Sou músico e escrevo matérias para diversos Blogs. Aqui neste meu primeiro Blog, reúno a minha produção geral e divulgo as minhas atividades musicais. Não escrevo apenas sobre música, é preciso salientar ao leitor, pois abordo diversos assuntos variados. Como músico, iniciei a minha carreira em 1976, e já toquei em diversas bandas. Atualmente, estou a trabalhar com Os Kurandeiros.
"Cinquenta anos em cinco", foi o que o presidente, Juscelino Kubitschek costumava afirmar ao referir-se sobre o seu mandato, ao estabelecer uma alusão ao impulso desenvolvimentista que o Brasil ganharia com a introdução da indústria automobilística no Brasil. Sem dúvida que essa iniciativa trouxe progresso em muitos aspectos, mas trouxe a reboque, diversos malefícios também, fora o fato de que, sim, o Brasil cresceu, mas muito aquém do exagerado slogan de seu governo.
São Paulo S/A : assista a versão integral do filme
E foi dentro dessa perspectiva socioeconômica, que o jovem cineasta paulistano, Luiz Sérgio Person construiu o seu primeiro longa-metragem, denominado : "São Paulo S/A". Logo na primeira cena, Person já arrebata-nos. Do lado de fora de um prédio ao estilo da classe média, localizado no centro de São Paulo, vemos um casal a discutir dentro de um apartamento residencial.
Não ouvimos o diálogo, apenas observamos a briga e no ápice, o rapaz quebra objetos e sai de casa transtornado, para deixar a moça em prantos.Essa perspectiva silenciosa inicial, sucinta inúmeros questionamentos. Seria um casal ? Por quê brigaram ? Onde isso vai levar na trama do filme ?
Ecos Hitchcockianos óbvios logo de início, embora na biografia de Person, isso não seja citado com ênfase. Ele era um entusiasta do cinema italiano, principalmente, e talvez o mestre do suspense, não tivesse influenciado-lhe fortemente, mas convenhamos, essa primeira cena evoca tal suspeita.O sujeito transtornado é Carlos, interpretado por Walmor Chagas, sob um de seus melhores (senão o melhor), papéis no cinema.
A sua jovem esposa é Luciana, interpretada por Eva Wilma e a briga era mais uma entre tantas que o casal travava, pela insatisfação dela perante o comportamento de seu marido, que insistia em fugir ao padrão tradicional da família classe média daquele período.
Carlos tem amantes, mas não é nem pela vida dupla (no caso tripla), que leva, mas pelo fato de que não trata-se de um hedonista pura e simplesmente.O personagem vive sob pressão o tempo todo e nem o prazer carnal, dividido com várias mulheres, o satisfaz. A sua inquietude é profunda e reflete o massacre da sociedade que deixa o homem mediano acuado, sem perspectivas e pior que tudo, derrotado diante dessa engrenagem.
Carlos é recém formado em desenho industrial e acaba de ser admitido na Volkswagen, uma empresa sólida, gigante no mercado. Ele casou-se com Luciana (Eva Wilma), apenas para cumprir o roteiro esperado de um jovem típico da classe média que forma-se na faculdade e constituiu uma família.
E ela, idem (apesar de "trabalhar fora", algo incomum para a época, como professora de inglês), ao seguir o padrão da típica "menina de família", mas a sua frustração é diferente em relação ao Carlos, pois não apresenta a mesma inquietude que atormenta o rapaz em relação à sua crise existencial.
Isso intensifica-se, com as cenas onde aparecem as amantes de Carlos (Ana, interpretada por Darlene Glória e Hilda , vivida por Ana Esmeralda).No caso de Carlos, se nem o prazer sexual o supre inteiramente, a sensação de vazio o consome.
Ele conhece então o empresário italiano, Arturo (interpretado por Otello Zeloni), que prospera vertiginosamente no ramo de autopeças, sinal de que a indústria automobilística girava a economia paulista naquele momento marcado pela grande euforia do desenvolvimento industrial.Carlos larga o emprego na Volkswagen e vai trabalhar como gerente de Arturo, na loja de autopeças. Só que Arturo é um tremendo sonegador de impostos e muito da sua prosperidade acintosa vem dessa falcatrua contábil...
Luciana é ambiciosa e ingênua ao mesmo tempo. Acha Arturo um exemplo de homem bem sucedido a quem Carlos deveria imitar, o que o deixa ainda mais deprimido.Carlos entra em uma crise e nada mais dá-lhe esperanças. O massacre da grande cidade, via sociedade de consumo desenfreado, atormenta-o.
São incríveis as cenas dele a caminhar de forma atordoada por ruas do centro de São Paulo, para extravasar essa angústia indissolúvel. Person estudou cinema na Itália (Centro Sperimentale de Cinematografia de Roma), e é claro que absorveu muito do neo-realismo italiano e do estilo introspectivo de cineastas do pós-realismo.Visconti; Antonioni e Zurlini, sem dúvida, impressionaram-lhe.
Em São Paulo S/A, Person soube trabalhar essas influências múltiplas de uma forma muito convincente. A dor existencial do personagem, Carlos, reflete-se em seu estômago, para consumi-lo.A força motriz do filme baseou-se nessa emoção angustiante e convenhamos, Walmor Chagas contribuiu muito com o sucesso do filme, através de sua interpretação, que é notável.
Considero o filme, São Paulo S/A, uma obra extraordinária, por todos esses elementos que descrevi, no campo da estética cinematográfica, mas é também um filme a conter virtudes técnicas.A fotografia PB é muito bonita (assinada por Ricardo Aronovitch); com trilha sonora muito boa de Cláudio Petráglia e edição de Glauco Mirko Laurelli.
Uma curiosidade anacrônica merece ser mencionada : há uma cena onde o casal, Carlos e Luciana vai ao cinema e vê-se um poster do filme : "Seven Days in May", do diretor norte-americano, John Frankenheimer. Ora, se o filme de Person dizia estar situado nos "anos JK", entre 1957 e 1961, como poderiam estar indo ver um filme que só seria lançado em 1964 ? Certamente a moça da continuidade distraiu-se e esqueceu de anotar esse "pequeno detalhe", no seu caderninho de anotações...
Mencionei isso apenas como um fato curioso, quiçá, engraçado, sem a menor intenção em desabonar a obra, deixo bem claro.Mesmo porque, eu o recomendo, sem reservas. Se não o viu, procure assisti-lo; se já o viu, cabe revê-lo !
Para a nossa sorte, Luiz Sérgio Person não parou por aí e realizou mais filmes com grande qualidade. Todavia, para o nosso azar, Person faleceu por conta de um acidente automobilístico nos anos setenta, com apenas quarenta anos de idade e para deixar a certeza de que brindar-nos-ia com muitos outros filmes dotados de muita intensidade, como São Paulo S/A.C'est La Vie, como diria o Greg Lake...
Houve uma época, não tão remota assim, que o rio Tietê, em São Paulo, era sadio e portanto, responsável por diversas atividades esportivas e a oferecer dessa forma, lazer para os paulistanos.Qual família paulistana não possui em suas relações, relatos provenientes de vovôs e bisavôs, com as suas histórias sobre pescarias; natação e esportes aquáticos praticados ali, em momentos de lazer ocorridos outrora ?
Até que iniciasse-se em massa o despejo de dejetos industriais e da rede de esgoto, sem controle algum por parte da prefeitura e do governo estadual, o rio foi limpo e saudável.
E por ter essa utilização aberta à pratica de esportes, motivou a criação de diversos grandes clubes multiesportivos, às suas margens. Dois deles ficaram frente a frente, separados pelo rio e tornaram-se rivais em diversas modalidades : Espéria e Tietê. Por notabilizar-se pela prática de esportes náuticos, principalmente, ambos envolveram-se em acirradas disputas esportivas, ao entrar para a história esportiva da cidade de São Paulo.
Porém, ao longo do tempo, cresceram muito e expandiram-se, ao tornar-se polos esportivos, com diversas modalidades, além do remo e da natação.
No caso específico do Clube de Regatas Tietê, fundado em 1907, foram muitas as glórias esportivas acumuladas por tal agremiação.Muitos atletas formados nas suas quadras e piscinas, representaram o Brasil em jogos Panamericanos; Mundiais e Olimpíadas.
Cito por exemplo, Maria Esther Bueno, a maior tenista brasileira de todos os tempos (campeã em Wimbledon e no US Open, além de vice-campeã em Roland-Garros, ou seja, um vitoriosa no circuito principal do tênis mundial, o dito, Grand Slam), que iniciou a sua carreira no Tietê.
É o caso também da nadadora, Maria Lenk, outra atleta que deu as suas braçadas nas piscinas do Tietê, assim como o decano dos dirigentes esportivos, João Havelange, este, um ex-presidente da CBD (atual CBF); FIFA e membro vitalício do COI. O nadador, Abílio Couto e os corredores, Álvaro Ribeiro e Bento de Camargo Barros também brilharam em suas modalidades. O avô do piloto de Fórmula 1, Ayrton Senna, também foi atleta do C.R. Tietê, o sr. João Senna, praticante da natação.
Aliás, ao seguir a sua vocação náutica, o Tietê foi o primeiro clube da América do Sul a possuir uma piscina olímpica, em 1940, o que dá para mensurar a sua grandeza de outrora. Tal clube ostenta cerca de dois mil e duzentos troféus ganhos pelos seus atletas, em sua sala, para demonstrar que foi um clube vitorioso.
No meio da década de cinquenta, era famoso o seu show de "aqualoucos", que atraía e divertia um excelente público. A equipe do Tietê era liderada por um sujeito que posteriormente ficou famoso na TV e no cinema, como comediante, chamado : Ronald Golias... As festas de Reveillon foram por muitos anos marcadas pela disputa com o rival, Espéria. À meia-noite, um clube queria superar o outro no show pirotécnico e quem ganhava era a cidade com esse espetáculo. Mas, com a decadência do rio, o clube Tietê também colocou-se a declinar. Não foi só esse o fator de sua decadência, sem dúvida, mas emblematicamente, o principal.
Hoje, o seu quadro associativo caiu drasticamente. Segundo apurei, não passam de mil e quinhentos associados (houve época em que passava de quarenta mil) e na faixa etária média de sessenta anos, sem perspectivas de renovação. A sua parte social que era super ativa, com festas; bailes; concursos de miss e shows musicais, acompanharam a decadência, infelizmente. E o golpe final veio do poder público : como encerra-se o período do comodato do terreno que pertence-lhe e ao considerar-se que o clube acumula dívidas de mais de quarenta milhões de reais com encargos atrasados, o despejo é inevitável.
Claro que sócios; ex-atletas e simpatizantes estão a protestar e comissões foram mobilizadas para apelar à prefeitura e até na câmara de vereadores, mas a decisão do poder público foi irreversível.A prefeitura de São Paulo pretende usar o equipamento do antigo Tietê para a formação de atletas. Menos mal que tenha esse plano e não o destrua simplesmente, para cedê-lo à sanha da especulação imobiliária.Porém, dói na alma ver um clube tão tradicional ser aniquilado dessa forma, sendo que muito de sua decadência deve-se à situação caótica do rio Tietê, portanto, culpa direta do descaso do poder público municipal e estadual, há décadas.Causa espanto e revolta entre seus atuais dirigentes o fato de que a prefeitura firmou acordo para rever o comodato de terrenos e renegociação de dívidas com oito clubes tradicionais da cidade, incluso gigantes envolvidos com o futebol profissional, casos como o do Corinthians; Portuguesa; São Paulo e Palmeiras e tenha mantido postura implacável contra o Tietê.Pode estar dentro da Lei, juridicamente a falar, mas não é nada justo, moralmente, o que está a acontecer com o simpático, Clube de Regatas Tietê.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu e republicada posteriormente no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012
Há muito tempo atrás, o processo de surgimento de novos artistas no panorama cultural, mantinha um curso natural. Iniciava-se geralmente entre a infância e adolescência, quando a garotada começava a interessar-se por arte de uma maneira em geral e no campo da música em específico, ao admirar artistas consagrados. Tudo é lúdico e mágico nessa fase e o glamour gerado por um artista de renome geralmente proporcionava o surgimento de uma semente no âmago dos aspirantes, que frutificava de tal maneira a ser quase uma epifania messiânica.
Bons tempos esses, onde o celeiro de novos artistas foi sempre forjado pela safra boa e a perpetuar-se, uma nova geração surgia sempre amparada e inspirada pela qualidade em relação aos artistas consagrados, em detrimento a uma outra concepção, onde artistas de plástico são criados como peças meramente descartáveis por produtores embotados, obcecados por dinheiro e nada mais. O sonho de ser artista, acompanhou um grupo de adolescentes da Freguesia do Ó, um tradicional bairro da zona noroeste de São Paulo, nos idos de 1981.
Ainda adeptos da velha fórmula, eles queriam tocar; compor e cantar como os seus ídolos da música e nessa predisposição positiva, esmeraram-se em estudos & ensaios.Sob o nome de "Leito de Pedra", esses rapazes imberbes começaram a sua luta com galhardia; garra e com as suas respectivas mentes focadas no sonho. Em sua primeira formação, os seus componentes foram : João Carlos Ferraresso (guitarra e voz); Izal de Oliveira (baixo); Mario Moreno (guitarra); Marco Massarelli (bateria) e João Gilberto Bacchetti (voz).
O começo heroico dessa trajetória adolescente foi o comum de tantas outras bandas, ou seja, a trajetória forjada através de apresentações em festivais colegiais; festas, feiras e eventos públicos no bairro e adjacências.A primeira apresentação que guardam com orgulho na memória, foi na sede social da Igreja do Largo Nossa Senhora do Ó, a principal do bairro, onde tocaram um repertório básico composto por canções dos Beatles e sucessos do Rock brasileiro oitentista em voga, a destacar artistas como o Ira e Lulu Santos, por exemplo.
Um pouco além desse momento, uma mudança de formação, trouxe, Milton Moreno para substituir, Marco Massarelli na bateria; o vocalista, João Gilberto Bacchetti deixou a banda e o irmão de João Carlos Ferraresso, Nelson Ferraresso, entrou na formação, como tecladista e backing vocalista.Surgem então as primeiras composições, onde a influência maior foi o Rock dos anos setenta, em vertentes como o Progressivo e o Hard-Rock.
Bandas internacionais famosas tais como : Yes; Pink Floyd; Focus; Led Zeppelin; Grand Funk Railroad; Rolling Stones, e Deep Purple, entre outras, influenciavam fortemente esses garotos, mas houve também a generosa parcela de influência do Rock brasileiro e da MPB, com artistas como 14-Bis; O Terço; Milton Nascimento e Lô Borges, a frequentar a vitrola deles, o tempo todo.
Em 1984, mais maduros e a compor e toca bem, mudam o nome da banda para "Sigma", que perdurou assim até o final das suas atividades, no início dos anos noventa. Antenados, frequentavam o circuito de shows de São Paulo, sempre a procurar a adequação ao mercado e assim a buscar interação com a cena musical da época. Frequentavam os teatros alternativos (Lira Paulistana, o Teatro Mambembe, os teatros de bairro da prefeitura etc), o Centro Cultural São Paulo, danceterias que promoviam shows de rock aos borbotões etc. Mas com o fim das atividades da banda, muitas músicas ficaram engavetadas por anos, pois o "Sigma" houvera sido um celeiro de músicos e compositores de talento, mas que dispersaram pelo mundo, a tocar em outros projetos; atuar como side-man de artistas consagrados etc.
Foi quando os irmãos Ferraresso, João Carlos e Nelson, uniram forças e resolveram tirar do ostracismo essas canções esquecidas e em 2007, gravaram o CD "Cantos da Estrada". A proposta foi tocar esse projeto como uma banda, embora não tivesse sido possível reunir todos os membros originais. O trabalho criado nos anos oitenta finalmente veio à tona, e com o acréscimo deles estar absolutamente maduros, portanto, o fator experiência adquirida pela vivência na música nesses anos todos sob o hiato forçado, foi benéfico para o trabalho.
Com um apuro incrível, os irmãos gravaram as suas canções amparados por um belíssimo trabalho de arranjos; execução e escolha de timbres, primorosa. Claro, as composições, independentemente dessa roupagem enriquecida, tinham no seu bojo, muita qualidade. Com todas as influências que acumularam durante toda a carreira, não poderia ser de outra forma, o trabalho contido no CD "Cantos da Estrada", é excepcional. A começar pela canção homônima do título do álbum. Pois, "Cantos da Estrada" tem atmosfera progressiva, com teclados em profusão, muito bem executados, percussão criativa e um vocal que interpreta bem a bela melodia principal.
Ouça a canção "Cantos da Estrada" "Nave Incandescente" tem ares de balada, com a inclusão de um interessante riff de guitarra, com ares Hard-Rock e a voz lembra de certa forma o estilo de Cazuza, dos anos oitenta. "Mundão", traz roupagem em torno do Country-Rock, com execução perfeita. "Isso Tudo Passa" lembra Cazuza novamente, na interpretação de João Carlos Ferraresso e com uma agradável intervenção dos teclados de Nelson Ferraresso, encerra-se em grande estilo. "Girassol" contém um irresistível swing de MPB dançante, sob acento soul. Tem muito balanço na linha de baixo e uma percussão muito bem tocada e colocada. Destaco o piano elétrico de Nelson Ferraresso, com nítida influência da MPB mineira de Lô Borges.
Em "Livre da Poeira", o violão bem brasileiro e muito bem tocado de João Carlos Ferraresso, impressiona. "Livre da Poeira II", é um Blues rasgado, daqueles que só os bluesman sabem extrair das entranhas. "Gelo Seco" é um bonito tema instrumental, onde os irmãos Ferraresso e seus convidados puderam criar uma atmosfera auspiciosa. "Amor de Verdade" é uma canção centrada no violão, onde João Carlos Ferraresso usou o recurso da declamação. Foi ousado, pois esse expediente é norteado pela linha tênue que separa a intensidade declamatória (onde exige-se talento de ator para monólogos, por exemplo), e a pieguice, onde a maioria escorrega no tobogã da cafonice. João Carlos Ferraresso acertou e incluiu-se portanto, no primeiro rol que citei. Nesse trabalho, além dos irmãos Ferraresso, participaram : Daniel "Lanchinho" Rodrigues (bateria); Aden Santos (baixo e guitarra); Marcel Rico (baixo) e Edu Gomes (guitarra).
Segundo Nelson Ferraresso (que aliás auxiliou-me com informações valiosas para que eu pudesse elaborar esta resenha), há planos para dar seguimento ao trabalho e naturalmente um novo CD deve sair.Torço muito por isso !
Ao falar da minha relação pessoal com essa rapaziada, eu, Luiz Domingues, tive um contato inusitado com eles, inicialmente em 1986. Através de uma namorada que eu tive nessa ocasião, fui assistir um ensaio do "Sigma", pois eles eram conhecidos dela, do bairro da Freguesia do Ó, onde morava.
Izal de Oliveira a tocar com o "Caça Níqueis", um Power Trio versado pelo Blues-Rock Contudo, perdi o contato e somente na início dos anos noventa, fui estabelecer amizade com o baixista, Izal de Oliveira, quando ele solidificou-se como um ótimo baixista a atuar com a banda, "Caça Níqueis", com bom trabalho na área do Blues-Rock, ao ter lançado vários CD's, realizar muitos shows etc. E no ano de 2011, quando tornei-me integrante da banda de Kim Kehl & Os Kurandeiros, retomei o contato com Nelson Ferraresso, que é tecladista dessa banda, praticamente desde a sua fundação. Foi o meu amigo, Kim Kehl, que mostrou-me o trabalho : "Cantos da Estrada", do qual encantei-me.
Kim Kehl, sabedor do fato que escrevo matérias em Blogs, deu-me a ideia de falar sobre esse trabalho e diante desse incentivo, ponderei sobre dois aspectos : 1) É inacreditável que um trabalho dessa qualidade artística esteja despercebido perante mídia e grande público e ; 2) Eu escrevo normalmente sobre diversos assuntos e dificilmente falo sobre música, o que chega a ser insólito se considerarmos que talvez fosse o tema que mais esperariam que eu abordasse em minhas matérias. Portanto, acho que se for para falar de música, esse nicho interessa-me muito, que é o de enfocar artistas de extrema qualidade, mas com pouca ou nenhuma visibilidade na mídia. Sendo assim, aguardem mais matérias com esse teor, doravante, pois se por um lado vemos um panorama tétrico na música mainstream, por outro, existe uma gama de artistas de muita qualidade, sem chance alguma para mostrar o seu talento, diante da massacrante opressão que forças ocultas exercem para dominar a difusão cultural de baixo nível, no Brasil.Não vou estabelecer um discurso inflamado para expressar a minha revolta nesse sentido, mas sim, usar o meu humilde Blog para fornecer a minha contribuição no sentido oposto, ou seja, ao mostrar artistas de verdade, com qualidade; coração e alma. E os irmãos Ferraresso, representam exatamente isso.
A mitologia grega é uma das mais ricas, sem dúvida alguma, por trazer em seu bojo, todas as explicações da cosmogenese que a rica imaginação de seu povo pôde conceber. E nessa disposição, o seu panteísmo explicava a ação dos ventos, como a vontade de um Deus específico dessa manifestação da natureza, e este tornou-se conhecido pelo nome de : Éolo.
Entendida a morfologia da palavra, sabemos que a energia eólica é uma das mais importantes neste momento no planeta, por todas as razões ambientalistas que nem cabem mais em ser repetidas.E não trata-se de nada moderno que tenha surgido graças aos avanços da tecnologia, como muitos podem pensar. Basta elucubrar que a impulsão mediante velas, é usada desde a antiguidade, nas navegações. E no campo da agricultura, os moinhos de vento fazem esse trabalho com eficácia e economia, desde a Idade Média, certamente.
No mundo moderno, o princípio dos moinhos continua a valer e os campos eólicos trabalham nesse sentido, para gerar a energia elétrica limpa, de alta ou baixa tensão.O Brasil empreende esforços de ampliação desse tipo de geração de energia, contudo, ainda timidamente. Em 2008, por exemplo, produziu 341 MGW. Aumenta o desempenho ano a ano, mas ainda aquém de seu potencial, com a geografia privilegiada que possui. Para ter-se uma ideia, o consumo interno de energia elétrica do país, beira a casa dos 70 gigawatts.
A China é atualmente o país que mais investe nesse tipo de geração de energia, seguido da Alemanha. Dinamarca e Portugal também demonstram crescimento nesse setor. Mesmo ainda insuficiente, a produção brasileira responde por mais da metade da soma de nossos vizinhos sulamericanos, que apresentam resultado insignificante nesse sentido. Está construído, por exemplo, o complexo de Caetité, no interior da Bahia, que será o maior da América Latina. Contudo, por questões burocráticas de editais e que tais, está parada neste instante, sem gerar energia nem para alimentar um liquidificador doméstico, em busca de uma vitamina matinal...
Pois eu já falei sobre o monstro burocrático e o quanto ele atrasa-nos, mas parece que as autoridades não pensam como nós, pobres mortais...
Segundo o governo federal, a usina deverá começar a produzir em julho de 2013 e assim esperamos que cumpra-se. E ao acreditar nessa perspectiva, uma fábrica de componentes para usinas eólicas, funciona a todo vapor em Pernambuco. Tomara que arrebentem de tanto trabalhar e lucrar, para alimentar outras tantas usinas espalhadas por todo o país.
E outra alternativa muito interessante está em curso, ao prometer gerar energia limpa e barata, igualmente. Trata-se do uso da força das ondas do mar, como impulso para gerar-se energia. Ainda em caráter experimental, esse tipo de geração de energia está instalado no porto de Pecém, a 60 KM de Fortaleza, no Ceará. Em princípio, essa mini usina alimentará de energia o porto e as residências de sessenta famílias de funcionários que lá trabalham. Mas os engenheiros estão muito otimistas em relação ao sucesso desse tipo de geração de energia, ao abrir a possibilidade para a larga escala, em um futuro não muito distante.
E convenhamos, com oito milhões de Km quadrados, o Brasil tem um potencial inacreditável para tal perspectiva de geração de energia limpa. O que não falta aqui é solo; vento e costa marítima com ondas abundantes. De volta à mitologia grega, como poderíamos referir-nos à essa energia gerada pelas ondas do mar ? Talvez "poseidônica", em referência ao Deus dos mares, Poseidon ? Irrelevante questão... o importante é que funcione, sendo barata e limpa para o ecossistema.
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica e posteriormente republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012