Bem, eis que
após muitos anos decorridos do lançamento do filme, “Hendrix”, de 2000, uma
nova produção foi anunciada como mais uma tentativa para retratar a trajetória
de vida e obra do guitarrista, Jimi Hendrix. Ao considerar-se que o filme anterior
fracassara em muitos aspectos, ao resultar em uma amostragem pífia enquanto
cinebiografia de um astro da magnitude de Jimi Hendrix, portanto, uma nova
produção deveria redimir a tentativa anterior, frustrada, no mínimo, mas, será
que alcançou tal intento?
Eis que em
2014, chegou às telas de cinema a película: “Jimi, All Is By My Side” (Jimi:
Tudo ao Meu Favor), a gerar expectativa entre os fãs do guitarrista, um ícone
do Rock sessentista, monstruoso no imaginário e na história, de fato.
Entretanto, a boa expectativa gerada foi fortemente minada quando as pessoas
sentaram-se em suas respectivas poltronas nas salas de cinema e o projetor começou
a rodar o celuloide, pois mais uma vez uma produção falhou em retratar a sua
biografia, e as falhas a suscitar queixas, foram muitas.
Bem, não
inteiramente, mas muita informação para a elaboração do roteiro desse filme, foi
baseado nos relatos de Curtis Knight, líder do grupo Curtis Knight and The
Squires, que lançou dois livros sobre Hendrix, um em 1974 (Jimi: An Intimate
Biography of Jimi Hendrix) e o outro em meados dos anos noventa, chamado : “Starchild”)
e pelo fato de Jimi Hendrix ter sido membro, bem antes da sua fama como artista
solo, logicamente que o seu status, que suplantou e muito a tímida carreira
desse grupo liderado por Curtis, logicamente fez com que ele capitalizasse a
fama alheia, com tais biografias. Ocorre, que tal relato é bastante contestado
por outras pessoas que conviveram com Hendrix na mesma época, como por exemplo,
Kate Etchingham, que foi namorada de Hendrix na ocasião e esteve com ele
durante a boa fase de sua curta carreira, e só não esteve ao seu lado, em seus
últimos momentos, pois o casal havia separado-se, em 1969, portanto algum tempo
antes desse desfecho trágico, ocorrido em 1970. Pois Kate ficou aborrecida,
pois no livro de Curtis e por conseguinte no filme, Hendrix foi retratado como
um homem cruel que a agredira muitas vezes e ela negou isso. Pois então, antes
a produção do filme tivesse usado como referência o próprio livro de Kate, que
ela publicou em 1999, “Throught Gipsy Eyes”.
Sobre o
filme, a ação cobre o período entre 1966 e 1967, ou seja, quando sem maiores
perspectivas e a tocar em obscuras casas noturnas de Nova York, Jimi Hendrix
(interpretado por André Benjamim ou André 3000, seu nome artístico como “rapper”),
foi notado pelo empresário dos Rolling Stones, Andrew Loog Oldham (interpretado
por Robbie Jarvis) e daí, uma conexão fora estabelecida com ex-baixista da banda, “The
Animals, Chas Chandler" (interpretado por Andrew Buckley), que estava a iniciar
uma carreira como empresário e este o convidou a tentar a sorte em Londres.
De fato, a capital britânica era a maior meca do Rock mundial na ocasião e tal aventura aparentemente incerta foi a melhor resolução possível para que Hendrix fosse catapultado da condição de um obscuro guitarrista side man a serviço de artistas medianos ou astros em momento de decadência, para o mega estrelato em âmbito mundial. Daí, já em Londres, é passada a informação dentro da cronologia, a dar conta do deslumbramento inicial do norte-americano em relação à cena da Swingin’ London que explodia nas ruas e tudo permeado por suas visitas aos clubes da moda onde despertou a desconfiança inicial e também os ciúmes de músicos ingleses que já estavam a usufruir da fama, e aí existe mais uma controvérsia.
De fato, a capital britânica era a maior meca do Rock mundial na ocasião e tal aventura aparentemente incerta foi a melhor resolução possível para que Hendrix fosse catapultado da condição de um obscuro guitarrista side man a serviço de artistas medianos ou astros em momento de decadência, para o mega estrelato em âmbito mundial. Daí, já em Londres, é passada a informação dentro da cronologia, a dar conta do deslumbramento inicial do norte-americano em relação à cena da Swingin’ London que explodia nas ruas e tudo permeado por suas visitas aos clubes da moda onde despertou a desconfiança inicial e também os ciúmes de músicos ingleses que já estavam a usufruir da fama, e aí existe mais uma controvérsia.
Isso por que
a famosa participação que ele teve em uma apresentação do Cream, uma super
banda na ocasião, em 1966, é tratada de uma forma bem diferente como fora
retratada no filme, “Hendrix”, de 2000. Naquela produção, Eric Clapton
mostra-se reticente em princípio, mas depois aceita que ele suba ao palco e a
jam transcorre retratada com ambos a demonstrar tranquilidade e até felicidade
pela oportunidade e sonoridade que produzem, mas neste filme, de 2014, Eric
Clapton mostra-se furioso com a presença de Jimi Hendrix e abandona o palco.
Qual foi a verdade na vida real, afinal de contas?
Um episódio
emblemático que faltou no filme anterior e neste foi mencionado, deu-se em
relação à cena em que Hendrix e a sua namorada, Kate, andam pelas ruas de Londres
e são interpelados por policiais que irritaram-se pelo fato dele, Hendrix,
estar a usar um casaco antigo do exército britânico, e de fato, os hippies
britânicos haviam incorporado o uso de tais casacos militares pesados e muito
antigos, dos séculos XVIII e XIX, em meio aos outros trajes multicoloridos e adereços
a compor um visual multicolorido e também funcional para o inverno europeu. Não
apenas do exército britânico, mas de várias nações europeias e tais peças eram
facilmente encontradas na feira hippie de Portobello Road e outros tantos
pontos da cidade. O problema, foi que os policiais não gostaram de ver tal peça
a ser usada por um rapaz negro e a namorar uma garota branca e daí, veio o
constrangimento em tom de abuso policial. Tal fato ocorreu na vida real,
pontuou uma questão racial, mas também o preconceito contra hippies etc e tal. Isso
por que a polícia britânica tem a fama de ser bem profissional e raramente
cometer abusos em abordagens, que são em via de regra, respeitosas pelo
protocolo civilizado, pois se fosse em outro país não tão observador de tais
normas...
Bem, vem a formação do Experience com Noel Redding e Mitch Mitchell, o começo da fama; a gravação do primeiro álbum; as primeiras críticas boas e também as ruins (por cantar mal e ser “rabugento” no palco, aliás, ambas bem relativas). Vem o início da pressão de grupos negros ativistas a cobrar-lhe um posicionamento por ser um artista negro em ascensão, mas convenhamos, creio que se tal conversa existiu em 1967, foi bem menos contundente de quando ele foi abordado, na vida real, a partir de 1968 e no decorrer de 1969, portanto, pode ter sido um erro de avaliação cronológico ou simplesmente uma licença poética para poder citar o caso, visto que a proposta do filme foi a de retratar os anos de 1966 e 1967, em princípio.
É citada também a loucura desmedida, os abusos com drogas, bebidas e as groupies em profusão a
culminar também com brigas com a namorada, Kate. E esse foi um ponto nevrálgico
do filme, como eu já afirmei no início do texto, visto que Kate Etchingham, abominou
o filme e desmentiu que fosse agredida da forma que foi retratada através da
atriz, Hayley Atwell, que a interpretou. Inclusive a cena forte da agressão
mediante um aparelho de telefone, foi considerada por ela, como um completo absurdo.
Outro fato real ocorrido em 1967, de fato, Jimi Hendrix teve acesso à uma cópia do LP Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, antes mesmo dele ser lançado oficialmente e surpreendeu à todos, incluso os próprios componentes do Fab Four, ao tocar ao vivo e com uma tremenda energia a canção título do álbum deles e ao causar estupefação geral.
E o filme encerra-se
com a apresentação dele no Festival Monterey Pop em 1967, quando de fato, mais
que uma volta triunfal à América, a sua terra natal, a sua carreira teve o
impulso definitivo para que alcançasse o mega estrelato.
Sobre a
completa ausência de material composto por Jimi Hendrix em mais uma
cinebiografia sua, tratou-se na verdade do mesmo caso, ou melhor, empecilho
ocorrido no filme, “Hendrix”, de 2000, ou seja, a negativa da editora que
controlava o seu material e já há muitos anos controlada pelos familiares, o
pai dele, e a sua irmã temporã, que mal o conhecera em vida, visto ter sido
muito pequena quando ele morreu. Então, os números musicais são covers de
outros artistas que Hendrix de fato regravou, e constavam de seu repertório, no
entanto, isso fica insuficiente para compor o material musical de uma
cinebiografia, sem dúvida alguma. Como suportar um filme sobre Jimi Hendrix em
que nenhuma música sequer que ele compôs, é executada, nem mesmo como música
incidental, background e que tais?
Outro
aspecto, a composição dos personagens beira o caricato e isso também ocorrera
com o filme “Hendrix”. Espero que um dia, produza-se uma cinebiografia de Jimi
Hendrix e mesmo de qualquer artista sessentista dessa mesma magnitude e que
evite-se o caricato, pois a composição das personagens ainda carece de um maior
apuro histórico. Enquanto os produtores achar que astros do Rock sessentista (e
também os setentistas) precisam expressar-se como o personagem, “Lingote”, do
Chico Anysio, teremos uma idealização bastante equivocada e foi o que ocorreu.
No caso do ator que interpretou, Jimi Hendrix, André Benjamim, isso agravou-se talvez pelo fato do rapaz ter sido um rapper na vida real e daí, a confusão gerada a considerar que a sua experiência pessoal nesse caso, em torno da cultura Hip Hop em que poder-se-ia ser aproveitada como um elemento positivo, certamente que foi um erro de avaliação. No entanto, essa observação é uma mera impressão de minha parte, deixo a ressalva de que posso ter errado na minha avaliação.
No caso do ator que interpretou, Jimi Hendrix, André Benjamim, isso agravou-se talvez pelo fato do rapaz ter sido um rapper na vida real e daí, a confusão gerada a considerar que a sua experiência pessoal nesse caso, em torno da cultura Hip Hop em que poder-se-ia ser aproveitada como um elemento positivo, certamente que foi um erro de avaliação. No entanto, essa observação é uma mera impressão de minha parte, deixo a ressalva de que posso ter errado na minha avaliação.
Sobre a
direção de arte; figurino e ambientação, é razoável, talvez um pouco melhor que
a do filme, “Hendrix”, no entanto, o ator principal daquela produção parece ter
adaptado-se melhor ao personagem.
Burn Gorman
interpretou o empresário, Michael Jeffery e aqui, este personagem não foi tão
demonizado quanto em “Hendrix”. Oliver Bennett interpretou o baixista, Noel
Redding e Tom Dunlea, interpretou o baterista Mitch Mitchell. Ashley Charles
interpretou o guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards e isso foi curioso
na medida em que na vida de Hendrix, Richards foi próximo, sem dúvida, mas nem
de longe a caracterizar uma amizade mais profícua, pois ficou patente que Brian
Jones, o outro guitarrista dos Rolling Stones, foi uma pessoa muito mais próxima
e de fato, um dos principais responsáveis para que Jimi participasse do
festival de Monterey em 1967, assim como Paul McCartney.
Escrito e dirigido por
John Ridley, estreou na Inglaterra em agosto de 2014, ao chamar a atenção de
fãs e Rockers em geral, mas logo veio a decepção a confirmar uma expectativa que
ainda não acertou-se a mão para retratar com melhor propriedade a vida e obra
desse grande astro do Rock. Hendrix merece mais, e assim torcemos para que
surja uma produção à altura do seu quilate artístico e sobretudo a fazer jus à
brutal importância que ele exerceu, muito além da música em si.
Bem, o filme
passou bastante nos canais da TV a cabo, depois que deixou as telas, foi
lançado em versão DVD/Blue Ray e é encontrado com facilidade no YouTube. Ver
ou não ver, eis a questão? Então, creio que o meu conselho é assistir, por ser
melhor que nada, no entanto, a observar muitas ressalvas, pois não é uma obra
definitiva sobre a biografia de Jimi Hendrix.
Esta resenha faz parte do filme: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll". Está disponível para a leitura através de seu volume II, a partir da página 81.
Esta resenha faz parte do filme: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll". Está disponível para a leitura através de seu volume II, a partir da página 81.