Eu sou fã da escola de cinema "noir" norteamericana, desde a tenra infância, pelo fato da grade de cinema exibida na TV, durante os anos sessenta, época em que fui criança, ter sido pródiga em exibir clássicos dos anos trinta; quarenta e cinquenta. Evidentemente que eu gostava de outros estilos, mas esse clássico estilo policial, agrada-me muito, portanto, desde os anos sessenta.
E por falar de tais filmes, em sua maioria, os roteiros eram predominantemente adaptados de romances policiais, gênero literário muito apreciado na América do Norte, principalmente. Quando eu comprei o meu exemplar do livro : "O Mirante do Mundo", antes mesmo de ler as suas "orelhas", já tive a melhor das impressões, ao verificar que a ilustração da capa remetia a uma paisagem muito instigante, que era alusiva aos cenários de velhos filmes "noir", dos anos quarenta e cinquenta, principalmente.
A história, muito bem engendrada, tal como um roteiro do estilo, conta a história de um ex-combatente da II Guerra Mundial, Jeff Monthel, que de volta à América, vê-se desolado com o fato de saber que sua mãe falecera, e ela era a sua única motivação para continuar a vida, no pós-guerra. Desiludido pela falta de perspectivas, sai a perambular como um errante, sem destino, e assim a assemelhar-se a um personagem pré-Beatnick.
Um dia, ele teve um ataque epilético na rua, e socorrido por estranhos, foi internado em uma clínica psiquiátrica. É aí que a trama torna-se permeada pelo fator enigmático, pois surge a figura de Diana, uma bela moça que o procura, ao visar auxiliar-lhe.
Contudo, o fato, é que Diana não o conhecia pessoalmente até então, mas demonstra saber tudo sobre a sua vida, de forma que deixa Jeff atordoado com tal situação inusitada. A alegação da linda jovem, é de que as suas respectivas mães teriam sido amigas em um passado não muito bem explicado, e dessa forma, tratar-se-ia de um desejo de sua mãe, que Diana auxiliasse o filho de sua grande amiga, ao ofertar-lhe perspectivas de vida.
Entretanto ele desarma as suas reservas paulatinamente, à medida que a doçura de Diana passa a vencer a sua resistência mais recôndita. Porém, ele ainda não estava devidamente convencido de que a ajuda oferecida, tivesse apenas uma motivação singela, por Diana alegada. Então, o grande salto na história é dado, quando ambos vão parar em uma pequena cidade interiorana, e instalam-se em uma casa erguida no topo de uma montanha.
Figura de linguagem muito norteamericana, e típica dos filmes Hollywoodeanos clássicos do passado, trata-se da sensação de ser "O Rei da Montanha", ou "King of the Hill", na expressão idiomática típica daquela cultura. Mas o autor, teve uma segunda intenção, além de evocar a cultura norteamericana, pois "O Mirante do Mundo", é a metáfora-chave do personagem, Jeff Monthel.
Ao viver nessa habitação sobre a montanha, o casal Jeff e Diana interage com a pequena e preconceituosa população da minúscula cidade, que os hostilizou, ao tomar como base, fatos do passado perpetrados pelas respectivas progenitoras de ambos. Surge então, a figura do Reverendo Charles, que torna-se um apoio importante para Jeff e Diana.
Contudo, uma série de sinais, faz com que Jeff desconfie cada vez mais de Diana, e nesses arroubos paranoicos, ele passa a crer que toda essa bondade da moça, não passa de uma trama diabólica para efetuar um plano de vingança, para eliminá-lo. Os signos cinematográficos usados pelo autor, nesse ponto do livro, são intensos. A sua vasta cultura cinéfila fez-se valer como autor literário, sem dúvida, e nesse sentido, a capacidade de prender a atenção do leitor, tem o peso de uma mão pesada de diretor de cinema.
O final é surpreendente, e claro que não cometerei o deslize em revelá-lo, mas permito-me uma dica : a chave de tal desfecho, está nas primeiras páginas da obra, onde geralmente o leitor é desatento, e considera tais informações preliminares, irrelevantes para a ampla compreensão do livro...
Conheci o autor de "O Mirante do Mundo", Eric Francato, através de uma rede social, em 2010 (o extinto, Orkut), e daí, tornamo-nos amigos por interagirmos costumeiramente em comunidades relacionadas ao cinema clássico norteamericano, e também sobre as séries de TV, vintage. Sabia que ele escrevia roteiros para cinema; romances e crônicas, mas nunca havia lido nada de suas criações, a não ser as suas intervenções em redes sociais e no seu bom Blog, "Críticas de Filmes".
http://cineconhecimento.blogspot.com.br/
Fiquei muito contente quando Eric comunicou-me que o seu primeiro livro estava por ser lançado por uma boa editora, e mais ainda, quando convidou-me para a tarde de autógrafos, realizada em um teatro, na zona leste de São Paulo, em uma tarde de abril de 2013. Como eu já afirmei, a primeira impressão que tive, visual, foi a melhor possível, pois a ilustração da capa arrebatou-me pela beleza da ilustração, e também por remeter-me a uma imagem muito cinematográfica. Parabenizo a ilustradora, Karolyna Papoy, que soube exprimir com rara felicidade, a ideia que o Eric Francato deve ter sugerido-lhe, baseado em sua cultura cinematográfica.
E por extensão, está de parabéns a editora Giostri, que caprichou na qualidade gráfica da edição, e sobretudo por apostar em novos talentos, conforme pude verificar não só pelo prestígio oferecido ao jovem Francato, mas pelo release que li, que veio na bela embalagem do livro, onde deixa clara a sua política editorial, recheada com novos e promissores autores, de diversos gêneros literários.
Que venham outros livros, pois Eric Francato tem somente vinte e poucos anos, e vai construir uma carreira longa, não tenho dúvida. "O Mirante do Mundo", é um romance com estilo de roteiro de cinema.
Se estivéssemos nos anos quarenta, e esse script chegasse às mãos de um Robert Siodmak, ou Raoul Walsh, entre outros, tornar-se-ia um belo filme, facilmente.
Fico a imaginar a atriz, Veronica Lake a interpretar a personagem, "Diana"; Dana Andrews, a defender o personagem, "Jeff Monthel"; e Spencer Tracy, a atuar como o "Reverendo Charles"...
E que grande filme, culminaria em ser !