Que a
euforia gerada pela escalada geométrica que a contracultura alcançou na América
do Norte nos anos sessenta, tenha incomodado e muito as autoridades, sobre tal fato não
resta dúvida. Há fundamento sim, para imaginar que o governo estudou o fenômeno
com atenção, ao colocar as suas agências de inteligência em campo para dissecar
o movimento Hippie e os seus agentes, não apenas em termos de pessoas comuns,
mas identificadas como possíveis lideranças ou no mínimo, militantes, como também muitos artistas que ajudaram decisivamente a propagar os ideais e
por consequência, influenciar decisivamente uma enorme parcela da juventude
dessa época. Posto isso, é preciso deixar claro que sob contrapartida, há
também a possibilidade da enorme quantidade de boatos inerentes, prosperar, em
termos de teoria da conspiração e nesse campo, a imaginação fértil das pessoas,
costuma voar longe, ao criar literalmente, qualquer fantasia.
Bem, nesses
termos, os boatos a dar conta que uma conspiração fora formulada por agentes
governamentais norte-americanos para assassinar artistas proeminentes que
atuaram nos anos sessenta, correu durante os anos setenta e é sobre essa
teoria, que trata o filme, “Down of Us”, também conhecido como “Beyond The
Doors”, lançado em 1984.
Antes de avançar sobre a resenha do filme em si, devo
esclarecer ao leitor, que eu não sou signatário dessa teoria, embora reconheça
que a preocupação das autoridades foi muito grande ao final dos anos sessenta,
principalmente quando notou que a contracultura crescera em demasia, ao ponto
de gerar protestos contra a guerra do Vietnã e assim, suscitar a possibilidade
da desobediência civil, com milhares de jovens a rasgar certificados de
convocação militar para servir as forças armadas em tal conflito, simplesmente
por colocarem-se como pacifistas contumazes e enxergar o mundo e a vida, além dos
objetivos geopolíticos da nação e que invariavelmente versava sobre interesses
econômicos.
No entanto, daí a considerar que as mortes de Jimi Hendrix; Janis
Joplin e Jim Morrison, não foram acidentais por conta dos efeitos decorrentes
do abuso das drogas alucinógenas, como foi divulgado oficialmente, no entanto a
revelar-se como assassinatos planejados e executados por agências de
inteligência governamentais, creio que trata-se de um delírio.
Sobre o
filme em si, é preciso deixar claro que ele foi concebido com um baixíssimo
orçamento. Portanto, é perfeitamente compreensível que o seu aparato visual
seja fraco ao extremo. E as falhas estruturais apresentadas, são muitas,
conforme repercutirei a seguir.
A história
começa em alguma localidade rural do estado de Maryland, em 1984, quando um
grupo de caçadores de patos está empenhado em uma caçada e subitamente, um dos
homens é assassinado a sangue frio, e este se chama: Alex Stanley
(interpretado por Sandy Kenyon).
Um comentário aleatório dá conta que através
desse homem abatido, o Rock’n’ Roll estaria morto. Uma tarja com os dizeres:
“Assassinato é uma forma extrema de censura”, assinada por George Bernard Shaw,
aparece para tentar ofertar uma credibilidade ao mote do filme. A cena corta
para a família desse homem, que está enlutada. A esposa desse senhor, Mrs.
Stanley (interpretada por Toni Sawyer), está abalada e relata ao filho, Frank
Stanley (interpretado por Steven Tice) e para a sua esposa, Ellen (interpretada
por Jennifer Wilde), que a morte do pai pode não ter sido acidental em tal
caçada.
O filho do senhor assassinado, fica muito interessado em desvendar a
verdade e passa a procurar por documentos que o seu pai mantinha bem guardados
e daí vem o inevitável flashback que conduz o espectador para o ano de 1968, em
meio a uma apresentação de Jimi Hendrix.
Incrível, é para
animar, não é mesmo? Todavia, infelizmente, assim que a imagem dessa encenação
de um show de Jimi Hendrix, em pleno ano de 1968, surge na tela, a decepção é
enorme. Apesar de eu já haver justificado tais falhas pela ausência de uma
verba melhor, mesmo assim, ao considerar-se ter sido uma produção
norte-americana, é praticamente impossível desculpar a precariedade com a qual
tal cena (e isso repetiu-se em outras partes do filme, com o mesmo personagem
de Hendrix, assim como em relação à Janis Joplin e Jim Morrison à frente do The
Doors), gera pela sua fragilidade.
Bem, é muito decepcionante produzir-se uma
cena com tanta pobreza visual e plena por anacronismos insuportáveis. O ator
que interpretou, Jimi Hendrix (Gregory Allen Chapman), era até um tanto quanto
parecido fisicamente com a personagem real de Jimi Hendrix, mas daí a produção
considerar ter sido isso o suficiente, foi no mínimo, um lapso lastimável. O
figurino do ator, parece ter sido concebido por alguém que fez uma pesquisa
superficial sobre a moda dos anos sessenta, ao parecer um trabalho feito para
ser encenado por alunos da quinta série, no teatro de final de ano da escola, ou seja, a
pesquisa empreendida deve ter limitado-se a perguntar à mãe de um aluno: -“como era a
moda dos anos sessenta?"
E piora ainda mais, quando observa-se o visual dos
companheiros de banda. Ora, supõe-se que seria a encenação de um show regular
do combo, Jimi Hendrix Experience, pois dessa forma, ficou ridícula a completa
descaracterização de Noel Redding (baixo) e Mitch Mitchell (bateria). Não houve
nenhuma preocupação de se apresentar atores parecidos fisicamente com ambos e o
figurino então, nem roupas de brechó, supostamente sessentistas, foram
providenciadas e assim, os atores aparecem a denunciar estar mesmo em 1984,
época da produção deste filme, ao denotar usar o seu vestuário pessoal do cotidiano.
E tem mais, pois além de não tocar-se nenhuma
música do repertório oficial de Hendrix, pela obviedade desta produção não ter
reunido nenhuma condição de adquirir os seus devidos direitos autorais, pecou-se
igualmente na produção do áudio. Tirante o personagem de Hendrix que usou uma
guitarra Fender Stratocaster, os demais aparecem em cena a ostentar
instrumentos modernos dos anos oitenta e os timbres observados nessa produção
de áudio, denunciam mais ainda ser algo completamente anacrônico, sem nenhum
pudor em ferir a fidedignidade da história. É evidente que se não houve
preocupação com os atores no palco a simular um show, imagine na plateia e nos
bastidores, então. Pessoas a aparentar estar exatamente no tempo da filmagem,
1984 e não em 1968, como sugeriu-se a ação temporal da película, denunciam a
precariedade absoluta da produção.
O mesmo
ocorre quando se mostra Janis Joplin em ação durante um show. A personagem está bem mal
produzida, a parecer ter comprado algumas plumas coloridas no comércio popular
da Rua 25 de março em São Paulo, para poder participar de um baile à fantasia
temático sobre os anos sessenta, mas evidentemente, sem nenhuma noção mais
apurada sobre o Rock dessa década e sobretudo pelo visual de Janis Joplin,
exagerado, certamente, mas nada a ver com uma fantasia barata para ser usada no carnaval e comprada a esmo.
E a banda
mostra-se muito mal caracterizada. Pela época abordada, Janis deveria estar a
apresentar-se com a sua segunda banda na carreira, a Kozmic Blues e a
caracterização dos músicos dessa banda, é péssima pela ausência completa de
similaridade física com os músicos originais, figurino equivocado e também pelos
instrumentos e equipamentos não condizentes com a época, Ela canta um blues,
que lembra vagamente em sua sonoridade, o som de Janis Joplin, mas o resultado
final é muito aquém da realidade.
O filme
sugere um avanço para o dia 14 de setembro de 1968, e doravante mostra-se a
figura de Jim Morrison (interpretado por Bryan Wolf), o lendário vocalista da
banda, “The Doors”, desmaiado sob uma cama, enquanto uma mulher, possivelmente
uma groupie, está a assistir o noticiário da TV, inteiramente nua. Intercala-se
com uma cena de um show do The Doors e as mesmas observações que eu fiz em
relação à encenação do Jimi Hendrix Experience e sobre a Kozmic Blues de Janis
Joplin, cabem literalmente neste caso, igualmente.
É um horror a recriação
desse simulacro de The Doors, tanto na aparência dos atores, quanto no uso de
instrumentos e equipamentos e também pela sonoridade ouvida. Igualmente pela
ausência de uma canção genuína dessa banda, naturalmente cerceada pelo
impedimento legal em torno dos direitos autorais, portanto, o que ouve-se é uma
banda qualquer a tocar alguma coisa que lembra vagamente o estilo do The Doors;
com músicos a usar instrumentos & equipamentos anacrônicos, trajados de uma
forma completamente incompatível com a banda em sua época e com atores que não
parecem-se em nada, fisionomicamente, com Krieger (guitarra), Desmond (bateria)
& Manzarek (teclados), os companheiros de Morrison.
Mais uma
menção ao avanço do tempo e agora, em 5 de novembro de 1968, Hendrix está a
gravar em um estúdio, quando é bruscamente interrompido por um comitê a
representar o grupo ativista político, “Black Panthers”. A cena, no entanto, é
patética, a lembrar cenas da novela adolescente, “Malhação” da Rede Globo,
tamanha a sua insipidez dramática, visto que a ideia fora mostrar a dura
repreensão que Hendrix de fato recebeu da parte de tal grupo ativista negro,
por supostamente ser um artista comprometido com a cultura dos “brancos”, não engajado
portanto na causa negra. Porém, do jeito que ali foi ventilada tal passagem em
sua biografia, ficou algo patético.
Paralelamente,
mostram-se cenas com agentes da inteligência a iniciar uma investigação sobre
artistas ligados ao Rock e a movimentação dos jovens em torno do movimento, a
revelar a preocupação do governo com tal tipo de influência perigosa, em sua
avaliação, em contraposição aos seus anseios em prol da manutenção do status
quo do sistema. Isso de fato ocorreu, no entanto, não exatamente da maneira
pela qual o filme mostrou (creio que não, em minha opinião, digamos, mais
legalista e sonhadora), pois na prática, nada pode ser descartado quando o que
está em jogo é a disputa pelo poder neste mundo, eu sei. Nesse ínterim,
mostra-se Richard Nixon, e a insinuar-se estar o presidente muito preocupado
com o avanço da suposta "pauta" Hippie etc.
Jim Morrison
é mostrado a criar conflitos por conta de seu temperamento incontrolável no
palco, a provocar as garotas da plateia com insinuações sexuais e a xingar
policiais. E claro que torna-se uma figura odiada pela corporação em geral. Em
um show do The Doors realizado em 1º de março de 1969, na cidade de Miami (isso
foi verdade), ele faz um strip-tease ao vivo no palco, para enlouquecer as
suas fãs e os policiais, sob dois pontos de vista antagônicos. Ele é preso,
ainda no palco.
Em um clube
noturno, Hendrix, Morrison e Janis Joplin são duramente criticados por uma
trupe de atores que faz imitações deles próprios no palco do estabelecimento e
ficam todos, muito indignados. Isso ocorreu de fato, algum dia ou foi uma
fantasia desse roteiro (aliás, mais uma)?
O filme
avança para 23 de março de 1970, e daí vê-se uma reunião de agentes da
inteligência norte-americana. A seguir, surge uma cena caseira, onde o filho do
agente Alex Stanley, Frank Stanley, então adolescente, ouve um disco de Rock em
alto volume e o seu pai enlouquece ao invadir o quarto do rapaz, para quebrar o
disco e aos gritos, proibi-lo em escutar mais esse tipo de música dentro de sua
casa. Bem, neste caso, algo coerente com a sua mentalidade reacionária. E para
mostrar que não estão a brincar, agentes da força repressiva, matam um homem,
sem nenhum pudor, no cerco de suas ações para atingir os Rock Stars.
A cena de
Hendrix atuar no Festival de Woodstock é medonha. O ator esforçou-se, reconheço, pois deve ter
existido o vídeo oficial do festival para recriar a performance o melhor
possível, porém, mediante uma produção tacanha, realmente ficou difícil, pois
entre outras coisas, por força das circunstâncias, o enquadramento ficou no
ator, quase que exclusivamente e assim reduziu-se a cena para algo intimista,
em contrapartida ao tamanho real desse festival na história, portanto a exigir o oposto, no sentido da amplitude.
Uma sessão
de fotos de Hendrix com duas modelos nuas, não avança pois o astro passa mal,
decorrente de seus abusos com as drogas. Uma cena em uma casa noturna mostra
uma lamentável falha anacrônica, ao mostrar-se sob o áudio de um som
Pop e pasteurizado, apesar de parecer ser um Blues-Rock, na essência. Janis Joplin em
outra cena, mostra-se melancólica ao proferir a famosa frase que lhe é atribuída: -“eu faço amor com vinte e cinco mil pessoas nos shows e depois vou para a
casa dormir sozinha”.
Jimi Hendrix,
está bem mal, no camarim de um outro show seu e duas garotas o abordam a
propor-lhe fazer o molde de seu pênis em gesso e isso de fato ocorreu na vida real, pois ele
e outros astros também foram procurados com tal proposta inusitada da parte das moças e desse esforço incomum, resultou-se o lançamento de um livro a exibir o
aparelho reprodutivo de muitos Rock Stars, lançado no início dos anos setenta.
Mais uma cena de show mostra-se lamentável, quando nem se respeitou o fato
histórico de que em 1970, o baixista, Noel Redding não estava mais na banda e
sim, Billy Cox, ou seja um homem negro. Portanto, a falta de uma verba mais
avantajada, não exime a produção de um erro assim, pois não geraria um grande
ônus a mais no orçamento ao se contratar um ator negro para filmar tal cena. Tosco por tosco, José
Mojica Marins não teria nenhum pudor em recrutar uma pessoa na rua, a esmo, sem
nenhuma qualificação para filmar uma cena na qual ele considerasse o tipo físico
mais importante que a técnica como ator profissional. Portanto, tomara que tenham aprendido tal lição básica, observada no cotidiano da produção cinematográfica.
Aí chega a
enfim a parte mais fantasiosa do filme e com a agravante de ter sido feita sob
uma produção paupérrima, lastimo muito que cenas assim, que em outras
circunstâncias seriam muito mais convincentes, tenham sido concebidas como se
fosse algo amador, inacreditável para o padrão habitual do cinema
norte-americano.
Bem, agentes rondam o apartamento onde Jimi Hendrix e a sua
nova namorada, a pintora alemã, Monika Dannemann (não mencionada e com a atriz que
a interpretou, nem creditada no filme), estavam hospedados em Londres, no dia
18 de setembro de 1970.
O telefone está grampeado (como assim, a Scotland Yard
cooperou também?), e quando a moça sai para comprar alguma mercadoria na rua,
um agente entra no quarto e coloca diversos barbitúricos goela abaixo de
Hendrix, que já mostrava-se bem dopado. Quando a moça chega e o vê desacordado,
desespera-se e chama uma ambulância, mas o que ela não suspeita, é que a
ambulância que chega para efetuar o socorro, faz parte do esquema. Portanto, o
filme abusa do absurdo, pois Hendrix ainda respira, mas os agentes disfarçados
como médicos e enfermeiros, o sufocam dentro do carro, para completar o serviço.
Menos um Hippie para incomodar o sistema... excuse me, while I kiss the sky...
Cenas na TV
a mostrar hippies a dançar nus em logradouros públicos, chocam os conservadores
e certamente instiga-lhes a tomar providências para acelerar o processo para aniquilar
os ídolos desses tresloucados. Nixon discursa na TV e certamente que as
barbaridades cometidas no Vietnã não tem a mesma repulsa da parte da opinião
pública, uma marca da época, igualmente.
Janis Joplin está a gravar um novo
álbum e o filme a mostra com a devida pobreza visual e sonora, uma constante
nesta produção. Ela grava um trecho de uma das últimas músicas que faltam para
encerrar o álbum. Um produtor de estúdio, a alerta de que ainda faltam duas
para encerrar a gravação, nos próximos dias. Ela vai para a sua casa, mas antes
disso, o agente, Stanley, invade a sua residência e aplica injeções em algumas
frutas, a conter veneno letal. Ela entra, prepara um cocktail de frutas e ao
beber, morre intoxicada. Em suma, uma bizarrice sem tamanho. E potencializado
pela cena ridícula de alguém a aplicar injeções com veneno nas frutas,
francamente... try, just a little bit harder...
Bem, o
agente ainda volta à cena do crime e recolhe as frutas contaminadas para
eliminar as provas e isso mostra-se ridículo, como complemento e ainda piora
a sensação, pois sob tal direção de arte e figurinos, nem esconde-se ser uma
ambientação oitentista, principalmente em sequências em externas, onde nenhum
cuidado foi tomado para que parecesse estar a ocorrer em 3 de outubro de 1970,
pois na realidade, é bem 1984, no panorama geral ali retratado.
Por ocasião de um show do The
Doors, Morrison é flagrado no camarim a fazer sexo com um a garota bem nova.
Ele chega ao palco e provoca ainda mais os policiais, para deixar o clima mais
tenso. O agente Stanley assiste, e nem esforça-se para não deixar passar a
ideia de que seja um detetive ou coisa que o valha.
Cenas com a figura asquerosa de Charles Manson e
membros de sua gangue formada por fanáticos catatônicos, a falar em depoimentos na TV, são
mostradas para associar a contracultura à barbaridade por eles cometida contra a
atriz, Sharon Tate. Isso de fato aconteceu na mídia nessa época, no mundo
inteiro. Morrison mostra-se debilitado, pois tosse com constância, ao denotar
estar a caminhar para uma tuberculose. Ele anuncia que vai morar em Paris.
Logo
a seguir, vê-se a cena de um policial francês a noticiar a morte do artista
norte-americano e a caracterização do agente é caricata. Sempre naquela predisposição
de estigmatizar o cidadão europeu com um paradigma clichê para cada
nacionalidade, o francês em questão segue a cartilha padrão do cinema norte-americano, ao enxergar o cidadão francês
médio, como se todos fossem iguais ao inspetor Closeau, ou seja, alguém completamente inapto, mas que nem percebe a sua própria condição pessoal, a revelar-se patética.
Um comentário irônico
diz que Morrison estará bem acompanhado de Honoré de Balzac, Oscar Wilde e outros grandes artistas em sua última morada. Enfim,
a ação do agente assassino foi facilitada, pois segundo o filme, Morrison
morrera em decorrência de uma overdose, ao dispensar o seu assassinato. Missão
cumprida... this is the end, beautiful friend. This is the end, my only friend,
the end...
Flashforward
e agora de fato em 1984, Frank Stanley está convencido que o seu pai fora
assassinado por revelar-se uma queima de arquivo. Ele sai a campo para tentar
desvendar a trama pela qual o seu pai envolvera-se. Em sua investigação, descobre
uma pista na Espanha, onde interroga alguns monges. Ele é conduzido até um
cemitério usado por tais religiosos e então o monge decano informa-lhe que um
cantor norte-americano ali viveu recluso e que veio a falecer em 1974. Delírio total, pois
na verdade, Morrison morrera em seu apartamento em Paris, em 3 de julho de 1971
e foi devidamente enterrado no cemitério de Père-Lachaise, na capital francesa.
O filme
encerra-se com um diálogo com alto teor conspiratório, transcrito na tela, e
que supostamente fora travado em uma entrevista real na TV britânica:
Reporter TV British: -“Did you give your approval na intelligence
program that contemplated clearly ilegal acts?”
(reporter TV Britânica: -“Você deu a sua aprovação em
um programa de inteligência que contemplou atos claramente
ilegais?”
Nixon: -“When the presidente does it, that means it is not ilegal”...
(Nixon: -"Quando o presidente faz isso, isso significa que não
é ilegal"...)
Reporter: -“Would not this rationate also permit a presidente to
order murder?"(repórter: -"Não seria este raciocínio
também permitir que um presidente ordenasse um assassinato"?
Nixon: -“There are degrees... nuances... which
are difficult to explain... the deciding line would be the president’s
judgement”. (Nixon:
-"Existem graus ... nuances ... que são difíceis de explicar ... a linha
decisiva seria o julgamento do presidente".
Bem,
a despeito dessa declaração forte, supostamente proferida por Nixon em 1977, em
uma entrevista concedida para a TV britânica e cuja veracidade nem é
confirmada, creio que neste caso, esta lenda urbana defendida pela produção
deste filme, não tem nenhuma comprovação. Como já disse, astros do
Rock sessentista e diversos ativistas, foram de fatos monitorados e vide o caso
de John Lennon que inclusive foi bastante incomodado pelo governo Nixon, ao
negar-lhe o “Green Card”, por anos a fio, durante os anos setenta. No entanto, acreditar
em tramas maquiavélicas a envolver assassinatos, aí foi longe demais em minha
avaliação. Ou seria eu um completo ingênuo por acreditar na justiça, na
legalidade e na isenção de agentes governamentais? Bem, fica a avaliação sobre
a trama desse filme conter algum cabimento ou não, para cada espectador.
Sobre a produção, creio que já expus amplamente a minha opinião sobre a sua pobreza constrangedora. Só posso deduzir uma hipótese: o diretor quis bancar a tal ideia a todo custo por conta de suas convicções pessoais e ao não captar recursos para uma produção melhor, tocou o projeto em frente com os parcos recursos disponíveis. Paciência.
Como peça cinematográfica, entra para a história como uma película exótica a defender uma tese muito fantasiosa e retratar três astros de primeira grandeza na história do Rock, de uma maneira muito aquém da biografia desse trio. Foi escrito e dirigido por Larry Buchaman, e aliás, cabe dizer que este diretor construiu uma longa carreira a lançar filmes de terror e Sci-Fi, com baixo orçamento, portanto, ele normalmente não se constrangeu por receber críticas desdenhosas por conta de seus filmes anteriores, absolutamente toscos, no chamado patamar da classe "Z" de qualidade.
E já houvera cometido um filme com forte insinuação baseada na teoria da conspiração, vinte anos antes (1964), quando lançou uma história livre sobre o suposto assassinato do presidente John Fitzgerald Kennedy, o cidadão, Lee Harvey Osvald em "The Trial of Lee Harvey Osvald", pois através de um delírio, ambos, Kennedy e Lee Osvald, sobrevivem, quando na verdade, os dois foram assassinados.
Fracasso total,
massacrado pela mídia e odiado por Rockers, por conta de uma caracterização
muito ruim de Hendrix; Joplin & Morrison, creio que é difícil encontrar algum
mérito além de haver tornado-se nos dias atuais, uma exótica peça
cinematográfica. Tal filme passou na TV aberta, sem maior alarde, ainda nos
anos oitenta. Eu não encontrei registro de que haja a cópia em formato DVD para
a comercialização e na internet, está disponível em no YouTube.
Resenha escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll", através de seu volume III, a partir da página 115.