quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Filme: Sympathy For The Devil/One Plus One - Por Luiz Domingues

Na segunda metade dos anos sessenta em diante, o Rock enquanto uma forte instituição a destacar-se da mera avaliação anterior ao ser considerado como apenas um gênero musical derivado do Blues (como tantos outros nascidos da mesma árvore), isto é, ao assumir em ser um artífice importante dentro do contexto da contracultura, naturalmente que despertou a atenção de artistas de outras vertentes, que perceberam tal protagonismo no âmbito cultural em geral, a influenciar decisivamente uma manifestação espontânea dentro do seio da sociedade, sob uma proporção sociocomportamental muito grande. 
 
Até então, para restringir a minha observação ao mundo cinematográfico, digo que nessa altura dos acontecimentos, a produção lançada pela indústria do cinema já mostrava-se bem significativa, a contabilizar muitas películas sobre o Rock, diretamente, ou a contar com o mote a servir como pano de fundo para contar-se qualquer história, ou no mínimo para decorar qualquer abordagem sobre jovens, juventude e ideias, rebeldia libertária etc.
Nesses termos, toda a produção cinematográfica até esse ponto (falo sobre o final dos anos sessenta), houvera sido tocada por profissionais não exatamente comprometidos com um espectro de criação cultural mais ousada, a abranger a arte mais avantgarde, digamos assim. Até que diretores de um maior calibre dentro do cinema, tais como Otto Preminger, Roger Corman e Michelangelo Antonioni “experimentaram-no”(como teria dito, Jimi Hendrix), e isso abriu caminho para muitos outros que foram fundo em dirigir filmes a envolver o Rock em si ou a emoldurar peças com alto valor contracultural, caso de Hal Ashby e outros. 
 
E por falar em Antonioni, a sua então recente incursão no tema, na verdade, mostrou-se tímida. Em “Blow-Up”, a trama não gira em torno de Rockers cabeludos, Freaks & Hippies em geral, e nem mesmo a sua película como um todo possa ser considerada como uma obra essencialmente contracultural, no entanto, tal película esbarrou no conceito por diversos motivos paralelos e em uma determinada cena, o personagem protagonista adentra um pequeno clube noturno e assiste um pedaço do show da banda britânica, “The Yardbirds”, e aí sim, há um pouco da efervescência gerada espontaneamente pela famosa atmosfera conhecida como, “Swinging London” e com direito a ver-se o guitarrista, Jeff Beck, a quebrar uma guitarra no palco. Enfim, se Antonioni, que fora um dos maiores cineastas do mundo no campo do cinema autoral avantgarde, aventurou-se em tal tipo de abordagem, ainda que en passant, pareceu natural que outros pares seus também o fizessem a seguir. O próprio Antonioni, aliás, foi mais fundo logo a seguir quando filmou: “Zabriskie Point” e a amálgama do ideário hippie ficou muito mais proeminente, com direito à cena antológica da explosão de uma mansão encravada em uma montanha, ao som grandiloquente do Pink Floyd.
Nesses termos, quando o cineasta francês, Jean-Luc Godard anunciou que filmaria a sua próxima obra em Londres, a contar com o apoio de uma banda de Rock, não houve uma estupefação, tendo em vista tudo o que eu observei anteriormente, isto é, tal escolha já não teve como ser considerada algo fora de propósito, talvez como pudesse ter soado em outros tempos mais antigos.
Godard já colocava-se no mundo cultural, como um artista consagrado nessa altura. Considerado como um dos pais do movimento cinematográfico conhecido como “Nouvelle Vague”, era aclamado como um grande diretor autoral e ao mesmo tempo, mantinha uma aura pessoal sombria, por ser um sujeito com temperamento difícil para lidar-se socialmente a dizer, e afeito a trabalhar com um cinema nada popular, difícil para ser comercializado e para estigmatizá-lo ainda mais, sob forte viés político. E por conter tais características, Godard colecionara detratores & desafetos pelo mundo afora, portanto, as suas obras já lançadas e as do porvir, ficaram / ficariam carregadas com estigmas, pró ou contra, inevitavelmente.
 
Neste caso em específico, Godard queria realizar uma película em tom de ensaio, a conter um conjunto de conceitos mais do que uma história a ser contada convencionalmente, com personagens comuns e a conter começo; meio & fim, ao seguir o padrão de um roteiro adaptado de um livro, caso da maioria das produções cinematográficas, pelo menos no mundo do cinema comercial mainstream. E ele desejou ter uma banda de Rock famosa a ser filmada em ação e estabelecer dessa forma, um contraponto com cenas a conter atores, mas sob uma linha de atuação bem alegórica a remontar ao teatro e assim expressar as suas ideias em torno da filosofia e da política de uma maneira geral. The Beatles e The Rolling Stones foram colocadas na lista de prioridades para estabelecer-se um convite e a decisão final pendeu para a trupe de Jagger, Richards, Jones, Watts & Wyman.
Ou seja, em sua concepção prévia, Godard quis um tipo de abordagem nada comercial, que antes mesmo de ser filmada, já deveu ou deveria, não sei dizer isso ao certo, preocupar os componentes dos Rolling Stones, pois certamente que a repercussão do filme poderia gerar manifestações imprevisíveis. Godard já mostrava-se um realizador difícil por natureza, tanto pelo aspecto pessoal, humano, quanto pelo seu pensamento político / filosófico, portanto, se não sabiam disso, eles deveriam ter buscado maiores informações sobre tais nuances ou seja, procurar conhecer bem o terreno onde pisariam, pois este haveria em ser imprevisível à sua percepção natural, visto que eles eram seguros de si enquanto astros do Rock, mas tal obra fugiria (e de fato, fugiu), bastante da sua chamada “zona de conforto”.
Bem, a película em si mostra os Rolling Stones em processo de gravação. Godard filmou os componentes da banda e também alguns músicos convidados, envolvidos nas gravações do álbum: “Beggar’s Banquet”, um disco espetacular que a banda preparou e lançou naquele ano de 1968. A ênfase, no entanto, na gravação da canção, “Sympathy For The Devil”, bastante icônica por sinal. Mostra-se alguns momentos da banda envolvida com outras canções, mas na esmagadora parte do tempo, os Rolling Stones são retratados a trabalhar nessa canção em específico. Uma primeira observação que eu faço, dá-se pelo aspecto musical, iminentemente, pois eu li muitas resenhas escritas por críticos especialistas em cinema e também outras da parte de cientistas políticos e filósofos, com abordagens muito ricas, porém centradas em suas especialidades, e dessa forma com a parte musical relegada, como se fosse um mero detalhe. Em alguns casos, a despeito da erudição com a qual discorreu-se sobre os meandros técnicos da filmagem ou as múltiplas sutilezas encontradas ao longo das metáforas percebidas por analistas políticos ou filósofos, a verdade é que para tais críticos, a questão musical passou como um detalhe menor no bojo da obra, no entanto, no meu caso, pela condição de eu ser um músico, é evidente que não penso assim e mesmo a concordar que os aspectos levantados pela abordagem política mostram-se muito ricos nessa obra, eu prestei atenção igualmente no aspecto musical, com maior carinho.
Para início de avaliação, é preciso registrar-se que não tratou-se de uma banda fictícia, mas sim, uma a ostentar, inclusive já na época, o status de ser uma das maiores do mundo e a posteriori, da história. Estamos a falar dos Rolling Stones e não de um grupo de Rock qualquer, a ser usado como mero pano de fundo, mesmo ao tratar-se de uma obra de arte assinada por um diretor de renome internacional e na proporção, tão grande quanto, no espectro cultural mundial, caso de Jean-Luc Godard. 
Outro ponto, trata-se de cenas históricas, ao considerar-se que gravou-se uma música deveras impactante e que faria parte de um álbum muito icônico, dentro da discografia dessa banda. O terceiro aspecto, diz respeito à presença do guitarrista, Brian Jones, que morreria alguns meses depois dessa filmagem ter sido concluída. Tido como um gênio musical por tocar com desenvoltura uma infinidade de instrumentos, sem necessariamente ter estudado com maior afinco cada um deles m específico e nem mesmo ter uma grande base teórica, Jones era também um artista carismático e exercia uma inegável atração pessoal magnética por conta de tal fator. Por conta desse seu brilho pessoal, era idolatrado pelos fãs da banda, principalmente entre a ala feminina e logicamente que tal histeria natural que provocava, despertara um desconforto entre os seus demais companheiros, notadamente para a dupla, Mick jagger & Keith Richards, os autoproclamados, “The Glimmer Twins”. 
 
Por conta  desses fatores todos arrolados, Jones estava em pé de guerra com os colegas e pior ainda, estava, nesse preciso instante com a saúde fragilizada por conta dos abusos cometidos em prol do uso de drogas pesadas. Portanto, o filme tem também esse sentido de registrar-se um ponto importante da carreira dos Rolling Stones, a gravar um álbum importantíssimo em sua trajetória e ao mesmo tempo, prestes a atingir um ponto dramático em sua história, com a saída forçada de Brian Jones por desavenças pessoais e principalmente por falta de condições físicas para prosseguir no grupo. E registre-se também, por uma tragédia ocorrida poucos dias depois de oficializada a sua saída do grupo, pior ainda, a anunciar sua morte súbita.
Ainda a falar da atuação dos Rolling Stones no filme, críticos em geral analisaram muito bem a questão do contraponto entre a banda a gravar e o pensamento político. Falou-se com propriedade sobre Godard ter buscado o contraponto entre a morosidade de uma gravação de uma música em estúdio e os avanços sociais propostos por ideias revolucionárias. Eles tiveram razão em enxergar tal dicotomia oferecida pela visão crítica e ácida, proporcionada pela genialidade de Godard, no entanto, cabe ressaltar, que gravar uma música e um álbum inteiro por conseguinte, é algo extremamente repetitivo e moroso, por natureza. Não apenas os Rolling Stones, mas qualquer artista, de qualquer seara musical, costuma gastar horas e horas em um estúdio e tal processo tem que ser feito mediante um grau de atenção máximo, pois são muitos os detalhes a serem observados, isso sem contar o foco na precisão ao instrumento ou no cantar, pois cada minúsculo detalhe é realçado de uma forma gritante, portanto, eventuais erros simplesmente não podem passar. Em suma, gravar demanda preciosismo, não somente dos músicos, mas também da parte dos técnicos envolvidos no processo e isso exige, como condição sine qua non, uma inevitável postergação deveras entediante do trabalho.
Nesses termos, são longas as tomadas a mostrar os membros dos Rolling Stones a repetir exaustivamente pequenos trechos, principalmente da canção, “Sympathy For The Devil” e para quem pensa em música e no Rock em específico, mais detidamente, torna-se muito interessante verificar a banda a repassar alguns trechos da canção e assim tomarmos conhecimento de como o seu arranjo foi engendrado. A presença do super tecladista, o hoje saudoso, Nicky Hopkins (que gravou com os Rolling Stones em muitos discos, na condição de um convidado especial), é muito rica para demonstrar como ele elaborou o seu arranjo pessoal para o piano e o órgão Hammond que executou para abrilhantar essa música. 
 
Também é importante notarmos a presença de um percussionista a dar o devido apoio à suposta batucada que Mick Jagger queria para a música, a caracterizar-se como um “samba”, no que ele pelo menos intuíra ser um samba brasileiro, pelo pouco contato que tivera com a cultura afro-brasileira até então, baseado em rápidas viagens em caráter de turismo, e considere-se que nos anos posteriores, a ligação de Mick com o Brasil aumentaria muito e nos dias atuais, até filho brasileiro e criado em São Paulo, ele possui. Tal músico convidado não tem o seu nome creditado no filme e tampouco na ficha técnica do álbum, infelizmente. 
Mais uma observação interessante, dá-se com o guitarrista, Keith Richards, a gravar o baixo da canção e o baixista oficial da banda, Bill Wyman, apenas colaborar com os vocais e uma ajuda a tocar instrumentos de percussão. De fato, Richards adorava adora tocar baixo e apesar de Bill ter aceitado tal intromissão passivamente ao longo da história da banda, o fato é que Richards gravou não apenas essa canção, mas muitas ao longo doa discos dos Rolling Stones e aparentemente, Bill nunca se melindrou com tal avanço do companheiro. E de fato, Richards tocava/toca bem o baixo e não é possível reclamar de sua performance que só enriqueceu a performance da banda em muitas canções gravadas.
Vê-se uma cena da gravação dos backing vocals e trata-se de uma metodologia que foi muito usada em estúdio e ainda hoje é usada, com várias pessoas a cantar juntas como em um coral, em torno de um único microfone. Nessa cena, o famoso vocal onomatopaico dessa canção é exibido a ser gravado, mas com vários pontos a mostrar desafinação generalizada. Enfim, é bom explicar ao leitor leigo no assunto, que a cena não representa necessariamente a gravação oficial que ficou imortalizada no disco, mas possivelmente tratou-se de uma tomada que foi descartada por conta dos erros cometidos e nesse caso, repete-se à exaustão, até que o produtor e os próprios músicos envolvidos aprovem uma tomada em específico. É comum igualmente em uma gravação que mesmo quando aprovada uma tomada, sejam gravadas outras para uma comparação futura a fim de escolher-se a melhor performance entre as aprovadas, por uma questão de excelência profissional. Pelo jeito relaxado, até displicente em que os envolvidos nessa cena portaram-se, eu deduzo ter sido apenas uma encenação para o filme, pois se fosse uma tomada para valer, a postura dos envolvidos teria sido outra, completamente diferente em termos de disciplina para cumprir uma gravação profissional. 
As cenas da banda a ensaiar, gravar pequenos trechos ou com os seus membros a confabular sobre o arranjo, mesclam-se às encenações com atores a compor a parte mais conceitual da obra. Nessas partes, é que identifica-se mais claramente a presença de Jean-Luc Godard a propor cenas sob forte conotação metafórica em torno de ideias políticas, filosofia, teatro alegórico e literatura. É avantgarde, por não obedecer nenhuma estrutura convencional do cinema comercial e revolucionária por não ter receio em assumir-se com um panfleto vivo das convicções de seu autor. Não cabe nesta resenha tecer maiores considerações sobre a ideologia que ele defendeu com ênfase em 1968, sobre tal ideologia não fazer mais nenhum sentido no mundo de 2019, quando escrevo esta resenha, visto que a história tratou por deixar claro que tal concepção totalitária em busca de uma igualdade utópica, não logrou êxito, ao menos nos termos propostos até aquele ponto de 1968.
 
No entanto é preciso dizer, que enquanto um importante artista que era e cônscio de seu papel como um formador de opinião, Godard não teve receio algum em desfraldar a sua bandeira predileta em termos ideológicos, portanto, se o tempo tratou por mostrar os equívocos dessa concepção ao mundo, louva-se a coragem do artista em falar com veemência sobre aquilo em que ele acreditou ser o melhor para a humanidade, com a compreensão que ostentou nessa época.
As cenas são criativas, é bem verdade, embora filmadas sob uma simplicidade absoluta, quase a constituir-se de uma filmagem amadora, feita por estudantes. Claro, dá-se o devido desconto que Godard por ter sido um dos pais da “Nouvelle Vague”, automaticamente, por uma questão de coerência, não furtou-se à ideia de sair à rua em locações improvisadas e filmar livremente, “com uma ideia na cabeça e a câmera na mão”, como forjou-se a máxima preconizada por ele mesmo na escola estilística da qual ajudou a criar. Nesses termos, vemos cenas de pessoas a pichar os muros de alguns pontos urbanos de Londres, com frases de efeito, do tipo: “Cinemarxism”, “Sovietcongs”, “Freudemocracy”, além de siglas nada sintomáticas, como “US=suástica”.
Membros do grupo político, “Black Panthers”, pegam pesado em suas cenas. Fortemente armados, são retratados em um ferro velho e a sequestrar e brutalizar mulheres brancas. O discurso é bem radical em torno do capitalismo ter sido em tese, um sistema ideológico montado para garantir a supremacia dos homens brancos e por conseguinte subjugar os negros. Tal discurso é reforçado com vários oradores a falar ao mesmo tempo, a ler trechos de livros de diversos autores, simultaneamente em voz alta, espalhados pelo ferro velho em questão. Até o famigerado, “Mein Kampf”, escrito por um rapaz chamado, Adolfo, entrou na leitura.
Outro cena muito interessante ocorre em uma livraria, onde toda uma simbologia forte é montada para dar voz à ideologia. Pessoas comuns, incluso idosos e crianças, ao comprar livros ou mesmo revistas e gibis com histórias em quadrinhos (até revistas pornográficas são exibidas pelas prateleiras), escolhem o que desejam, pagam e automaticamente sinalizam ao atendente da livraria, com a gesticulação da saudação nazista. E a cena vai além, com dois sujeitos amarrados e aparentemente feridos por ação de tortura, ficam sentados em cima do balcão e cada cliente os esbofeteia sem hesitar, e a simbologia forte desse pormenor justifica-se pelo fato desses rapazes representarem supostamente os hippies, tidos como pacifistas ingênuos.
E outra cena, ainda mais emblemática, é uma bizarra entrevista feita por uma equipe de jornalismo a filmar a sua entrevistada em meio a um bucólico parque. Tal personagem chama-se: “Eve Democracy” (a figura da primeira mulher bíblica, “Eva”, a simbolizar a gênese da democracia ou uma crítica aberta aos sistema judaico-cristão?). 
 
Perguntas com abrangência muito amplas são formuladas, como por exemplo: -“o seu sobrenome é República?" E ela responde laconicamente com “sim” ou “não”. Outras vem no mesmo sentido: -“o seu sobrenome é totalitarismo?  -“O seu nome é democracia?”
Mas não fica apenas no campo da política e assim, outras perguntas desconcertantes são feitas enquanto o repórter e o cinegrafista seguem a enigmática entrevistada. -“Acha que a droga é um caminho espiritual?" -“A cultura sobrevive aos regimes?”–“Maconha expande a mente?” 
 
Enfim, nas perguntas sobre comportamento, a envolver cultura, sexo e uso de drogas alucinógenas, temas em voga, via movimento hippie/contracultura/Rock, ficou patente porque Godard quis a inserção de uma banda de Rock no filme, para claramente jogar no caldeirão ideológico proposto, a função do ideal contracultural, como agente importante em tal discussão. Só para constar, a atriz que interpretou essa entidade abrangente e decididamente não humana, “Eve Democracy”, foi Anne Wiazemsky, que era esposa de Godard nessa época. Tal atriz participou de muitos filmes europeus importantes antes e depois dessa atuação.
A cena final também é carregada por simbolismo. A equipe de filmagem está em uma praia e uma mulher branca, aparentemente desfalecida, com a roupa manchada por sangue é erguida pela grua, um guindaste usado em produção cinematográfica para filmar cenas de um ponto mais alto. Alguém comenta: -“o que estão a fazer?” E outra pessoa responde: “acho que estão a produzir um filme”... 
Um dado importante, deu-se em relação à edição desse filme. Oficialmente foi passada a ideia de que por conta de uma briga entre os produtores, Michael Pearson e Iain Quarrier, duas versões diferentes desta obra foram montadas e lançadas simultaneamente. Uma a chama-se, “Sympathy of The Devil” e a outra, mais de acordo com o desejo de Godard, a chamar-se, “One Plus One”. Com o decorrer dos anos, versões ainda mais fragmentadas surgiram, a mostrar apenas a performance dos Rolling Stones em estúdio e quando não, a mostrar um resumo do resumo com a canção em si já inteiramente gravada e a exibir-se as imagens dessa gravação, feitas pelo filme de Godard, montado para justificar-se enquanto um reles vídeoclip da canção.
Ainda em 1968, Godard iniciou um outro projeto polêmico a envolver o Rock como mote em contraponto a um filme com teor político ideológico, mas não o completou na época. Muitos anos depois, o seu produtor associado, o documentarista, D.A.Pennebacker, deu prosseguimento e lançou no mercado um remendo do que seria o projeto inicial, como um documentário, mas de qualquer modo, ficou para a história, a sensacional cena do grupo de Rock psicodélico, Jefferson Airplane, a tocar em cima do telhado de um alto edifício em Nova York, nos Estados Unidos e com a polícia norte-americana a invadir o set improvisado para prender todo mundo, na vida real. O filme chamar-se-ia: “ON AM”, na concepção de Godard, mas anos depois, Pennebacker o lançou como: “One PM”.
Ainda sobre “Sympathy For The Devil”/“One Plus One”, tal obra foi recebida com muitas ressalvas e não poderia ter sido de uma outra forma. Rockers mais distantes das implicações filosóficas propostas pelo filme, certamente que não o compreenderam. Entusiastas da política também não gostaram das longas cenas a mostrar os Rockers cabeludos e certamente a considerá-los como criaturas alienadas e pior ainda, como agentes alienantes, enquanto artistas a influenciar a juventude. Cinéfilos mais interessados na peça enquanto arte pura, também questionaram a mistura proposta a deixar a proposta, confusa e finalmente, os entusiastas mais intelectualizados da contracultura, certamente não gostaram em ver a sua ideologia libertária a ser colocada na vala comum do marxismo.
Controverso por muitos aspectos, o filme, mesmo a tender ser mal interpretado por muitos nichos da sociedade, tem a assinatura forte de Jean-Luc Godard, a presença de uma mega banda icônica em um momento histórico de sua trajetória, The Rolling Stones e dessa forma, tem muito valor, goste-se ou não de seu formato e das ideias metafóricas nele expressas. Foi lançado em novembro de 1968.

Existe sim em formato DVD, passou muito em canais de TV a cabo, mas não recordo-me de alguma exibição na TV aberta em qualquer época. No YouTube e outros portais semelhantes, não é fácil encontrar-se uma versão integral, mas apenas alguns fragmentos.

Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" e está inserida em seu volume II, disponível para a leitura a partir da página 243

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Filme: In His Life (John Lennon, o Mito) - Por Luiz Domingues

Este filme tem a proposta de mostrar a vida de John Lennon de um certo ponto de sua adolescência, até o início do sucesso dos Beatles. Ou seja, trata-se de mais uma obra a abordar tal período. Este em específico, foi uma produção de 2000, contudo, anteriormente tal abordagem praticamente em torno do mesmo período já houvera ocorrido com o filme, “Backbeat” e alguns anos depois, outro filme seria lançado com a mesma proposta, através de, “Nowhere Boy”. Bem, há alguma diferença entre os três filmes, então? Sim, certamente. Primeiramente, é óbvio que existem diferentes nuances na roteirização, linha de direção e atuação dos atores. Outro ponto importante, apesar de ser quase o mesmo período da biografia de John Lennon, cada filme recua ou avança um pouco mais na cronologia a valorizar sutis aspectos diferentes.

Neste caso, “In His Life”, o filme mostra o então ainda pouco conhecido grupo, The Beatles a tocar no Cavern Club de Liverpool, por volta de 1962, logo no início, ainda a exibir os caracteres de apresentação do filme. Corte para um ponto futuro bem adiante, com o primeiro violão de John Lennon em leilão e sob um valor exorbitante: cento e quarenta mil libras. Novo corte a volta brusca ao passado, em algum momento dos anos cinquenta, quando o então adolescente, John Lennon (interpretado por Philip McQuillan), analisa um anúncio de jornal de uma loja de instrumentos musicais, a oferecer um violão por um preço incomensuravelmente mais barato que tal instrumento de segunda mão alcançaria no futuro, pela força das circunstâncias óbvias em torno do que Lennon viria a tornar-se na história da música.

A primeira constatação estética sobre esse filme, não é boa, no entanto, pois chama a atenção que a presença do ator escalado para viver John Lennon, não foi exatamente adequada para o papel, por conta da diferente faixa etária. E nesse caso, não dá para relevar como uma licença poética o fato de que o ator, nitidamente mais maduro do que a personagem de um adolescente que ele defendeu, cause uma estranheza desde o início da obra. A ação prossegue e a menção à idolatria que o adolescente Lennon nutria pela atriz francesa, Brigitte Bardot (considerada por muitos como a garota mais bonita do mundo na ocasião), parece meramente secundária, mas eu penso que a intenção foi situar o espectador a compreender a formação do adolescente, Lennon.

A seguir, surgem algumas cenas da vida escolar tumultuada dele a gerar confusões e ser sistematicamente repreendido por professores e pelo diretor, até que é indicado que ele mude de colégio e busque algo mais a ver com o campo progressista e assim, Lennon é matriculado em uma escola de artes. Esse ponto não seria muito explorado em “Nowhere Boy”, outro filme similar lançado anos depois, e nem mesmo em “Backbeat”, onde pelo contrário, a intenção primordial foi realçar a participação de Stuart “Stu” Sutcliffe, mas a explorar a sua vida com a banda na excursão promovida à Hamburgo, na Alemanha. Em “In His Life”, Stu Sutcliffe foi interpretado pelo ator, Lee Williams. A sua participação na história da banda, nos primórdios dos Beatles, como o “quinto” membro, é valorizada ao mostrar-se a maneira pela qual Lennon e Stu conheceram-se, ou seja, na tal escola de artes. Pois é neste filme portanto, “In His Life” que essa faceta particular da amizade de ambos, é melhor explorada.

Dessa forma, Lennon e Stu são retratados nesse ambiente da escola de artes, portanto um ponto bom para o filme ao mostrar uma faceta importante da vida do cinebiografado em questão. Ocorre então um salto sutil para 1957 e muitas cenas são usadas a retratar o cotidiano de Lennon por Liverpool, inclusive com direito à epifanias certamente arquitetadas para implementar emoção ao filme, que foram acrescidas, como por exemplo as conversas a mencionar Strawberry Fields. John conhece Paul McCartney (interpretado por Daniel McGowan), e nesse ponto a encenação segue a verdade histórica mais ou menos e coaduna-se com os filmes similares a retratar o mesmo fato. 

Pois é, John era bastante ousado, para não usar outro adjetivo e foi grosso com Paul que mostrava-se como um menino mais comedido, sem o mesmo ímpeto. Passa um tempo e com John e Paul mais entrosados, surge a ideia de mais um guitarrista, quando Paul traz um amigo seu, um adolescente ainda mais novo que eles, chamado, George Harrison (interpretado por Mark Rice-Oxley). Lennon reage com um certo desprezo por considerá-lo novo em demasia, mas rende-se à evidência que este garoto era mais técnico à guitarra que ele e Paul, portanto, não haveria sentido recusar a sua entrada na banda, e muito pelo contrário, seria uma péssima estratégia não reforçar o grupo com a entrada desse menino talentoso.

A questão mais pessoal do conflito familiar que ele enfrentou, é abordada com bastante parcimônia neste filme. Bem rapidamente, a questão da relação de Lennon com a sua mãe, é mostrada e também em relação ao pai. Como por exemplo o fato de que Julia Lennon (interpretada por Christine Cavanagh), ensinou banjo para Lennon e portanto, mesmo sem ter a noção da dimensão desse singelo ato, certamente, Julia foi a responsável indireta pelo estopim de uma revolução na música, pode-se afirmar.


Tia Mimi (interpretada por Blair Brown), que de fato criou John, não gosta que o seu sobrinho-filho envolva-se com a música, mas tal conflito, neste filme não é melhor esmiuçado, assim como ocorreria em “Nowhere Boy”. 
Interessante, Stu é mostrado como um talentoso desenhista. Ele vende uma obra, a denotar que teria futuro como artista plástico, mas Lennon o convence a usar o dinheiro ganho com tal venda para comprar um contrabaixo e que ele entrasse na banda. Stu gostava de acompanhar o Rock’n’ Roll em voga, como Lennon e os demais colegas, mas nunca aspirou tornar-se um músico. A sua vocação fora mesmo direcionada às artes plásticas, no entanto, Stu foi persuadido pelo amigo, Lennon, e de fato, a banda “The Quarrymen”, que havia metamorfoseado-se em “Johnny and the “Moondogs” e a seguir em The Silver Beetles”, não conseguia arrumar um baixista. Ele não sabia tocar nenhuma nota, mas John insistiu que ele poderia estudar e que seria tolerado por todos, o período mínimo de aguardo pelo seu desenvolvimento ao instrumento.

Em 1958, a morte trágica de sua mãe verdadeira, Julia Lennon, gerou dor, naturalmente. John aparece a cantar o clássico que imortalizara-se na voz de Elvis Presley, “Love me Tender”, canção que a sua mãe gostava de ouvir.

Uma conversa surge com um empresário de pequeno porte, que oferece à banda a chance para realizar uma turnê bem modesta pela Escócia, mediante cachê baixo e impõe uma condição desagradável, mas realista. Ao notar que Stu Sutcliffe é um músico incipiente ao ponto de denegrir a performance da banda, o sujeito é taxativo em exigir a sua substituição e de forma enfática, alega ter à sua disposição, baixistas profissionais para indicar. John insiste na determinação de que sem Stu a banda não aceita participar e após muita discussão, o homem mal-humorado concorda que Stu permaneça na banda, desde que esforce-se para atingir uma condição técnica melhor.

Uma nova mudança de nome para a banda é ventilada e segundo o filme, veio de Stu a ideia em forjar um neologismo através da junção das palavras “Beetle” (besouro) e “Beat” (batida), para criar a palavra: “Beatles”. Não tenho conhecimento se Stu realmente foi o inventor dessa ideia, mas se isso é um fato verdadeiro da história, eis aí uma grande colaboração que ele deixou para a história do Rock e do mundo, certamente.
A história avança, com Lennon a namorar uma bonita garota da escola, Cynthia Lennon (interpretada por Gillian Kearney), cuja personalidade conservadora mostrava-se antagônica à de Lennon. A banda avança e em um show ainda em Liverpool, Stu comete a imprudência de flertar acintosamente com uma garota da plateia. O namorado da moça enfurece-se, mas Stu não se intimida e além do mais, a moça estava a corresponder, mesmo com o seu namorado ao seu lado. Bem, durante a alta madrugada, a banda estava a carregar o equipamento no carro, quando o tal rapaz ultrajado aparece com amigos e tal bando aplica uma surra em Stu, que estava sozinho a acomodar os volumes no automóvel, nesse instante. Os demais membros da banda aparecem e o ajudam, entretanto, essa cena que parece ter sido algo secundário no roteiro, revela, independente de ter sido algo fidedigno da biografia, uma ocorrência que é bastante comum para qualquer banda, principalmente as que militam no patamar mais baixo da música, a apresentar-se em casa noturnas modestas.
 

Surge o convite para a banda realizar uma turnê em Hamburgo, na Alemanha. Trata-se de um circuito “barra pesada”, a tocar em casas noturnas do cais do porto ou a trocar em miúdos, na zona do meretrício daquela cidade germânica. Tudo bem, fora um avanço para a banda e isso foi o que importou naquele momento. Os jovens alemães, Klaus Voorman (ator não creditado) e Astrid Kirchherr (interpretado por Paline Jonsdottir), são introduzidos na história. Klaus Voorman, que não foi uma pessoa que passou rapidamente na vida dos Beatles e pelo contrário, foi amigo pessoal da banda e mais que isso, tocou com quase todos eles, em suas respectivas carreiras solo, pós-Beatles e foi o autor da capa do LP “Revolver” dos Beatles, lançado em 1966.

No caso da fotógrafa, Astrid Kirchherr, que foi namorada de Stu Sutcliff, ela é bem melhor retratada no filme “Backbeat”, que teve a proposta em mostrar o início dos Beatles sob a ótica desse quinto membro, no caso Stu e nesse caso, Astrid foi uma personagem protagonista da história, contada sob tal ângulo, por formar um casal com Stu.

A história da banda é mostrada nessa temporada na Alemanha, com menção às muitas aventuras loucas que o quinteto ali viveu. Incluso a histórica gravação dos Beatles a acompanhar o cantor, Tony Sheridan, e o posterior lançamento do compacto a conter a regravação do canção: “My Bonnie”. A prisão de George Harrison e posterior deportação pele fato dele ainda ser menor de idade nessa época, flagrado a tocar profissionalmente em uma boite, é explorada, mas como salientei, no filme, “Backbeat”, tal fase da banda é muito melhor retratada.  

De volta à Liverpool, um estranho, porém fundamental fenômeno, ocorre: o tal compacto com The Beatles e Tony Sheridan a interpretar a canção, “My Bonnie” está nas prateleiras da loja de discos, “Nems” em Liverpool. Tal estabelecimento é propriedade de uma família de origem judaica e administrada por um de seus membros, o senhor, Brian Epstein (interpretado por Jamie Glover). Alguns adolescentes entram na loja e pedem cópias dessa gravação e assim, o senhor Epstein demonstra interesse em investigar essa procura súbita por tal artista. Ele recebe a informação que a tal banda é oriunda da cidade e costuma apresentar-se em uma casa noturna conhecida como : “Cavern Club”. Brian prontifica-se a investigar tal fenômeno e lá comparece. Tal cena é bastante edulcorada, pois mostra Brian deslumbrado e ao buscar conhecer os rapazes, fica uma insinuação sobre Brian, que era gay de fato, a mostrar-se encantado com Lennon. 

Nesse ínterim, mostra-se Stu Sutcliffe, que deixara a banda para assumir ficar com Astrid na Alemanha e seguir em seu esforço para firmar-se como artista plástico. Infelizmente, a fatalidade ocorre e Stu morre, muito precocemente, vítima de um tumor cerebral. Astrid comunica o fato aos remanescentes membros dos Beatles, agora a apresentar-se como um quarteto e com Paul McCartney a assumir o baixo.

Uma cena que é plasticamente bonita, mostra a banda, ainda em 1962 a atravessar a famosa, Abbey Road, em direção ao estúdio homônimo, para simular a famosa foto da capa do LP Abbey Road, que só gravariam em 1969.

O produtor de estúdio, George Martin (não creditado no filme), não gosta do baterista, Pete Best e sugere a troca do músico. Curiosamente e sem intenção em estabelecer um julgamento moral de minha parte, os demais membros não brigam com ele para bancar a permanência do companheiro, como houvera acontecido em situação anterior, em relação ao baixista, Stu. Bem, devemos levar em conta que a situação nova ganhara uma dimensão gigantesca. Seria preservar a lealdade interna entre os membros ou perder a chance da vida, portanto foi compreensível pelo peso da situação, embora não tenha sido nada ético.

Cynthia fica grávida e não apenas a tia Mimi fica escandalizada. Agora, em uma banda em plena ascensão, o empresário, Brian Epstein exige que os seus comandados sejam considerados solteiros, exatamente para alimentar a fantasia ingênua do público feminino que o admira e certamente deseja um algo a mais de seus ídolos. Portanto, Lennon é pressionado pela sua tia Mimi a casar-se com a moça e simultaneamente, é instruído profissionalmente pelo seu empresário, Brian Epstein, a ocultar o seu estado civil como se fosse um segredo de estado.

A questão da mudança de visual, é mostrada, como algo importante da biografia dos Beatles. Eles são persuadidos por Brian a deixar o figurino de couro que gostavam de usar (por sentirem-se mais Rockers norte-americanos), em prol de terninhos e botas de cano curto, como um uniforme a ser adotado, doravante. 

Cynthia vai dar a luz e Lennon alega que não pode acompanhar o parto de seu filho, por conta de compromissos e isso choca a tia Mimi. O filme avança e pula muitas etapas do meteórico sucesso que a banda atingiu em 1963. Um pequeno período de férias é anunciado e Lennon declara que viajará para a Espanha, acompanhado por Brian Epstein. Isso suscita uma maledicente suspeita em face do fato de Brian ser gay.  Essa passagem, inclusive, é retratada com maiores detalhes em um filme lançado inclusive, anteriormente, chamado: “The Hours and Times”, em 1991. Aqui, em “In His Life”, Lennon fica furioso quando ouve comentários maliciosos sobre tal viagem significar uma relação homossexual entre ele e Brian.

A banda alcança o primeiro posto nas paradas de sucesso dos Estados Unidos, com a canção: “I Wanna Hold Your Hand” e recebe o convite para apresentar-se no programa ultra popular de TV, Ed Sullivan Show. Lennon visita a tia Mimi e dá-lhe como presente, uma inscrição com o dizeres: “você nunca irá ganhar dinheiro com uma guitarra”, frase lapidar que ela proferira anos antes, em sinal de preocupação com o entusiasmo dele para com a música. O filme encerra-se com uma sucessão de cenas aceleradas a sugerir uma retrospectiva do tudo o que Lennon vivera até ali e frisa em uma “still” a conter a foto dele, John e a sua mãe, Julia, juntos.

Em resumo, repito o que eu já escrevi em outras resenhas sobre filmes a narrar a história dos Beatles e também individualmente de seus componentes, ou seja, falta ainda (2019, quando escrevi esta resenha), um filme mais bem acabado e que retrate a história inteira dos Beatles, à sua altura. Em meio a tantos filmes já lançados ao narrar períodos em específico e não a história completa, eu vejo um lado positivo no entanto, em tantos filmes pontuais, pois inevitavelmente, um resulta em mostrar ou realçar, aspectos que os demais não mostraram. Portanto, melhor que nada, é ter a mesma história contada sob diferentes visões.

Neste caso, creio que “In His Life” não compromete, tem os seus pontos positivos, certamente, mas não chega a empolgar. “Backbeat” é melhor acabado, “Nowhere Boy”, é mais profundo pelo aspecto dramatúrgico e “John and Yoko: A Love Story”, apesar de ser dirigido a uma outra cronologia da vida de Lennon, porta-se melhor por ter arregimentado muito mais informação sobre a carreira e vida pessoal do artista.

Outros atores que participaram para ser citados: Kristian Ealey (como Ringo Starr), Scot Williams (como Pete Best) e Paul Usher (como Freddie Lennon, pai de John), além de outros não creditados.

A música ficou sob a supervisão de Dennis McCarthy. As cenas das bandas preliminares que culminou na formação dos Beatles e mesmo as do Fab Four em si, são curtas, mas não comprometem. Ouve-se bastante material cinquentista, de ótima qualidade a configurar os artistas que John e seus colegas gostavam em escutar, mas com muito maior parcimônia que em relação aos outros filmes citados.
Foi escrito por Michael O’Hara e dirigido por David Carson. O filme foi lançado em dezembro de 2000. Fez um relativo sucesso quando exibido na Rede NBC, que o produziu nos Estados Unidos e rapidamente entrou no circuito das reexibições em outros canais ao redor do mundo. Existe em formato DVD, à venda nos sites e lojas do ramo e é encontrado com facilidade no YouTube, em versão integral. 
 
Não é o melhor filme sobre essa fase da biografia de John Lennon, mas também não pode ser considerado um filme ruim.
 
Esta resenha faz parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n'Roll" em seu volume II, a partir da página 288.