domingo, 7 de outubro de 2012

Kombi, Momentos Finais - Por Luiz Domingues


O Volkswagen, vulgo "fusca", foi durante muitos anos, o carro mais popular do Brasil. Tanto é verdade, que mesmo vencido pelos modelos mais avançados que deixaram-no obsoleto nos anos oitenta, ele teve uma tentativa romântica em ser reeditado, por parte do ex-presidente, Itamar Franco.
Contudo, sucumbiu, enfim, vencido pela concorrência de veículos mais tecnologicamente projetados para os novos tempos. O mesmo fenômeno ocorre com a Kombi, o furgão mais tradicional do Brasil.
Carro de trabalho para toda obra, a Kombi acompanhou e contribuiu decisivamente com o processo de industrialização do país.
Devemos considerar que este veículo colecionou queixas também, através dos anos. Por exemplo, muitas pessoas chamavam-no como : "fogueira sobre rodas", a estabelecer uma alusão ao fato de ser um carro exposto a essa possibilidade incendiária, justamente pela colocação do seu motor, próximo ao tanque de gasolina, principalmente.
E a Kombi também era temida por muitos motoristas, por conta de sua frente achatada, ao representar uma autêntica "casca frágil", incapaz de proteger o condutor e o passageiro da frente, nos impactos frontais mais contundentes. Porém, nem assim deixou de ser o furgão mais popular do Brasil, por décadas.
Inicialmente, o projeto da Kombi não despertou muito interesse dentro da Volskwagen. Ao contrário do que muita gente pensa, não foi Ferdinand Porsche que fez o projeto do furgão.

Ele criou o fusca (há controvérsia também nesse caso, ao contestar-se a história oficial, pois há quem diga que o projeto do fusca foi de um engenheiro judeu e por conta da ascensão do nazismo na Alemanha, ele teria sido surrupiado e entregue para Ferdinand assiná-lo e assumir os louros da vitória, dessa maneira). No caso da Kombi, foi um engenheiro holandês chamado, Ben Pon, quem projetou-a, mas como a fábrica estava a ser supervisionada por técnicos britânicos, que ocupavam postos estratégicos no país como esforço de reconstrução dos Aliados no pós-guerra, o projeto não impressionou-os em princípio. Nessa época, o protótipo chamava-se : "Typ 2".
Foi só em 1950, com a direção da fábrica a voltar aos executivos alemães, que a produção do furgão refrigerado a ar, como o fusca, foi aprovada e o nome "Kombi", é na verdade, uma abreviação de "Kombinationfahrzeug", que sob uma tradução livre do alemão, significa : Veículo de uso combinado". Quase simultaneamente, começou a circular pelas ruas brasileiras, ainda como veículos importados da Alemanha, mas em 1953, a montadora, Brasmotor, começou a produzi-la no Brasil.

A Brasmotor representava a Chrysler no Brasil e também era responsável pela produção de refrigeradores e lavadoras da marca Brastemp. Nesse início, a Brasmotor apenas montava em pequena escala, a utilizar as peças vindas da Alemanha, através de uma parceria com a Volkswagen.
Quando a Volkswagen entrou no Brasil e começou a produzir em larga escala, a partir de 1957, a Kombi já era 100 % feita com peças brasileiras. Foram os anos de ouro do furgão, que reinou absoluto no mercado brasileiro durante as décadas de sessenta; setenta e oitenta.
Quando começou a circular no Brasil as modernas vans de diversas outras montadoras internacionais, a Kombi perdeu terreno diante de modelos tecnologicamente muito mais avançados, todavia, mesmo assim, o consumidor brasileiro ainda a prestigiou por muito tempo, vide os números em torno de sua vendagem.
Apenas duas mudanças significativas foram feitas na Kombi, uma em 1975 e outra remodelagem em 1997. Mas na prática, foram mudanças tímidas que pouco avançaram no processo de modernização do veículo. Agora, a Volkswagen acena com o fim definitivo da Kombi. Isso por que a partir de 2014, a nova norma do governo exigirá que as vans saiam de fábrica com Air Bag e freios ABS.
Com a tradicional estrutura da Kombi, testes estão a redundar em fracassos nessa tentativa de adequação e sendo assim, a VW prefere tirar de linha o seu furgão histórico, para lançar a seguir um novo veículo, tecnologicamente moderno e capaz de enfrentar os seus concorrentes, e quiçá superá-los.
E o mesmo caminho está a delinear-se para o Fiat Uno Mille, que padece da mesma dificuldade de adequação à nova exigência governamental.
Sendo assim, estamos no limiar do fim de uma Era, onde possivelmente deixaremos de ter a nossa simpática "perua" com aspecto de uma torradeira de pão, a circular pelas ruas brasileiras.

Matéria publicada inicialmente no Blog Pedro da Veiga, em 2012

2 comentários:

  1. Ainda terei uma Kombi com cortininhas na janela.

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    1. Puxa, a velha "Kombosa" é insuperável, mesmo.

      Grato por ler e comentar, amiga Jani !

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