Quando Andy Warhol profetizou que no futuro as pessoas seriam famosas por um breve instante fugaz, a se configurar em meros quinze minutos, pareceu na ocasião ter sido apenas uma frase de efeito, um aforismo performático tão somente.
Contudo, com o avançar do tempo, nós verificamos que tal profecia se concretizara e agora, em plena Era das redes sociais e reality shows imbecis exibidos em programas de TV, está comprovada a tese de Warhol e ao ir além, acho que quinze minutos se tornou uma eternidade para se viver o efeito de um "hype", que na verdade, deveria durar muito menos ou melhor ainda em certos casos, absolutamente nada.
Ser "famoso" para que, exatamente? Tirante a óbvia expansão elástica do Ego, claro que existe o interesse financeiro por trás. "Famoso" atrai oportunidade para se ganhar dinheiro, deve pensar cada cidadão em meio a esses milhões de pessoas que sonham em se colocarem como confinadas em uma casa transparente dessas que observamos na TV por aí.
Mas há décadas atrás, ser uma pessoa famosa representava apenas um termômetro a demonstrar o quanto a sua capacidade criativa seria reconhecida e admirada por muitas pessoas, ou seja, a mensurar o seu alcance artístico.
Não dava para ser famoso na música se o artista em questão não fosse realmente bom. Isso valia para o teatro, a literatura, cinema, artes plásticas etc. E mesmo assim, houveram os casos de reconhecimento somente realçados no momento de pós-morte do artista. Van Gogh e Beethoven são exemplos clássicos de artistas geniais que não usufruíram da fama advinda de sua arte e nesses termos, as suas respectivas obras somente foram reconhecidas bem além de sua própria existência física.
Um leitor desavisado, portanto, se apanhar nas mãos um livro com o título: "Manual do Candidato a Pop Star", poderá se surpreender se antes de abri-lo, formatar um preconceito baseado simplesmente no que a fama representa nos dias atuais, no imaginário popular e a levar em conta a suposta fama de subcelebridades que abundam o espectro da TV e da Internet.
Nesses termos, tal hipotético leitor é capaz de achar que o seu autor se propõe a fornecer dicas para aspirantes à fama, ou seja, a ensinar como proceder para se postar vídeos com teor idiota através da internet, ao visar a fama instantânea, ou mesmo a se buscar a "capacitação" para preencher os requisitos básicos, que espera-se de um "brother" de Reality show de TV.
Portanto, é nesse ponto, exatamente, que se encontra a grande ideia da parte de Ronaldo Estevam, o autor desse livro, pois o manual, na verdade, fornece muitas dicas valiosas para quem sonha com o estrelato no mundo musical, mas todas elas norteadas por valores que os buscadores de fama da atualidade fogem, tal qual o vampiro foge do crucifixo... ao arrolar itens como: trabalho, estudo, dedicação, suor, paciência, resignação, tenacidade... e então, nesse instante, os incautos aguentariam tal choque de realidade?
"Manual do Candidato a Pop Star", é apresentado com bastante bom humor ao leitor, como se fosse de fato uma apostila destinada ao aspirante, mas ao invés de ser um texto maçante, daqueles extraídos de um powerpoint corporativo, é na verdade a autobiografia do próprio autor, pela qual, através de sua experiência adquirida no mundo da música e também da produção audiovisual (além da pedagogia da arte), ele trata por pontuar tal vivência de forma a cada final de capítulo, ao traçar um resumo e como tais questões passadas ao longo do capítulo, servem didaticamente ao leitor aspirante aartista.
Dessa forma, com bastante inteligência, Ronaldo Estevam criou em meio à sua própria autobiografia, uma segunda leitura, onde didaticamente demonstra com bastante naturalidade, erros e acertos para quem sonha com um lugar ao sol no mundo da música profissional mainstream.
Ele não economizou ante tal perspectiva, pois a sua autobiografia se aprofundou, ao narrar aspectos de sua infância e consequentemente a envolver situações vividas com os seus pais e irmãos, todo o período escolar, mediante os seus conflitos inerentes (bullying e descoberta da sexualidade), o aprendizado de vários instrumentos musicais, primeiras bandas, a participação em festivais escolares no início de carreira etc.
O relato passou pela inevitável zona de conflito, um ponto obscuro, pelo qual a sociedade costuma nos pressionar com a questão da escolha de uma profissão, a inserção no mercado de trabalho e todo o massacre socioeconômico decorrente dessa desumana organização social.
E aí, talvez na parte onde as dicas se revelam mais valiosas para quem realmente mergulha no mundo da música, Ronaldo fala sobre todas as dificuldades encontradas para se formar uma banda, procurar por oportunidades de gravação, como expandir uma agenda de apresentações, atrair os holofotes da mídia e a atenção de um empresário/manager que possua contatos, influência etc.
E para tanto, a questão de gravar, lançar uma obra, divulgar e distribuir um álbum e o quanto as barreiras burocráticas e sobretudo financeiras, são gigantescas em cada etapa dessa longa peregrinação.
Então, o leitor aspirante percebe que o artista é quase um personagem de videogame, pois em cada vitória obtida, a nova fase a ser enfrentada se torna mais difícil, como se fosse proposital essa dinâmica de impor a dificuldade.
E certamente tal modelo deve ter sido criado por um criptonazista sádico e completamente louco, pois o que o artista tem que enfrentar, não é nem um pouco fácil, como uma rotina para qualquer aspirante.
O leitor conhece aquela famosa frase de efeito: "ter que matar um leão por dia?" Pois é, o aspirante ao estrelato no Brasil passa o dia a matar vários, não apenas um.
Desse jeito, o livro mostra toda a dificuldade que é lançar um disco independente e no caso do Ronaldo, ao se esforçar bastante para gravar em estúdio de alto padrão (sempre caríssimos), gastar ainda mais para fazer um lay-out de capa com qualidade, providenciar o material de divulgação (a conter sessão de fotos, vídeoclips etc).
Inevitavelmente, o livro chega em um ponto onde o aspirante adquire a consciência que a música mainstream é toda manipulada. Para entrar de fato nessa 1ª divisão de elite, não basta se destacar nos patamares inferiores com dignidade, através de seu suor e talento dentro da sua luta, mas ele deverá contar com a sorte de alguém lá do mundo mais elevado, cismar consigo positivamente e convidá-lo assim, a fazer parte do esquema.
Mas geralmente o grupo é fechado e isso raramente acontece. O normal é o aspirante permanecer estigmatizado por toda a sua vida, por ser um aspirante das divisões inferiores e isso por si só, já é a garantia de que aos olhos de quem comanda o grande esquema, não mereça a ascensão, portanto é um estigma.
Então, mesmo cônscio sobre a existência de tais barreiras, o autor não desanima ninguém, apesar da constatação, mas pelo contrário, exorta o aspirante a prosseguir, pois se este for esforçado, a vencer todas as etapas, mas ainda assim não conseguiu emplacar uma música para ser tema de novela das oito, tampouco a estar agendado para aparecer em programas mega populares da TV, foi por que ama a música e enxerga nela, outros propósitos.
Sendo assim, o aspirante a Pop Star conseguiu a sua fama sob uma escala bem menor que os padrões mínimos que os marqueteiros consideram relevantes, mas como contrapartida os teus poucos fãs angariados haverão por te respeitar e mais que isso, a adorar que o material que você cria, e isso se dará para sempre, ou seja, o aspirante venceu!
Muito provavelmente esse trabalhador não aparecerá nos sites de fofocas da internet, todavia, que ele não se desespere, pois artistas como: Scott Joplin, Zequinha de Abreu, Peter Hammill, Gustav Mahler e tantos criadores artistas geniais, são desconhecidos dessa gente que adora citar ex-participantes de reality shows, que ficaram famosos, mas... exatamente por tais supostos "famosos" não criarem absolutamente nada de relevante para a arte & cultura, portanto o aspirante haverá por se sentir quite.
Ronaldo Estevam tem muitos discos lançados. Já foi componente de duas bandas de Rock com carreiras interessantes (Modelo T e Picles), e atualmente trabalha com a boa banda Pop, Rony Barba & Mari Lu.
Ele possui também uma prolífica carreira solo, com muitos discos lançados e chama a atenção a sua versatilidade musical, pois cada álbum seu, apresenta uma personalidade diferente, ao denotar ter consigo, muito boas influências musicais, mas sobretudo pela capacidade em expressá-las de uma forma camaleônica, pode se afirmar.
Eu já escutei trabalhos de sua autoria com intensa proximidade com o Rock Progressivo sofisticado, a psicodelia flutuante, Folk e MPB bossa-novista, e todos, muito bem concatenados, mediante harmonização e execução primorosa em todos os instrumentos que toca.
Multi-instrumentista, Ronaldo toca guitarra, baixo, bateria e teclados muito bem, mas no violão, tem um caso particular de maior afinidade, muito provavelmente por ter sido o seu pai, um grande músico também.
Desde muito cedo, ele encampou a atividade como professor de violão e com essa bagagem, montou a sua escola particular, que é uma referência, chamada: "Violão & Cia".
Não obstante todo esse talento musical, é claro, existem agregadas outras nuances, a se destacarem as atuações como cantor, compositor, letrista e arranjador/produtor.
Além de tudo isso, Ronaldo também estudou artes dramáticas no EAD da USP, e se tornou um ator profissional tarimbado.
Esse lado como ator o empurrou para o cinema, onde também se tornou diretor e produtor de cinema a lançar documentários e material audiovisual em geral, inclusive ao lhe possibilitar a criação de diversos clips para as suas bandas, onde atuou/atua e dessa forma, ele cuida de todo o processo para produção de tais peças audiovisuais.
Portanto, com toda essa bagagem acumulada, Ronaldo Estevam foi muito feliz ao lançar a sua autobiografia em livro, ao aproveitar tal ensejo para imprimir essa nuance de esmiuçar sob vários aspectos, todas as facetas do mundo da música, para quem sonha um dia, ali chegar e vencer na carreira.
Como polivalente e performático, ele opina com propriedade sobre tantos aspectos a envolver os meandros para se construir uma carreira artística
Claro que existem alguns momentos mais pesados na narrativa e não poderia deixar de ser, ao se tratar de uma autobiografia sem maquiagem, na qual o autor não teve nenhum receio de expor fatos desagradáveis, também. Todavia, o bom humor permeia a obra e portanto, a leitura é bem agradável e assim contém até pontuais momentos engraçados.
No meu caso, ao lê-lo, eu tive vários momentos pelos quais deparei com certas pessoas por ele citadas, que também conheço e algumas inclusive, nefastas, dessas que costumam usar terno risca de giz, falar com sotaque italiano bem forte e mandar cortar a cabeça de cavalos por aí... ou seja, se não entendeu o que eu disse, por ser muito metafórico, recomendo assistir o filme: "The Godfather" ("O Poderoso Chefão") e o leitor haverá de me entender...
Para encerrar, recomendo o livro: "Manual do Candidato a Pop Star", por se tratar de uma leitura rápida, agradável e permeada por dicas pedagógicas para aspirantes, com muito bom humor, ainda que os tópicos ali arrolados como matéria didática, digamos assim, sejam verdadeiros, a denotar seriedade nas entrelinhas.
O livro se encontra disponível nas boas livrarias, além de ser também vendido no formato E-book. No endereço abaixo, você poderá comprá-lo:
www.ronaldoestevam.com.br
Para fazer contato com o seu autor, Ronaldo Estevam, busque-o em seu site:
www.clicfolio.com/violaoecia
No livro, existes muitos links sugeridos e devidamente anotados para se poder ouvir os trabalhos musicais desse artista, assistir os vídeos a representar as bandas por onde atuou e ainda atua e os seus trabalhos como ator e diretor de cinema.
Mas em linhas gerais, é fácil achá-lo nas buscas, ao bastar digitar: "Ronaldo Estevam" no Google, que logo aparecem vários links para que o leitor estabeleça uma boa pesquisa.