Muito mais inspirado no modelo norte-americano pró-establishement, centrou as suas baterias no modelo de uma juventude classe média e essencialmente preocupada com o vai-e-vem da moda, comportamento, escolha de carreira, dúvidas sobre sexo, questões escolares, conflitos entre pais & filhos e afins.
De uma certa maneira, pode-se dizer que a "Pop" antecipou em quatro décadas, o universo jovem que a Globo retratou em sua novela quase permanente, "Malhação". Todavia, como foi criada no início dos anos setenta, a revista "Pop", mesmo ao não apresentar o melhor enfoque, esteve inserida em uma época sensacional sob o aspecto artístico e cultural, e dessa forma, quando o assunto em suas páginas foi arte e sobretudo, música, tornou-se praticamente impossível não falar sobre artistas bons, seja no campo do Rock, na MPB, Black Music, ou qualquer outra vertente da época.
Com o respaldo de uma editora forte, teve no seu acabamento gráfico, um trunfo e tanto. Contudo, mesmo ao não ostentar no texto a profundidade e sobretudo a paixão que sobravam na "Rolling Stone" brasileira, e principalmente na revista, "Rock, a História e a Glória", não posso de forma alguma dizer que tratou-se de um texto pobre, pois grandes jornalistas passaram por sua redação. Digamos que a linha editorial mais branda, fora uma escolha proposital da casa.
De fato, a editora Abril era uma empresa que seguia a linha de pensamento editorial dos grandes conglomerados de comunicação norte-americanos. E portanto, a visão de juventude que tinham, seguia esse padrão a observar o "american-way-of-life". Isso refletiu-se na revista "Pop" de forma incisiva, pois em sua existência, entre 1972 e 1979, a revista não falou uma só palavra sobre política.
Apenas em sua fase final, em 1979, mencionou a questão da anistia, ainda assim, de uma forma discretíssima. Mas nos anos duros do regime totalitário de então, a "Pop" não deu uma linha sobre o assunto, ao preferir seguir em um mundo jovem e deveras alienado, ao retratar o seu leitor padrão como alguém preocupado exclusivamente com questões juvenis, tais como sexo, educação, moda etc. Todavia, calma, leitor, pois é claro que a "Pop" teve seus méritos!
Com profusão de fotos e lay-out moderno aos padrões setentistas, a "Pop", de certa forma foi a nossa "Circus", esta, uma revista norte-americana rica em ilustrações, e com um enfoque do Rock na linha de revistas de cinema de celebridades, mais centrado nas fofocas de bastidores.
Enquanto na "Rolling Stone" brasileira ou na "Rock, a História e a Glória", foram usuais entrevistas publicadas com Bob Dylan ou Mick Jagger a revelar fatos bombásticos, certamente na "Pop", o enfoque seria a última festa de arromba na mansão de Rod Stewart, onde Elton John e Keith Moon entraram de Rolls Royce dentro da piscina, se é que me entendem...
Mas havia um expressivo número de matérias boas também, pois como já disse, a equipe de redação era de primeira, com jornalistas como: Leon Cakoff, Pink Wainer, Caco Barcellos, Okky de Souza, Ana Maria Bahiana, Maurício Valladares, José Emilio Rondeau, Ezequiel Neves, entre outros, além das ilustrações de Decio Ambrosio e Lincoln Baraccat.
Uma coluna assinada por um jornalista misterioso, marcou época nessa revista. Tratou-se da coluna denominada: "Pergunte ao Guru". Esse misterioso personagem respondia cartas dos leitores, com questões de diferentes motivações e que partiam do Rock aos tabus do sexo. Com uma boa dose de ironia, e a fazer uso das gírias da época, foi uma diversão garantida ali publicada a cada edição.
Hoje em dia (2012), a coluna "Pergunte ao Guru" está revivida nas páginas da Revista Poeira Zine. Eu desconfio qual seja a verdadeira identidade do "Guru" da "Pop" e que voltou a escrever na "Poeira Zine". Trata-se de um velho e bom jornalista Rocker, mas não vou revelar a sua identidade, evidentemente, haja vista que ele manteve o pseudônimo nesses anos todos, exatamente para se preservar..
Eu gostava muito das reportagens sobre bastidores do cinema. Ao antecipar lançamentos, a "Pop" publicava matérias sobre a pré-produção de filmes muito significativos a resvalar ou mesmo estar explicitamente na órbita da contracultura, com fotos incríveis dos bastidores das filmagens, entrevistas com o diretor, atores e produtores.
Foi nas páginas da "Pop" que eu soube que filmes como: "Jesus Christ Superstar", "Godspell", "The Rocky Horror Show", "The Phantom of the Paradise", "The Wiz", "Tommy" e "Lisztomania" entre outros, que estavam a ser produzidos, o que deixava-me com uma enorme expectativa para assisti-los, e ao mesmo tempo a amargar uma longa espera visto que sempre ocorria com aquele substancial atraso em termos de estreia no Brasil, infelizmente.
Certamente, as reportagens sobre cinema foram obra do saudoso, Leon Cakoff, cinéfilo inveterado, e que foi o responsável pela criação da hoje consagrada: "Mostra Internacional de Cinema de São Paulo", já a partir ainda dos anos setenta.
Porém, os mais emblemáticos mesmo, ficaram marcados como o do Roger Daltrey, extraído de um "still" do filme: "Tommy"e o de Rick Wakeman, promocional dos shows que ele fez no Brasil, em 1975. Quem não pendurou na parede do quarto, o personagem "Tommy" dentro de uma cápsula enorme, a sugerir uma ampola com um líquido lisérgico e ao mesmo tempo, martirizado como um santo? E a mesmo fenômeno em relação ao tecladista, Rick Wakeman, a usar quela capa megalomaníaca cravejada de lantejoulas...
Muitas vezes, a "Pop" usou de um recurso promocional bastante tentador para alavancar vendas. Compactos simples, com duas canções de cada lado da "bolachinha", vinham encartados, vez por outra. Eu mesmo tive um que continha as músicas: "Como Vovó já Dizia", do Raul Seixas, "Jurubeba", do Gilberto Gil e "Postcard", do The Who, que ouvi até estragar a agulha da vitrola.
O jornal que vinha incluso, encartado na revista, chamava-se: "Hit Pop", e ali, tal como no "Jornal de Música" que vinha encartado na revista "Rock, a História e a Glória", havia boas informações, embora também nesse caso, a linha mais superficial observava-se, ao dar mais ênfase aos indicativos de discos mais vendidos, e músicas mais executadas em rádios, por exemplo. Portanto, uma linha a prestigiar os interesses das gravadoras
A revista encerrou atividades em 1979. Em um de seus últimos números, fez uma matéria sobre a comemoração dos dez anos do Festival de Woodstock. Claro que eu comprei, ávido por uma edição recheada por fotos e informações preciosas sobre essa efeméride, contudo... sinal dos tempos, tratou-se de uma reportagem superficial, diluída e muito decepcionante.
Foi o fim da revista "Pop" e de certa forma a revista continuou posteriormente, reencarnada em publicações juvenis e femininas que a editora Abril pôs-se a lançar posteriormente. Os motes: moda, cuidados com o corpo, questões escolares e dúvidas sobre sexo, davam a tônica e an passant, matérias sobre música e arte em geral. Claro, diminui-se a foco na música, e o teor dos artistas retratados, bem... prefiro não comentar, para não magoar ninguém.
Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2012