Nem todo ator mirim consegue manter
uma carreira prolífica, quando atinge a idade adulta. São inúmeros os exemplos, e só para
citar um e bastante gritante, Shirley Temple ilustra tal rol.
Com uma carreira explosiva quando
criança, nos anos trinta do século passado, assim que atingiu a adolescência,
Shirley caiu em franco declínio, ao diminuir a sua participação em novas
produções, até abandonar a carreira, mas ainda ainda assim usar o seu prestígio adquirido, quando
envolveu-se com a política, e ocupou cargos importantes, inclusive na
diplomacia oficial dos
dos Estados Unidos da América.
Entretanto, alguns atores mirins obtiveram
outra sorte e quando adultos, seguiram em frente com sucesso, casos de Natalie
Wood; Helen Hunt; Jodie Foster, e Roddy McDowall. Roddy nasceu na Inglaterra, em 1928,
filho de pai escocês e mãe irlandesa. Com dez anos de idade, já estava
envolvido com cinema, ao viver pequenos papéis, ainda na Inglaterra.
Roderick Andrew Anthony Jude
McDowall migrou para os Estados Unidos, e logo de início, já esteve a serviço de um diretor icônico :
Fritz Lang, quando participou de um filme de grande envergadura : “The Man Who Wanted to Kill Hitler” (“O Homem que
quis matar Hitler”), em 1941.
Logo a seguir, pesou-lhe o fato
por ser britânico, e sobretudo por já conter em sua formação como ator, uma boa experiência, apesar de tão novo, para ser
escalado para uma produção hollywoodiena com peso, quando interpretou o garoto, Huw,
em “How Green was my Valley”(“Como era Verde o Meu Vale”), papel difícil, pois
foi através da lente narrativa da personagem desse menino, que transcorreu-se tal
história.
Adaptação do livro homônimo de
Richard Llewellyn, e dirigido por um monstro do cinema, John Ford, conta a
história dramática de uma família do País de Gales, mediante a sua vida duríssima em meio à
pobreza, e também pela insalubridade existente nas minas de carvão, um tipo de extração tipicamente britânica. Pesado, como seria por esperar-se em face ao teor do livro, esse filme foi o primeiro estouro de Roddy como ator, ao passar
em um teste de fogo e tanto, ao encarar a batuta de um mestre como, John Ford, e com
apenas doze anos de idade (convenhamos, depois de ter sido dirigido por Fritz
Lang...). Com o propósito em prosseguir com
seriedade em sua carreira, Roddy colocou-se de corpo e alma na profissão, e concomitante aos
estudos fundamentais, fez o curso de ator mirim do estúdio mantido pela Twenty-Century
Fox.
Logo
a seguir, a sua participação em outras produções foi muito intensa : “Confirmy ou
Deny”; “Hate the Heart”; “The Little Refugge”; “Abandoned”; “My Friend Flicka”;
“The Power of the Heart”; “Evocation”; “The Keys of the Kingdom”; “Berserk”;
“Comedians of Alcova”; “Romance in Mexico”; “Rocky”, todos realizados entre
1941 e 1948. Então chegou outro teste dificílimo
para o já adolescente Roddy : “Macbeth” , em 1948, com atuação e direção de
Orson Welles.
A interpretar o personagem, Malcolm,
Roddy enfrentou com galhardia um texto de ninguém menos que William Shakespeare. Versátil, Roddy foi um dos primeiros
atores do cinema a engajar-se também na TV, sem medo em sofrer preconceito, em
detrimento da opinião formada de que a TV seria um veículo “menor”, Roddy já
estava a participar em produções televisivas desde o final dos anos quarenta,
e nesse veículo, construiu um currículo inacreditável a contabilizar participações em seriados;
especiais; TV Movies; além de diversas aparições em Talk-Shows, programas
humorísticos; e até em shows musicais.
Só para citar algumas, das dúzias de
séries onde apareceu na TV : “The Twilight Zone”; “Naked City”; “The Subterraneans”; The Eleventh Hour”; “Alfred
Hitchcock Presents”; “Combat”; “Ben Casey”; Batman (ao interpretar o sensacional
vilão, “The Bookworm” – “O Traça”); “The Invaders”;
“The
King of Thieves”; “The Night Gallery”; “The Audacious”; “Journey to the
unknown”; “Medical Center”; “Columbo”; “The Rookies”; “Mission Impossible”;
“McCloud”; “Barnaby Jones”; “McMillan & Wife”; “Police Woman”; “Wonder
Woman”; “The Love Boat”; "The Fantasy Island", e muitos
outros…
Claro, não poderia deixar por destacar que a sua ligação com a saga cinematográfica de “O Planeta dos Macacos” (Planet of the Apes),
culminaria no inevitável convite para participar da versão feita para a TV,
como série.
Ali, como houve modificações
significativas ao texto original do livro, e também em relação aos filmes oficiais, ele não
interpretou nem o Dr. Cornélius, tampouco Cesar, o filho de Cornélius, como
houvera realizado no cinema, mas “Galen”, um chimpanzé crítico do sistema, e que ao
longo da série, torna-se o principal aliado dos dois astronautas humanos, e a formar assim, o trio de
protagonistas do seriado.
Roddy era fã do veículo do rádio, igualmente e chegou a comandar programas radiofônicos, também. Outras duas paixões paralelas, foram para ele, a fotografia, e a escrita.
Roddy era fã do veículo do rádio, igualmente e chegou a comandar programas radiofônicos, também. Outras duas paixões paralelas, foram para ele, a fotografia, e a escrita.
Como fotógrafo, Roddy colecionou
centenas de fotos dos bastidores de set de filmagem, além de filmagens de making
off, de quase tudo em que envolveu-se no cinema. Dessa maneira, as suas fotos e
filmagens amadoras são consideradas históricas, e esse material é um tesouro e
tanto para os cinéfilos.
Algumas capturas feitas por ele são
divertidíssimas, como por exemplo, vários momentos vividos nos bastidores das filmagens de “The Planet of the Apes” (“O
Planeta dos Macacos”), que podem ser vistas no You Tube. E a outra paixão paralela, foi
por escrever resenhas e crônicas sobre cinema e TV.
Roddy escrevia tão bem, que muitas de suas resenhas foram
publicadas em jornais e revistas, mediante a observação de um texto a conter muita qualidade em sua redação, ao parecer ter sido escrito por um
jornalista profissional.
Em 1963, ele participou de : Cleopatra, na versão
histriônica de Joseph L. Mankiewicz, ao interpretar o romano, Otavius Augustus.
No ano de 1967, atuou em "It", ao trabalhar novamente no cinema inglês, e por um estúdio de pequeno porte. Tal filme é no entanto, considerado um clássico do cinema de terror. Ao versar sobre a lenda judaica do Golem, trata sobre o Ser indestrutível e místico da sua mitologia, e mostra Roddy a interpretar o curador de um Museu londrino, completamente louco, e que aprende a manipular o Golem, e assim usar o poder descomunal da criatura, para fazer valer as suas vontades egóicas em seu favor, mas tudo foge do controle, é claro...
Todavia, em 1968, foi que ele voltou a repercutir fortemente no cinema, ao interpretar o cientista chimpanzé, “Dr. Cornélius”,
em “The Planet of the Apes” (“O Planeta dos Macacos”), quando ousou a usar uma
caracterização pesada, e que muito ator de quilate não quis fazer, por conta da
complexidade da sua maquiagem. História não confirmada, por
exemplo, dá conta que Jonathan Harris, que na época estava mega popular no
mundo inteiro pela sua interpretação sensacional do vilão, “Dr. Smith”, na série
“Lost in Space”(“Perdidos no Espaço”), teria cometido um escândalo a caracterizar uma crise de nervos na sala de
maquiagem, por conta do sentimento de claustrofobia que sentiu, ante o uso da pesada
maquiagem de símio, para atuar na produção, e por conta disso, ser descartado dessa forma, para
atuar no filme.
Portanto, Roddy não apenas adaptou-se
bem à caracterização, como teve uma atuação espetacular, ao providenciar com que os seus
personagens, “Dr. Cornélius” e “Cesar” (o filho de Cornélius, na continuação da
saga, em filmes posteriores), entrassem para a galeria dos maiores e mais
queridos personagens de filmes Sci-Fi, de todos os tempos.
Em 1973, Roddy faria outro
personagem marcante, desta feita para um filme de terror.
Em : “The Legend of Hell House” (“A
Casa da Noite Eterna”), a personagem que defendeu, “Benjamim Franklin Fischer”,
depara-se com uma mansão amaldiçoada, onde o fantasma de seu ex-proprietário
comanda uma noite de horror aos seus ocupantes. Um filme de terror impressionante, e
que é bastante citado entre os fãs desse gênero.
Já nos anos oitenta, Roddy
participaria de outros filmes de terror, como por exemplo, “Fright Night” (“A
Hora do Espanto”), que foi sucesso de bilheteria naquela década.
Nos anos noventa, não parou de
trabalhar e atuar na TV e no cinema, e até locução em animações realizou,
aliás, foi o seu último trabalho em vida (“Bug’s Life” – “Vida de Inseto”). Roddy McDowall só deixou de
trabalhar em 1998, quando foi vencido por um câncer, aos setenta anos de idade.
Foi um raro caso de ator infantil
que conseguiu construir uma carreira sólida na vida adulta, para deixar um tremendo
legado. Foi também um raro exemplo de ator
que atuou com desenvoltura no cinema e na TV, simultaneamente, e muito bem nos
dois veículos.
Ele deixou-nos dúzias de filmes; as
gravações das séries televisivas em que atuou; as suas fotos & filmagens amadoras
de bastidores, e muitos textos bem, escritos sobre cinema e TV. Roddy possui, merecidamente, uma estrela na
calçada da fama em Los Angeles.
Existe um site oficial, onde a
memória do ator é preservada, e merece ser visitado :
http://www.roddymcdowall.info/