domingo, 27 de abril de 2014

Versão Brasileira... Herbert Richers - Por Luiz Domingues

Qual brasileiro que assiste TV, já não ouviu a frase : "versão Brasileira, Herbert Richers" ? Trata-se portanto de um dos maiores estúdios de dublagem do Brasil, é responsável por grande parte da produção nesse setor, e que recebeu o nome de seu fundador. Herbert Richers nasceu na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, em 11 de março de 1923.

Foi um menino normal do interior, até ser influenciado irremediavelmente pelo cinema. No entanto, daí a envolve-se foi uma outra situação bem diferente, e assim, o pequeno Herbert manteve um trunfo familiar para poder sonhar com um possível envolvimento nesse mundo. Ele era sobrinho do dono de um estúdio de revelação, que prestava serviços para produtoras de cinema, no Rio de Janeiro. Dessa forma, em 1942, ele chegou de mala & cuia na cidade maravilhosa, com um emprego garantido por seu tio.

Foi a sua porta de entrada para o mundo do cinema e daí, mesmo sendo muito jovem, embrenhou-se nesse universo, para conhecer pessoas importantes do meio e dessa forma, galgar degraus dentro dessa engrenagem.

Herbert tornou-se então um produtor requisitado, ao ter trabalhado em diversas produções do cinema nacional, incluso campeões de bilheteria da produtora Atlântida, que costumava levar as multidões às salas de cinema de todo o Brasil. Não apenas os filmes longa metragem, mas Richers também foi produtor de inúmeros curta- metragem; documentários e os famosos cine-jornais, que sob uma Era pré-TV, representaram uma fonte de informação importante para as pessoas, antes que elas assistissem os filmes que desejavam ver nas salas de cin ema de todo o Brasil. Foi no ano de 1950, que ele fundou a sua própria empresa, a Herbert Richers e por crescer  muito no mercado, rapidamente, logo consolidar-se-ia.

Ainda no início dos anos cinquenta, Richers foi aos Estados Unidos e conheceu pessoalmente o produtor, Walt Disney. Tornaram-se amigos e graças à essa amizade pontual, Richers deu outro salto na carreira, ao ouvir o conselho de seu experiente amigo norteamericano, para que investisse assim fortemente no mercado de dublagens, especialmente para a TV. O momento fora propício, pois a TV estava a todo vapor no Brasil, porém, carecia ainda de melhores condições técnicas. Nesses termos, a reclamação generalizada dos telespectadores foi precisa : quando da exibição de produção estrangeira na TV, as legendas não conseguiam ser claras o suficiente, devido aos problemas de contraste e brilho que a TV detinha na ocasião.

Portanto, fizera-se mais do que necessário que tal produção de dublagem fosse concretizada e dessa forma, Herbert Richers entrou com tudo nesse mercado, ao garantir a sua fama, pela competência e profissionalismo, e para abrir o caminho para o surgimento de concorrentes de qualidade também, casos da AIC; Álamo e outras. Em 28 de junho de 1963, um incêndio com grande proporção comoveu o Brasil. O edifício Astória, na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, ardeu em chamas, ao ceifar vidas; causar dor e perdas materiais.

A organização Herbert Richers localizava-se nesse edifício e muito material e maquinário foi prejudicado, todavia, por sorte, muito do material do estúdio, alojara-se em outro endereço e dessa forma, muito material foi poupado. Foram rolos de filmes a conter grandes clássicos do cinema nacional que poderiam ter desaparecido, como : "Vidas Secas", por exemplo. Herbert Richers só parou de trabalhar quando a doença o impediu. Idoso e com problemas renais, deixou-nos em 2009.

A empresa continua a todo vapor e eu deixo em anexo o link do site oficial, onde pode ser vista a instalação dos estúdios, onde  realiza-se os trabalhos de dublagem que ouvimos costumeiramente quando assistimos filmes; seriados; desenhos animados e documentários de procedência internacional, com as vozes brasileiras, a demonstrar uma dicção perfeita; impostação clara e com o uso coloquial de nossa língua, a facilitar o entendimento das obras.

http://dezoito.com/herbertrichers/ind_2.html

Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2014

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Kim Kehl & Os Kurandeiros - Dia 26/4/2014 - Sábado / 21:00 h. - Casa Amarela Pub - Osasco / SP



Kim Kehl & Os Kurandeiros

Dia 26 de abril de 2014

Sábado  -  21:00 h.

Casa Amarela Pub

Rua Dr. Mariano J. Marcondes Ferraz, 96

Centro

Osasco  -  SP

Kim Kehl & Os Kurandeiros :

Kim Kehl : Guitarra e Voz

Carlinhos Machado : Bateria e Voz

Luiz Domingues : Baixo 

domingo, 20 de abril de 2014

Filme : Ladri di Biciclette (Ladrões de Bicicletas) - Por Luiz Domingues

Uma das escolas de cinema mais sensacionais que surgiu no século XX, foi a do Neorrealismo Italiano. Um estilo forjado na pura determinação, com cineastas que ousaram filmar pelas ruas da Itália (e na Alemanha, também), semidestruídas pela guerra, e invariavelmente a utilizar atores amadores, pessoas simples e sofridas, extra´´idas do seio do povo, para interpretar o papel deles mesmos, sob a desolação dos escombros e da miséria.

E dentro de um rol de filmes muito significativos desse estilo cinematográfico (gosto de vários, para não dizer todos os seus grandes expoentes) hoje escolhi como tema para esta resenha, um que cala-me fundo : "Ladri di Biciclette" ("Ladrões de Bicicletas", em português).

Ambientado na Roma do pós-guerra, mostra a rudeza de um país em frangalhos; com as pessoas desesperadas pela ausência de condições dignas de sobrevivência e de forma avassaladora, expõe a injustiça, como um agente cruel da desumanidade.


Antonio Ricci (interpretado por Lamberto Maggiorani), é um pai de família desempregado, como muitos naquele momento triste da Itália. Ele procura de forma ávida, qualquer serviço que apareça-lhe, ao enfrentar diariamente a rispidez de empregadores mal humorados que oferecem pouquíssimas colocações no mercado. Nas portas das fábricas; no comércio e rede de serviços, todo dia pela manhã, aglomeravam-se centenas de homens nas mesmas condições que ele, ou seja, pais de família desesperados a brigar pela mesma vaga, como verdadeiras aves de rapina a disputar restos de animais mortos no deserto. Um dia, surge enfim uma oportunidade. Não passa de um subemprego, com remuneração muito baixa, mas ele quer agarrar tal oportunidade a todo custo.Trata-se de uma vaga para ser colador de cartazes, os antigos : "lambe-lambe" espalhados pelos muros da cidade.

Todavia, o empregador deixa claro : é imprescindível que o aspirante à vaga, possua uma bicicleta. Ele lembra-se que a sua bicicleta está na loja de penhores e não tem um centavo para resgatá-la. Todavia, sem a bicicleta, fica sem emprego...

Sem outra alternativa, ele mente e diz possuir a bicicleta em mãos, e o empregador o contrata. Terá que apresentar-se às 6:30 h. da manhã do dia seguinte, portanto terá algumas horas para tentar angariar o dinheiro e buscar a sua bicicleta penhorada.


Ele chega em casa e conta o seu drama à esposa (Maria Ricci, interpretada por Lianella Carell). Resoluta, ela tira o lençol da cama, apanha outras peças do armário e as lava imediatamente. Corte : estão na loja de penhores a oferecer as roupas de cama da família, lavadas e passadas, mas o homem da loja parece irredutível em oferecer-lhe um preço baixo, apenas a repetir monocordicamente a frase pronta : são usadas, senhora...

Quase a implorar por uma oferta um pouco melhor, a senhora consegue dobrar o coração duro do comerciante e com esse acréscimo, o casal consegue o suficiente para resgatar a bicicleta e ainda sobra um pouco para garantir as refeições da família por alguns dias. Antonio vai ao outro guichê da loja e com semblante de felicidade, resgata a sua bicicleta. A sua alegria em ver a bicicleta modesta e antiga, é a do homem que enxerga nela, na verdade, a condução para uma vida melhor para a sua família, esposa & dois filhos, sendo o mais novo, ainda um bebê.

Simultaneamente, ele vê outro funcionário levar a roupa de cama de sua família para o depósito. O funcionário escala uma montanha com trouxas de roupas similares, ao denotar que não fora apenas a sua esposa que empreendera esse sacrifício em prol da sobrevivência da família... a Itália inteira estava ali naquela montanha de lençóis brancos, a representar a penúria...

Antonio vai ao trabalho bem cedo, feliz da vida. Ele deixa o seu filho no seu emprego (sim, um menino de sete anos de idade que trabalha como frentista de um posto de gasolina...), Bruno Ricci, interpretado por Enzo Staiola.

Na manhã seguinte, acompanhado de um funcionário veterano, Antonio começa a colar os primeiros cartazes do dia. Vê-se a propaganda do filme norteamericano, "Gilda", com a imagem da atriz, Rita Hayworth sensualíssima, envolta no glamour que denota um contraste em relação à situação social de Antonio naquele instante. "Gilda"... nunca houve uma mulher assim"... pois é... Do alto da escada, Antonio passa cola no rosto de Gilda/  Rita quando um homem monta em sua bicicleta e sai em disparada...

Aos prantos, Antonio sai a correro atrás : "ladrone, ladrone"... A sua busca frenética revela-se em vão, e o ladrão some de sua vista, para deixá-lo desolado, por que fica claro ao espectador do filme, que mais que a bicicleta em si, o emprego será perdido. Antonio vai prestar queixa na delegacia e o policial que o atende ouve a sua queixa com absoluto desdém. Apenas limita-se a registrar a ocorrência e lhe diz com todas as letras, que a polícia não vai fazer nada, pois trata-se de um roubo insignificante. O protocolo servirá apenas para identificar a bicicleta, caso ele mesmo, a vítima,  localizasse-a em uma loja de penhores por aí...

Desolado, Antonio percebe que está sozinho nesse drama. O governo que não o ajuda em nada, mais uma vez cruza os braços para o cidadão humilde. Sem outra alternativa, passa a procurá-la por toda a Roma. O seu filho é seu acompanhante fiel nessa busca.

Antonio busca informações através de várias pessoas que conhecem bem a malandragem das ruas. Vai à um lugar obscuro, onde camelôs vendem peças de bicicletas. O famoso "desmanche", geralmente alimentado por bicicletas roubadas e desmontadas para a venda aos pedaços, e assim despistar a sua origem ilícita.

Um verdadeiro mercado de pulgas e punguistas, com golpistas por todos os lados e a brigar por centímetros para expor os seus produtos vergonhosos. Vão então à outro lugar obscuro e avistam centenas de bicicletas estacionadas ou em movimento. É pior que procurar uma agulha no palheiro e como agravante, começa a chover... é desalentador !

Subitamente, ambos vêem o ladrão com a sua bicicleta em meio à multidão, mas este percebe que foi reconhecido e evade-se velozmente. Em uma nova perseguição inglória, Antonio parte a correr atrás, mas claro que o perde novamente. Uma pista contudo, surge, quando o vê distante, a confabular com um homem idoso e maltrapilho. Ele aborda então o mendigo velho e este nega conhecer o ladrão, ao fornecer evasivas e a fazer-se como desentendido do assunto.
Nessa altura, cansado e a ser minado pelo desânimo, vê uma movimentação no entorno de uma igreja católica. São muitas pessoas moradoras de rua aglomeradas ali, a ser assistidas por um serviço de voluntariado. Alguns cortam cabelo e barba, outros servem refeições para esses desabrigados. Antonio tem uma expressão atônita diante do que vê, pois no seu inconsciente, sabe que está a poucos passos daquela situação e isso atormenta-lhe profundamente. O tal mendigo idoso estava lá e Antonio resolve empreender uma nova investida. Durante a missa, ele pressiona o velho, que finalmente admite conhecer o ladrão e indicá-lhe o seu endereço. Antonio não confia e quer que o velho o acompanhe, mas ele usa de um ardil e consegue fugir da igreja.

A cantoria e as palavras de esperança ditas no sermão do padre, são contraditórias ao inferno que Antonio está a vivenciar...

Com os nervos abalados, Antonio descarrega a sua raiva no filho, mas arrepende-se a seguir. O menino fica muito abalado e não entende por que foi esbofeteado, gratuitamente. A resposta do pai para essa questão é sincera, quando justifica o ato, ao dizer-lhe que agredira-o, pois este o deixara nervoso, mas como poderia um menino daquela idade entender o destempero de um adulto desesperado ?


O menino passa a andar separado do seu pai, sob um misto de indignação e medo, e a seguir, desaparece da visão de Antonio. Alguns segundos depois, uma gritaria enorme é ouvida e parece que um menino caiu no rio. Antonio corre desesperado, ao temer pelo pior, mas respira aliviado enfim, ao ver que o menino resgatado da água, não foi o seu filho. Bruno estava sentado na escadaria, a observar tudo de longe. Atordoado, Antonio percebe que o que está ruim, pode ficar muito pior e aliviado, junta-se ao filho. A busca precisa continuar... o dia está por acabar, e ele vai perder o emprego...

Sem dinheiro no bolso, seu instinto paterno busca uma solução para alimentar o filho, na medida do possível. Antonio, inventa uma brincadeira para driblar a adversidade, ao dizer ao filho que ambos  comerão pizza, acompanhada de vinho. Entram então em um restaurante, onde Antonio sabe que a pizza não faz parte do cardápio e a pede, ao esperar a negativa do garçom, para então pedir sanduíche de queijo e um garrafão igual aos de vinho, mas a conter simplesmente água. Sem dúvida que Roberto Benigni deve ter inspirado-se nessa cena para compor o seu : "La Vita é Bella", muitos anos depois. Antonio está exaurido e até em uma vidente foi parar, desesperado, atrás de qualquer fio de esperança em que pudesse agarrar-se. Por um golpe de sorte, quando sai à rua novamente, vê o ladrão da sua bicicleta entrar em um prostíbulo. Enlouquecido, ele  entra no recinto e arranca o meliante pelo colarinho, em meio aos protestos das prostitutas, que sem entender a situação, interpretam-no mal pela postura agressiva. As aparências enganam, definitivamente.

Ao levar o rapaz pelo braço, chega em um beco onde as pessoas ali presentes parecem conhecer o ladrão. É o seu bairro e todo mundo ali é seu amigo. Ao mudar de postura, o ladrão ironiza, pois está seguro na presença dos seus truculentos amigos, a envolver os dois e a ameaçar Antonio.

Mafiosos do bairro aconselham Antonio a sumir dali, pois o rapaz é "inocente", e nada tem a ver com o roubo da bicicleta, em sua avaliação super parcial e equivocada. Bruno percebe o perigo e sai despercebido da multidão ameaçadora em busca de um policial, para salvar o seu pai da situação, e quem sabe resgatar a bicicleta. O policial cumpre a sua obrigação e dá apoio, mas não há nenhuma prova de que o rapaz realmente seja um ladrão, a começar pela ausência do objeto do roubo em questão.

O policial tem boa vontade, mas dá um conselho para Antonio : melhor esquecer tudo e partir, pois não há provas e aquelas pessoas poderiam até inverter o jogo, ao acusar Antonio em perseguir o rapaz indevidamente, além da truculência na abordagem, fora a calúnia; difamação; perturbação da ordem etc. Sob impropérios e ironia, Antonio e Bruno deixam o local. Como se não bastasse todo o sofrimento causado pelo roubo, ter que engolir a injustiça e ainda ser ironizado por isso, foi um duro golpe adicional.

Antonio caminha calado pelas ruas e Bruno sente que o pai perdera a esperança. Bruno é quase atropelado, mas Antonio parece catatônico e nem percebe o perigo que o seu filho sofreu.

Exausto, o menino senta na guia da calçada, quando Antonio vê uma série de bicicletas estacionadas na esquina. O seu olhar parece agitar-se diante de tal visão e da catatonia desoladora, ele passa para uma indisfarçável agitação, com algo a repercutir na sua mente. Uma bicicleta está desgarrada, encostada na parede, sem nenhum dispositivo de segurança que a prenda em lugar algum...

Uma multidão parece estar a evadir-se de uma fábrica próxima. São trabalhadores a voltar para a casa e o tumulto estabelece-se. Antonio está a demonstrar muito nervosismo e então, tira a sua carteira do bolso, dá um dinheiro para Bruno, e ordena que o menino embarque em um bonde e volte para a casa. Claro que o garoto fica desconcertado com a mudança de rumo que o pai estabelece, mas obediente vai ao ponto. Porém, o bonde já estava a passar e ele perde a chance em subir nesse carro. O pai caminha nervoso de um lado para o outro e sob rompante, apanha a bicicleta e sai a rodar freneticamente. Gritos irrompem na multidão : "Ladri, ladrone"...

Perseguido por uma multidão, ele não tem a índole de um bandido. Não conhece a premeditação de um malfeitor frio e "profissional". Era apenas um homem de bem e tal como o Jean Valjean de Victor Hugo, apenas roubara sob um ato de desespero, motivado pelo instinto da sua sobrevivência, e de sua prole. Todavia, como explicar isso às pessoas que flagraram-no a roubar a bicicleta alheia ? Que diferença ele teria aos olhos da multidão, em relação ao rapaz que o roubara horas antes ?

Um princípio de linchamento instaura-s assim que o interceptam. É a hora para refletirmos : o que é justiça e injustiça ? Mais dramática a cena torna-se quando vemos Bruno, o seu filho, que por um golpe do destino, perdera o bonde. Por uma fração de segundos, ele não fora poupado dessa cena horrível em testemunhar o seu pai a ser linchado, por ser pego em flagrante delito ! Muito diferente do verdadeiro bandido que fora protegido por seus amigos e ironizou a situação, agora Antonio não tinha ninguém para proteger-lhe e diante do flagrante, despertara a ira dos homens de bem, que indignados, queriam o estabelecimento da justiça...

Irredutíveis, os homens xingam-no; humilham e agridem-no, fisicamente. O cidadão comum, desamparado pelas instituições, não suporta ter que lutar por sua vida e principalmente por estar à mercê de bandidos sempre prontos a roubar-lhe as migalhas que foram conquistadas mediante o seu suor absoluto.


Bruno desespera-se, corre em direção à essa cena horrível e chora. Agarra-se ao pai e grita, sob uma súplica dilacerante : "pappa... pappa"...

O seu desespero amolece o coração do dono da bicicleta, que resolve não prestar queixa, satisfeito com a sua recuperação. Antonio é libertado e tudo relaxa-se, porém não sem antes ouvir um sermão triste, onde acusam-lhe em ser um ladrão sem vergonha; vagabundo e que dá mal exemplo para o filho... 


Tal sermão parece amparado pela moral, mas em qual moral refere-se ? Mesmo ao deixar claro que um erro não justifica o outro, de forma alguma, somente o espectador do filme sabe que moral; imoral ou amoral são aspectos baseados em conceitos mutáveis no convívio social. O pior passou... não foi linchado, tampouco entregue à autoridade policial, mas Antonio agora recebera o golpe final na sua dignidade. Humilhado, apenas caminha com o seu filho, sem esperança. Um homem derrotado, a chorar pelas ruas de Roma, com a companhia do seu filho, bem assustado, ambos em meio à multidão formada por outros tantos homens, tão sofridos quanto os dois... Fine...

Isso mesmo, o filme não tem final feliz, por que o Neorrealismo Italiano foi uma escola baseada na premissa do cinema "verdade", feito realisticamente.

O fato em não utilizar atores profissionais, mas sim gente comum do povo, sem preparo técnico algum, poderia ser um transtorno para um diretor da tarimba de Vittorio de Sica, mas o resultado prático foi tão sensacional que realmente não há como notar que os atores utilizados nesta obra, foram amadores. A realidade é tão absurdamente pungente, que esse fato tornou-se um elemento a mais para fazer do filme, um sucesso absoluto.

Ele foi muito premiado, e considerado por muitos, um dos maiores filmes de todos os tempos, inclusive ao ser agraciado com o Oscar Honorário de melhor filme estrangeiro de 1948.

Lamberto Maggiorani teve uma atuação tão impressionante que logicamente foi persuadido a tornar-se um ator profissional, visto que na verdade, ele era apenas um operário de uma fábrica. Lamberto realizou mais doze filmes como ator, mas em nenhum deles repetiu a sua atuação impressionante em "Ladri di Biciclette".

O mesmo caso ocorreu com Enzo Staiola, o menino, que deu prosseguimento à carreira de ator e alguns anos depois, já adolescente, chegou a participar do filme norteamericano, "The Barefoot Contessa", com Humphrey Bogart, mas logo a seguir largou a carreira e tornou-se um professor de matemática.

Este filme é um retrato inacreditável sobre o estrago que uma guerra causa para um país. Pois se a guerra acaba no front para os militares, ao cessar o inferno das trincheiras, a população civil sofre muito pela penúria em que fica, no duro período da reconstrução e a aguardar pela volta à normalidade social. 


Recomendo assisti-lo sem reservas e dou um conselho : deixe uma caixa de lenços por perto, pois é de rasgar o coração. Principalmente a cena final, com o desespero do filho ao presenciar o pai a ser flagrado como um reles ladrão, ao estabelecer-se uma grande ironia do destino.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Kim Kehl & Os Kurandeiros - Dia 18/4/2014 - Sexta-Feira - 23:00 h. - The Pub - Rua Augusta 576 / SP





Kim Kehl & Os Kurandeiros

Dia 18 de abril de 2014

Sexta-Feira  -  23:00 h.

The Pub

Rua Augusta, 576

Consolação - São Paulo - SP

Kim Kehl & Os Kurandeiros : 

Kim Kehl : Guitarra e Vocal
Carlinhos Machado : Bateria e Vocal
Luiz Domingues : Baixo

sábado, 12 de abril de 2014

CD The Man Who Died Everyday/Dusty Old Fingers - Por Luiz Domingues

 

Eu já sabia há muito tempo que o jornalista, Tony Monteiro, revelava-se também como um ótimo guitarrista, pois o conheço desde os anos oitenta e desde então, acompanhei o seu esforço para aprimorar-se ao instrumento.
Profissional exemplar no campo do jornalismo musical, ele foi componente da equipe de redação das revistas Roll e Metal, naquela época, e o seu texto sempre foi exaltado como de primeira qualidade.

Eu reconhecia desde então em seu estilo jornalístico, a similaridade com a crítica musical escrita em veículos da década de setenta, tais como a "Rolling Stone", versão brasileira e a "Rock, a História e a Glória", veículos pelos quais as grandes feras do jornalismo musical escreviam e fizeram história.

Conheço muitos jornalistas que tocam e considero isso normal, pois a paixão pela música quase que naturalmente os impeles para tal atividade paralela. Ao ver pelo lado prático, um crítico musical que toca algum instrumento só pode enriquecer a sua escrita, pois dessa forma qualifica-se para mergulhar nos meandros da música e naturalmente passa a ter uma outra visão sobre qualquer obra que for analisar profissionalmente, como crítico.

No caso do Tony, no entanto, isso foi além, pois recordo-me bem que já naquela década, ele foi muito estudioso, pois fazia aulas com um guitarrista muito preparado, técnica e teoricamente e nosso amigo em comum, diga-se de passagem, ao levar a sério a sua dedicação para tocar bem, ao denotar que não estava a esmerar-se somente por uma questão de prover o possível hobby, ou para enriquecer os seus conhecimentos musicais, e assim visar abrir novos horizontes em sua visão sobre a música.
Muitos anos depois, eu soube que Tony Monteiro montara uma banda tributo aos Rolling Stones e regularmente via anúncios sobre as suas apresentações pelas casas noturnas de Campinas-SP, onde habitava e cidades vizinhas.

Pois foi com muito prazer que eu tomei conhecimento que ele havia montado uma banda autoral chamada: "Dusty Old Fingers" e que lançara um CD, com uma ideia muito bem vinda ao empreender um tributo ao mítico guitarrista dos Rolling Stones, Brian Jones, na forma de uma Ópera Rock!

Em "The Man Who Died Everyday", o libreto que a banda criou, narra a trajetória de Brian Jones e disseca em muitos pontos chave a sua biografia, ao fazer uso de poesia e também de referências musicais explícitas para exaltá-las. 

O menino que sabia tocar muitos instrumentos, detinha a aparência de um anjo, mas também era irascível em seu comportamento, gênio & genioso, intenso e marcante a viver em uma década pontuada por tantos outros talentos contemporâneos e além de tudo capaz de ofuscar (e irritar veladamente) os seus companheiros de banda: Mick Jagger & Keith Richards...

Brian Jones, segundo os biógrafos, foi o catalisador dos Rolling Stones. Foi dele a iniciativa de fundar a banda e dele a escolha dos demais membros (há controvérsia sobre a veracidade dessa informação segundo muitos historiadores, eu sei). 

Genial como compositor, multi-instrumentista e artista performático, ele sempre chamava a atenção para si com um carisma incontestável.

Muitos biógrafos cravam a ideia de que sua genialidade incomodava a dupla formada por Mick Jagger & Keith Richards como eu já mencionei acima. Charlie Watts e Bill Wyman pareciam não importarem-se, mas os "Glimmer Twins", supostamente, sim.
Jones mergulhara forte na experiência psicodélica das drogas e chegou em um ponto onde ficou difícil permanecer na banda. Já em 1968, ele emitia sinais inequívocos em público, de que o seu estado de saúde não era dos melhores, por conta dos abusos cometidos.
Contudo, se revelou muito nebulosa a sua saída oficial da banda. Keith Richards passou a namorar Anita Pallemberg, ex-namorada de Brian, e isso parece ter azedado de vez a relação entre ambos.
Já tomadas as providências para substituí-lo e com show marcado para a estreia de seu substituto (no caso a se tratar do guitarrista, Mick Taylor, em julho de 1969), estourou a notícia de que Brian Jones estava morto, encontrado afogado na piscina de sua mansão.

Essa morte em princípio foi creditada ao seu estado catatônico, portanto como um mero acidente. Não suicidara-se, mas simplesmente caíra na piscina sem consciência de seus atos, por conta do abuso no uso de drogas alucinógenas. 

A polícia trabalhou também com a hipótese de assassinato, quando surgiu um suspeito: talvez houvesse sido culpa de um funcionário da manutenção da residência, que o empurrara na piscina por conta de uma motivação torpe.

Entretanto, nunca surgiu uma prova incisiva e esse rapaz saiu ileso dessa acusação. Muitos anos depois, no entanto, com o rapaz já envelhecido e doente, eis que no seu leito de morte, ele arregimentou testemunhas e assinou, no seu último ato em vida, a confissão de que sim, assassinara Jones por vingança, em um momento de muita raiva, ao alegar ter estado cansado de ser humilhado pelo seu patrão, que supostamente o tratava com desdém.
Mesmo com uma confissão formal, essa história ainda sucinta muita controvérsia e ante acaloradas rodas formadas por Rockers a conversar, a opinião divide-se, com muitos a encerrar a questão sobre o tal caseiro ter sido o assassino e outros, que suspeitam que ele fora um mero bode expiatório, pago pelo verdadeiro assassino ou seja, pelo mandante do crime.
Verdade ou mentira, o fato é que quando Brian Jones foi encontrado a boiar sem vida naquela piscina, o Rock começou a morrer junto. Dali em diante, mais três ícones sessentistas que detinham a letra "J" em seu nome, fizeram-lhe companhia na tragédia sob uma rápida sucessão de mortes anunciadas: Jimi Hendrix e Janis Joplin (1970) e Jim Morrison (1971).
Na Ópera Rock composta pelo Dusty Od Fingers, existem momentos muito interessantes para refletir sobre a biografia de Brian Jones.
Logo na primeira faixa, "My Best Enemy", a harmônica leva-nos ao Blues, onde tudo começou para Brian Jones. A sua paixão pelo ritmo norte-americano e como isso deu o movimento para os Rolling Stones começarem a sua carreira marcada pelo sucesso retumbante. Nessa faixa, canta-se: "I discovered James and Johnson/I discovered I could live my way"...

A segunda música do CD, "The World at my Feet", cujo título já diz tudo, aliás, mostra-se o Brian naturalmente genial, confiante no seu potencial e pronto para tornar-se um Rock Star, como de fato aconteceu na sua vida.

Em "Blond Hair, Baby Face", esta peça trata-se de uma bela balada com pegada R'n'B. A letra conta sobre o deslumbramento das fãs descabeladas que esgoelavam-se nas primeiras fileiras dos shows. Ele era um gênio e chamava a atenção feminina pela sua, "Baby Face", sem dúvida alguma.

Uma de minhas canções prediletas desse álbum, é: "Librae Solidi Denarii", que conta como a experiência psicodélica fez Jones mergulhar de cabeça nas drogas. A levada lembra-me bastante o estilo de Frank Zappa e as referências psicodélicas são muitas. Muito boa música mesmo e para um fanático pelos anos sessenta como eu sou, assumidamente, é um devaneio. 

"Everything That I Want" fala sobre o talento de Brian. O rapaz que tirava som de qualquer instrumento, através de uma percepção musical extraordinária. 

"Lost Eyes" é outra faixa excelente. Lembrou-me bastante o Black Crowes, em sua parte "A", com a pura evocação retrô, sob muita qualidade. Na letra, mostra-se como Brian começa a perder o controle de sua vida e tudo dissipara-se, como um sonho em 1969...

"Dirty Hands" é um blues de respeito. É muito bom o riff inicial e também melodia, a contar a passagem de sua biografia quando uma batida policial feita em sua residência, resultou em um processo sobre o porte de drogas a lhe causar um problema judicial.

"Going to Hell" é uma bela balada e na sua letra, narra-se sobre a revolta interna de Jones, ao assistir a sua vida a se perder, os seus amigos a tratá-lo de uma forma estranha e o pior que estava por vir: ele perderia a namorada e a sua própria banda...

"A Shadow of Myself" é um desabafo de Jones, através de uma licença poética plausível, eu diria. O blues rústico e melancolicamente belo, embala tal lamento de um astro que perdera tudo, até a própria vida.

Para fechar o álbum, a canção: "The Man Who Died Everyday" é pura poesia, ao falar sobre Brian Jones, como o grande artista que nos faz muita falta, por nos deixar muito precocemente. 

A canção é uma balada dramática com a marca dos Rolling Stones, isto é, nada mais apropriado. Achei incrível o arranjo ao final, com o piano a manter o tema principal, mas com uma leveza melódica e harmônica, a evocar a delicadeza melódica ao estilo de Debussy, ouso dizer. O toque melancólico desse piano, para encerrar a obra, leva-nos à reflexão sobre o vazio que Brian deixou para a história do Rock, ao afogar-se naquela piscina, em um dia de julho de 1969...

O Dusty Old Fingers é uma ótima banda, formada por Tony Monteiro (guitarra, violão e voz), Rick Machado (bateria e percussão), Fabiano Negri (vocal, guitarra e violão), Joni Leite (baixo e harmônica) e Marcelo Diniz (Teclados).

Alguns músicos convidados participaram da gravação do trabalho, como: Cesar Pinheiro (gravou a bateria em todas as faixas, ao denotar que o baterista oficial da banda, Rick Machado, ingressou depois), Paulo Gazzaneo (Piano) e Sheila Le Du (Vocal).

A concepção das letras, muito bem escritas e com grandes sacadas sobre todos os ponto importantes da vida e obra de Brian Jones são criações do Tony Monteiro. Nesse caso, a caneta forte do jornalista de primeira grandeza que ele o é, contribuiu muito para engrandecera sua criação como compositor. 

As canções são do vocalista/guitarrista, Fabiano Negri, que revela-se um bom compositor e eclético sobretudo, pois a variedade de influências boas que se mostram perceptíveis, impressiona.

O baixista, Joni Leite, fez o trabalho do lay-out extraordinário para o encarte. No caso da capa, a concepção foi de Ben Ami Scopinho. Apesar de ser uma ideia que denota tristeza pela perda de Jones, é muito poética e forte a imagem dos membros da banda à beira da fatídica piscina, em tom de consternação.

Na parte interna, a imagem da guitarra predileta que Brian usara nos seus bons tempos a trabalhar em favor dos Rolling Stones (uma guitarra da marca "Vox" e sob o modelo,"Teardrop"), mergulhada na piscina, diz tudo e emociona. 

O mundo mudou muito, o tempo passou, eu sei. Tirante um nicho de jovens que apreciam a Era clássica do Rock, fenômeno isolado e que até surpreende-nos, a grande massa na atualidade, nem sabe quem foi Brian Jones, em tese. The Rolling Stones para a maioria, é uma banda formada por senhores idosos, liderados por Mick Jagger, que a grosso modo é apenas um senhor idoso que ficou famoso no Brasil por ter tido um filho com uma ex-modelo brasileira e Keith Richards é um homem velho, bem enrugado que se revela muito parecido com o ator, Johnny Depp, quando este se caracteriza como um pirata do Caribe...

A única música que conhecem, a grosso modo, é "Start me up", que consideram a mais "antiga" dessa banda e "Miss You", que é dançante, e devem achar que se trata de um cover ao sabor da "Disco Music", gravado anteriormente pelo grupo: "Bee Gees"... 

Enfim, o que posso fazer diante de uma realidade assim, tão desoladora?

Bem, diante desse contexto, eu recomendo muito este trabalho lançado pelo grupo de Rock, "Dusty Old Fingers", por tratar-se de um documento muito bonito para se registrar a vida e obra de um artista genial, como foi Brian Jones. Mais que isso, é um belo trabalho musical, eu asseguro.

Eu gosto imensamente dos Rolling Stones e considero as suas duas distintas fases, ocorridas nos anos sessenta e nos setenta, como as melhores da sua carreira, enquanto explosão de criatividade e "desbunde", no restrito significado que tal gíria denotou naquelas duas décadas.

Na década de sessenta, com Brian na banda, não foram poucos os momentos de brilhantismo incríveis que os Rolling Stones legaram-nos. E Brian Jones fora o gênio por trás dessa grandeza artística da banda, sem nenhum demérito aos demais componentes.

Se quiser conhecer essa história a fundo, basta pesquisar na internet, nos livros e sobretudo a se ouvir os discos dessa fase da banda. 

E recomendo conhecer também, bastante inclusive, trabalho do grupo paulista, Dusty Old Fingers, com a sua Ópera-Rock sobre Brian Jones: "The Man Who Died Everyday", que tornou-se por extensão, mais um documento importante para registrar a história.

Contato com a banda: 

www.dustyoldfingers.com
www.facebook.com/DustOld Fingers