Mais uma
comédia dos anos dois mil a satirizar o Rock oitentista sob o viés do Hard-Rock-Heavy-Metal e os seus excessos, “The Rocker” (“O Roqueiro”), foi um fiasco de
bilheteria quando foi lançada em 2008, e também angariou críticas negativas por
parte da mídia, além de mostrar-se a
priori, como um comédia repleta de clichês, no entanto, a despeito da má
vontade generalizada com essa obra, ela reúne seguramente alguns méritos, e
nesse quesito, no decorrer desta resenha, eu creio que surpreenderei o leitor
ao descrevê-los.
Sobre o lado
ruim, a questão dos clichês para justificar as piadas, mostrou-se como algo
inevitável. Clichê cansa, eu sei e também tenho tal percepção, porém, ao
tratar-se de uma comédia de costumes, é óbvio que sem esse tipo de recurso
estilístico básico, fica bem difícil construir um filme comercial, bem
entendido, visto que é claro que é possível fazer humor de uma outra forma mais
criativa e menos apelativa, no entanto, isso cabe em cinema experimental.
Dessa forma, o
capitalismo, através de seus agentes propagandistas inerentes, faz com que a
rejeição popular a um tipo de humor alternativo fique circunscrita ao pequeno
circuito de cine clubes para a exibição de filmes de arte e que tais, portanto,
vindo das entranhas do establishment que comanda a indústria cinematográfica, uma
comédia constrói-se dessa forma e ponto final.
Posta tal constatação realista,
eu preciso salientar entretanto, que muitas piadas registradas ao longo da
história são muito engraçadas, portanto, se visto pela singela do humor
inconsequente, o filme é agradável e se o espectador tem alguma relação pessoal
com universo do Rock, mesmo que não goste exatamente da estética Hard/Heavy
oitentista (o meu caso, aliás), há por identificar muitos signos próprios do
métier e tenderá, por conseguinte, a apreciar algumas piadas mais específicas.
Sobre o lado
positivo, creio que reside igualmente na parte dos clichês, ao realçar como
crítica velada, certas posições pró e contra a instituição do Rock, assim como
a questão dos maneirismos inerentes ao gênero. Todavia, há um passo além, pois
nas entrelinhas o filme tratou por trabalhar com o sentimento da justiça/injustiça e a gerar por consequência a frustração, expressa principalmente na
figura do protagonista principal desta trama.
Dessa forma, apesar de ser
evidentemente uma comédia popular de uma forma geral, nas entrelinhas houve a
observação dessa carga dramática interessante e nesses termos, quase ao final
do filme há uma atitude bonita da parte do protagonista, e mesmo a soar piegas
e devidamente construída como uma galhofa para gerar risos, contém uma sutil
profundidade, que muito possivelmente passe despercebida, no entanto, deixo a
dica ao leitor, caso assista tal filme, preste atenção na atitude que o
protagonista adota quando encontra os seus antigos companheiros que o traíram
no início da história, nos bastidores de um mega show de Rock a ocorrer em uma
Arena de grande porte.
Bem, é a hora
para comentar sobre a história proposta por este filme. A ação inicia-se em
1986, no palco de uma casa de espetáculos chamada, “The Agora”, em Cleveland,
Ohio, em meio a uma apresentação de uma banda Hard-Rock/Heavy-Metal,
conhecida como “Vesuvius”, e sim, uma menção ao vulcão italiano.
Tal banda segue
a cartilha ipsis litteris do seu gênero em meio à sua época, ou seja, um som
pesado e com os seus artífices a usar figurinos, maquiagem e penteados bem
exagerados, como condição sine qua non e também por imprimir uma presença de
palco bem típica, com certas coreografias padronizadas e com o adendo das caras
& bocas, bem afetadas. Enfim, o Vesuvius é uma banda fictícia, mas a
produção do filme e os atores, com apoio do diretor, empreendeu uma boa
simulação do que representou esse espectro de bandas que atuou nessa época.
O baterista
dessa banda é Robert “Fish” Fishman (interpretado pelo bom ator/comediante,
Rainn Wilson), que é adepto dos maneirismos desse espectro do Rock oitentista
até a medula, tem um temperamento forte e também é deveras desastrado, o que
garante a porção cômica do filme. A banda está em momento de ascensão e após o
show, um executivo de uma gravadora chamada, “Matchbox”, procura os rapazes em
seu camarim e afirma-lhes que a gravadora está entusiasmada com a banda, e
deseja contratá-la.
Não para por aí, pois tal rapaz sinaliza com a oportunidade
do Vesuvius abrir o show do Whitesnake, uma banda muito famosa na vida real.
Todos animam-se, é óbvio, e a aproveitar o fato do baterista estar entretido em
atender fãs do sexo feminino, eis que o executivo da gravadora impõe uma
condição sine qua non para a banda usufruir de tais benefícios: a substituição
do baterista. Em princípio eles relutam em solidariedade ao companheiro, mas
logo a seguir, e bem rapidamente para reforçar a ideia da patifaria em curso,
aceitam a oferta e a condição imposta.
Fish descobre que fora mandado embora da
banda à revelia, enquanto ainda conversava com um grupo de garotas, envolto na
soberba e a sentir-se poderoso, portanto, o contraste com a situação que mudou
a sua vida totalmente e de uma forma inesperada, é simbolizado pela garrafa que
deixa cair da mão e espatifa-se no chão.
Bem, ele corre ao camarim e nesse
ínterim, os seus, agora ex-colegas, já haviam carregado os seus pertences,
portanto, ele sai à rua e os flagra a dar partida na Van da banda para a
evasão. Vem a seguir uma sketch muito boa, pois a perseguição que Fish faz ao
carro, é construída a usar os clichês de filmes de Super-Heróis e também aos
filmes de terror, ou seja, com força sobre-humana, ele persegue os seus
ex-amigos, mesmo com o carro a atingir cem quilômetros por hora, sobe à capota
e usa as suas baquetas como armas letais, para que finalmente, quando parece ter sido
atropelado mediante uma manobra agressiva da parte do motorista do carro, e assim parecer estar morto, eis que levanta-se
como se fosse imortal e invoca uma maldição sobre os traidores. É portanto, uma
cena bastante divertida, apesar de ser mórbida.
Vinte anos
depois, o flashforward conduz o espectador aos anos dois mil, e então vemos
Fish a trabalhar em um departamento de vendas ao estilo Call Center, de uma
empresa que comercializa prateleiras. Ainda a ostentar cabelos longos, como uma
marca Rocker de sua personalidade, mas visivelmente envelhecido e fora de
forma, mostra-se profundamente entediado e infeliz nessa função que o sustenta.
Eis que um colega de trabalho saca um CD para ouvir e ao tecer comentários
muito elogiosos para a banda em questão, Fish fica transtornado ao saber
tratar-se do último álbum do Vesuvius, a sua ex-banda e há vinte anos, objeto
de uma mágoa que o atormenta constantemente.
Então, tudo piora quando o rapaz não para de
elogiar o Vesuvius e nessa exaltação, fala sobre a carreira vitoriosa dessa
banda com muitos discos e enquanto isso, o som cresce e os demais colegas
entram no embalo a dançar e também declarar o seu apreço ao Vesuvius, ou seja,
o ambiente transformou-se em um inferno para Fish e para a surpresa de todos
que nada sabem de sua história com tal banda, Fish protagoniza uma crise de nervos; briga,
quebra tudo e lógico, perde o emprego.
Então, ocorre uma cena a seguir que é
engraçada pela sua plasticidade cômica, mas é para arrancar lágrimas a quem
conhecer a história do Rock. Fish sai a andar pelas ruas e mostra-se
desesperado. Uma vez sentado em um ponto de ônibus, ele vê cartazes do Vesuvius
por todos os lados e bate a sua cabeça na armação da cobertura do mesmo, em
sinal de desilusão. Entretanto, o senhor idoso que está sentado ao seu lado a
esperar o ônibus (e que lia uma revista a conter uma matéria de capa com o
Vesuvius), é ninguém menos que Pete Best, o primeiro baterista do grupo, The Beatles
na vida real, e que vivera uma situação semelhante, quando a gravadora, em 1962,
sugeriu que a banda só prosseguiria sob a sua guarda, se demitissem o baterista
e foi aí que surgiu a figura de Ringo Starr para entrar na história e Pete Best
foi relegado ao limbo da amargura em ver de longe os seus colegas alcançar o
mega sucesso sob âmbito mundial. Ora, ficou claro que a apesar de ser uma
comédia, este “The Rocker” fora inspirada na história de Pete Best e lá estava ele
em pessoa, humildemente a atuar como um figurante silencioso.
Para piorar
a sua situação, Fish briga com a namorada e a manda embora de casa, no entanto,
a casa era dela e ele é que tem que deixar a residência, mais derrotado ainda.
Sem outra opção, ele busca o apoio de sua irmã que o recebe, mas com ressalvas
(Jane Lynch, interpretada por Lisa Gadman). Cabe aqui acrescentar que na cultura
norte-americana, a questão de uma pessoa estar nessa idade em que Fish
encontra-se, além dos quarenta anos de idade, sem uma estabilidade financeira
solidificada, sem residência e sem esposa/família, é muito desonroso.
É assim
em qualquer parte do mundo, certamente, mas entre os norte-americanos cuja
sociedade é fortemente pautada pelo êxito sociofinanceiro como uma condição
intrínseca para todos, isso pesa mais. E tem mais um elemento a agravar a sua
situação exasperante: a questão dele ter fracassado como músico e ainda manter um
comportamento ligado em tais valores que destoam das tradições conservadoras,
trata por irritar ainda mais a sua irmã que o acolhe por caridade, mas com o
sobreaviso que ele teria poucos dias para achar uma outra solução a partir desse
dia.
Se a irmã
trata-o como um fracassado (o clássico, “Loser”, que tem um peso extraordinário
na cultura norte-americana, como já observei anteriormente), ele ganha o
surpreendente apoio de seu cunhado que é gentil, compreensível e não esconde
que é um entusiasta da música, na figura de Stan Gadman (interpretado por Jeff
Garlin). Fish tem dois sobrinhos, uma menina pequena, Violet Gadman
(interpretada por Samantha Weinstein), e um rapaz na faixa de dezoito anos de
idade, Matt Gadman (interpretado por Josh Gad), que é muito tímido, com fama de
ser nerd/geek, obeso e reclama por ter sofrido bullying em sua vida, desde
pequeno, inclusive da parte do tio Fish.
É nesse
ponto que o improvável ocorre a mudar a vida de Fish, de uma maneira que ele
jamais imaginaria. Pois o seu sobrinho é tecladista de uma banda amadora,
formada por colegas da escola a conter, Curtis Powell (interpretado por Teddy
Geiger), e Amelia Stone (interpretado por Emma Stone), guitarra e baixo, respectivamente,
como componentes. Pois é aí que advém a virada na vida de Fish, visto que a
banda adolescente de seu sobrinho carece de um baterista. Tal banda chama-se “ADD”
(sigla para: “Attention Deficit Disorder”, ou seja, uma doença mental).
Após
realizar testes com bateristas pretendentes e todos eles a mostrar-se bisonhos, eis que um garoto
aparece com uma bateria eletrônica e Fish ouve de longe tal som horrendo e os seus brios
são fortemente provocados, visto que para qualquer baterista que se preze, tal
artifício é uma ofensa. Ele invade o ensaio dos garotos e expulsa o rapaz da
bateria eletrônica, a protagonizar uma cena deveras hilária. E mais que isso,
isso desperta a ideia dos meninos: por que não convidar Fish para a
apresentação que farão no "Prom" (baile de formatura), na High Scholl?
Bem, o
convite é feito pelo seu sobrinho, Matt, e isso gera cenas engraçadas a revelar o
desprezo de Fish em ser cogitado para tocar com garotos iniciantes, mas ele
culmina em aceitar, afinal de contas, faz vinte anos que não toca bateria. Eis
que a apresentação ocorre e Fish porta-se como se ainda fosse jovem e famoso,
inclusive a usar um visual espalhafatoso, bem ao seu gosto oitentista, no
entanto, mesmo muito enferrujado, a sua atuação individual é muito acima da
técnica simplória apresentada pelos adolescentes e assim, a banda cresce e faz uma ótima
apresentação, a destacar-se entre os seus pares.
Infelizmente, ao final, a empolgação de Fish põe tudo a perder ao
forçar um solo que destoa do espírito de uma banda de baile e na euforia, ele arremessa
as baquetas e atinge um garoto na plateia. Os meninos ficam chateados por
passar vergonha e despedem Fish, o que é muito humilhante para um sujeito de
sua idade e bagagem musical, mas Fish percebe que exagerou e mais do que isso, nota
que os garotos detém talento e se lapidados poderiam compor uma banda,
verdadeiramente a pleitear voos maiores.
Ele procura o guitarrista, Curtis,
para pedir-lhe desculpas e assim reivindicar a sua readmissão na banda. Então,
eis que Fish é recepcionado pela mãe do guitarrista, Kim Powell (interpretada
por Christine Applegate), e a princípio, ele pensou que ela fosse a irmã mais
velha de Curtis, tamanha a sua jovialidade e beleza, e claro, abre caminho para
um desfecho romântico no filme, que só é insinuado, de fato, ao seu final. Bem,
encantamento com a "mãe gata" do guitarrista, à parte, Fish convence Curtis e a
banda vai prosseguir em frente com maior seriedade doravante.
A seguir,
vê-se cenas rápidas a mostrar os esforços de Fish para arrumar shows e
gravadoras para a banda e quem for músico, principalmente a atuar no
underground do show business, haverá por entender o sentido duro dessa labuta,
e certamente que isso gera risadas se visto pelo lado do humor, mas que na
realidade, não observa graça alguma, pois revela-se como algo humilhante.
Como por exemplo, o ato de entregar fita demo-tape
para produtores de casas noturnas e quem as costuma receber, a jogá-la com desprezo na lata de lixo, imediatamente e sem
nem cogitar escutá-la e eu falo com experiência, isso ocorre muito.
Eis que em
meio a mil telefonemas, Fish recebe o comunicado que uma casa noturna chamada: “Tiger
Room”, localizada em uma cidade no estado de Indiana, marcara uma apresentação
e isso representa a sua ressurreição para a música, simbolicamente.
Entretanto, há um problema,
os três membros com que lida, são menores de idade e os pais não autorizarão a
viagem de seus pimpolhos e a casa noturna pode sofrer sanções se a fiscalização
do juizado de menores aparecer.
Fish não quer nem saber dos impedimentos e
arquiteta um plano ousado: apanha o carro da sua irmã e na calada da noite,
sai com os adolescentes e o equipamento. Mas a polícia é chamada e intervém com
a abordagem feita na estrada. De volta, a sua irmã e os pais dos demais estão
furiosos. A irmã de Fish expulsa-o de sua casa e ele vai hospedar-se na
despensa do restaurante de um chinês onde ele comprara comida por anos a fio.
Matt o procura e propõe um plano emergencial para a banda não parar as
atividades. Um ensaio virtual, com cada um em sua casa devidamente enquadrado
em câmeras para estabelecer uma vídeo conferência. Bem, não era uma novidade
tecnológica absoluta em 2007, quando o filme foi produzido, mas algo bem recente
e por isso tratado no filme como um recurso inovador. Então, o ensaio acontece com
cada membro a tocar nos quartos de suas respectivas residências e Fish na
despensa do restaurante, cheia de ratos.
Ocorre que Fish está inteiramente nu e
a priori, somente os seus colegas o assistem a tocar de costas nessa condição
indecente, mas a sua sobrinha, a pequena Violet, descobre a videoconferência
por acaso, através de seu laptop e a coloca imediatamente no YouTube, com o vídeo
a submeter-se ao fenômeno então inovador da viralização imediata. Rapidamente,
milhões de pessoas estão a cantar a canção composta por Curtis e a comentar
sobre a banda do baterista nu e que faz poses em pé, para mostrar ainda mais o
que não deveria, digamos assim.
O golpe de
sorte ocorre. Fish passa a ser reconhecido imediatamente pelas ruas e no
comércio, principalmente pela sua barriga proeminente que ficara marcante no
tal vídeo indecente que protagonizara involuntariamente e então, eis que o
grande resgate de sua vida ocorre, pois um executivo da gravadora Matchbox
aparece e propõe a contratação do "ADD", sob a alegação de que a viralização do
tal vídeo chamara a atenção da companhia (David Marshall, interpretado por
Jason Sudeikis). O mundo que dá voltas, ora veja só... a mesma gravadora que
vinte anos atrás contratara o Vesuvius e impusera a condição de Fish não estar
na banda.
Rapidamente o
ADD entra em um bem equipado estúdio para gravar e a gravadora planeja uma turnê
para a divulgação do álbum. Nesse ínterim, os pais dos adolescentes
preocupam-se, pois apesar dessa súbita ascensão mostrar-se irrecusável, existe a
preocupação com os filhos muitos jovens a entrar nessa rotina de uma banda de
Rock na estrada, e isso assusta-os, certamente. Bem, muitas ressalvas são
feitas e a responsabilidade fica a cargo de Fish, como um fator condicional
para que seja aprovada a participação dos menores, o que constitui-se em uma
piada dentro da piada (meta-piada?), pois é óbvio que Fish está ansioso para
reviver a sua vida Rocker e não planeja ser um tutor para os adolescentes.
Cenas a
conter fatos ocorridos durante a turnê, mostram momentos bonitos da euforia da
banda por viver o seu sucesso crescente e também dá margem para que muitas
piadas a explorar os bastidores de uma banda de Rock na estrada, sejam
exploradas.
Entre fatos engraçados a ocorrer no palco durante os shows, com
falhas técnicas do equipamento, problemas na estrada a bordo do ônibus da banda
e também nos camarins e quartos de hotel, tudo gera euforia e boas piadas, também. Aparelho de TV a ser jogado de andar
alto de quarto de hotel, pela janela (uma menção aos Rolling Stones em cena
vista no documentário: “Cocksucker Blues”), festas malucas com bebedeiras e
muitas groupies sensuais a circular pelos quartos e outros fatos inerentes à fama de uma banda em ascensão são demonstrados.
Aliás, nesse quesito, é nítido que
apesar do assédio acentuado por belas garotas que ocorre, Curtis olha para a
sua colega, a baixista, Amelia, de uma maneira diferente e ela, mais ainda,
mostra-se sempre incomodada em vê-lo cercado por garotas insinuantes.
Fish não
contém-se ao extravasar os vinte anos em que ficara longe dessa vida e mesmo
sendo um sujeito de meia idade, é o que mais perde o controle, aliás, a priori,
somente ele comporta-se mal e com direito a ficar alucinado e por conta disso, gritar
do alto de um telhado que seria um “peixe dourado” (essa história é clássica no
folclore do Rock ao ser atribuída a Duanne Allman, o guitarrista do The Allman Brothers Band
que teria feito o mesmo para depois atirar-se em uma piscina, aos gritos de: -“I’m
a Golden God” (“Eu sou um Deus Dourado”).
Bem, o pior ocorre e todos são
presos e fichados. Fish não demonstra arrependimento, pois não se preocupa com
a ficha policial, mas os pais dos demais membros da banda, ficam furiosos.
Nesta altura, a banda tem muitos compromissos e está a ganhar dinheiro,
portanto, a solução encontrada é no sentido para que Kim, a mãe do guitarrista,
Curtis, viaje junto durante a turnê da banda, para ser a adulta responsável que
Fish não foi e nunca será nesse sentido.
A gravadora
está empolgada e manda produzir um vídeoclip. A cena da filmagem desse clip
revela bem como tal veículo de apoio à divulgação de bandas era equivocado em
muitos aspectos. Muito engraçado, a baixista, Amelia, entra em crise quando vê
o resultado do penteado que a cabeleireira arranjou para ela, totalmente
montado a la anos oitenta, com litros de laquê a formar uma juba armada ao
estilo de um leão. Ela finalmente sai do camarim e aceita participar da
filmagem após passar um creme e deixar o cabelo com a aparência normal.
A turnê
prossegue com mais sucesso ainda e mostra-se interessante a abordagem do
roteiro a divulgar que a banda atingira uma ótima colocação na parada de
sucessos, mas não o número um, como em muitos filmes sobre bandas fictícias,
onde tal exagero fora cometido para realçar uma façanha enorme. Outro fato a
denunciar um maneirismo de época do lançamento desse filme: é mencionado pelo
executivo da gravadora, que a banda fora convidada para participar de uma festa
promovida pelo site “myspace”, que fora a crista da onda naquela metade de anos
dois mil. Ora, volátil ao extremo, visto hoje em dia (2019, quando escrevi esta resenha), é preciso explicar
a um jovem que não acompanhou o panorama de 2008, o que representou tal site no
mundo da música, visto que hoje em dia (2019), ele é um arremedo, se é que
ainda exista na blogosfera.
Fish e Kim
aproximam-se cada vez mais e a estreia do vídeoclip é saudada como um marco
para banda, embora entre os membros tenha gerado reclamações de cunho
individual, a dar conta da insatisfação de cada um sobre a sua própria imagem e
clip é assim mesmo na vida real de uma banda, visto que a tendência é haver
contrariedade por conta da edição, a favorecer mais ou menos um membro do grupo,
ou a retratá-lo sob certos ângulos que não favorece a sua melhor condição física.
Matt chega a observar que a imagem de uma pessoa na TV tende a engordá-la em
quatro kilos além do normal, por conta das distorções da imagem e no caso dele,
que era traumatizado pelo sobrepeso, isso só piorou a sua imagem.
Uma virada
de final de filme traz um conflito à tona: o executivo da gravadora Matchbox aparece
eufórico a comunicar que o ADD fora convidado para abrir o show do Vesuvius,
quando esta veterana banda seria agraciada com a sua inclusão no Hall da Fama
em Cleveland, Ohio. Suprema humilhação para Fish, portanto, visto que odiava a
sua ex-banda mortalmente e não obstante sentir-se humilhado em abrir o show de
seus algozes, ele seria testemunha da inclusão deles no Hall da Fama, um sonho
que acalentava desde que tocava nessa mesma banda.
De fato, no meio do filme, uma
cena mostrou Fish a observar de longe o edifício onde abriga-se o Hall of Fame,
com um olhar sofredor a denotar que fora o seu sonho não realizado. Ele
simplesmente recusa-se a participar desse show. Claro, a banda e o executivo,
tentam demovê-lo dessa decisão e ele mostra-se irredutível. Em um show a
seguir, o guitarrista, Curtis, anuncia que a banda vai tocar no tal evento em
posição de abertura ao show do Vesuvius e o público delira, ao reconhecer a
ascensão do ADD, no entanto, Fish enlouquece, e diz que não vai tocar, na
frente do público e após uma discussão ríspida com Curtis, quebra a bateria a
la Keith Moon e cai do palco para sair em meio ao público, furioso e com os
dois tornozelos torcidos.
O homem da gravadora,
David, demonstra ser um oportunista típico e nem preocupa-se com tal crise
instaurada e assim, anuncia rapidamente a contratação de um novo baterista,
chamado : Paul (interpretado por John Cor). A situação é outra no entanto, pois
ao contrário dos membros do Vesuvius que não titubearam em expulsar Fish
daquela banda, desta feita, pelo contrário, os jovens do ADD não gostam da
solução e mesmo que a saída tenha sido forçada por Fish e não o contrário,
mostram-se propensos a convencer Fish a voltar para a banda e que ele cumpra o
show no Hall da Fama.
Fish joga as
suas baquetas na porta do edifício onde existe o Hall of Fame, de forma simbólica.
Ele desiste de tudo, definitivamente e a cena a mostrar-lhe em uma cadeira de
barbeiro a cortar a sua cabeleira Rocker denota isso claramente. Na companhia
de seu simpático cunhado, ele submete-se a uma entrevista de emprego em uma
empresa bem tradicional e a seguir, é mostrado a usar terno e gravata, cabelos
curtos e pasta na mão, a andar como um zumbi pelas ruas. Eis que Curtis o
aborda e faz uma nova tentativa em removê-lo de sua decisão. Então, até que enfim,
Fish aceita e o cunhado vibra com a notícia ao vê-lo em cima de uma mesa de
restaurante a anunciar que iria tocar no Hall da Fama.
O grande dia
chega, e em meio à preparação do show em uma grande Arena, todos estão
eufóricos. No corredor de acesso aos camarins, o inevitável ocorre, com a
entourage do Vesuvius a aproximar-se. Um roadie sai na frente a exigir que
todos abram alas para o Vesuvius passar, a deixar clara a empáfia da banda, o
que diga-se de passagem, é algo corriqueiro para bandas que chegam em tal
patamar de fama (infelizmente, muitas portam-se assim, devo acrescentar).
Os
astros do Vesuvius não reconhecem Fish quando as duas bandas ficam frente a
frente, mas então o baixista dessa banda recorda-se e anuncia aos demais que
trata-se de Fish, ali presente, o seu antigo baterista. Em princípio, os
rapazes demonstram no semblante o temor ao recordar-se da situação vivida em
1986, mas logo a seguir, o vocalista porta-se com muita arrogância, a debochar
da condição de Fish sob inferioridade. Fish responde com firmeza, mas em dado
instante, ele muda o seu discurso e deseja-lhes um bom show. Foi a tal atitude
que eu citei no início da resenha e que trouxe um diferencial a uma comédia
inocente, visto que o normal teria sido uma briga em clima de pastelão para
realçar o humor em linhas gerais, mas a opção pelo perdão, mostrou algo
surpreendente, visto que toda a raiva alimentada por Fish ao longo de vinte
anos, foi drenada em segundos e assim, mostrou-se que guardar rancor não leva a
nada, como uma edificante e inesperada mensagem subliminar. Teria sido uma
sugestão de Pete Best para o roteiro? Eu não descartaria tal hipótese.
Bem, o ADD
entra em cena e o seu show é um sucesso. Nesta altura, observa-se muitos fãs a
usar camisetas com o logotipo da banda na estampa. Até uma fã específica de
Matt, aparece (interpretada por Brittany Allen), a usar uma camiseta a conter os dizeres: “Matt I
Love You”, para a alegria do tímido tecladista.
Com toda a pompa e
circunstância, o Vesuvius é anunciado com uma iluminação muito mais ampla, como
é a praxe do show business a privilegiar o artista principal, e os seus fãs
deliram. No entanto, um acidente ocorre com o vocalista, que ao perder o controle do seu microfone
deixa claro que a banda não estava a tocar e cantar verdadeiramente, pois a sua
voz continuou a soar no PA da Arena, a configurar que a banda praticava o
abominável engodo em apresentar-se mediante o uso do playback ou para explicar
melhor para quem não acompanha os meandros da música, a banda fingia tocar e
cantar ao vivo, sob o som de seus próprios discos. Vaiada e humilhada por ter
sido flagrada mediante tal vexatória fraude, a banda sai escorraçada do palco e
o pessoal do ADD assiste essa derrocada do Vesuvius in loco, com Fish apenas a
sorrir ironicamente.
Logo a seguir, a plateia grita em coro: -“ADD, ADD,
ADD”... o executivo da gravadora tenta impedir, ao alegar que isso seria uma
humilhação para o Vesuvius e que a gravadora não gostaria dessa atitude, mas
Fish o despede ali mesmo. O público está a exigir a sua volta ao palco e o ADD
volta para concretizar a sua consagração total!
Nesse ínterim, mostra-se os
pais a vibrar com o sucesso de seus filhos que agora são Rock Stars e a ficar
milionários, Matt está a namorar com a sua fã apaixonada, que ajuda-o
involuntariamente a encerrar o seu ciclo de timidez; Curtis e Amelia formam um
casal doravante e Fish a Kim, se não fica explícito, também acertaram-se.
Contudo, o que mais comemora-se ali é o triunfo de Fish, cuja imagem congelada
a sair da bateria para cumprimentar o público e dar um salto de alegria,
expressa o final feliz. Tomara que Pete Best também tenha tido esse sentimento
libertador, assim espero.
Muito bem,
para encerrar, falta comentar que a interpretar o guitarrista do Vesuvius, Trash
Grice, esteve o ator, Bradley Cooper, que na época já possuía uma boa fama por
suas atuações em seriados de TV, todavia, posteriormente esse ator alcançou uma
fama maior via cinema.
Também a participar do Vesuvius, Tiny Sticks
(interpretado por Lonny Ross), Wayne Kerr (interpretado por Fred Armisey) e Lex
Drennan (interpretado por Wiil Arnatt). Ainda no elenco: Howard Hesseman (como
Nav Gator, o motorista do ônibus do ADD), Jane Krakowski (como Carol, namorada
de Fish no início do filme), Vik Sahay (como Gary) e outros.
O produção
tentou várias estratégias, então modernas, para promover o filme, tal como uma
interação da personagem de Fish a mandar um comunicado via “Myspace” para
atiçar a curiosidade dos milhões de usuários que aquela rede social possuía
nessa ocasião. Uma outra ação que foi realizada a envolver o "Myspace" em
conjunto com a revista britânica, especializada em Rock pesado, "Kerrang", foi um
concurso com bandas e a vencedora ganhou muitos prêmios, entre eles o direito,
a ser fotografada ao lado dos atores da banda fictícia, “ADD”, deste filme, mas
nada disso redundou em algum acréscimo para melhorar o resultado da bilheteria
do cinema, que foi fraco, infelizmente.
Uma curiosidade
sobre o ator, Teddy Geiger, ele de fato era/é músico, aliás um prodígio que
toca vários instrumentos e compõe desde criança e em paralelo à carreira de
ator, possui também uma carreira musical com lançamentos etc. E mais
recentemente, chocou as suas fãs do sexo feminino ao anunciar uma transição
para a mudança de sexo e nos dias atuais, apesar de ainda usar o seu nome de
batismo masculino, apresenta-se como uma mulher.
Escrito por Ryan
Jaffe e roteirizado por Maya Forbes e Wallace Wododarski, “The Rocker” foi
dirigido por Peter Cetanneo. As canções foram compostas por Chad Fischer e gravadas
por ele próprio, com a sua banda, Lazlo Bane e Teddy Geiger cantou as partes em
que atua a cantar no filme, na pele da personagem, Curtis. Foi lançado em 2008.
Está disponível em versão DVD, passeou por canais de TV a cabo, visitou a TV aberta e na internet
é difícil achá-lo em versão integral e gratuita, portanto, é preciso recorrer aos portais menores.
Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" através do seu volume III, com a leitura disponibilizada a partir da página 270.