quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Livro: Língua de Trapo (a autobiografia de Luiz Domingues na música - Volume II) - Matilda Produções/Clube de Autores - Lançado em outubro de 2024

É com imenso prazer que eu anuncio o lançamento do segundo volume da minha autobiografia na música, a se tratar da minha história pessoal com o Língua de Trapo.

Antes de mais nada, esclareço que este livro não é a biografia oficial do Língua de Trapo, mas sim a narrar uma segunda parte da minha autobiografia pessoal, portanto, é o volume II das minhas memórias e trata da minha experiência em particular, com a minha visão pessoal e tão somente, sobre a fase pela qual eu fui componente do grupo, aliás, duas fases.  

Com essa banda eu tive duas passagens, ou seja, fui membro desde os movimentos iniciais que precipitaram a sua fundação, a participar desde junho de 1979, tendo permanecido até janeiro de 1981. E depois, tive uma nova passagem entre outubro de 1983 e julho de 1984.

Logo que as atividades da minha primeira banda, o Boca do Céu, se encerraram em abril de 1979, o vocalista Laert Sarrumor, que também era componente dessa banda, convidou-me a participar de um grupo que estava a ser montado na faculdade de jornalismo Cásper Líbero, instituição na qual ingressara naquele mesmo semestre. O objetivo foi inicialmente apenas fazer um espetáculo de música e poesia para os alunos da faculdade, porém convites surgiram e tal grupo foi a ser requisitado doravante e a crescer no circuito universitário em meio a diversas apresentações e participações em festivais de MPB, quando culminou na fundação oficial do Língua de Trapo, já em 1980.

Trato sobre tais primórdios nos primeiros capítulos e a seguir a cronologia, falo a respeito de uma metamorfose que não acompanhei in loco, mas absorvi a posteriori, quando voltei e encontrei o grupo inteiramente profissionalizado, a viver um momento de grande expansão em todos os sentidos.

E explano também sobre o fato concreto de que essa, em meio a tantas bandas que tive e ainda tenho na minha carreira longeva, foi a única não exatamente caracterizada como uma banda de Rock, propriamente dita, porém, dentro do seu ecletismo que lhe serve para exercer tão bem a sua verve dentro da sátira e do humor, sua verdadeira vocação artística, o Rock também é uma das ferramentas que usa com maestria para para tirar "sarro e humor" da sociedade.

São muitas as histórias relatadas sobre a banda em seus bastidores, as minhas impressões em meio a dois momentos muito diferentes de sua história, análise de época e um profundo agradecimento aos talentosos colegas com os quais convivi e atuei, com muita satisfação e orgulho.

Língua de Trapo (a autobiografia de Luiz Domingues na música - Volume II)
 
Autor: Luiz Domingues
Editor: Cristiano Rocha Affonso da Costa
Revisão gramatical, diagramação e carta catalográfica: Alynne Cavalcante
Arte e lay-out final da capa/contracapa e material promocional: Victoria Costa
Foto do autor: Lincoln Baraccat
Capa do Compacto "Sem Indiretas" de 1984: Louis Chilson
Almofada com foto da capa do compacto "Sem Indiretas"de 1984: Amanda Fuccia
Fotos e material impresso que ilustram a capa contracapa: acervo particular de Luiz Domingues (créditos dos fotógrafos nos agradecimentos do livro)
Uma obra proporcionada pela Matilda Produções
Apoio gráfico: Clube de Autores
Outubro de 2024

Vendas pelos sites do Clube de Autores e Amazon:
https://clubedeautores.com.br/livro/boca-do-ceu

sábado, 19 de outubro de 2024

Filme: The Rocker (O Roqueiro) - Por Luiz Domingues

Mais uma comédia dos anos dois mil a satirizar o Rock oitentista sob o viés do Hard-Rock-Heavy-Metal e os seus excessos, “The Rocker” (“O Roqueiro”), foi um fiasco de bilheteria quando foi lançada em 2008, e também angariou críticas negativas por parte da mídia, além de  mostrar-se a priori, como um comédia repleta de clichês, no entanto, a despeito da má vontade generalizada com essa obra, ela reúne seguramente alguns méritos, e nesse quesito, no decorrer desta resenha, eu creio que surpreenderei o leitor ao descrevê-los.
 
Sobre o lado ruim, a questão dos clichês para justificar as piadas, mostrou-se como algo inevitável. Clichê cansa, eu sei e também tenho tal percepção, porém, ao tratar-se de uma comédia de costumes, é óbvio que sem esse tipo de recurso estilístico básico, fica bem difícil construir um filme comercial, bem entendido, visto que é claro que é possível fazer humor de uma outra forma mais criativa e menos apelativa, no entanto, isso cabe em cinema experimental.
Dessa forma, o capitalismo, através de seus agentes propagandistas inerentes, faz com que a rejeição popular a um tipo de humor alternativo fique circunscrita ao pequeno circuito de cine clubes para a exibição de filmes de arte e que tais, portanto, vindo das entranhas do establishment que comanda a indústria cinematográfica, uma comédia constrói-se dessa forma e ponto final. 
 
Posta tal constatação realista, eu preciso salientar entretanto, que muitas piadas registradas ao longo da história são muito engraçadas, portanto, se visto pela singela do humor inconsequente, o filme é agradável e se o espectador tem alguma relação pessoal com universo do Rock, mesmo que não goste exatamente da estética Hard/Heavy oitentista (o meu caso, aliás), há por identificar muitos signos próprios do métier e tenderá, por conseguinte, a apreciar algumas piadas mais específicas.
Sobre o lado positivo, creio que reside igualmente na parte dos clichês, ao realçar como crítica velada, certas posições pró e contra a instituição do Rock, assim como a questão dos maneirismos inerentes ao gênero. Todavia, há um passo além, pois nas entrelinhas o filme tratou por trabalhar com o sentimento da justiça/injustiça e a gerar por consequência a frustração, expressa principalmente na figura do protagonista principal desta trama. 
 
Dessa forma, apesar de ser evidentemente uma comédia popular de uma forma geral, nas entrelinhas houve a observação dessa carga dramática interessante e nesses termos, quase ao final do filme há uma atitude bonita da parte do protagonista, e mesmo a soar piegas e devidamente construída como uma galhofa para gerar risos, contém uma sutil profundidade, que muito possivelmente passe despercebida, no entanto, deixo a dica ao leitor, caso assista tal filme, preste atenção na atitude que o protagonista adota quando encontra os seus antigos companheiros que o traíram no início da história, nos bastidores de um mega show de Rock a ocorrer em uma Arena de grande porte.
Bem, é a hora para comentar sobre a história proposta por este filme. A ação inicia-se em 1986, no palco de uma casa de espetáculos chamada, “The Agora”, em Cleveland, Ohio, em meio a uma apresentação de uma banda Hard-Rock/Heavy-Metal, conhecida como “Vesuvius”, e sim, uma menção ao vulcão italiano. 
 
Tal banda segue a cartilha ipsis litteris do seu gênero em meio à sua época, ou seja, um som pesado e com os seus artífices a usar figurinos, maquiagem e penteados bem exagerados, como condição sine qua non e também por imprimir uma presença de palco bem típica, com certas coreografias padronizadas e com o adendo das caras & bocas, bem afetadas. Enfim, o Vesuvius é uma banda fictícia, mas a produção do filme e os atores, com apoio do diretor, empreendeu uma boa simulação do que representou esse espectro de bandas que atuou nessa época. 
O baterista dessa banda é Robert “Fish” Fishman (interpretado pelo bom ator/comediante, Rainn Wilson), que é adepto dos maneirismos desse espectro do Rock oitentista até a medula, tem um temperamento forte e também é deveras desastrado, o que garante a porção cômica do filme. A banda está em momento de ascensão e após o show, um executivo de uma gravadora chamada, “Matchbox”, procura os rapazes em seu camarim e afirma-lhes que a gravadora está entusiasmada com a banda, e deseja contratá-la. 
 
Não para por aí, pois tal rapaz sinaliza com a oportunidade do Vesuvius abrir o show do Whitesnake, uma banda muito famosa na vida real. Todos animam-se, é óbvio, e a aproveitar o fato do baterista estar entretido em atender fãs do sexo feminino, eis que o executivo da gravadora impõe uma condição sine qua non para a banda usufruir de tais benefícios: a substituição do baterista. Em princípio eles relutam em solidariedade ao companheiro, mas logo a seguir, e bem rapidamente para reforçar a ideia da patifaria em curso, aceitam a oferta e a condição imposta. 
Fish descobre que fora mandado embora da banda à revelia, enquanto ainda conversava com um grupo de garotas, envolto na soberba e a sentir-se poderoso, portanto, o contraste com a situação que mudou a sua vida totalmente e de uma forma inesperada, é simbolizado pela garrafa que deixa cair da mão e espatifa-se no chão. 
 
Bem, ele corre ao camarim e nesse ínterim, os seus, agora ex-colegas, já haviam carregado os seus pertences, portanto, ele sai à rua e os flagra a dar partida na Van da banda para a evasão. Vem a seguir uma sketch muito boa, pois a perseguição que Fish faz ao carro, é construída a usar os clichês de filmes de Super-Heróis e também aos filmes de terror, ou seja, com força sobre-humana, ele persegue os seus ex-amigos, mesmo com o carro a atingir cem quilômetros por hora, sobe à capota e usa as suas baquetas como armas letais, para que finalmente, quando parece ter sido atropelado mediante uma manobra agressiva da parte do motorista do carro, e assim parecer estar morto, eis que levanta-se como se fosse imortal e invoca uma maldição sobre os traidores. É portanto, uma cena bastante divertida, apesar de ser mórbida.
Vinte anos depois, o flashforward conduz o espectador aos anos dois mil, e então vemos Fish a trabalhar em um departamento de vendas ao estilo Call Center, de uma empresa que comercializa prateleiras. Ainda a ostentar cabelos longos, como uma marca Rocker de sua personalidade, mas visivelmente envelhecido e fora de forma, mostra-se profundamente entediado e infeliz nessa função que o sustenta. Eis que um colega de trabalho saca um CD para ouvir e ao tecer comentários muito elogiosos para a banda em questão, Fish fica transtornado ao saber tratar-se do último álbum do Vesuvius, a sua ex-banda e há vinte anos, objeto de uma mágoa que o atormenta constantemente.
 
Então, tudo piora quando o rapaz não para de elogiar o Vesuvius e nessa exaltação, fala sobre a carreira vitoriosa dessa banda com muitos discos e enquanto isso, o som cresce e os demais colegas entram no embalo a dançar e também declarar o seu apreço ao Vesuvius, ou seja, o ambiente transformou-se em um inferno para Fish e para a surpresa de todos que nada sabem de sua história com tal banda, Fish protagoniza uma crise de nervos; briga, quebra tudo e lógico, perde o emprego. 
Então, ocorre uma cena a seguir que é engraçada pela sua plasticidade cômica, mas é para arrancar lágrimas a quem conhecer a história do Rock. Fish sai a andar pelas ruas e mostra-se desesperado. Uma vez sentado em um ponto de ônibus, ele vê cartazes do Vesuvius por todos os lados e bate a sua cabeça na armação da cobertura do mesmo, em sinal de desilusão. Entretanto, o senhor idoso que está sentado ao seu lado a esperar o ônibus (e que lia uma revista a conter uma matéria de capa com o Vesuvius), é ninguém menos que Pete Best, o primeiro baterista do grupo, The Beatles na vida real, e que vivera uma situação semelhante, quando a gravadora, em 1962, sugeriu que a banda só prosseguiria sob a sua guarda, se demitissem o baterista e foi aí que surgiu a figura de Ringo Starr para entrar na história e Pete Best foi relegado ao limbo da amargura em ver de longe os seus colegas alcançar o mega sucesso sob âmbito mundial. Ora, ficou claro que a apesar de ser uma comédia, este “The Rocker” fora inspirada na história de Pete Best e lá estava ele em pessoa, humildemente a atuar como um figurante silencioso.
 
Para piorar a sua situação, Fish briga com a namorada e a manda embora de casa, no entanto, a casa era dela e ele é que tem que deixar a residência, mais derrotado ainda. Sem outra opção, ele busca o apoio de sua irmã que o recebe, mas com ressalvas (Jane Lynch, interpretada por Lisa Gadman). Cabe aqui acrescentar que na cultura norte-americana, a questão de uma pessoa estar nessa idade em que Fish encontra-se, além dos quarenta anos de idade, sem uma estabilidade financeira solidificada, sem residência e sem esposa/família, é muito desonroso. 
 
É assim em qualquer parte do mundo, certamente, mas entre os norte-americanos cuja sociedade é fortemente pautada pelo êxito sociofinanceiro como uma condição intrínseca para todos, isso pesa mais. E tem mais um elemento a agravar a sua situação exasperante: a questão dele ter fracassado como músico e ainda manter um comportamento ligado em tais valores que destoam das tradições conservadoras, trata por irritar ainda mais a sua irmã que o acolhe por caridade, mas com o sobreaviso que ele teria poucos dias para achar uma outra solução a partir desse dia.
Se a irmã trata-o como um fracassado (o clássico, “Loser”, que tem um peso extraordinário na cultura norte-americana, como já observei anteriormente), ele ganha o surpreendente apoio de seu cunhado que é gentil, compreensível e não esconde que é um entusiasta da música, na figura de Stan Gadman (interpretado por Jeff Garlin). Fish tem dois sobrinhos, uma menina pequena, Violet Gadman (interpretada por Samantha Weinstein), e um rapaz na faixa de dezoito anos de idade, Matt Gadman (interpretado por Josh Gad), que é muito tímido, com fama de ser nerd/geek, obeso e reclama por ter sofrido bullying em sua vida, desde pequeno, inclusive da parte do tio Fish.
É nesse ponto que o improvável ocorre a mudar a vida de Fish, de uma maneira que ele jamais imaginaria. Pois o seu sobrinho é tecladista de uma banda amadora, formada por colegas da escola a conter, Curtis Powell (interpretado por Teddy Geiger), e Amelia Stone (interpretado por Emma Stone), guitarra e baixo, respectivamente, como componentes. Pois é aí que advém a virada na vida de Fish, visto que a banda adolescente de seu sobrinho carece de um baterista. Tal banda chama-se “ADD” (sigla para: “Attention Deficit Disorder”, ou seja, uma doença mental). 
Após realizar testes com bateristas pretendentes e todos eles a mostrar-se bisonhos, eis que um garoto aparece com uma bateria eletrônica e Fish ouve de longe tal som horrendo e os seus brios são fortemente provocados, visto que para qualquer baterista que se preze, tal artifício é uma ofensa. Ele invade o ensaio dos garotos e expulsa o rapaz da bateria eletrônica, a protagonizar uma cena deveras hilária. E mais que isso, isso desperta a ideia dos meninos: por que não convidar Fish para a apresentação que farão no "Prom" (baile de formatura), na High Scholl? 
 
Bem, o convite é feito pelo seu sobrinho, Matt, e isso gera cenas engraçadas a revelar o desprezo de Fish em ser cogitado para tocar com garotos iniciantes, mas ele culmina em aceitar, afinal de contas, faz vinte anos que não toca bateria. Eis que a apresentação ocorre e Fish porta-se como se ainda fosse jovem e famoso, inclusive a usar um visual espalhafatoso, bem ao seu gosto oitentista, no entanto, mesmo muito enferrujado, a sua atuação individual é muito acima da técnica simplória apresentada pelos adolescentes e assim, a banda cresce e faz uma ótima apresentação, a destacar-se entre os seus pares. 
Infelizmente, ao final, a empolgação de Fish põe tudo a perder ao forçar um solo que destoa do espírito de uma banda de baile e na euforia, ele arremessa as baquetas e atinge um garoto na plateia. Os meninos ficam chateados por passar vergonha e despedem Fish, o que é muito humilhante para um sujeito de sua idade e bagagem musical, mas Fish percebe que exagerou e mais do que isso, nota que os garotos detém talento e se lapidados poderiam compor uma banda, verdadeiramente a pleitear voos maiores. 
Ele procura o guitarrista, Curtis, para pedir-lhe desculpas e assim reivindicar a sua readmissão na banda. Então, eis que Fish é recepcionado pela mãe do guitarrista, Kim Powell (interpretada por Christine Applegate), e a princípio, ele pensou que ela fosse a irmã mais velha de Curtis, tamanha a sua jovialidade e beleza, e claro, abre caminho para um desfecho romântico no filme, que só é insinuado, de fato, ao seu final. Bem, encantamento com a "mãe gata" do guitarrista, à parte, Fish convence Curtis e a banda vai prosseguir em frente com maior seriedade doravante.
 
A seguir, vê-se cenas rápidas a mostrar os esforços de Fish para arrumar shows e gravadoras para a banda e quem for músico, principalmente a atuar no underground do show business, haverá por entender o sentido duro dessa labuta, e certamente que isso gera risadas se visto pelo lado do humor, mas que na realidade, não observa graça alguma, pois revela-se como algo humilhante. 
Como por exemplo, o ato de entregar fita demo-tape para produtores de casas noturnas e quem as costuma receber, a jogá-la com desprezo na lata de lixo, imediatamente e sem nem cogitar escutá-la e eu falo com experiência, isso ocorre muito. 
 
Eis que em meio a mil telefonemas, Fish recebe o comunicado que uma casa noturna chamada: “Tiger Room”, localizada em uma cidade no estado de Indiana, marcara uma apresentação e isso representa a sua ressurreição para a música, simbolicamente.
Entretanto, há um problema, os três membros com que lida, são menores de idade e os pais não autorizarão a viagem de seus pimpolhos e a casa noturna pode sofrer sanções se a fiscalização do juizado de menores aparecer. 
 
Fish não quer nem saber dos impedimentos e arquiteta um plano ousado: apanha o carro da sua irmã e na calada da noite, sai com os adolescentes e o equipamento. Mas a polícia é chamada e intervém com a abordagem feita na estrada. De volta, a sua irmã e os pais dos demais estão furiosos. A irmã de Fish expulsa-o de sua casa e ele vai hospedar-se na despensa do restaurante de um chinês onde ele comprara comida por anos a fio. 
Matt o procura e propõe um plano emergencial para a banda não parar as atividades. Um ensaio virtual, com cada um em sua casa devidamente enquadrado em câmeras para estabelecer uma vídeo conferência. Bem, não era uma novidade tecnológica absoluta em 2007, quando o filme foi produzido, mas algo bem recente e por isso tratado no filme como um recurso inovador. Então, o ensaio acontece com cada membro a tocar nos quartos de suas respectivas residências e Fish na despensa do restaurante, cheia de ratos. 
 
Ocorre que Fish está inteiramente nu e a priori, somente os seus colegas o assistem a tocar de costas nessa condição indecente, mas a sua sobrinha, a pequena Violet, descobre a videoconferência por acaso, através de seu laptop e a coloca imediatamente no YouTube, com o vídeo a submeter-se ao fenômeno então inovador da viralização imediata. Rapidamente, milhões de pessoas estão a cantar a canção composta por Curtis e a comentar sobre a banda do baterista nu e que faz poses em pé, para mostrar ainda mais o que não deveria, digamos assim.
O golpe de sorte ocorre. Fish passa a ser reconhecido imediatamente pelas ruas e no comércio, principalmente pela sua barriga proeminente que ficara marcante no tal vídeo indecente que protagonizara involuntariamente e então, eis que o grande resgate de sua vida ocorre, pois um executivo da gravadora Matchbox aparece e propõe a contratação do "ADD", sob a alegação de que a viralização do tal vídeo chamara a atenção da companhia (David Marshall, interpretado por Jason Sudeikis). O mundo que dá voltas, ora veja só... a mesma gravadora que vinte anos atrás contratara o Vesuvius e impusera a condição de Fish não estar na banda. 
Rapidamente o ADD entra em um bem equipado estúdio para gravar e a gravadora planeja uma turnê para a divulgação do álbum. Nesse ínterim, os pais dos adolescentes preocupam-se, pois apesar dessa súbita ascensão mostrar-se irrecusável, existe a preocupação com os filhos muitos jovens a entrar nessa rotina de uma banda de Rock na estrada, e isso assusta-os, certamente. Bem, muitas ressalvas são feitas e a responsabilidade fica a cargo de Fish, como um fator condicional para que seja aprovada a participação dos menores, o que constitui-se em uma piada dentro da piada (meta-piada?), pois é óbvio que Fish está ansioso para reviver a sua vida Rocker e não planeja ser um tutor para os adolescentes. 
Cenas a conter fatos ocorridos durante a turnê, mostram momentos bonitos da euforia da banda por viver o seu sucesso crescente e também dá margem para que muitas piadas a explorar os bastidores de uma banda de Rock na estrada, sejam exploradas. 
Entre fatos engraçados a ocorrer no palco durante os shows, com falhas técnicas do equipamento, problemas na estrada a bordo do ônibus da banda e também nos camarins e quartos de hotel, tudo gera euforia e boas piadas, também. Aparelho de TV a ser jogado de andar alto de quarto de hotel, pela janela (uma menção aos Rolling Stones em cena vista no documentário: “Cocksucker Blues”), festas malucas com bebedeiras e muitas groupies sensuais a circular pelos quartos e outros fatos inerentes à fama de uma banda em ascensão são demonstrados. 
Aliás, nesse quesito, é nítido que apesar do assédio acentuado por belas garotas que ocorre, Curtis olha para a sua colega, a baixista, Amelia, de uma maneira diferente e ela, mais ainda, mostra-se sempre incomodada em vê-lo cercado por garotas insinuantes.

Fish não contém-se ao extravasar os vinte anos em que ficara longe dessa vida e mesmo sendo um sujeito de meia idade, é o que mais perde o controle, aliás, a priori, somente ele comporta-se mal e com direito a ficar alucinado e por conta disso, gritar do alto de um telhado que seria um “peixe dourado” (essa história é clássica no folclore do Rock ao ser atribuída a Duanne Allman, o guitarrista do The Allman Brothers Band que teria feito o mesmo para depois atirar-se em uma piscina, aos gritos de: -“I’m a Golden God” (“Eu sou um Deus Dourado”). 
Bem, o pior ocorre e todos são presos e fichados. Fish não demonstra arrependimento, pois não se preocupa com a ficha policial, mas os pais dos demais membros da banda, ficam furiosos. Nesta altura, a banda tem muitos compromissos e está a ganhar dinheiro, portanto, a solução encontrada é no sentido para que Kim, a mãe do guitarrista, Curtis, viaje junto durante a turnê da banda, para ser a adulta responsável que Fish não foi e nunca será nesse sentido.
A gravadora está empolgada e manda produzir um vídeoclip. A cena da filmagem desse clip revela bem como tal veículo de apoio à divulgação de bandas era equivocado em muitos aspectos. Muito engraçado, a baixista, Amelia, entra em crise quando vê o resultado do penteado que a cabeleireira arranjou para ela, totalmente montado a la anos oitenta, com litros de laquê a formar uma juba armada ao estilo de um leão. Ela finalmente sai do camarim e aceita participar da filmagem após passar um creme e deixar o cabelo com a aparência normal.
A turnê prossegue com mais sucesso ainda e mostra-se interessante a abordagem do roteiro a divulgar que a banda atingira uma ótima colocação na parada de sucessos, mas não o número um, como em muitos filmes sobre bandas fictícias, onde tal exagero fora cometido para realçar uma façanha enorme. Outro fato a denunciar um maneirismo de época do lançamento desse filme: é mencionado pelo executivo da gravadora, que a banda fora convidada para participar de uma festa promovida pelo site “myspace”, que fora a crista da onda naquela metade de anos dois mil. Ora, volátil ao extremo, visto hoje em dia (2019, quando escrevi esta resenha), é preciso explicar a um jovem que não acompanhou o panorama de 2008, o que representou tal site no mundo da música, visto que hoje em dia (2019), ele é um arremedo, se é que ainda exista na blogosfera. 
 
Fish e Kim aproximam-se cada vez mais e a estreia do vídeoclip é saudada como um marco para banda, embora entre os membros tenha gerado reclamações de cunho individual, a dar conta da insatisfação de cada um sobre a sua própria imagem e clip é assim mesmo na vida real de uma banda, visto que a tendência é haver contrariedade por conta da edição, a favorecer mais ou menos um membro do grupo, ou a retratá-lo sob certos ângulos que não favorece a sua melhor condição física. 
Matt chega a observar que a imagem de uma pessoa na TV tende a engordá-la em quatro kilos além do normal, por conta das distorções da imagem e no caso dele, que era traumatizado pelo sobrepeso, isso só piorou a sua imagem.
 
Uma virada de final de filme traz um conflito à tona: o executivo da gravadora Matchbox aparece eufórico a comunicar que o ADD fora convidado para abrir o show do Vesuvius, quando esta veterana banda seria agraciada com a sua inclusão no Hall da Fama em Cleveland, Ohio. Suprema humilhação para Fish, portanto, visto que odiava a sua ex-banda mortalmente e não obstante sentir-se humilhado em abrir o show de seus algozes, ele seria testemunha da inclusão deles no Hall da Fama, um sonho que acalentava desde que tocava nessa mesma banda. 
De fato, no meio do filme, uma cena mostrou Fish a observar de longe o edifício onde abriga-se o Hall of Fame, com um olhar sofredor a denotar que fora o seu sonho não realizado. Ele simplesmente recusa-se a participar desse show. Claro, a banda e o executivo, tentam demovê-lo dessa decisão e ele mostra-se irredutível. Em um show a seguir, o guitarrista, Curtis, anuncia que a banda vai tocar no tal evento em posição de abertura ao show do Vesuvius e o público delira, ao reconhecer a ascensão do ADD, no entanto, Fish enlouquece, e diz que não vai tocar, na frente do público e após uma discussão ríspida com Curtis, quebra a bateria a la Keith Moon e cai do palco para sair em meio ao público, furioso e com os dois tornozelos torcidos.
 
O homem da gravadora, David, demonstra ser um oportunista típico e nem preocupa-se com tal crise instaurada e assim, anuncia rapidamente a contratação de um novo baterista, chamado : Paul (interpretado por John Cor). A situação é outra no entanto, pois ao contrário dos membros do Vesuvius que não titubearam em expulsar Fish daquela banda, desta feita, pelo contrário, os jovens do ADD não gostam da solução e mesmo que a saída tenha sido forçada por Fish e não o contrário, mostram-se propensos a convencer Fish a voltar para a banda e que ele cumpra o show no Hall da Fama.
Fish joga as suas baquetas na porta do edifício onde existe o Hall of Fame, de forma simbólica. Ele desiste de tudo, definitivamente e a cena a mostrar-lhe em uma cadeira de barbeiro a cortar a sua cabeleira Rocker denota isso claramente. Na companhia de seu simpático cunhado, ele submete-se a uma entrevista de emprego em uma empresa bem tradicional e a seguir, é mostrado a usar terno e gravata, cabelos curtos e pasta na mão, a andar como um zumbi pelas ruas. Eis que Curtis o aborda e faz uma nova tentativa em removê-lo de sua decisão. Então, até que enfim, Fish aceita e o cunhado vibra com a notícia ao vê-lo em cima de uma mesa de restaurante a anunciar que iria tocar no Hall da Fama. 
O grande dia chega, e em meio à preparação do show em uma grande Arena, todos estão eufóricos. No corredor de acesso aos camarins, o inevitável ocorre, com a entourage do Vesuvius a aproximar-se. Um roadie sai na frente a exigir que todos abram alas para o Vesuvius passar, a deixar clara a empáfia da banda, o que diga-se de passagem, é algo corriqueiro para bandas que chegam em tal patamar de fama (infelizmente, muitas portam-se assim, devo acrescentar). 
Os astros do Vesuvius não reconhecem Fish quando as duas bandas ficam frente a frente, mas então o baixista dessa banda recorda-se e anuncia aos demais que trata-se de Fish, ali presente, o seu antigo baterista. Em princípio, os rapazes demonstram no semblante o temor ao recordar-se da situação vivida em 1986, mas logo a seguir, o vocalista porta-se com muita arrogância, a debochar da condição de Fish sob inferioridade. Fish responde com firmeza, mas em dado instante, ele muda o seu discurso e deseja-lhes um bom show. Foi a tal atitude que eu citei no início da resenha e que trouxe um diferencial a uma comédia inocente, visto que o normal teria sido uma briga em clima de pastelão para realçar o humor em linhas gerais, mas a opção pelo perdão, mostrou algo surpreendente, visto que toda a raiva alimentada por Fish ao longo de vinte anos, foi drenada em segundos e assim, mostrou-se que guardar rancor não leva a nada, como uma edificante e inesperada mensagem subliminar. Teria sido uma sugestão de Pete Best para o roteiro? Eu não descartaria tal hipótese.
Bem, o ADD entra em cena e o seu show é um sucesso. Nesta altura, observa-se muitos fãs a usar camisetas com o logotipo da banda na estampa. Até uma fã específica de Matt, aparece (interpretada por Brittany Allen), a usar  uma camiseta a conter os dizeres: “Matt I Love You”, para a alegria do tímido tecladista. 
 
Com toda a pompa e circunstância, o Vesuvius é anunciado com uma iluminação muito mais ampla, como é a praxe do show business a privilegiar o artista principal, e os seus fãs deliram. No entanto, um acidente ocorre com o vocalista, que ao perder o controle do seu microfone deixa claro que a banda não estava a tocar e cantar verdadeiramente, pois a sua voz continuou a soar no PA da Arena, a configurar que a banda praticava o abominável engodo em apresentar-se mediante o uso do playback ou para explicar melhor para quem não acompanha os meandros da música, a banda fingia tocar e cantar ao vivo, sob o som de seus próprios discos. Vaiada e humilhada por ter sido flagrada mediante tal vexatória fraude, a banda sai escorraçada do palco e o pessoal do ADD assiste essa derrocada do Vesuvius in loco, com Fish apenas a sorrir ironicamente. 
 
Logo a seguir, a plateia grita em coro: -“ADD, ADD, ADD”... o executivo da gravadora tenta impedir, ao alegar que isso seria uma humilhação para o Vesuvius e que a gravadora não gostaria dessa atitude, mas Fish o despede ali mesmo. O público está a exigir a sua volta ao palco e o ADD volta para concretizar a sua consagração total! 
Nesse ínterim, mostra-se os pais a vibrar com o sucesso de seus filhos que agora são Rock Stars e a ficar milionários, Matt está a namorar com a sua fã apaixonada, que ajuda-o involuntariamente a encerrar o seu ciclo de timidez; Curtis e Amelia formam um casal doravante e Fish a Kim, se não fica explícito, também acertaram-se. Contudo, o que mais comemora-se ali é o triunfo de Fish, cuja imagem congelada a sair da bateria para cumprimentar o público e dar um salto de alegria, expressa o final feliz. Tomara que Pete Best também tenha tido esse sentimento libertador, assim espero.
Muito bem, para encerrar, falta comentar que a interpretar o guitarrista do Vesuvius, Trash Grice, esteve o ator, Bradley Cooper, que na época já possuía uma boa fama por suas atuações em seriados de TV, todavia, posteriormente esse ator alcançou uma fama maior via cinema. 
 
Também a participar do Vesuvius, Tiny Sticks (interpretado por Lonny Ross), Wayne Kerr (interpretado por Fred Armisey) e Lex Drennan (interpretado por Wiil Arnatt). Ainda no elenco: Howard Hesseman (como Nav Gator, o motorista do ônibus do ADD), Jane Krakowski (como Carol, namorada de Fish no início do filme), Vik Sahay (como Gary) e outros.
O produção tentou várias estratégias, então modernas, para promover o filme, tal como uma interação da personagem de Fish a mandar um comunicado via “Myspace” para atiçar a curiosidade dos milhões de usuários que aquela rede social possuía nessa ocasião. Uma outra ação que foi realizada a envolver o "Myspace" em conjunto com a revista britânica, especializada em Rock pesado, "Kerrang", foi um concurso com bandas e a vencedora ganhou muitos prêmios, entre eles o direito, a ser fotografada ao lado dos atores da banda fictícia, “ADD”, deste filme, mas nada disso redundou em algum acréscimo para melhorar o resultado da bilheteria do cinema, que foi fraco, infelizmente. 
Uma curiosidade sobre o ator, Teddy Geiger, ele de fato era/é músico, aliás um prodígio que toca vários instrumentos e compõe desde criança e em paralelo à carreira de ator, possui também uma carreira musical com lançamentos etc. E mais recentemente, chocou as suas fãs do sexo feminino ao anunciar uma transição para a mudança de sexo e nos dias atuais, apesar de ainda usar o seu nome de batismo masculino, apresenta-se como uma mulher.
Escrito por Ryan Jaffe e roteirizado por Maya Forbes e Wallace Wododarski, “The Rocker” foi dirigido por Peter Cetanneo. As canções foram compostas por Chad Fischer e gravadas por ele próprio, com a sua banda, Lazlo Bane e Teddy Geiger cantou as partes em que atua a cantar no filme, na pele da personagem, Curtis. Foi lançado em 2008. Está disponível em versão DVD, passeou por canais de TV a cabo, visitou a TV aberta e na internet é difícil achá-lo em versão integral e gratuita, portanto, é preciso recorrer aos portais menores.
 
Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" através do seu volume III, com a leitura disponibilizada a partir da página 270.