segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

CD Lee Recorda/Lee Recorda - Por Luiz Domingues

Na primeira metade da década de 1970, O Rock Progressivo viveu o seu apogeu na Europa, principalmente, e também no Brasil, mesmo a se considerar as dificuldades inerentes de um país a conviver com a defasagem estrutural em relação aos países do dito primeiro mundo, pois o reflexo cultural repercutia e motivava a inspiração dos artistas locais a buscarem as tendências em voga.

São muitos os bons exemplos de bandas brasileiras que buscaram a onda progressiva como fonte de sua criação e certamente a imprimirem o seu toque pessoal, enriquecido por boas influências locais e este foi o caso de uma banda surgida em Santos, no litoral de São Paulo, que recebeu o nome de: “Recordando o Vale das Maçãs”, ou seja, um título deveras poético e certamente a sugerir uma ligação direta com as tradições da música campestre, no sentido da sua aproximação explícita com a Folk-Music de uma maneira ampla.

De fato, o som da banda se mostrou poderoso nessa junção do Rock Progressivo então em alta voga na época, com as tradições silvestres do melhor da música Folk e entenda-se tal denominação de uma maneira muito ampla e assim a estabelecer a conexão também com o Folk europeu, que é na verdade, um dos pilares mais tradicionais da escola do Rock Progressivo, por exatamente estar na base da música erudita tradicional europeia.

No entanto, apesar do belo trabalho que a banda desenvolveu, houve uma série de contratempos para atrapalhar a sua carreira, como por exemplo a falta de um melhor apoio da gravadora na época em que o seu prestigiado LP “As Crianças da Nova Floresta” foi lançado (em 1977, pela gravadora GTA, um selo gerido pelo mesmo grupo que administrava a Rede Tupi de Televisão), pois sem esforço correto de divulgação, o LP chegara às lojas sem que os lojistas soubessem se tratar de um álbum de uma ótima banda de Rock, mas pelo nome da banda e do disco em si, pensavam se tratar de um disco de histórias infantis e o colocavam nas prateleiras erradas, a sabotar a sua vendagem para o público ao qual deveria se dirigir corretamente.

Mesmo assim, mediante a qualidade da banda que era muito grande, tal obra lhe forjou uma aura benquista no meio e apesar de um erro de estratégia dessa monta e principalmente por outros problemas internos que a banda enfrentou, o seu nome marcou na história.

O tecladista, cantor e compositor, Lee Eliseu Oliveira, foi um dos membros dessa grande banda e finalmente em 2015, ele lançou um trabalho que não pode ser considerado exatamente como um disco solo, pois ao batizá-lo como “Lee Recorda”, praticamente decretou se tratar do trabalho de uma banda nova, embora a manter o elo com o antigo trabalho.

Nesse esforço, Lee mostrou algumas canções do seu antigo grupo, o “Recordando o Vale das Maçãs”, em regravações com um padrão mais moderno de áudio e também algumas peças inéditas. A base da sua sonoridade é o velho e ótimo Rock Progressivo clássico, com aquela desenvoltura instrumental requintada que os fãs do gênero tanto apreciam e a dedicar um especial cuidado com a parte melódica e igualmente no tocante às letras, a garantir a verve poética, muito valorizada, certamente.

Nesses termos, se ouve ao longo do disco, um material de alta qualidade musical a honrar as tradições dessa escola que tem na prática da sua excelência, uma praxe.

Em sua arte gráfica, a foto que retrata o tecladista Lee Recorda a ostentar em suas mãos uma significativa maçã, diz tudo sobre a sua origem e ligação com a antiga banda pela qual atuou na década de setenta e mais que isso, denota estar fiel aos seus princípios.

Há toda uma ambientação colorida a envolver tal foto, a denotar um bonito efeito dégradé do verde ao azul e além do mais, a capa se apresenta como extensão que a liga à contracapa, ou seja, um tipo de perspectiva visual que era bem usada na composição gráfica dos antigos LP’s de vinil, mediante o uso da clássica “capa dupla”, o que também traz uma referência típica dos anos setenta.

Nas folhas internas do encarte, as letras das canções estão todas disponíveis para o ouvinte acompanha-las, além da ficha técnica, a usar paisagens bucólicas do campo e também com motivação marinha, com paisagem do mar, como fundo em suas ilustrações e estas foram criações do saudoso baterista do “Recordando o Vale das Maçãs”, Milton Bernardes.

Sobre as canções em si, vale a pena acrescentar mais algumas observações.  

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=JQn9HacQmgc

A faixa que abre o álbum, “Ferreiro do Céu”, mostra grandiloquência em seu início, com intervenções de teclados a se buscar o sentido sinfônico e com os demais instrumentistas a seguir a cartilha, com brilhantismo.

Uma parte mais densa mostra intensa dramaticidade, quando logo a seguir, a parte “A” retorna com a parte cantada e o final é muito bonito, ao conter um convite irrecusável para quem busca transcender, quando é afirmado de forma enfática:

“Vamos todos juntos a caminho do Sol”

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=qxNtMcLF3XU

“Besteira” é a segunda faixa, e logo de início mostra uma forte identificação com a música Folk, em sua beleza harmônica e melódica. Advém uma parte mais pesada, intensa, dramática e bastante emocionante, com uma base de órgão Hammond e bela melodia na intervenção da guitarra.

O solo executado no sintetizador é bem típico setentista e a se mostrar muito bonito. E logo a seguir, surge um belo contraponto com muitas vozes sobrepostas e impressiona muito pelo sentido erudito do arranjo. 

A quebrar tudo, vem uma deliciosa levada de vaudeville ao estilo trintista e com direito a um belo solo de flauta para encerrar a canção, ou seja, são muitas ideias boas concentradas em uma música com uma metragem relativamente curta a demarcar apenas 4’:41”, o que no universo do Rock Progressivo é um tempo considerado como modesto.

Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=Gd3-LEUFP4g

“Água”, é a terceira faixa e se revela como um tema instrumental. Tal peça mostra uma melodia inicial feita pela guitarra, que se mostra muito emocionante, com notas longas em predominância.

Vem a seguir um belo solo de piano elétrico e eu gostei muito da ideia da guitarra a pontuar a sua base com o efeito de pedal wah-wah, a imitar o efeito do som sobre a água, como algo borbulhante, digamos.

Vem a seguir mais uma parte pesada e depois, a brusca mudança na dinâmica leva tudo para a calmaria, com o piano a pontuar a harmonia e assim a alternar a marcação rítmica até se encerrar mediante o uso do ”staccato”.

Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=NjsNS-f7d6I

“A Luz da Natureza”, é a quarta faixa e começa com uma base delicada pontuada de arpejos do piano e do violão, com intervenções doces da flauta, além da boa linha de baixo, que se mostra simples, todavia muito funcional. É belo o solo de flauta, sem dúvida.

Entra a voz feminina (através da cantora convidada, Cristina Lobão), a entoar a melodia com grande graça e a estabelecer o duo com a voz masculina, a criar uma atmosfera muito agradável.

É então que a junção é feita com uma outra música, “As Crianças da Nova Floresta”, antiga peça do repertório do grupo “Recordando o Vale das Maçãs”, com a participação da cantora Cristina Lobão, mais uma vez.

A banda desliza em um tema complexo, com grande leveza, a pontuar muitas convenções, com intensa quebra na divisão rítmica mediante excelente precisão e a abrir caminho para um belo solo de sintetizador com alternância de timbres.

Novas partes cantadas são mostradas com uma base de piano muito bonita, intervenções de sintetizadores muito bem colocadas e a “cozinha” que se mostra firmíssima.

É belo o final com a melodia entoada sob sentido onomatopaico através de um um ritmo bastante balançado e sob a doçura da flauta a pontuar, enquanto o piano atua com desenvoltura ao fundo.

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=x5LHfno74sE

A quinta faixa, “O Mundo de Davi” tem uma estrutura de balada a trazer um delicioso sabor Country-Rock em sua base primordial. A melodia é bem rica e ainda por ser cantada em duo, nos remete à melhor tradição do “Rock Rural” setentista.

Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=pthEsXbEJAM

“Rancho, Filhos e Mulher” é mais uma canção do repertório do “Recordando o Vale das Maçãs” que Lee regravou assim como “Besteira" e “Crianças da Nova Floresta” (esta já citada), que foram as outras.

Trata-se de uma balada muito agradável, também composta sob a aura do “Rock Rural” dos anos setenta e com uma harmonia mais centrada no estilo da MPB do que no Rock, desta feita. É muito boa a base com piano elétrico e a flauta pontua mais uma vez de uma forma bastante feliz.

Em sua letra, a ideia de Lee foi realmente enaltecer as benesses da vida mais frugal que o campo oferece ao Ser Humano. Veja um exemplo:

“Eu quero ter uma charrete como condução/eu quero respirar o ar puro sem poluição”.

Ou seja, se essa simplicidade saudável já era valorizada nos anos setenta, imagine no mundo moderno do momento pós-anos 2000?   

Em suma, trata-se de um álbum que traz em seu bojo, uma musicalidade muito forte, com o Rock Progressivo clássico como mote central, mas a abrir caminho para outras vertentes e tudo feito com poesia, brilhantismo instrumental & vocal. Portanto, eu recomendo a audição, com toda a certeza!

Fica o registro de que a produção musical desse álbum ficou a cargo do grande baixista, cantor e compositor, Pedro Baldanza, icônico líder do “Som Nosso de Cada Dia”, uma das maiores bandas da história do Rock Progressivo Brasileiro, portanto, um reforço e tanto para que o Lee pudesse ter um em mãos um produto tão bem-acabado. Infelizmente, o Pedro nos deixou em outubro de 2019 e certamente que faz uma grande falta.

E outra baixa muito sentida é a do baterista, compositor e cantor, Milton Bernardes, ex-membro do “Recordando o Vale das Maçãs”, companheiro de Lee Oliveira, autor de algumas canções deste álbum além das ilustrações que acompanharam a composição gráfica desse disco. Nos faz falta desde 2012, igualmente e jamais será esquecido.   

Gravado no estúdio Art Brasil

Técnicos de som: Izaias Amorim e Omar Campos

Mixagem: Izaias Amorim, Omar Campos. Pedro Baldanza e Lee Oliveira

Capa, encarte e contracapa: Leonardo Motta (Cisne Design)

Ilustrações: Milton Bernardes (in Memoriam)

Direção e produção musical: Pedro Baldanza (in Memoriam)

Produção fonográfica: Roberto Oca

Apoio: Moshimoshi Produtora

A formação do Lee Recorda neste álbum:

Lee Oliveira: Teclados, voz principal, backing vocals e arranjos

Fabio Ferreira: Baixo

Rogerio Pelosi: Guitarra e violão

Xima: Bateria

Músicos convidados:

Cristina Lobão: Voz

Domingos Mariotti: Flauta

Fernando Motta: Violão

Leo Oliveira: Backing vocals

Pedro Baldanza: Backing vocals (In Memoriam)

Para conhecer melhor o trabalho de Lee Recorda, acesse:  

YouTube:

https://www.youtube.com/channel/UCocfYclmVlBM1boDcCs_gqQ

Facebook:

https://www.facebook.com/NOVA-LEE-Recorda-100466599133416

Spotify:

https://open.spotify.com/artist/3RlS54oqSWoDXJeDrLEVlz

ONErpm:

https://classic.onerpm.com/artist/overview?artist_id=17793

Deezer:

https://www.deezer.com/br/artist/10042384?autoplay=true

Instagram:

https://www.instagram.com/leerecorda/

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

CD Lacrimal/Prognoise - Por Luiz Domingues

Em meio a um mundo acelerado, no qual a tecnologia muda de uma forma estonteante e por dedução induz a juventude (principalmente) a se portar de forma parecida no seu cotidiano (e assim a formatar um novo paradigma), a realidade é que o gênero do Rock Progressivo representa um posicionamento diametralmente oposto.

Pautado por sua excelência musical em todos os sentidos, o Rock Progressivo prima pelos detalhes e que são múltiplos, na verdade. Cada nuance do arranjo das canções, seja pelo ponto de vista coletivo, quanto individual de cada instrumentista envolvido no processo de criação e execução é valorizado ao máximo, como exemplo de excelência que elevou o Rock à condição de Art-Rock nos anos setenta, isso é ponto pacífico.

Dessa forma, a se pensar que os jovens da atualidade de terceira década do século XXI estão habituados a ouvir não mais que dez segundos de uma música para decidir se gostam ou não de tal obra, quando acessam as famigeradas plataformas de música “streaming”, pensar em atuar com o Rock Progressivo na atualidade é realmente um ato de coragem da parte de qualquer artista que se proponha a trilhar tal caminho.

Contudo, denota por outro aspecto o amor que o artista demonstra ao gênero, ao ponto de não se intimidar com um cenário antagônico como o atual e seguir em frente criando obras belas, a lançar e divulgar tais trabalhos ao máximo das possibilidades.

A atual formação do Prognoise, que gravou o CD Lacrimal. Foto: Douglas Mosh

Esse é o caso do grupo Prognoise, oriundo de Porto Velho, capital da Rondônia, que chega ao seu terceiro álbum, ao não abrir mão de produzir Rock Progressivo de alto quilate e a honrar a cartilha clássica dessa escola, sob aquele padrão setentista que os fãs do estilo (incluo-me nesse rol, certamente), tanto amam.

Antes de avançar sobre a resenha em si, eu faço o convite ao leitor para que leia ou releia a resenha sobre o segundo álbum do Prognoise (Solar), que eu elaborei e disponível neste mesmo Blog.

Eis o link para acessar tal resenha:

http://luiz-domingues.blogspot.com/2019/06/cd-solar-prognoise-por-luiz-domingues.html

Sobre o novo trabalho da banda, o CD “Lacrimal”, é com alegria que eu observo que os seus componentes mostram fidedignidade ao estilo e assim o grupo avança no sentido artístico, ao ofertar um trabalho de ótimo nível como os anteriores, a demonstrar a sua criatividade sempre em alta.

A atual formação do Prognoise, que gravou o CD Lacrimal. Foto: Douglas Mosh

Nesses termos, a instrumentação é desenvolvida com aquele brilhantismo que dignifica a tradição dessa nobre vertente da história do Rock, mediante a condição técnica avantajada de todos os componentes, mas sobretudo pela alta dose de criatividade que a banda expressa e também pelo cabedal de influências que são nítidas na formação de cada um e que na somatória, faz do Prognoise uma banda sólida na sua sonoridade.

Sobre o projeto gráfico da capa, o mote proposto pelo título norteou a ilustração central, mediante um close do globo ocular e adjacências do rosto humano, a expelir a lágrima aludida. Em uma primeira instância, a impressão que eu tive foi a da emoção que gera a lágrima como uma expressão material desse sentimento.

Sobre o trabalho de letras, a banda usa o inglês e o português para se expressar e o faz sem conflito algum nesse sentido de ser bilíngue para se comunicar com o público. E o teor poético trata de questões existenciais na maior parte do trabalho, com a força da poesia bem construída.

Sobre os temas arrolados ao longo do disco, farei algumas observações adicionais.

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=GhcGImOYHMA

A primeira faixa, “Nefrectomia”, é um tema instrumental relativamente curto, com o claro objetivo de servir como uma introdução geral, ao estilo de uma “overture”, um recurso tradicional no âmbito da música erudita, porém, neste caso a formatação não é sinfônica ou operística, mas sim a apontar para o experimentalismo que talvez remeta ao "Krautrock" setentista, a escola germânica dentro do espectro do Rock Progressivo, que sempre foi muito pautada pelo experimentalismo musical, como um mote geral dessa vertente.

Neste caso, o Prognoise apresenta um tema soturno, com densidade e no uso exclusivo de sintetizadores. Há efeitos sombrios a reboque que tornam o tema bastante interessante a capturar a atenção do ouvinte. E registre-se, “nefrectomia” na literatura médica, significa a cirurgia de extração de um rim do corpo humano, portanto, quando ciente desse significado o ouvinte pode ter uma outra percepção que lhe desperte uma sensação mais complexa ainda ao se deparar com o tema.

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=K1Ze7bHMUrk

A segunda faixa é homônima ao título do álbum. Pois então, “Lacrimal” tem uma longa e bela introdução a lembrar demais a linha de atuação do King Crimson em seus melhores momentos na década de setenta. Neste caso, trata-se de um “looping” harmônico executado mediante uma ousada divisão rítmica. 

O baixista Alessandro Amorim em destaque na foto acima, com os demais companheiro na linha de trás no enquadramento. Foto: Douglas Mosh

A música avança com o brilhantismo de um baixo bastante agressivo e que ao fazer uso de um timbre muito bom, não apenas conduz o pulso da banda, mas se destaca demais.

As intervenções de teclados são excelentes, ao variar timbres a cada momento, mas a fazer prevalecer o clássico timbre do mellotron, ou seja, nada mais setentista e empolgante para quem aprecia o Rock Progressivo clássico.

O baterista Ícaro Dickow em destaque na foto acima, com os demais companheiro na linha de trás no enquadramento. Foto: Douglas Mosh

A bateria pontua de uma forma extraordinária as suas frases de viradas e eu gostei muito da intervenção dos pratos, a pontuar com contundência nos momentos certos nos quais a dinâmica mais acentuada se fez necessária. E as partes de guitarra são excelentes, inclusive o solo em destaque, com o uso de notas longas em alguns trechos a extrair o máximo da saturação do amplificador e consequentemente, a se revelar um timbre muito bonito.

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=HbS2oP4bjRQ

Já na terceira faixa, denominada “Noite”, a introdução é feita de uma maneira bastante empolgante pelo órgão Hammond, outro teclado típico do estilo e certamente que gera uma expectativa boa.

No seu início, a banda investe em uma linha de divisão fragmentada muito interessante, que é interrompida parcialmente por um pouco mais de peso, a lembrar a influência do Hard-Rock.

O guitarrista Gilberto Lobo, em destaque com os demais companheiros na linha de trás no enquadramento. Foto: Douglas Mosh

Eis que se chega à parte cantada com uma sutil influência Bluesy na linha melódica e tal impressão de minha parte se reforça com certos acentos típicos do Blues-Rock do baixo e guitarra para dar suporte.

Já em outro trecho, ocorre um interlúdio muito interessante que propõe a mudança radical e os sons de sintetizador dominam tal parte que abre caminho para uma parte de solos com sentido jazzístico imposto pelo piano na parte da harmonia, que são muito bonitos e a consequente sofisticação é garantida para que os solos ocorram mediante uma outra atmosfera.

Mais uma mudança de percurso ocorre e tal desdobramento abre espaço para uma incidência muito saborosa da caixa Leslie para alimentar o som dos teclados e a possibilitar um solo de guitarra muito melódico.

O tema volta para a parte cantada, com mais peso, sem no entanto, prescindir dos voos propostos pelos teclados, muito interessantes a pontuar com contrasolos e para fechar, acontece uma convenção bem engendrada para finalizar muito bem o tema. 

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=u82M8h7iv38

Sheddind Tear” é a próxima faixa e começa muito bem, com um solo de guitarra extremamente melódico, muito bem amparado pela banda a desenvolver uma linha de condução bastante linear, a executar a bela harmonia com doçura.

Cantada em inglês, a letra trata do aspecto emocional da lágrima, como uma forma de expressão de situações boas ou ruins, portanto, a lágrima em si é imparcial, no entanto, sempre nos ajuda a expressar a nossa condição humana.

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=_w3zq2ZeNGE

Enigmatic Eye/Part one” tem um belo trabalho de cordas acústicas e teclados em seu início. Em determinada parte mais avançada, eis que uma flauta surge para trazer ainda mais delicadeza ao tema.

E certamente com tal recurso se promove um momento de respiro e um convite à reflexão, como se houvéssemos ingressado em uma clareira de um bosque. 

Ao ir além, há uma sobreposição de flautas a se revelar muito bonita e ao final a impressão silvestre de minha parte se confirma, ao ouvirmos como efeito o som dos pássaros.

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=chT9D0fMN9c

Vem a seguir “Enigmatic Eye/Part Two”, porém, com uma proposta diametralmente oposta em sua sonoridade ao imprimir peso e intensidade na ousada divisão rítmica, para aludir novamente ao som do King Crimson, ao menos na minha percepção pessoal. Ajuda nessa percepção a introdução do violino a estabelecer uma linha melódica bastante intrigante.

Gostei muito da pontuação cumprida pelas ótimas frases da bateria. O peso das guitarras também é denso para gerar essa atmosfera.  

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=eNa4GBJM0cM

No caso de "When", tal balada se inicia com uma linha de baixo fretless com bastante efeito, mas logo entra uma base de guitarra com bastante incidência da caixa Leslie e apoio de teclados.

O guitarrista Zeno Germano em destaque, com os demais companheiros na linha de trás no enquadramento. Foto: Douglas Mosh

Trata-se de uma balada super melódica, muito bem cantada e tocada. A introdução de um solo de violino também garante o efeito singelo, muito bonito. 

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=TgWQ8DopKxI

De Caelo” é um tema mais acelerado, com ótima linha inicial de baixo e solo de guitarra muito bom, tudo amparado por uma bateria ao estilo tribal muito precisa e teclados bem pontuais nos efeitos.

Eis que tudo muda abruptamente com uma nova parte bem inspirada no Hard-Rock setentista pelo Riff imposto e belo apoio de teclados.

O solo de guitarra é ótimo, novamente a se destacar o bom gosto nas partes em que se buscou o uso das notas mais longas e assim a imprimir dramaticidade melódica, muito saliente.

Os solos de teclados são excelentes. Timbres de sintetizadores setentistas adoráveis, como o Mini Moog, muito bem escolhidos, certamente.

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=lRDOdKzxbpY

A última faixa do álbum é “Túmulo”. Ela começa com bastante contundência sonora, ainda que sob um andamento lento, a denotar ser uma balada em essência.

Entra a posteriori a parte cantada e a banda mantém o padrão, com um sentido “Floydiano” indiscutível e ainda mais quando a guitarra intervém para estabelecer uma linha melódica de solo muito bonita. 

A atual formação do Prognoise, que gravou o CD Lacrimal. Foto: Douglas Mosh

Eis que após um interlúdio, uma parte mais tensa sobrevém, com ótima construção da sua divisão rítmica.

Sobre a letra, não chega ao extremo de ser o caso de compará-la à obra do poeta Augusto dos Anjos, mas a sua abordagem temática é bastante ousada nesse sentido ao descrever a reflexão metafórica de um Ser Humano que se vê em seu túmulo, portanto impotente para dizer o que pensa e sente aos demais, vivos. Eis a transcrição literal dessa poesia:

“Ei!/Tá frio aqui Já não sinto mais meus dedos/Também Está escuro aqui/Não consigo me mexer/Quero gritar/Não consigo/Minha língua não se move/Nem sei se adianta/Quem iria me ouvir?/E o que eu ouço é o barulho/Da terra que jogam aqui/Parece que afundo/Em um buraco sem fim/E agora no final/Acho que já entendi/E que coisa mais estranha/É meu túmulo... eu morri”.

Para encerrar, eu apenas acrescento que o Prognoise mais uma vez nos ofereceu um trabalho de muita qualidade sonora, inspirado, bem produzido e que muito dignifica o Rock Progressivo Brasileiro certamente e confirma mais uma vez a presença da banda na história do gênero. E que venham muitos outros trabalhos desse mesmo quilate da parte desse valoroso grupo brasileiro.

A atual formação do Prognoise, que gravou o CD Lacrimal. Foto: Douglas Mosh

Gravado no estúdio Play de Porto Velho-RO, em 2021.

Técnico de gravação, mixagem e masterização: Jeff Almeida

Capa: criação e lay-out por Bárbara Ugalde

Animação (promos de internet): Gilberto Lobo e Alessandro Amorim

Fotos: Douglas Mosh

Produção: Prognoise, Hugo Borges e Jeff Almeida

Direção Musical: Jeff Almeida

A atual formação do Prognoise, que gravou o CD Lacrimal. Foto: Douglas Mosh

Formação do Prognoise neste disco:

Alessandro Amorim: Baixo, Baixo Fretless, Violão

Gilberto Lobo: Guitarra e Teclados

Ícaro Dickow: Bateria

Zeno Germano: Vocal, Guitarra, Violão

Músicos convidados:

Adriano Ribeiro: teclados

Eduardo Barros: Violino

Marcus Moura: Flauta

Mingo Manito: Guitarra

Ramon Alves: Teclados e efeitos

Ronaldo Rodrigues: Teclados

Jeff Almeida: Teclados, efeitos e pandeiro

Mauro Araújo: Teclados

Hugo Borges: Backing Vocal

Para conhecer melhor o trabalho do Prognoise, acesse:

YouTube:

https://www.youtube.com/channel/UCmhQe17CTXnFclPDJ7-CTFQ

Facebook:

https://www.facebook.com/prognoisebanda

Contato direto com a banda:

prognoisepvhoficial@gmail.com

Spotify:

https://open.spotify.com/artist/4IiwYcVscrZT4vaMul4BdO

Deezer:

https://www.instagram.com/prognoise/