Dois filmes britânicos lançados em 1970, tem o mesmo mote e
que eu saiba, salvo engano de minha parte, trata-se dos primeiros na história
do cinema ligado ao Rock, a retratar o fenômeno das "groupies". São eles:
“Groupie Girl” e “Permissive”. Falo sobre Groupie Girl, especificamente nesta resenha, e abordo,
”Permissive”, separadamente em outra ocasião.
Antes de avançar sobre a análise desse filme, faz se
necessário explicar para quem não sabe, que o termo “groupie” é uma corruptela
da palavra “Group” (em português, “grupo”), que era a maneira mais usual para
definir conjuntos musicais dedicados ao Rock, principalmente em décadas
passadas. A palavra “conjunto” também era bem usada e com o passar do tempo, o
termo “Band”, literalmente, “banda”, em português, passou a ser o mais usual até
os dias atuais (2016). Portanto, uma “Groupie”, pode ser definida como uma fã de um grupo
de Rock, que não apenas segue os seus artistas prediletos, por onde quer que eles estejam, contudo,
anseia fazer parte da sua “entourage” e nesse caso, ao traçar um paralelo,
resgata-se de certa forma, a figura das cortesãs nas antigas cortes dos monarcas dos séculos
passados.
Para trocar em miúdos, tais garotas querem estar junto aos seus ídolos; prestar-lhes favores sexuais e usufruir das benesses advindas da fama que eles possuem, ao viver literalmente das migalhas em decorrência disso. Se analisado pela ótica da moral mais tradicional ou mesmo dos ideais do feminismo mais radical, a mentalidade dessas garotas em submeter-se a esse tipo de subserviência, gera acaloradas discussões, porém, o meu objetivo aqui não é fazer juízo de valor algum. Trato da resenha de um filme e explicado está, para quem não sabia, o que é uma “groupie”.
Para trocar em miúdos, tais garotas querem estar junto aos seus ídolos; prestar-lhes favores sexuais e usufruir das benesses advindas da fama que eles possuem, ao viver literalmente das migalhas em decorrência disso. Se analisado pela ótica da moral mais tradicional ou mesmo dos ideais do feminismo mais radical, a mentalidade dessas garotas em submeter-se a esse tipo de subserviência, gera acaloradas discussões, porém, o meu objetivo aqui não é fazer juízo de valor algum. Trato da resenha de um filme e explicado está, para quem não sabia, o que é uma “groupie”.
Sobre o filme, “Groupie Girl” (a obra também é conhecida por um segundo título : "I Am a Groupie"), ele é na verdade um filme obscuro; realizado sob baixo orçamento;
produção britânica de 1970, lançada pela pequena produtora Salon. Conta a história de uma menina inglesa que anseia ser groupie,
e nesse caso, ao seguir uma tendência comum a quase toda garota que tinha isso
em mente, ou seja, a buscar uma perspectiva mais excitante em contraste com a sua vida sem glamour que
costumava levar, ao ter em conta que tais moças eram geralmente oriundas da classe operária e se
seguissem o curso normal da vida, fora da perspectiva pura e simplesmente, dificilmente teriam uma
vida fora da perspectiva em manter-se como operárias ou no máximo, donas de casa e
esposas de operários, a viver com muitas restrições mediante baixos salários e sem nada muito promissor
para animar-se em termos de futuro, que sinalizasse alguma motivação especial.
Com a explosão do Rock britânico nos anos sessenta, como
dizia Mick Jagger na letra da canção, “Street Fight Man” dos Rolling Stones: -“o que mais um garoto
pobre pode aspirar a não ser tornar-se membro de uma banda de Rock?”,
portanto, a aspiração acalentada de vir a ser um Rock
Star mexeu com a cabeça de muitos garotos e no caso das meninas, com o fator
machista ainda muito forte em uma sociedade tão conservadora como a britânica, poucas aventuraram-se a sonhar com uma carreira musical, e como consequência dessa mentalidade machista, sobrou para a maioria, a vontade
de ao menos estarem juntas com os artistas famosos, como forma de absorver uma
gota desse glamour tão excitante.
E mesmo assim, até chegar a andar com os famosos, era algo
quase inatingível, portanto, a maioria teve que contentar-se em ficar com
bandas de fama mediana ou até inexistente, pois como no futebol, os artistas
também padecem de melhores oportunidades e dessa forma, para que haja uma
primeira divisão, com todos os holofotes a dar-lhes fama e fortuna, muitos times
tem que amargar a segunda, terceira, quarta divisões e ali, a aspereza é grande
e não há garantia alguma em que consiga-se um dia, chegar à almejada “primeira
divisão”, mesmo que trabalhe-se com todo o afinco, pois no mundo, a dinâmica é praticamente a mesma, ou até pior, no sentido de que não há meritocracia como no esporte.
Portanto, já a narrar a história que sustenta esse filme, trata-se do caso de Sally (interpretada por Esme Johns), uma garota
que perambula por pequenos clubes de cidades pequenas, para assistir apresentações
de bandas obscuras de Rock, do circuito underground britânico.
O filme inicia-se com ela e outras aspirantes a groupie a prestigiar uma banda chamada: “Opal Butterfly” em um pequeno clube localizado em uma cidade do interior e após a apresentação, ela ardilosamente esconde-se na van dos artistas e só quase a chegar em uma outra localidade, descobrem-na e não mostram-se surpresos com a sua presença no carro, devidamente escondida no bagageiro entre os instrumentos e equipamentos, para denotar a normalidade absoluta desse tipo de evento em suas vidas.
O filme inicia-se com ela e outras aspirantes a groupie a prestigiar uma banda chamada: “Opal Butterfly” em um pequeno clube localizado em uma cidade do interior e após a apresentação, ela ardilosamente esconde-se na van dos artistas e só quase a chegar em uma outra localidade, descobrem-na e não mostram-se surpresos com a sua presença no carro, devidamente escondida no bagageiro entre os instrumentos e equipamentos, para denotar a normalidade absoluta desse tipo de evento em suas vidas.
A postura dela em submeter-se, sem reservas, aos anseios
sexuais dos artistas, é tratada como algo quase blasé entre os rapazes, a confirmar que não nessa ocasião, não havia
conflito moral sobre tal situação, de ambas as partes, e nesse caso, apesar de
ser algo chocante se visto por outro prisma, acredito que o diretor teve
espírito jornalístico praticamente, apenas a mostrar uma realidade, mas sem
cair na tentação em explorar isso como sensacionalismo, tampouco fazer ode ao
fenômeno. Essa cena, assim como o assunto tratado ao longo da história, adota
esse posicionamento da isenção e posso dizer que isso é um ponto positivo para
o filme.
Daí em diante, ela coloca-se a seguir nessa micro comitiva de uma
banda a lutar para buscar o seu sonhado “lugar ao sol”. São cenas do cotidiano
com Sally a acompanhar sessões de gravação, shows e ensaios e nessa rotina, o
cotidiano vivido em hotéis baratos, camarins de casas noturnas de pequeno porte e
infelizmente, ao ser usada sem muito respeito, no que tange à sua sexualidade e dignidade pessoal, sobretudo, e também por aturar brigas e mesquinharias
da parte dos rapazes e além de tudo, o fato de explorar-se a condição dela como empregada doméstica, obrigada a prestar serviços gerais para os rapazes...em síntese, o glamour para estar junto a uma banda de Rock, na prática só ocorria para quem estivesse na entourage de bandas consagradas, pois nesse patamar abissal, a realidade era outra.
Em uma dessas andanças com a banda, outra groupie aparece e uma briga
homérica ocorre entre as duas, e aí nesse ponto, acontece um deslize do editor e do editor ao meu ver,
pois a cena ficou muito longa. As duas meninas a engalfinhar-se sob uma
luta e a ser ironizadas pelos rapazes, não significou algo fora da realidade.
Várias biografias de Rock Stars verdadeiros, contam histórias assim, como por exemplo, é público e notório que Jimmy Page, o guitarrista do Led Zeppelin, adorava ver groupies a brigar entre si, por sua causa, e mais do que isso, estimulava tais disputas. Mas no caso do filme, a cena ficou cansativa. Talvez tenham encantado-se em retratar algo que achavam que criaria impacto, e sim, causou, mas o excesso tratou em diluí-lo.
Várias biografias de Rock Stars verdadeiros, contam histórias assim, como por exemplo, é público e notório que Jimmy Page, o guitarrista do Led Zeppelin, adorava ver groupies a brigar entre si, por sua causa, e mais do que isso, estimulava tais disputas. Mas no caso do filme, a cena ficou cansativa. Talvez tenham encantado-se em retratar algo que achavam que criaria impacto, e sim, causou, mas o excesso tratou em diluí-lo.
Festas malucas regadas a drogas, com pessoas
intelectualizadas e mais velhas a absorver o Rock como forma de arte aconteciam na vida real
e nesse caso, retratou-se no filme uma situação análoga, a representar um momento brilhante do Rock britânico, sem dúvida.
Talvez passe
despercebido por quem não tem essa cultura Rocker, mas a despeito da loucura
ali retratada, o sentimento implícito nela, inerente, chamou-me a atenção.
Aventuras sexuais malucas a envolver psicodramas improvisados,
são retratadas e mescladas a brincadeiras sem graça, perfeitas molecagens de
rua, ao mostrar a rotina dessas meninas que acompanhavam grupos de Rock.
Por exemplo, uma das cenas mais chocantes acontece quando duas vans a transportar
bandas, encontram-se na mesma estrada e nesse espírito de loucura total, resolvem
"trocar de groupies", como se as meninas fossem meros objetos e para piorar, em
movimento, ao colocar em alto risco as suas vidas e as deles próprios. Tal cena foi
bastante destacada em resenhas publicadas na imprensa, na época, como o ápice do filme e um exemplo da
estupidez juvenil da parte de Rockers drogados. Infelizmente não tenho como enxergar
algo positivo nisso e tendo a concordar com a opinião dos conservadores de
plantão. Tudo tem limite, até quando assume-se que loucura pouca é bobagem,
pois é...
Sally vai ser groupie de outra banda, não machuca-se nessa imprudência cometida na estrada, mas a
brincadeira perigosa acaba mal pois uma das vans atropela um caminhoneiro que
trocava o pneu de seu veículo, no acostamento da estrada.
Agora a seguir com outra banda, “Sweaty Betty”, a rotina não
muda para Sally. Porém, fica tudo tenso por que a polícia está atrás e não vai
deixar para lá, mesmo porque o caminhoneiro machucou-se e teve um forte prejuízo,
graças à imprudência dos Rockers em brincar com o perigo.
Com a inevitável visita dos inspetores da polícia, um festival de sarcasmos e deboche ocorre. Bem, tratava-se de jovens Rockers, estavam todos em estado alterado de consciência e eram britânicos, portanto, o sarcasmo é um fato contido no DNA deles.
Com a inevitável visita dos inspetores da polícia, um festival de sarcasmos e deboche ocorre. Bem, tratava-se de jovens Rockers, estavam todos em estado alterado de consciência e eram britânicos, portanto, o sarcasmo é um fato contido no DNA deles.
E claro, os policiais não engolem as provocações e todo mundo
é enquadrado e conduzido à delegacia. Menos Sally, que estava na cozinha na companhia de uma outra groupie, a cozinhar para todos, e na iminência da batida policial, ela ingere
uma grande quantidade de material alucinógeno, para ficar tão “spaced” que cai de uma
escada e desaba dentro de uma adega.
Ela acorda várias horas depois e depara-se com a casa vazia e só um músico está presente, Wesley (interpretado por Billy Boyle que era ator, todavia, mantinha uma carreira musical paralela), ao mostrar-se um “Folk Artist” em essência. Wesley toca violão e canta na sala vazia da residência, as suas baladas Folk e eles interagem de uma forma que a surpreende. Sally, após semanas, talvez meses a ser usada e ignorada como Ser Humano, admira-se com Wesley por ele não a tratar dessa forma e nessa reflexão de ambos, concluem o óbvio, ou seja: “groupies são jogadas fora”. Enfim, o choque de realidade.
Sally demonstra cansaço com a situação, pega a sua mochila e vai embora, a caminhar sozinha por uma estrada vicinal, no interior da Inglaterra.
Ela acorda várias horas depois e depara-se com a casa vazia e só um músico está presente, Wesley (interpretado por Billy Boyle que era ator, todavia, mantinha uma carreira musical paralela), ao mostrar-se um “Folk Artist” em essência. Wesley toca violão e canta na sala vazia da residência, as suas baladas Folk e eles interagem de uma forma que a surpreende. Sally, após semanas, talvez meses a ser usada e ignorada como Ser Humano, admira-se com Wesley por ele não a tratar dessa forma e nessa reflexão de ambos, concluem o óbvio, ou seja: “groupies são jogadas fora”. Enfim, o choque de realidade.
Sally demonstra cansaço com a situação, pega a sua mochila e vai embora, a caminhar sozinha por uma estrada vicinal, no interior da Inglaterra.
O ator britânico, Donald Sumpter em dois momentos: jovem e Rocker em "Groupie Girl" e abaixo, envelhecido ao atuar no seriado, "Game of Thrones", mais recentemente.
Apesar de um roteiro tão fraco, no padrão de uma produção classe B, sob orçamento baixo, e um elenco com atores não tarimbados (apenas Donald Sumpter, atualmente no aclamado seriado britânico,“Game of Thrones”, que interpretou o Rocker, Steve, chama a atenção como ator mais famoso nesse elenco), o filme tem alguns méritos, sim.
Primeiro a música. As canções compostas para servir de apoio às
intervenções da banda fictícia “Opal Butterfly”, são ótimas. Quase todas
compostas por Peter Lee Stirling, e no caso da música homônima ao filme, “Groupie
Girl”, em parceria com David Byron, o vocalista do Uriah Heep na ocasião, 1970.
Peter Lee Stirling canta a maioria delas, inclusive. Peter foi um cantor solo
dotado de um relativo sucesso na metade da década de sessenta e que em dado momento de
sua carreira mudou o seu nome artístico para Daniel Boonie, por incrível que isso pareça...
São canções bastante melodiosas e que lembram muito o Soft
Rock de bandas britânicas verdadeiras como o Badfinger e Grapefruit, por
exemplo, que fizeram muito sucesso na ocasião em que o filme foi produzido.
O ator / cantor; violonista & compositor, Billy Boyle
No caso das canções de Billy Boyle, estas são de sua própria
autoria. Com timbres e produção de áudio adoráveis para quem aprecia a
safra do Rock, da chamada fase: “Late Sixties, Early Seventies”, tida por muitos
críticos como uma das melhores senão a melhor fase da história (eu incluo-me
nesse rol, que avalia dessa forma), o filme vale muito a pena só para ouvir-se tais
canções e o sentimento ao escutá-las é que pouca importa se não sejam canções
conhecidas, pois apenas pela sonoridade, já são muito agradáveis.O disco coma trilha sonora do filme foi lançado na Inglaterra, logo após o lançamento do filme, e vale muito a pena, ter esse LP em sua estante
E apesar de retratar aspectos até deprimentes dos bastidores
de uma cena muito underground, só por ser um documento de época com tal
atmosfera impregnada no celuloide, contém um charme, indiscutível. O roteiro foi assinado pelo próprio diretor, Derek Ford, mas
tem crédito para uma moça chamada, Suzane Mercer, que colaborou ativamente, por ter sido na época,
assumidamente, uma groupie. Talvez esteja aí a razão pela qual haja uma clara melancolia
na pele da personagem, Sally, construída em torno das experiências reais nada
agradáveis e que certamente relatou à Derek, no afã de ser a mais fidedigna
possível em sua impressão pessoal sobre o assunto.
No elenco, além dos já citados, acrescento: Richard Shaw
(como “Morrie”), James Beck (como “Brian”), Paul Bacon (como “Alfred”), Neil
Hallet (o sargento detetive), Eliza Terry (como “Suzie”), Belinda Carey (como
“Pat”), Jeanette Thonsett (como “Shirley”), Jenny Nevinson (como “Moira”),
Christine Wright (como “Mandy”) e mais alguns outros atores de apoio.
Filme bastante obscuro, desconheço que tenha tido exibições
em canais de TV a cabo, brasileiros, e na TV aberta, acredito que nem pensar que tenha havido alguma exibição, e se aconteceu, foi provavelmente em meio a uma madrugada e sem publicidade alguma da parte de uma emissora.
Foi lançado em versão VHS, nos anos oitenta. Saiu a sua cópia em formato DVD, muitos anos depois. E logo a seguir, a sua versão em Blu-Ray foi providenciada. Existe no entanto, uma postagem no YouTube, disponibilizada por uma alma caridosa, mas sem legendas em línguas estrangeiras, para ficar-se só no áudio original em inglês. E também não pode-se achar que fique eternamente disponível dado o caráter volátil de tal portal da internet. Portanto, se a resenha despertou a sua curiosidade para assistir, seja rápido no seu mouse e corra ao YouTube, já...
Esta resenha foi revista e ampliada para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n Roll". Está disponível para a leitura através de seu volume I, a partir da página 385.
Foi lançado em versão VHS, nos anos oitenta. Saiu a sua cópia em formato DVD, muitos anos depois. E logo a seguir, a sua versão em Blu-Ray foi providenciada. Existe no entanto, uma postagem no YouTube, disponibilizada por uma alma caridosa, mas sem legendas em línguas estrangeiras, para ficar-se só no áudio original em inglês. E também não pode-se achar que fique eternamente disponível dado o caráter volátil de tal portal da internet. Portanto, se a resenha despertou a sua curiosidade para assistir, seja rápido no seu mouse e corra ao YouTube, já...
Esta resenha foi revista e ampliada para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n Roll". Está disponível para a leitura através de seu volume I, a partir da página 385.