Houve época no jornalismo da TV Globo,
no qual trechos de obras do Rock setentista, principalmente, foram usados como
vinhetas de seus programas. Tempo bom em que as produções televisivas preocupavam-se em
colocar música de qualidade para ilustrar as vinhetas de abertura ou
encerramento, e diferentemente dos dias atuais onde se prefere usar "muzak"
eletrônico descartável, na maioria dos casos.
Um exemplo disso é que desde sua primeira
edição, em setembro de 1969, o Jornal Nacional da TV Globo, utilizou a música: “The
Fuzz”, de um compositor norte-americano chamado: Frank De Vol como a sua vinheta
oficial.
De Vol não era um Rocker, propriamente
dito, mas a sua trilha orquestrada continha um certo sabor Rock em sua composição e
arranjo, ao seguir a tendência das trilhas sobre seriados policiais norte-americanos do fim
daquela década e também no avançar dos anos setenta, ao usar temas orquestrados na tradição dos standarts
jazzísticos, mas certamente a utilizar também e fartamente, diversos elementos do Rock, como novidade estilística.
O compositor, Frank de Vol, autor do tema de abertura do Jornal Nacional, usado desde 1969, aos dias atuais
Daí o uso de guitarra com muitos pedais modernos para a época, como o "Fuzz", por exemplo, e coincidentemente, o nome desse pedal é o nome da trilha utilizada pelo Jornal Nacional da Globo, até hoje, se bem que tal tema já foi repaginado muitas vezes, com gravações mais modernas e a criar arranjos diferenciados.
Daí o uso de guitarra com muitos pedais modernos para a época, como o "Fuzz", por exemplo, e coincidentemente, o nome desse pedal é o nome da trilha utilizada pelo Jornal Nacional da Globo, até hoje, se bem que tal tema já foi repaginado muitas vezes, com gravações mais modernas e a criar arranjos diferenciados.
Uma curiosidade engraçada e revelada
pelo então diretor geral da emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho,
o popular "Boni", foi que a escolha dessa música do Frank De Vol, fora totalmente
improvisada. Descontente com as duas músicas que haviam sido encomendas
especialmente para a estreia do programa, Boni mandou um funcionário da
produção às pressas a uma loja de discos, para comprar qualquer tema instrumental que o rapaz
achasse, e este chegou com o compacto de “The Fuzz”, de Frank De Vol em mãos.
E assim, mal sabiam que tal música escolhida a esmo, ficaria no ar por quase cinquenta anos e
certamente que De Vol e a sua família (Frank De Vol faleceu em 1999), não
esperaria ganhar tantos royalties vindo de um país como o Brasil.
Eis abaixo o áudio da composição e
arranjo original de Frank De Vol:
Eis o link para escutar no YouTube:
Entretanto, há uma confusão muito grande
sobre a trilha original desse programa jornalístico, por conta da vinheta de um
comercial veiculado antes do início da transmissão, a representar o seu
primeiro patrocinador, que fora o hoje extinto, Banco Nacional.
Nessa vinheta do patrocinador,
a trilha usada foi a canção: “Summer of 68”, do Pink Floyd (extraída do LP Atom Heart Mother, de 1970),
e dessa forma, costumava-se associar tal canção como a verdadeira trilha do Jornal Nacional, gerada pela confusão em torno do fato de que o Banco em
questão também chamar-se “Nacional”, a confundir-se com o próprio programa jornalístico (e este foi um banco particular, mais uma
confusão gerada, portanto, pois muitas pessoas o consideravam estatal por conta do seu nome).
Abaixo, a vinheta do patrocinador do Jornal
Nacional, a usar a canção, “Summer of 68” do Pink Floyd:
A capa do LP Atom Heart Mother, do Pink Floyd, lançado em 1970
Bem, esclarecimentos a parte, o importante foi que toda noite, por um bom tempo, entre 1970 e 1972, mais ou menos, ouvia-se Pink Floyd na TV Globo.
Bem, esclarecimentos a parte, o importante foi que toda noite, por um bom tempo, entre 1970 e 1972, mais ou menos, ouvia-se Pink Floyd na TV Globo.
Uma outra trilha que marcou época e perdura
até os dias atuais, é a da pujante abertura do programa: "Globo Repórter".
No seu início,
em 1973, uma grande celeuma foi criada em torno de tal tema musical, que nos
seus primórdios foi apresentada em seu arranjo e fonograma original, mediante a gravação de um
enigmático grupo de Rock que ninguém conhecia, chamado, supostamente: J.B. Pickers. Em nenhum compêndio sobre a história do Rock, havia a
mínima informação sobre tal conjunto musical e isso suscitou a lenda urbana de
que o tema seria uma obra do grupo de Rock louquíssimo, "Captain Beefheart", e até houve uma segunda lenda,
a dar conta de que teria sido composta e gravada pelos músicos de apoio dos Secos
& Molhados, que aliás, formavam uma tremenda banda.
O tema em si é bastante energético,
a transitar entre o Hard-Rock e o Jazz-Rock como linha de composição & estilo, mas com uma certa aspereza que remete
ao "Krautrock", a escola Progressiva germânica.
Percebe-se ainda mais essa influência se levarmos em conta que no
meio do tema, há bastante espaço para experimentalismos nada Pop, outra marca
registrada da citada escola germânica setentista.
Contudo, a realidade foi que J.B.
Pickers, além de ser norte-americano e não europeu como se suspeitou, não era uma
banda de carreira, mas apenas um nome improvisado que foi dado para justificar
o lançamento da música: “Freedom of Experience”.
Jim Bowen, em foto dos anos cinquenta, a empunhar uma guitarra
J.B. seriam na verdade, as iniciais de Jim Bowen, um baixista que teve pouca projeção no metiér do Rock norte-americano cinquentista, e que no seu currículo, arrolava apenas uma participação com uma banda orientada pelo estilo "Rockabilly", que chamara a atenção de Roy Orbison, por volta de 1957, e que a apadrinhara, chamada: “The Orchids”.
J.B. seriam na verdade, as iniciais de Jim Bowen, um baixista que teve pouca projeção no metiér do Rock norte-americano cinquentista, e que no seu currículo, arrolava apenas uma participação com uma banda orientada pelo estilo "Rockabilly", que chamara a atenção de Roy Orbison, por volta de 1957, e que a apadrinhara, chamada: “The Orchids”.
Tal grupo, não fez nenhum sucesso, apesar das
bênçãos do grande, Roy Orbison, e nem mesmo por ter se apresentado em alguns shows
promovidos pelo badalado radialista, Alan Freed.
Por dedicar-se à produção musical na
década de sessenta inteira e início dos anos setenta, Jim teve uma oportunidade
quando foi convidado a compor três músicas para a trilha de um filme chamado:
“Vanishing Point” (que aliás eu recomendo, por ser muito bom enquanto peça cinematográfica no estilo 'roadie movie" e com certo aspecto contracultural insinuado nas entrelinhas), e também por conter uma ótima trilha
sonora).
Eis o Link para ouvir a trilha sonora desse filme citado:
Sobre "Vanishing Point", trata-se de um roadie movie
com ares contraculturais lançado em 1971, que não teve um grande sucesso de público, e assim ficou restrito
ao pequeno mundo formado por cinéfilos, apreciadores de filmes de arte e hippies &
freaks ligados em contracultura. Uma dessas músicas que constam no filme, é
“Freedom of Experience” que culminou por se tornar a vinheta oficial do programa jornalístico, "Globo
Repórter".
Eis o tema original de "Freedom of Experience" com Jim Bowen
Pickers, que imortalizou-se como vinheta do Globo Repórter:
https://www.youtube.com/watch?v=dc2JjsxiHhg
O jornal vespertino, "Hoje", que existe inclusive até os dias atuais, também utilizou-se do material oriundo de bandas de Rock setentistas, para as suas vinhetas. Na 1ª foto, os apresentadores desse telejornal, em 1972, da esquerda para a direita: Márcia Mendes, o radialista "Big Boy" (Hello, Crazy People!) e Marisa Raja Gabaglia. Sentada: Scarlet Moon. Infelizmente, todos dessa foto, já partiram para o "lado de lá". Na segunda foto, Nelson Motta, também na bancada do Jornal "Hoje", em algum momento do início dos anos setenta.
Por volta de 1975, Rick Wakeman
apareceu com força na tela da Rede Globo, ao emprestar os seus temas Prog-Rock cheios de pompa sinfônica, para o Jornal da Globo,
noturno, que antecedia a sessão coruja de cinema. “Ann Boleyn” do seu primeiro disco
solo, “The Six Wives of Henry VIII” e trechos do segundo disco, “Journey to the
Center of the Earth, são exemplos.
Otto Lara Resende a entrevistar, Nelson Rodrigues no Jornal da Globo, por volta de 1977 (o último noticiário da grade noturna dessa emissora, que existe até hoje, inclusive), cujo tema de abertura, foi um trecho extraído da música: "Karn Evil Nine/Third Impression", do grupo Prog-Rock britânico: Emerson; Lake & Palmer. Abaixo, a capa do LP "Brain Salad Surgery", do Emerson; Lake & Palmer, lançado em 1973, no qual a referida música encontra-se inserida.
Otto Lara Resende a entrevistar, Nelson Rodrigues no Jornal da Globo, por volta de 1977 (o último noticiário da grade noturna dessa emissora, que existe até hoje, inclusive), cujo tema de abertura, foi um trecho extraído da música: "Karn Evil Nine/Third Impression", do grupo Prog-Rock britânico: Emerson; Lake & Palmer. Abaixo, a capa do LP "Brain Salad Surgery", do Emerson; Lake & Palmer, lançado em 1973, no qual a referida música encontra-se inserida.
Abaixo, as três faixas conceituais da música: "Karn Evil Nine". Na faixa, "1st Impression", há também um trecho que foi usado como vinheta de jornalismo da casa. Ouça do trecho 3:42", até 4:17".
A faixa "2st Impression", que começa na postagem abaixo no instante, 13:23", logo no seu início também foi bastante usada. Ouça do início (13:23"), até o momento 13:46".
Para encontrar a "Third Impression", acesse a partir do trecho 20:31", e para ouvir o trecho específico que serviu como vinheta para o Jornal da Globo, procure a partir do momento 27:00", até 27:34".
A faixa "2st Impression", que começa na postagem abaixo no instante, 13:23", logo no seu início também foi bastante usada. Ouça do início (13:23"), até o momento 13:46".
Para encontrar a "Third Impression", acesse a partir do trecho 20:31", e para ouvir o trecho específico que serviu como vinheta para o Jornal da Globo, procure a partir do momento 27:00", até 27:34".
Depois de sanada a curiosidade sobre os trechos em questão, recomendo que volte e ouça as três faixas na íntegra... por que é bom demais...
Os geniais músicos italianos da banda versada pelo Rock Progressivo, Premiata Forneria Marconi (PFM), acima na 1ª foto, e abaixo, na 2ª; os alemães do Passport, banda a trabalhar com Jazz-Rock instrumental
O Rock Progressivo italiano da Premiata Forneria Marconi apareceu um pouco também no Jornal Hoje, no início das tardes, além do Jazz-Rock do Passport, uma banda alemã que chegou a se apresentar no Brasil, ainda naquela década de setenta.
O Rock Progressivo italiano da Premiata Forneria Marconi apareceu um pouco também no Jornal Hoje, no início das tardes, além do Jazz-Rock do Passport, uma banda alemã que chegou a se apresentar no Brasil, ainda naquela década de setenta.
Mas aí a década de setenta pôs-se a
terminar e o direcionamento operacional paulatinamente mudou, ao retirar o Rock das vinhetas e o
substituir por "muzak" eletrônico, inclusive a usar tal artifício para
repaginar temas tradicionais como o do Jornal Nacional, Globo Repórter,
Fantástico, Jornal da Globo e Jornal Hoje, os seus programas jornalísticos mais longevos,
fora os mais novos que já nasceram com tal orientação, doravante.
Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2016