeiramente, persistiu ainda um pouco mais ao lançar outras publicações nos anos oitenta, como as revistas: "Rock Stars", "Rock Show" e "Rock Passion", mas que também sucumbiram, infelizmente.

Em seus anos mais profícuos na década de setenta, a "Música" teve as suas matérias assinadas por jornalistas tarimbados, tais como: Nico Pereira de Queirós e Rafael Varella Júnior, entre outros. Matérias técnicas foram assinadas por convidados. Geralmente músicos e técnicos gabaritados. Gente de quilate como: Tony Osanah, Claudio Lucci, Nelson Ayres, Egydio Conde e maestros como Fausto de Paschoal, e Ettore Pescatore, por exemplo.

Os editores eram os irmãos Victor Biancardi e Oswaldo Biancardi Sobrinho, também donos do "Grupo AMA", uma escola de música que vendia a ideia de possuir uma concepção didática moderna, embora fosse apenas um conceito repaginado de um conservatório musical tradicional, fundado pelo pai deles, o velho Biancardi.  

Eu mesmo, Luiz Domingues, tive uma passagem rápida pelo Grupo AMA, quando ali estudei por alguns meses de 1977. O meu professor era de fato, bom, por ser baixista de uma banda de baile famosa na época (Phobus), mas a sua didática não cativou-me. Os únicos aspectos estimulantes de suas aulas na minha percepção foram: 

1) Ele usava o baixo dele para ministrar a aula e eu mais delirava do que focava nos exercícios, com aquele espetacular Fender Jazz Bass, modelo Sunburst, igual ao do John Paul Jones em minhas mãos iniciantes... e...

2) Ele estava obcecado pelo novo álbum do Stevie Wonder à época e só queria ensinar as músicas do LP "Songs in the Key of Life", que era (é !) demais. Uma pena que eu fosse um mero principiante nessa ocasião e não conseguia acompanhar tocar tais linhas sofisticadas como gostaria...

A Revista "Música" foi uma boa publicação naquela metade para o final da década de setenta, e certamente contribuiu bastante para a cena, naquele período.

Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie e republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012

4 comentários:

  1. lembro muito bem dessa grande Revista;MUSICA.Uma pena que acabou , a som acabou, a pop acabou, a Rcok acabou , a Roling Stone brasileira (acabou em 73), mas temos hoje grande revista no mercado , mas como sou da ||||Old School fico com o Bento da POEIRA ZINE.

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    1. Muito legal, Oscar !

      Realmente, a revista Música teve um importante papel no panorama dos anos setenta.

      Todas as revistas que citou, foram muito importantes também, e seguiram os ventos da época ao encerrarem as suas atividades, pois o ambiente tornou-se hostil para o Rock, infelizmente.

      Concordo contigo, a Revista Poeira Zine é atualmente, a melhor revista de Rock do Brasil, e resgata com muita qualidade, o padrão das revistas setentistas que citou.

      Obrigado por ler e comentar !!

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  2. Estou à procura dessas coleções de revistas... Quem tiver e quiser vender, entre em contato comigo, por favor! (tinoteacher@hotmail.com)

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    1. Olá, Tino !

      Antes de mais nada, quero agradecer-lhe por ter visitado o meu Blog. E fica aí a dica para quem puder disponibilizar exemplares dessa histórica revista publicada nos anos setenta, o Tino deixou seu contato, via E-mail.

      Grande abraço !

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