terça-feira, 23 de outubro de 2012

Ofensa Inadmissível - Por Luiz Domingues



O Oriente médio já passava por uma fase turbulenta pela epidêmica "primavera árabe", com diversas ditaduras a ser destituídas de seu poder. Como se não bastasse toda a tensão desses eventos e a permanente animosidade em relação a Israel e a causa Palestina (com Ahmadinejad sempre com um dedo em riste, e outro no botão de uma bomba), eis que surge um fato novo para atear fogo em um depósito de pólvora.

O filme que gerou protestos veementes entre os muçulmanos, chamado : "A Inocência dos Muçulmanos" ("Innocence of Muslims"), foi esse fator agravante. Para início de conversa, o filme é tecnicamente horroroso. Produção classe "Z", não serve nem para o circuito trash do mais abissal patamar underground.

Em segunda análise, o produtor / diretor dessa obra, agiu com má fé em relação aos atores, pois na edição final, os nomes dos personagens e diálogos foram adulterados de forma a apresentar-se de uma maneira totalmente diferente do que os atores acharam que seria.
Muitos, inclusive, entraram com processo na justiça, pois sentiram-se lesados com as adulterações grotescas realizadas, e que dessa forma, os expõem de uma forma aviltante.
E no terceiro aspecto, é clara a intenção de tal produtor / diretor em insultar o profeta Maomé; o Islã e os seus seguidores. A liberdade de expressão é uma prerrogativa salutar no exercício da arte, mas dentro de limites éticos, naturalmente. Ao extrapolar os ditames do bom senso, esse senhor partiu para o insulto, propriamente dito, ao exprimir a sua opinião pessoal a cerca de sua queixa para com a religião islâmica, ao conspurcar grotescamente a imagem do profeta Maomé.
Mesmo ao condenar a violência de radicais e nesse caso, quarenta mortes é um saldo insuportável para ser contabilizado, o fato é que a provocação foi um duro golpe no coração dessas pessoas e só podemos lamentar que tenha sido perpetrada por um irresponsável. Claro, não foi uma brincadeira de adolescente que não mediu consequências. O cidadão sabia que causaria uma fagulha explosiva e foi fundo em sua determinação. 


O FBI está em cima e quer respostas. A família do embaixador norteamericano, brutalmente assassinado, não vai contentar-se com um lacônico pedido de desculpas e por aí vai. 

Curioso, mas tal ação ocorre em meio a uma acirrada disputa eleitoral na América (referi-me ao pleito de 2012), onde a tendência de Barack Obama permanecer incomodou a oposição republicana formada pelos conservadores de plantão. Não estou a estabelecer  nenhuma insinuação leviana, mas esse vídeo bombástico que acirrou o ódio aos Estados Unidos entre os muçulmanos, interessou para quem ?  Foi um ato deveras imprudente e tornou-se muito surreal que fosse apenas uma manifestação de um cidadão árabe de declarada religião cristã copta, que sente repúdio ao Islã por razões pessoais. É muito prosaico achar que ele quis expressar "artística e pessoalmente" a sua diferença, sem medir as consequências desse ato.

Nos próximos dias, respostas mais convincentes deverão vir à tona. Sam Bacile, Nicola Bacily ou seja lá quem for esse cidadão, vai ter que esclarecer melhor as coisas. Para encerrar, repudio esse vídeo abominável, horroroso enquanto peça de cinema, e inadmissível como ofensa à fé de milhões de pessoas e principalmente à religião Islâmica e ao profeta Maomé.

Lembro-me das palavras do Papa Bento XXI, proferidas cerca de dois anos atrás : "Somos todos Abrâmicos"... fato inquestionável, as três religiões, cristianismo; islamismo & judaísmo, tem a mesma origem.
Não há sentido em manter um clima hostil entre três, das cinco maiores religiões do planeta. Deixo os meus respeitos aos amigos islâmicos.
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica e republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012.

2 comentários:

  1. È o seguinte: Os islâmicos são muito duros em relação a religião. Um filme que defendo até a morte e muitos interpretam mal é a Ultima tentação de Cristo, mas nesse caso o filme do Maomé foi mesmo ofensivo, eles estão acostumados a insultar a religião alheia e contar com a tolerância mas não pensaram que em certas culturas as coisas são resolvidas é na bala mesmo. Infelizmente, a religião sempre trazendo violência, acho que devemos acreditar em Deus mas sem nos prender a tabus pois termina nessas coisas. O Filme nem vale a pena ter causado todo esse caos, pois é um filme bem ruinzinho e amador, mas agora só resta lamentar pelas pessoas mortas.

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    1. Edvander :

      Você tem toda a razão, meu amigo. E por serem fundamentalistas, o mais coerente é não mexer com eles e foi exatamente o que o tal do Sam Bacile fez, óbviamente de forma deliberada, para provocar a confusão que causou.

      Há de se lamentar a quantidade de mortes, certamente nenhuma justificável, mas infelizmente, nada podemos fazer para reverter tais perdas.


      E quanto ao filme, concordo novamente contigo : Trata-se de uma peça desprezível do ponto de vista cinematográfico. Já assisti cinema amador feito por adolescentes, com muito mais qualidade e criatividade.

      Obrigado por ler e comentar !!

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