“Há uma quinta dimensão além daquelas
conhecidas pelo homem. É uma dimensão tão vasta quanto o espaço, e tão
desprovida de tempo quanto o infinito. É o espaço intermediário entre a luz e a
sombra, entre a ciência e a superstição; e se encontra entre o abismo dos
temores do homem e o cume de seus conhecimentos. É a dimensão da fantasia. Uma
região além da imaginação”.
Foi com uma apresentação enigmática assim, que o produtor e roteirista, Rod Serling costumava anunciar o início de cada novo episódio do seriado : “The Twilight Zone” (“Além da Imaginação”), durante as noites de 1959 e 1960, período onde aconteceu a primeira temporada de uma série que revolucionaria a produção de TV na América, com repercussão em quase todo o planeta, incluso o Brasil, naturalmente.
Foi com uma apresentação enigmática assim, que o produtor e roteirista, Rod Serling costumava anunciar o início de cada novo episódio do seriado : “The Twilight Zone” (“Além da Imaginação”), durante as noites de 1959 e 1960, período onde aconteceu a primeira temporada de uma série que revolucionaria a produção de TV na América, com repercussão em quase todo o planeta, incluso o Brasil, naturalmente.
Rod Serling já era roteirista de TV e
detinha relevante participação em alguns programas da TV norteamericana tais como : “Patterns”(um drama ousado sobre
o mundo corporativo), e “Requiem for a Heavywight”, um teleplay ambientado no
mundo do Boxe, e que gerou vários desdobramentos, incluso versões
internacionais em países europeus. Mas foi em "The Twilight Zone" que a sua
genialidade como roteirista e produtor foi realmente exaltada.
Incomum para os padrões da época, The
Twilight Zone foi um seriado centrado em temas intrigantes à imaginação dos telespectadores,
aberto sob um leque vasto que ia do Sci-Fi ao terror; do surrealismo à fantasia;
do thriller psicológico à loucura total. Sem uma história alinhavada; sem
personagens fixos e sem continuidade, cada episódio representava um conto com aproximadamente vinte e cinco minutos, de duração, no padrão de metragem comum às “sitcoms”, mas neste
caso, sem recorrer ao humor.
Com orçamento modesto, Serling
caprichava nos roteiros para prender a atenção dos telespectadores naqueles
poucos minutos, mas sobretudo, contava com a habilidade de seus diretores e
atores para dar o recado ao provocar sustos, e fazer com que as pessoas pensassem e acima de
tudo, a oferecer-lhes soluções metafóricas e subliminares que fizeram história na
TV.
A febre cinquentista de Sci-Fi que
assolou a América daquela década, calou forte igualmente na alma de Serling. O
medo do extermínio nuclear promovido pela Guerra Fria também foi tema
recorrente no seriado.
Viagens pelo tempo; troca de
identidade; amuletos com poderes sobrenaturais; presença de alienígenas,
entidades fantasmagóricas; máquinas com vida própria... foram muitos os
argumentos usados ao longo de 156 episódios que compuseram as cinco temporadas.
Alguns episódios são primorosos pela
engenhosidade de roteiro. Um exemplo disso está em : “Eye of the Beholder”, por
exemplo, um episódio da segunda temporada, onde a perspectiva da narrativa é a
de uma moça que sofreu uma intervenção cirúrgica muito agressiva para efetuar
correções estéticas necessárias, para tentar recuperar a sua autoestima.
Em momento algum vê-se os rostos de médicos
e enfermeiros, e apenas ouve-se a conversação, com os profissionais a tentar preparar a moça psicologicamente para o pior, e quando enfim tiram-lhe as
bandagens, vem o choque : de nada adiantou a cirurgia plástica para recuperar o seu rosto. Desesperada, a moça
sai a correr pelos corredores do hospital, quando constatamos que ela era
perfeita...
Contudo, finalmente vemos os médicos e
enfermeiras e todos são deformados como personagens de uma pintura cubista, mas
não fora para menos, pois ali era outro planeta e a anatomia humanóide ali era
assim, e gente “como nós”, eram consideradas aberrações...
Em suma, uma bela metáfora sobre as diferenças;
preconceitos e aceitação.
Como um outro bom exemplo a destacar a criatividade desse seriado, cito
o episódio : “Time Enough at Last”, onde um funcionário de uma corporação mostra-se como um
apaixonado por livros, mas vive a ser repreendido pelos seus superiores e pela própria família, a coibir-lhe
tal paixão, que segundo a opiniçao dos que o cercam, toma-lhe “tempo”. “Time is Money”, como os norteamericanos tanto
gostam em enfatizar...
Todavia, uma hecatombe acontece e ele vê-se
sozinho no planeta, como único sobrevivente. Em princípio ele desespera-se pela
solidão repentina, mas logo percebe que aquele cenário, na verdade, representaria tudo o que sonhara,
pois havia comida suficiente para sustentá-lo até seus últimos dias, e
sobretudo, não havia mais ninguém que o impedisse em ler todos os livros das
bibliotecas de New York, a vontade... contudo, ironia do destino, e através de um acidente
lastimável, os seus óculos espatifam-se no chão e assim... adeus à possibilidade em poder
ler... uma notável metáfora sobre a solidão e
também a respeito de como a motivação pode conter alicerces frágeis para atingir-se algum objetivo na vida.
Um outro episódio extraordinário (“Where
is Everybody” ?), é o do astronauta que aterrissa em uma pequena cidade
interiorana, inteiramente vazia. A sua busca frenética para encontrar alguém trata em enlouquece-lo, até que exausto, é recolhido por paramédicos do exército e
claro, aquilo fora apenas um treinamento em que fora submetido para testar a sua
capacidade para enfrentar a solidão.
Em “The Lonely”, apresenta-se uma situação
futurista onde condenados cumprem penas, não em penitenciárias tradicionais, mas
em colônias penais localizadas em outros planetas, e um prisioneiro recebe como
bônus da justiça, uma robot com aparência perfeita de mulher, e diante de sua
solidão atroz em um planeta inóspito, claro que esse homem apega-se à ela. Quando a sua pena
expira e uma diligência penitenciária vai resgatá-lo para trazê-lo de volta à
Terra, ele desespera-se quando informam-lhe que por uma questão de segurança, a
robot não pode embarcar junto ! Então, para os agentes penitenciários “aquilo” era seria apenas um
robot, mas para ele, representara a sua companheira querida...
Em “Perchance to Dream”, um homem tenta
a todo custo não dormir, pois tem a convicção de que ao adormecer, morrerá. É a
luta do homem contra o inevitável.
Em “Third From the Sun”, o mundo vive o
horror do holocausto nuclear iminente e um cientista envolvido na construção de
um foguete, faz de tudo para embarcar com a sua família e tentar salvá-la do
extermínio final. O foguete parte enfim, e ao aproximar-se de um planeta
habitável, o telespectador toma consciência de que essas pessoas aproximam-se na verdade, é da Terra e não
o contrário, como deveríamos supor...
Em “Shadow Player”, um homem vive um
pesadelo interminável. Todo dia, tenta convencer as pessoas que é inocente de
uma acusação cuja sentença é perder a sua vida, mas nada consegue demover as
pessoas, e ele vai para a execução e começa a sonhar tudo de novo. Uma
impressionante visão sobre a agonia e insuportável falta de esperança ante a injustiça.
“The Shelter” trata da paranoia nuclear
novamente. Em uma pacata cidade interiorana, constrói-se um abrigo, mas ele é
insuficiente para todos e durante um alarme, a mesquinharia para ocupar espaços
expõe a podridão humana ao extremo. No final, constituíra-se apenas de um alarme falso, mas
ninguém mais conseguiu ser igual depois dessa demonstração de egoísmo
exacerbada.
“Deaths-Head Revisited” é um dos mais
impressionantes episódios ao meu ver. Um ex-carrasco nazista é aprisionado e
julgado por fantasmas de pessoas que torturou e matou em um campo de concentração,
na Segunda Guerra Mundial. Diálogos fortes são a tônica desse episódio.
“Once Upon a Time” é pungente e
emocionante. Um homem que vive em 1892, coloca um elmo a conter uma estranha tecnologia anacrônica
para o seu tempo e aparece sem explicações em 1962. Atônito por estar no
“futuro” que não compreende, coloca-se em confusões mil e tudo é valorizado ao
extremo pelo fato do ator protagonista ser ninguém menos que, Buster Keaton, um grande astro
cômico dos primórdios do cinema e também pelo fato de toda a ação passar-se como em um velho episódio
do cinema mudo das décadas de dez e vinte do século vinte, época em que Buster Keaton foi um astro na vida real.
“Five Charaters in Search of an Exit” é
um episódio enigmático e intrigante. Cinco pessoas que não conhecem-se entre
si, encontram-se em um estranho ambiente, aparentemente sem saída. A sua luta para
entender o que passa e sobretudo tentar achar uma saída para tal situação
inusitada, toma o episódio inteiro, ao prender a atenção do telespectador até o
fim. O que fazem ali presos nessa saleta, um major do exército; uma bailarina;
um palhaço; um tocador de gaita de fole e um mendigo ? Ao final, tudo esclarece-se quando
percebemos que tais pessoas eram na verdade cinco bonecos de plástico,
guardados em uma caixa de brinquedos deixada ali por uma criança.
Em “Kick the Can”, um idoso tem a
epifania de que pode voltar a ser criança, se permitir-se agir como tal. Ele tenta
convencer os demais idosos do asilo onde mora, mas poucos dão-lhe ouvidos. Mas
de fato, ele e quem acreditou nisso, voltou a apresentar uma forma infantil e assim, fugiram do
asilo. Uma bela metáfora sobre a idade mental; estado de espírito; criança
interior eternizada etc.
Eu poderia descrever muitos outros episódios tão interessantes quanto, entretanto a matéria ficaria gigantesca. Dos 156 episódios produzidos, é difícil achar um que não seja criativo.
Eu poderia descrever muitos outros episódios tão interessantes quanto, entretanto a matéria ficaria gigantesca. Dos 156 episódios produzidos, é difícil achar um que não seja criativo.
Nem todos os episódios de The Twilight
Zone foram escritos por Rod Serling, mas este escreveu quase cem dos 156
episódios produzidos. Roteiristas
como Richard Matheson; Charles Beaumont; Montgomery Pittman e Earl Hamner Jr.
também colaborou.
A direção de arte teve muita
influência de artistas como Salvador Dali e Rene Magritte. A opção por motivações surrealistas em muitos
episódios conferiu uma onírica para ilustrar certas nuances que evocavam a paranormalidade, ou
simplesmente deixavam a dúvida no ar sobre ser real ou metafísico.
Na parte musical, Serling contou com
diversos compositores experientes da TV para colaborar (Bernard Hermann; Jerry
Goldsmith; Nathan Van Cleave, e o francês, Marius Constant, entre outros). Um
dos temas mais bonitos, lembra a atmosfera beatnick novaiorquina dos anos
cinquenta, com um tema movido pela ação da guitarra e bongô, bem jazzístico e sensacional. Já a partir de 1959, quando de sua estreia,
a crítica adorou o seriado, mas os números da audiência não foram estrondosos,
na mesma proporção.
Tanto foi assim, que apesar de ter durado por
cinco temporadas, "The Twilight Zone" viveu na corda bamba, sempre ameaçada pela iminência do cancelamento, a sugerir problemas
com patrocinadores e corte substancial de verbas, haja vista que muitos
episódios foram filmados sob um padrão de fotografia inferior, ao utilizar-se o Vídeo Tape de
TV, ao parecer um padrão de novela, com bastante estouro de contraste, inclusive.
No Brasil, fez muito sucesso, desde 1960,
quando por aqui começou a ser exibida.
Em minha lembrança pessoal, já a partir de 1962, apesar de
minha tenra idade nessa ocasião, eu não perdia um episódio. Claro que não entendia a sutileza
das metáforas, mas achava aquela atmosfera de mistério, sensacional e daí em
diante, The Twilight Zone tornou-se uma paixão eterna.
Rod Serling criaria ao final dos anos
sessenta, outra série sensacional, chamada : “Night Gallery” (Galeria do Terror),
esta mais centrada no terror, propriamente dito, ao lembrar bastante a atmosfera lúgubre encontrada nos filmes da produtora britânica,
Hammer. Aliás, é de um episódio dessa série que
Steven Spielberg estrearia como diretor.
Fã incondicional de Serling, Spielberg produziria
uma homenagem ao seu mestre, quando colocou no ar uma “volta” de "The Twilight Zone“,
no formato de TV Movie, no início dos anos oitenta e isso motivou a CBS a criar episódios
inéditos, ainda nessa citada década, a utilizar a tecnologia moderna da época etc e
tal, mas como todo remake, apesar da extrema boa vontade da parte dos envolvidos em tal produção, ficou aquém do
glamour da série original, apesar da devoção que Spielberg e outros que auxiliaram-no, mantinham pela série original.
Uma terceira tentativa em recriar o
clássico foi feita no início dos anos 2000, com o ator, Forest Withaker, a fazer
a narração ao estilo de Serling, mas também não logrou êxito, apesar de Forest também ter sido um grande fã da série original. Recentemente (2014), o diretor, JJ Abrams
(Alias; Lost; Star Trek), anuncia pré-produção de um longa que seria a
cinebiografia de Rod Serling. Aguardemos...
Rod Serling faleceu em 1975, vítima de
complicações nas vias respiratórias graças ao anos e anos em ter adotado a prática do tabagismo, como um fumante inveterado
que infelizmente ele foi, e por conta desse hábito, debilitou-se.
Há anos na América, todos os episódios
já haviam sido lançados no formato VHS para colecionadores, e posteriormente isso ocorreu igualmente em relação aos formatos DVD e Blue Ray. Recentemente foi lançados no Brasil
os dois Box-Set DVD das duas primeiras temporadas. Ao que tudo indica, serão
lançadas as três temporadas derradeiras, para fechar-se o ciclo para os
colecionadores brasileiros. Na edição nacional, existe a
possibilidade em haver legendas com o som original em inglês, mas também a opção da
dublagem brasileira de época. O áudio não é dos melhores, mas a dublagem feita em português da época, com o sotaque brasileiro, é sensacional.
Os extras deixam a desejar pela sua
pouca profusão, no entanto, é positivo verificar as intervenções de Rod Serling a anunciar a
“atração da semana que vem” e alguns comerciais norteamericanos de época,
então patrocinadores do seriado.
The Twilight Zone é uma das mais
sensacionais séries norteamericanas já produzidas. Trabalhou com um mundo de
possibilidades fora do comum, ao ativar a imaginação de milhares de
telespectadores e assim abrir-se o campo imenso para um sem número de interesses desencadeados
pelo surreal; não usual; paranormal; alienígena; inexplicável; oculto; místico;
tecnológico; onírico; lisérgico; shamânico, e um mundo de outras possibilidades
abertas através dos episódios dessa criação de Rod Serling.
Não canso-me em ver e rever, e sempre
acho, por incrível que pareça, um aspecto novo, nunca antes notado. Portanto, eu recomendo esse seriado clássico, com toda a certeza !