segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

CD Prata do Carrasco/Cracker Blues - Por Luiz Domingues

Cracker Blues é uma banda paulistana orientada pelo Blues-Rock, em sua constituição generalizada, mas cabe dizer que tal vertente é oriunda de um galho importante de uma frondosa árvore, cuja sólida raiz é o Blues como alicerce e o gênero em si abre caminho para novos galhos e assim, quando falamos sobre o Blues-Rock, na verdade se trata de uma generalização para designar diversas vertentes e todas elas, muito ricas pelo ponto de vista musical e muito importantes no âmbito cultural.

Falo isso na introdução desta resenha para salientar que a banda Cracker Blues passeia com muita desenvoltura por tais nuances do Blues-Rock e a excelência técnica e artística desse grupo é inquestionável.

Formada em 1999, a banda tocou desde então muito pelo circuito de shows de São Paulo e em diversas cidades interioranas, teve também boas críticas advindas da imprensa especializada e certamente formatou um público fiel ao seu trabalho.

Antes deste CD Prata do Carrasco, lançado em 2014, a Cracker Blues já havia lançado os CD’s: “Cracker Blues”, homônimo de 2008 e o CD “Entre o México e o Inferno” de 2009, todos a demonstrar comprometimento fechado com o melhor do Blues-Rock como uma rota firme e a trazer em seu bojo uma paleta de matizes derivadas, a enriquecer a sua obra de uma maneira contumaz.

Nesses termos, o Blues-Rock mais pesado divide espaço fraternalmente com o Blues Roots, Blues Grass, Blues-Jazz de New Orleans, o Southern Rock que por sua vez traz no bojo o Country-Rock & Folk-Rock e também a abrir espaço para o Pop com o sabor do R’n’B e Soul Music. E claro, Rock’n’ Roll na acepção do termo.

Enfim, a música da Cracker Blues é rica em essência e muito competente na prática, portanto, é o tipo de banda que jamais desaponta os seus admiradores tanto em estúdio, quanto ao vivo.

Neste terceiro trabalho em particular, o CD “Prata do Carrasco”, a banda mostrou a sua potência sonora ao longo de onze temas fortes, bem compostos, arranjados e produzidos em estúdio, o que tornou este álbum, uma agradável oportunidade de se receber uma carga sonora da melhor qualidade.

Antes de comentar sobre as faixas em si, cabe destacar a arte gráfica do disco, com uma ilustração bem dentro do espírito da cultura do Blues mais genuíno, a mostrar a figura de uma velho Blues-Man que mesmo depois da morte ainda se mantém fiel aos seus princípios e como um esqueleto, ainda toca. Portanto, a ideia da perseverança reforça a simbologia da fidelidade do Blues-Man ao seu estilo de vida.

Predominam além disso, as imagens de esqueletos de animais no entorno (a começar pelo seu próprio cão de estimação, o que reforça a ideia da fidelidade) e também a sugerir as ambientações sulistas dos Estados Unidos cuja geografia se mostra de uma forma desértica ou pantanosa em muitos ambientes espalhados por tais estados que foram o berço do Blues.

Ainda a comentar sobre os aspectos visuais da capa, eu destaco que a face frontal mostra uma bela concepção de fundo levemente esverdeado a realçar a figura esquelética do Blues-Man e de seu cão, com os caracteres bem estilizados e a buscar um outro tom de verde e assim compor uma harmonia muito interessante, sem deixar de mencionar os ornamentos a emoldurar a persona central ali caracterizada, com traços muito bem-feitos.

A capa abre em compartimentos a denotar o sentido do encarte e contém todas as letras das músicas neles inseridos, ou seja, uma iniciativa ótima da parte do artista e eu realço que esse item é, ou deveria ser, essencial para todo disco. E no último compartimento há uma sucinta, porém, providencial ficha técnica sobre a produção do álbum, ou seja, outro item que eu valorizo muito, pois é fundamental para se registrar a história e enaltecer todos os profissionais que trabalharam com a banda.

E para encerrar, a contracapa mostra uma bela foto promocional do grupo. E há também a relação completa do repertório exibido no disco.

Outro dado importante, é a constatação de que sobe ainda mais o conceito ao sabermos que a ilustração foi concebida e produzida em sua arte-final por um membro da banda, no caso, a se tratar do vocalista e gaitista, Paulo Coruja, portanto, parabéns pelo talento extra do músico. E o belo logotipo da banda também é uma concepção gráfica de outro componente, no caso, obra do baterista, Jefferson Gaúcho, portanto, parabéns a ambos pelo bom trabalho e talento extra demonstrado.

Sobre o disco em si, falo a partir deste ponto sobre as suas faixas.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=A2filL4OFDA

Trem do Inferno ao Paraguai” inicia o álbum. Percebe-se que apesar da sonoridade Blues bem característica, há uma produção de áudio bem moderna, como nos discos mais modernos de grupos tais como o “ZZ Top” e "Blackberry Smoke", por exemplo. E devo salientar que há uma série de convenções muito bem engendradas para enriquecer o arranjo, certamente.

A slide guitar, que é um grande trunfo normalmente da Cracker Blues funciona com o brilhantismo de sempre, além do também sempre bom uso da gaita e a “cozinha” (baixo e bateria), trabalha com a firmeza de uma locomotiva, para manter a banda nos trilhos, com muita precisão.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=I4Mic79n0Oo

E lá vem a segunda faixa, denominada: ”Canto Obscuro de um Bar”, com uma linha melódica que trabalha em partes apenas com o apoio do baixo e bateria e a deixar a guitarra livre para interagir nos contra-solos, o que é um recurso bastante interessante. E quando vem o solo para valer, ele tem o ímpeto Rocker bastante contundente.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=2bvpzY0UA_U

Chorando Sobre Cafeína” vem a seguir e logo de início a linha de baixo e a gaita interagem muito bem a nos proporcionar o sabor do Blues in natura.

É belo o solo de gaita e a abordagem da letra é muito interessante, ao propor a metáfora da bebida amarga para falar sobre a desilusão do Ser Humano ante as suas frustrações no âmbito da vida e a fazer um paralelo também com a tendência de grande parte das pessoas em afogar mágoas com as bebidas alcoólicas. Eis um trecho:

Não me Ofereças Whisky/Não me entorpeças com Rum/Afasta de mim tuas bênçãos/ Tira os pregos desse teu vodu/Chorando sobre cafeína


Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=Sv66-7-c0RM

Toada para o Cão Ernesto” é a quarta faixa do álbum e traz a raiz do Blues como mote, ao usar muito bem o slide no violão Dobro e a gaita a interagirem de uma forma muito boa, portanto, empolga justamente por isso. Na sua letra, é isso mesmo o que sugere o título, ou seja, uma ode ao cão chamado “Ernesto” e que certamente foi muito querido pelo seu dono e vice-versa.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=wAHcORM_G8s

Caveira Chicana” é um Blues-Rock bastante intenso, com ótimo riff, amparado pela marcação forte de baixo e bateria. Há um interlúdio muito interessante proporcionado justamente pela bateria e baixo e nesse caso eu gostei muito dessa intervenção, a se provar bastante criativa por si só e que revelou um belo timbre de baixo. E gostei muito da convenção final, ao melhor estilo do Texas Blues de Johnny Winter ao menos na minha percepção idiossincrática.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=5RC4KBoNDNE

A sexta faixa, “A Discreta Arte do Mau-Olhado” tem um riff muito bom, é bem articulada ritmicamente e convida o ouvinte à dança, automaticamente.

Na sua letra, há uma proposta criativa em torno da ode ao próprio blues, quando se fala da personalidade mítica de Robert Johnson (caso o leitor não saiba quem foi esse artista e o que ele representa na história do Blues, convido-o a buscar informações ao seu respeito), com bastante bom humor e a citar as superstições e misticismo, que são inerentes ao Blues sulista norte-americano por excelência. Veja um trecho:

Perguntei pra Robert Johnson/Se ele era como eu/O velho sacripanta ainda não me respondeu/Mas ouço ele tossindo no meu braço tatuado/Roubando minha pinga/Botando mau-olhado/Todo o Blues que Houver no Mundo/Queira Deus seja o Bastante

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=VU9FAqOPbl4

Lágrima para Ernest Borgnine” é a sétima faixa do disco e se trata de um tema instrumental. Musicalmente é um Blues-Rock muito intenso, com andamento acelerado, ótimas convenções e extremo brilho da parte dos instrumentistas da banda para propor um tema tão empolgante. 

O ótimo ator, Ernest Borgnine, quando recebeu o seu prêmio Oscar de melhor ator de 1955, através do filme: "Marty"

É preciso destacar neste caso que Ernest Borgnine foi um ator norte-americano que viveu entre 1917 e 2012, que fez uma infinidade de filmes muito bons e também teve trabalhos na TV. Geralmente associado aos Westerns, a interpretar cowboys, sheriffs & afins ou “filmes de guerra”, a atuar como personagem militar, ele na verdade foi um ator eclético que atuou em outros gêneros também e eu aproveito para citar um trabalho dele que eu gosto muito, o filme: “Marty” de 1955, que foge aos dois estereótipos acima assinalados e cuja atuação dele é muito boa na minha opinião e creio que tal impressão representa uma tendência de uma forma generalizada, haja vista que lhe rendeu o “Oscar” de melhor ator do ano posterior, 1956.

Portanto, o fato dos membros do Cracker Blues terem dedicado esta música instrumental ao saudoso e bom ator, me surpreendeu muito positivamente, cinéfilo assumido que eu sou também.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=dWTf2V_QHMs

Jaula Enferrujada” é a próxima música. Trata-se de um Blues-Rock soturno em princípio. Logo vem uma parte mais ritmada com uma cozinha firme ao extremo e um belo solo de slide guitar. Ao final, a banda evolui em uma harmonia mantida no sentido do “looping” com proposta mais intensa e que encerra o tema em grande estilo.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=_UzXPWF_8gQ

O Chão Sob Minhas Botas” é também um Blues-Rock bastante ritmado. Essa música tem um apelo muito forte de apresentação ao vivo pela proposta de interação que estabelece com o ouvinte, certamente.

Eis o Link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=yCJpox-Q8p4

Óleo”, a décima faixa, também trabalha com um riff bastante balançado mais uma vez, ao usar muito bem as pausas estratégicas que jogam toda a atenção para a linha melódica que desempenha muito bem a sua função. É excelente o solo de guitarra, gostei muito. A gaita ao final também sola com desenvoltura e sentido melódico muito bom.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=0CGDaScSk18

Ciganos Velhos & Músicas Tristes” fecha o álbum com uma linha de composição a evocar as tradições do Blues e do Country, bem rurais. É uma bela interpretação acústica da banda a honrar as suas mais belas tradições.

Com violão/slide, gaita e harpa de boca (instrumento esse também conhecido como “Jaw Harp” na cultura norte-americana), ao fechar os olhos e só escutar o tema, certamente o ouvinte vai se sentir em um set de filmagem de uma película ambientada no velho oeste norte-americano.

E assim, eis aí um trabalho que eu recomendo muito, feito com brilhantismo e sobretudo, amor ao Blues primordial e seus muitos derivados.

Eis a formação da Cracker Blues presente neste disco:

Marceleza “Bottleneck”: Guitarra, Dobro e Violão

Paulo Coruja: Voz e Gaita

Jefferson Gaúcho: Bateria, Percussão e Backing Vocals

Paulo Krüger: Baixo e Backing Vocals

Gravação, mixagem e produção geral: Edu Gomes

Masterização: Daniel “Lanchinho”

Capa: Ilustração e lay-out final: Paulo Coruja

Logotipo da banda: criação e arte final de Jefferson Gaúcho

Fotos: Victor Daguano

Arranjos: Cracker

Letras de Paulo Coruja (acrescentam-se os colaboradores: Solange De-Ré, Luiz Marcondes e Vanessa Yasbek)

Apoio: Big Papa Records e Lost Dog

Lançamento: 2014

Para conhecer melhor o trabalho da banda, acesse:

YouTube:

https://www.youtube.com/channel/UC6dg-5KgtUWDpeg-4xsRReQ

Spotify:

https://open.spotify.com/artist/1ZML4gkxWDhCs9KPt5t0ns?autoplay=true

Deezer:

https://www.deezer.com/br/artist/1337266?autoplay=true

Facebook:

https://www.facebook.com/crackerbluesoficial

Instagram:

https://www.instagram.com/crackerblues/?hl=pt-br

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

CD Gozi/Gozi - Por Luiz Domingues

O duo “Gozi” é formado pelo violonista e cantor, Ozi Garofalo e pela cantora, Gisele Garof. Eles são artistas que se mostram influenciados por variadas correntes musicais, mas predomina o Rock de uma maneira geral e a MPB mais clássica como os dois pilares principais que alicerçam a sua criação.

Cercado sempre por grandes músicos, alguns inclusive bem conhecidos no meio, a banda que lhes dá suporte nas gravações e nas apresentações ao vivo, é sempre de alto nível para elevar a qualidade do trabalho. Entre tantos músicos de alto gabarito, é um luxo ter Ayrton Mugnaini Junior e Marcos Mamuth para tocar baixo e guitarra respectivamente e assim garantir o nível excelente do instrumental.

Neste CD homônimo, “Gozi”, nota-se claramente no conjunto de canções apresentadas, as boas referências que o duo possui na sua boa formação para construir a sua arte e dar o seu recado artístico, por conseguinte.

No tocante ao aparato gráfico que embala o disco, a capa apresenta como base uma foto do duo sob um cenário que sugere a ambientação rural, o que de imediato me levou a crer que a dita vertente oriunda do Rock Rural dos anos setenta tem igualmente peso na constituição do trabalho do “Gozi”.

Trata-se de uma foto em preto & branco, levemente envelhecida como efeito e que certamente traz o charme necessário para sugerir não apenas a tranquilidade da casa no campo, mas também o lado emocional, ao sugerir o aspecto familiar e por conseguinte, a ambientação aconchegante do lar, doce lar.

Na contracapa, há a descrição das músicas e muito interessante, a lista de todos os músicos que colaboraram com o duo e certamente que tantos instrumentistas talentosos precisam ser reverenciados.

Sobre as faixas do álbum, tenho mais algumas considerações importantes para registrar.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=7CGYd8NGrG4

Eu Quero Mais”, a primeira faixa, é um Rock’n’ Roll com estrutura bem tradicional na linha cinquentista dos primórdios. A canção é bastante empolgante e apresenta uma letra bem-humorada e com um recado bem direto sobre o papel do sexo na vida das pessoas e tudo dito sem a intenção da galhofa e tampouco a se preocupar com amarras moralistas, ou seja, trata-se de uma abordagem realista e a buscar a naturalidade na sua proposta poética

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=nbb_rhqW5XY

Três Doses a Menos” é mais um Rock com forte identidade Bluesy, mediante uma condução bastante ritmada o que certamente desperta no ouvinte a vontade de dançar. O piano dá um destaque todo especial para evocar a atmosfera de um cabaré, ou seja, torna a canção uma experiência sensorial mais acentuada.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=aiw2_4oJzug

A terceira faixa, “Apego” traz o sentido explícito do Country-Rock na sua formatação base. Gostei muito da atmosfera gerada com o ótimo apoio dos músicos convidados. Inclusive a se destacar a presença de Edvaldo Santana ao vocal, um tremendo artista que milita entre as vertentes do Blues e da MPB em sua trajetória.

O vocalize apresentado pela cantora Gisele é muito interessante e de imediato me fez recordar da música do grande e saudoso compositor e maestro italiano, Ennio Morricone, quando este compôs muitas trilhas para ótimos filmes do gênero “Western Spaguetti”, portanto, gostei muito dessa referência cinematográfica sutil ali usada.  

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=IBZu96rcu0U

Chega a quarta faixa e em “Luau”, o Gozi usa uma condução com intenção latino-americana bem balançada e além da batida e do bom apoio da percussão, há o destaque de uma voz masculina a solar, no caso, Rei Salles, cantor convidado que trouxe a sua boa colaboração.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=J4l0Hv-wPes

O Caipira” entrega pelo seu título, a intenção Folk implícita da canção. É nítida a influência da moda de viola mais genuína, a destacar a raiz interiorana bem saborosa.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=uWXOGR288_Q

Societá São Paulone”, é uma surpresa agradável, pois se trata de uma “tarantella” clássica, ou seja, é o Folk italiano empolgante, que dá vontade imediata de cantar e dançar juntamente. 

Na sua letra, há uma divertida evocação das tradições italianas tão marcantes na cultura paulistana e claro, com direito a se exagerar no sotaque “italianado” do paulistano, no melhor estilo do português falado pelas ruas do bairro da Mooca, capisce belo?

Há também uma parte mais "Rock" dentro do arranjo e isso traz um brilho a mais, naturalmente.


Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=bxeDaBZxmlM

Ode ao Álcool” é na verdade uma ode à confraternização e certamente a enaltecer o aspecto da amizade como um valor a ser cultivado. A questão do elemento do álcool ser uma espécie de desculpa para que as pessoas se reúnam socialmente, é tratada com muito bom humor na letra, inclusive a citar o malefício que tal bebida causa no organismo humano, naturalmente em tom de pilhéria.

Nesta canção, Ozi Garofalo comanda a voz solo com contundência, pois se trata de um Rock mais acelerado.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=ByM1sYihc_8

Vampira” é um Blues-Rock que tem no seu arranjo a proposta de mudança de condução rítmica, ao se tornar acelerada em sua parte final, para dar mais a ênfase à letra e abrir espaço para ótimos solos, de guitarra, piano, baixo e bateria. E ao final, o Blues-Rock balançado, no limiar do R'n'B, volta na sua constituição para dar encerramento bem dançante para a canção.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=RJiigYqsviU

Ponte Aérea” é a nona faixa. Ela se inicia a insinuar se tratar de uma canção Soft-Rock, mas logo muda o panorama ao atingir um padrão de Pop-Rock ao estilo "AOR". No refrão, com a incidência do dueto vocal, há uma influência Country-Rock bem interessante o que fez recordar do som de Linda Ronstadt nos anos setenta. 

É ótimo o solo de guitarra, é preciso salientar. Um breve interlúdio usa o Reggae como referência e o sonoro palavrão cantado, não machuca o ouvido pois ficou nítida a intenção de enfatizar uma ideia em formato de interjeição.

E para encerrar, volta-se ao início com nova quebra rítmica e desta feita a trazer subliminarmente um elemento mais brasileiro, a insinuar o samba.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=cgRZc0MZuZQ

Maroto” (Gozi) fecha o disco. Nesta faixa, o balanço alcançado pelo arranjo é muito grande a evocar tradições boas do R’n’B e da Soul Music, portanto, empolga não apenas pela instrumentalização bem rica, mas também pela linha melódica e bons backing vocals. 

O uso do Wha-Wha na guitarra foi providencial para garantir a atmosfera Black Music muito dançante e bastante enriquecida musicalmente, portanto a se configurar como algo contido na boa cartilha do gênero. E assim, com clima de final de anos sessenta/início dos anos setenta, o disco se encerra da melhor maneira possível na minha avaliação.

Em suma, o trabalho do duo, “Gozi” é multifacetado e amparado por ótimas referências estilísticas, bem engendrado e executado, a se valorizar o bom gosto, inclusive, mediante as escolhas que fizeram ao se cercarem de amigos talentosos para lhes fornecer o apoio como banda.

Por dedução, eis mais um trabalho que eu recomendo, certamente.

Gravado no estúdio do Meneka, entre 2017 e 2020.

Técnico de áudio, mixagem e masterização: Márcio Menechi

Capa: criação e lay-out final: Ozi Garofalo

Fotos: Vanderberg Cruz e Neide Sakai (ambos in memoriam)

Composições e produção geral: Ozi Garofalo

O Gozi tem em sua formação fixa, a dupla:

Ozi Garofalo: Violão e Voz

Gisele Garof: Voz

Músicos convidados:

Ayrton Mugnaini Junior: Baixo

Cristiana Costa: Teclados

Carlão Semprini: Bateria

Marcos Mamuth: Guitarra

Carlão Freitas: Gaita

Rafael Lima: Percussão

Márcio Menechini: Guitarra

Edvaldo Santana: Voz

Rei Salles: Vocal

Bráu Mendonça: Violão

Rosangela Alves: Voz

Para conhecer melhor o trabalho do Gozi, acesse:

Página oficial no Facebook

https://www.facebook.com/gozibanda/about/?ref=page_internal

Canal no YouTube:

https://www.youtube.com/user/ozigarofalo

Spotify:

https://open.spotify.com/artist/6wUoBnFKo6uYZvgkh4RWB9?si=kltmXpRMRMaoMgbGTG40pw&nd=1

Deezer:

https://www.deezer.com/us/album/193515872

Instagram:

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