domingo, 13 de julho de 2025

Filme: The Big Heat (Na Batida do Rock) - Por Luiz Domingues

Mais um filme produzido a reverberar o fenômeno emergente do Rock, em meio ao vulcão que mal estava a precipitar a sua erupção nos anos cinquenta, este filme tem uma abordagem bastante amena, aliás, exageradamente superficial sobre a eclosão do Rock, no entanto, mostra-se interessante como um documento a revelar como pensavam os executivos de gravadoras tradicionais na ocasião. 
 
A história é simplória, no padrão da maioria dos filmes produzidos nessa década a abordar o assunto. É óbvio que os seus realizadores não compreendiam o contexto do Rock'n' Roll em sua época, naturalmente, pois a leitura imediatista de um movimento artístico (ou de qualquer natureza dentro da sociedade), dificilmente é feita com discernimento, pois só com distanciamento histórico é possível uma visão ampla dos fatos e as suas inevitáveis ramificações e consequências. No entanto, é compreensível no contexto de 2019, quando escrevi estas linhas e novamente a citar o distanciamento histórico, que naquela fase centrada na metade dos anos cinquenta do século passado, o cinema apressou-se para abordar o assunto, principalmente em torno de produções modestas, amparadas por um padrão de orçamento baixo, para aproveitar o início de uma novidade que mal compreendia-se sobre o que se tratava, exatamente. Foi por oportunismo em querer aproveitar um fato novo? 
 
Provavelmente tenha sido essa a motivação primordial dos seus produtores e isso não pode ser considerado um ato inescrupuloso, mas pelo contrário, se analisado pelo viés jornalístico, a busca pela repercussão imediata de um fato novo foi (é) válida, mesmo ao levar-se em consideração que a produção deste e de muito filmes com o mesmo teor, naturalmente teve o apoio institucional da indústria fonográfica e setores da mídia, notadamente as rádios, que ostentavam uma força extraordinária na ocasião e certamente a beneficiar também diversos meandros do show business. Portanto, o aspecto acintosamente promocional de peças como essa, também cabe como explicação para a sua realização, tão apressadamente.
 
Independente de todo o favorecimento (leia-se em letras garrafais, “dinheiro”), que tais filmes e este foi mais um, proporcionou à máquina que regia a música popular na época, para efeito cultural, não podemos reclamar da sua existência e muito pelo contrário, comemoramos a existência de tais peças, “The Big Heat”, incluso, como documentos arqueológicos importantes para compor a história do Rock, e isso não é pouca coisa.
 
Sobre o filme em si, a ação foi montada em torno do ambiente de uma gravadora tradicional, em meio às decisões de seu mandatário e sob extensão, a revelar a hierarquia com delegação de poder para tomar decisões, todavia, em termos, e para tanto, há ua boa explicação. 
 
O esquema de trabalho é engessado, a seguir uma mesma fórmula há décadas. Tal método de produção musical segue uma linha imutável em torno de um cancioneiro popular, inspirado em Country-Music, basicamente e a absorver a música orquestral inspirada em algumas vertentes amenas do Jazz e da música erudita, esta última a observar ecos diluídos da música leve, produzida por Debussy e outros autores similares. Portanto, a ambientação do filme mostra tais produtores musicais a comandar as gravações de discos insossos com tal tipo de produção musical em série, mediante o apoio de uma orquestra própria, algo que fora um padrão no procedimento das gravadoras, assim como manter-se compositores, letristas e arranjadores contratados como funcionários fixos para criar material regularmente e claro, cantores, estes sim, trabalhados a serem tratados como os astros a ser divulgados na mídia, ou como falava-se mais regularmente nessa época, imprensa.
Nesses termos, o jovem executivo, Johnny Randall (interpretado por Willian Reynolds), é filho do presidente da gravadora e percebe que o esquema de trabalho da empresa gerida pelo seu pai, está na mesmice, há anos e insinua propor-lhe mudanças. A sua intenção é oxigenar a gravadora e inovar ao buscar uma nova formatação musical para quebrar o paradigma forjado em torno da música orquestrada a acompanhar cantores tradicionais que costumavam interpretar as músicas com a voz impostada, a seguir um estilo antigo. 
Fala-se em um novo “Beat” a ser encontrado, mas naturalmente que o pai do rapaz, Joseph Randall (interpretado por Bill Goodwin), não quer nem ouvir falar sobre mudanças, por mostrar-se como um conservador contumaz e por conseguinte, entusiasta da fórmula que em sua opinião não está e nem será desgastada jamais, ao revelar uma miopia gerencial, no mínimo.
Danny Phillps (interpretado por Jeffrey Stone), é um executivo membro da cúpula da gravadora, subordinado ao velho Randall e mostra-se dividido, tanto que segue a cartilha tradicional imposta pelo mandatário, pois ao mesmo tempo que a sua mentalidade é idêntica ao do patrão, ele aceita a proposta do velho Randall de ser sócio minoritário em um pequeno selo que seria criado para o filho, William Randall, ao visar testar as suas ideias em trabalhar para lançar artistas versados por estéticas (então) mais atuais mais modernas. 
 
Em princípio, a posição de Danny é a de um agente do velho Joseph, escalado para não deixar o seu filho arruinar o selo, mas ao mesmo tempo, o velho quer apenas usar tal experiência inicialmente para dar vazão ao ímpeto do filho e a seguir, usar o possível fracasso financeiro de tal empreitada para demolir a convicção do rapaz e assim, forçá-lo a obedecê-lo e doravante seguir a cartilha antiquada da empresa. 
 
Um diálogo, que parece uma mera piada ocasional, tornou-se emblemático quando em tom de brincadeira é sugerido que o velho Randall teria recusado no passado a contratação de um então jovem cantor, por não acreditar em seu potencial artístico, um rapazinho com origem italiana, chamado, Frank Sinatra. É claro que tal pilhéria foi usada como um argumento irrefutável a justificar o fato do velho Randall ter resolvido oferecer uma chance ao seu filho, para investir na modernidade. O selo recém criado foi batizado como: Revere Records.
Há o inevitável elemento romântico para dar uma substância comercial ao filme. Nesses termos, a personagem, Nikki Colinns (interpretada por May Gordon) é uma bela jovem, secretária de John Randall e torna-se óbvio e nem é preciso esperar o desfecho do filme para deduzir-se logo na primeira cena em que ela aparece, que tal personagem fará o par romântico com o protagonista. O mesmo ocorre entre o produtor musical, Danny Phillips e a bela cantora, Nikki Collins (interpretada por Gogi Grant).
Então, para falar da parte mais musical do filme, cenas ambientadas em casas noturnas para mostrar alguns artistas que estariam na mira desse novo som que o jovem executivo ambicionou lançar em seu selo, representa naturalmente, a melhor parte do filme. Dessa forma, assistir um artista histórico como Fats Domino é ótimo, sem dúvida alguma. E tem mais, pois eis que o grupo orientado pelo R’n’B, “Del Vikings” também participa, além da cantora, Cindy Adams que interpreta a uma personagem, portanto, fica dúbio se a tal personagem, Gogi Grant é quem canta ou Cindy Adams como ela mesma, pois o show é uma aparição produzida para um programa de TV, da própria Cindy, da vida real (The Cindy Adams Show), portanto, a produção do filme falhou em não mensurar tal confusão que poderia ser gerada ou simplesmente relevou ao usar a clássica desculpa em torno da licença poética para dar melhor vazão à narrativa.
Ainda sobre tais números musicais, a apresentação do show, apesar dos bons artistas citados, tem uma roupagem antiquada, a parecer um show vaudeville do começo do século XX. Mesmo assim, observa-se a presença de jovens a dançar, ao insinuar a contagiante ação do Rock’n’ Roll. “The Diamonds”, um grupo também orientado pelo R’n’B, apresenta-se e a sua performance é divertida, pois a sua coreografia remetia sempre ao humorismo, por uma característica própria em sua vida real.  
 
Ações de divulgação são mostradas, quando por exemplo é abordado o radialista, Howard Miller, ao visar tocar os lançamentos da gravadora, em seu: “The Howard Miller Show”. 
Entra em cena um personagem exótico. Ocorre que John e Nikki visitam uma amiga e nessa visita, existe uma série de pessoas ali presentes e alguns deles a demonstrar estarem ligados a algum ramo da arte. Um deles, chama a atenção, por ser um cidadão russo e a mostrar-se completamente excêntrico, digamos. Histriônico por natureza, esse senhor a aparentar estar na meia idade, apresenta-se como, Vladimir Stolski, natural de Vladivostok (interpretado por Hans Conried). Ele afirma ser um artista avantgarde e as suas atitudes denotam ser bastante alternativo, a descrevê-lo de uma maneira amena. 
 
John insiste para que Cindy cante uma música para constar no disco que pretende lançar em seu novo selo. Mas o disco sai e o fracasso é total, o que enfurece o seu pai e também o sócio, Danny. Os diálogos nesse momento, denotam que as amenidades cessam quando o assunto é dinheiro, pois teste a parte, o prejuízo faz com que os ânimos fiquem bem acirrados, o que também desnuda o que é ou foi o ambiente em uma cúpula de gravadora tradicional, ou seja, para tais executivos, música boa é a que vende e ponto final.
 
Desesperado, o velho Randall insiste em lamuriar que uma fortuna fora gasta para mandar prensar trezentos e cinquenta mil discos, e daí, dá um ultimato ao filho, para que ele providencie a venda desse estoque em um prazo muito curto, sob a pena em fechar o selo e acabar de vez com tal aventura de sua parte.
Então, com o auxílio de sua namorada, Nikki, a cena que advém, chega a ser prosaica, com os personagens a debruçar-se em pesados livros sobre economia para buscar uma solução salvadora para a situação (como assim?). 
 
No entanto, a solução é ainda mais singela, quando visitam aquela casa onde o tresloucado artista russo estava hospedado e o desmascaram, ao forçar que ele confesse ser na verdade uma outra pessoa. O seu nome é Ben J. Carlson, poderoso empresário multimilionário do ramo da alimentação, e dono de uma rede de supermercados chamada, “Ajax Foods”. Aquela farsa sobre ser um artista experimental russo, fora apenas uma brincadeira inocente de sua parte, ao alegar usar esse alter ego, apenas como um subterfúgio para tirar férias da sua vida massacrante, ao atuar como um empresário. Pois esse poderoso homem de negócios deixa esse tresloucado artista, que vive em segredo dentro de si, falar mais alto, e assim, Vladimir (ou melhor, Ben), anuncia que vai ajudar o selo Revere Records. 
 
No dia seguinte, na sede da gravadora, o velho Randall vem cobrar o seu filho mediante a ameaça que fizera através de um ultimato. Então, eis que a figura de Ben J. Carlson entra na sala de reuniões e anuncia que comprará as trezentas e cinquenta mil cópias do disco encalhado para usá-las como brinde aos seus clientes em promoções a ser realizadas em seus estabelecimentos e mais ainda, comprará mais cópias, mensalmente, para ajudar no fomento à boa música. 
 
Ele revela-se como um empresário messiânico e mecenas, que valoriza a arte, ou seja, que maravilha de solução inverossímil para o filme chegar ao seu final feliz. O filme foi dirigido por William J. Cowan, e lançado em 1958.
 
Enfim, essa obra, “The Big Heat”, apresentou boas atrações musicais e teve esse mérito em mostrar os bastidores de uma gravadora, mesmo que a exibição desse tema tenha desenvolvido-se de uma forma absolutamente ingênua. Não tenho ideia de como  essa obra foi recebida pela crítica na ocasião de seu lançamento, pois não há quase nenhuma informação adicional sobre tal filme, infelizmente, além do que eu relatei nesta resenha.

Posso dizer apenas que o assisti pela primeira vez nos anos sessenta, em uma exibição regular na TV, e nessa época leve-se em conta que ninguém sequer sonhava que um dia existira canais fechados sob regime pago, no futuro, portanto, estou a falar sobre os (poucos) canais abertos disponíveis à população nessa ocasião. Não há registro sobre a existência de cópias em nenhum formato para a venda. Eu possuo uma cópia, apenas por ter tido a sorte em gravar, quando aproveitei a sua rara exibição em um canal a cabo, nos anos 2000 e infelizmente não há registro algum, nem mesmo pequenos trechos desse filme, em qualquer portal da Internet, que eu saiba. 
 
Esta resenha foi elaborada para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" em seu volume II, disponível para a leitura a partir da página 329.

sábado, 5 de julho de 2025

Tarde/noite de autógrafos dos livros "Trabalhos avulsos" (Luiz Domingues) e "O Plástico retangular amarelo" (Paulo Sá) - Cervejaria Beer4U/SP - Sábado, 12/7/2025 - 16 horas

Tarde/noite de autógrafos dos livros "Trabalhos avulsos" (Luiz Domingues) e "O Plástico retangular amarelo" (Paulo Sá) 

Cervejaria Beer4U

Sábado, 12/7/2025 - Das 16 horas às 20 horas

Rua Martinico Prado, 172

Higienópolis

São Paulo - SP

Estações Santa Cecília (linha vermelha) e Mackenzie-Higienópolis (linha amarela) do metrô


quinta-feira, 19 de junho de 2025

Livro: "Trabalhos Avulsos" (a autobiografia de Luiz Domingues - volume III) - Matilda Produções

É com imenso prazer que anuncio o lançamento do terceiro volume da minha autobiografia na música, o livro denominado: "Trabalhos avulsos" (a autobiografia de Luiz Domingues - Volume III).
Trato neste tomo de todos os trabalhos que efetuei fora das atividades regulares promovidas pelas bandas autorais das quais fui componente, ou seja, a abordar participações em gravações de demos e discos de outros artistas como convidado, atuação através de shows ao vivo a acompanhar outros artistas, colaboração na produção de trabalhos alheios e também relaciono uma série de tentativas de formação de bandas que não lograram êxito, portanto, não justificaria que estivessem alojadas em histórias específicas.

O meu primeiro trabalho efetuado fora de uma banda autoral ocorreu ao final de 1979 e eu encerro a narrativa deste livro em abril de 2016, exatamente para delinear os primeiros quarenta anos da minha carreira, isto é, outros "trabalhos avulsos" advieram depois dessa data limite e tais histórias posteriores estarão alojadas devidamente em um outro livro que será publicado a posteriori.

No mais, saliento ao leitor do livro "Trabalhos Avulsos" que para quem acompanha a minha carreira musical, haverá de se surpreender com diversas passagens que eu narro neste volume, no sentido de que toquei com músicos que talvez eles não imaginariam. Além disso, há uma série de histórias com teor engraçado pelas circunstâncias que vivi e claro, falo a respeito de muita gente talentosa com a qual interagi artisticamente e naturalmente que eu reverencio o talento dessas pessoas, algumas razoavelmente famosas e outras, não. 

Tive o apoio novamente da Matilda Produções, com a edição de Cristiano Affonso Rocha da Costa. Alynne Cavalcante, minha revisora e diagramadora dos livros anteriores, desta vez também criou e executou a arte-final da capa e do material de divulgação.

A foto do autor é do mestre Lincoln Baraccat, fruto da sessão que fizemos para alimentar os meus dois livros anteriores e que fluiu ao ponto de fornecer material para este volume III, mas infelizmente ele nos deixou dias antes do lançamento e não viu o exemplar pronto. Deixo o meu eterno agradecimento pelo seu apoio nos três volumes da minha autobiografia, além dos livros anteriores.  

Serviço:

Livro "Trabalhos avulsos" (a autobiografia de Luiz Domingues na música - volume III)
Editor: Cristiano Rocha Affonso da Costa
Revisão gramatical, diagramação, carta catalográfica, arte e lay-out de capa e material de apoio: Alynne Cavalcante
Foto do autor: Lincoln Baraccat (in memoriam)
Escrito por Luiz Domingues
Uma produção da Matilda Cultural/Clube de autores
Disponível para a aquisição nos sites do Clube de autores e Amazon
Lançamento: maio de 2025

Acesse o link do Clube de Autores para adquirir!

https://clubedeautores.com.br/livro/trabalhos-avulsos


domingo, 15 de junho de 2025

Noite de autógrafos dos escritores Paulo Sá e Luiz Domingues - Bar Dona Preciosa - Vila Mariana/São Paulo - Quarta-feira, 18 de junho de 2025 - 19 horas

Noite de autógrafos dos escritores Paulo Sá e Luiz Domingues

Quarta-feira - 18 de junho de 2025

                                O escritor e músico, Paulo Sá

                          O escritor e músico, Luiz Domingues

Livros: O Plástico Retangular Amarelo de Paulo Sá e "Língua de Trapo" (a autobiografia de Luiz Domingues - Volume III)



Espaço dos autores: 19 horas

Show da banda Confraria Fusa - 21 horas

Ingresso do show: R$ 30,00

Local: Dona Preciosa Gastrobar

Rua Rio Grande, 130

Vila Mariana

São Paulo

800 metros da estação Ana Rosa do Metrô

Reservas: (011) 97956-1126

O novo livro de Luiz Domingues, "Trabalhos avulsos", já estará disponível, embora a sua noite de autógrafos oficial ocorrerá futuramente, assim como os livros anteriores estarão expostos e preparados para receber dedicatórias

sexta-feira, 30 de maio de 2025

Filme: Go, Johnny Go! (Johnny Melody) - Por Luiz Domingues

Mais um filme produzido no calor gerado pela euforia em torno do Rock’n’Roll primordial cinquentista, o filme, “Go, Johnny Go” (!) foi um pouco além da simplicidade em que a maioria dos filmes com tal teor e realizados nessa década, pautou-se, ao preocupar-se em apresentar uma história, e assim justificar um mínimo de dramaturgia para chegar perto de um conceito cinematográfico e não apenas caracterizar-se por ser um documentário. 
 
É bem verdade, que um documentário assumido é uma peça muito digna em via de regra e ao analisar-se friamente, é preferível em relação à algumas tentativas medíocres de produzir-se filmes com teor dramatúrgico absolutamente insípido, apenas para justificar a promoção de artistas musicais, é preciso deixar o conceito bem claro. 
Nesses termos, a história que envolve esse filme, é bastante singela, no entanto, ao oferecer uma substância mínima para justificar o filme e claro, vamos ao que realmente interessa, a presença de artistas musicais bem significativos do espectro do Rock cinquentista e naturalmente a abranger muito da Black Music e do Pop em geral.
Bem, sobre a trama, a ideia foi dramatizar a história de um cantor Pop, conhecido como: Johnny “Melody” (interpretado pelo cantor/ator, Jimmy Clanton), e no filme, o roteiro privilegiou o recurso do “flashback”, pois logo no início, mostra-se o tal jovem cantor no auge do sucesso, a cantar ao vivo em um grande teatro, perante os seus fãs delirantes. 
 
Na coxia, o radialista e empresário, Alan Freed e o grande astro, Chuck Berry, ambos a interpretar as suas respectivas personas, comentam sobre o sucesso do cantor em questão e como quase o destino o afastou do glamour da carreira artística e muito pelo contrário, como o garoto poderia ser apenas um delinquente juvenil, encarcerado por um crime cometido no passado. 
 
Indo além, Freed relata sobre o destino do rapaz ter sido decidido pela ação da sorte em torno de uma escolha feita por uma moeda. Uma reflexão é sugerida sobre como Freed conhecera o rapaz, tempos antes e assim, volta-se ao passado para conhecer a sua trajetória.
Johnny fora um garoto órfão e pobre que cantava em um coral. Apesar de ser reconhecido pelo seu talento nato, ele é cobrado por ter simpatia pelo Rock’n' Roll e briga com o maestro. Por conta de ser órfão e a justificar que não teria como comunicar aos seus pais a sua insatisfação, o maestro simplesmente o despede do coral. Johnny arruma emprego em um teatro, mas ali não dura nada pois é repreendido por ter sido flagrado a dançar o Rock’n’ Roll pelos bastidores. 
 
Ele reencontra uma amiga de infância, Julie Arnold (interpretado pela cantora, Sandy Stewart), e Johnny conta-lhe que está a economizar dinheiro para gravar uma Demo-Tape. Eles reencontram-se em um estúdio de gravação, onde Julie estava a gravar e a cantora aproveita para participar da gravação de Johnny, a colaborar com backing vocals pontuais.
Então, tal gravação chega à mãos de Alan Freed, mas por um contratempo pontual, demora para que o radialista tome contato com o talento do garoto, embora Chuck Berry tenha percebido isso antes. Nesse ínterim, Johnny e Julie, apaixonam-se e a moça demonstra desejar possuir um broche, como presente de natal, no entanto, o rapaz não tem recursos, visto que a sua carreira ainda nem esboçou engrenar. 
No afã em presentear a sua namorada, Johnny penhora o seu trompete. Infelizmente, o dinheiro que recebeu da penhora do seu instrumento, mostra-se insuficiente e Johnny parte para uma loucura, ao atirar um tijolo na vitrine da loja de joias e assim visar roubar a peça que seria um objeto de desejo da sua namorada. 
 
Nesse ínterim, Allan Freed finalmente coloca para tocar a música de Johnny Melody na sua emissora e a resposta do público é muito animadora, com múltiplos telefonemas oriundos da parte de fãs instantâneos. Ele, Freed, decide então procurar o artista, imediatamente, e nessa busca pela noite, acompanhado da namorada de Johnny (Julie), Freed não sabe por onde procurar o rapaz e tem uma ideia: lançar uma moeda e buscar na sorte, a direção por onde seguir com o seu carro para tentar achar o rapaz. 
 
Bem, o resultado da moeda favoreceu Johnny inteiramente, visto que no momento em que o rapaz havia atirado o tijolo na vitrine da joalheria, o carro de Allan Freed e Julie dobra a esquina e ambos presenciam a cena. 
Freed toma uma atitude heroica ao apanhar outro tijolo em sua mão e exigir que Johnny e Julie desapareçam dali ao usar o seu carro. Em meio à sirene da loja, assim que o casal evade-se do local do crime, a polícia chega e Freed finge estar embriagado e assim simular que apenas vandalizara a loja por conta de seu torpor etílico e de fato, a joia não fora roubada. Tudo resolvido, Freed assumiu o pequeno delito inconsequente e Johnny teve a sua vida e carreira salvas.
 
Bem, história muito singela, simplista e bastante ingênua, mas devo acrescentar, porém (como já havia dito), serviu para justificar a produção do longa-metragem e não deixar os números musicais a esmo. Tudo bem, entendo perfeitamente a preocupação de seus produtores, todavia, se não houvesse dramaturgia alguma, creio que o filme valeria a pena ser assistido simplesmente pela parte musical, sem dúvida alguma. 
Ainda a falar sobre a dramaturgia, há por registrar-se que a atuação do astro, Chuck Berry, como ator, foi surpreendente. É claro que ele não teria nenhuma obrigação de desempenhar tal função com um mínimo de qualidade, no entanto, a sua atuação foi acima da média para quem simplesmente não era e jamais pensou em ser ator. 
 
O mesmo pode ser atribuído para Jimmy Clanton e Sandy Stewart, aliás, com um maior destaque ainda, visto que sustentaram papeis mais complexos do que o defendido por Chuck, que atuou como ele mesmo, afinal de contas. 
 
E sobre a parte musical, o filme tem ótimas surpresas. Chuck Berry, para início de conversa e claro que o título do filme a evocar uma das suas mais famosas canções, não poderia faltar na película. Eddie Cochran, em sensacional aparição e Ritchie Valens, que filmou a sua participação mas não assistiu o filme, visto que infelizmente morreu naquele fatídico acidente aéreo, antes do seu lançamento. 
 
O número defendido pelo grupo vocal, The Flamingos”, é espetacular. Os rapazes não apenas cantavam muito, com aquelas típicas vocalizações em harmonia no espectro do R’n’B, mas faziam encenações muito criativas, a usar teatralidade & humor, em dose maciça.
“The Cadillacs”, outro grupo muito estiloso os cantores: Jo Ann Campbell, Adriano Celentano, Jackie Wilson, Harvey e Sandy Stewart, também contribuem, além do próprio, Jimmy Clanton, a usar o personagem do cantor, Johnny Melody, acrescenta também com a ótima estrutura musical dessa obra.
Além dos atores ou atores improvisados já citados, o elenco do filme contou com: Herb Vigran (Bill Barnett), Frank Wilcox (Mr. Arnold), Barbara Wooddell (Mrs. Arnold) e mais alguns atores de apoio. Escrito por Gary Alexander. Foi dirigido por Paul Landres e Piero Vivarelli (que também fez uma ponta como ator, a aparecer como ele mesmo, um diretor de cinema, italiano). 
 
O filme foi lançado em julho de 1959 e obteve um discreto apoio do público e da crítica. Naturalmente, com o decorrer do tempo, a obra ganhou outra conotação ao ser valorizada, principalmente pela presença de tantos astros da música cinquentista, notadamente a orbitar no mundo do Rock'n' Roll e a garantir uma ótima trilha sonora.

Passou bastante na TV aberta, por muitos anos, igualmente em canais de TV a cabo, foi lançado em versão VHS, posteriormente em DVD, e é encontrado com facilidade no You Tube. Ingenuidade e fragilidade da produção a parte, vale muito a pena ser assistido, pelo aspecto musical, sem dúvida alguma.

Esta resenha faz parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" em seu volume II e está disponível para a leitura a partir da página 210