Eu já tive o prazer de ouvir e resenhar alguns trabalhos do Ronaldo Estevam, um artista prolífico, inquieto, criativo e completo, na acepção da palavra, haja vista ser um compositor inspirado, excelente cantor e multi-instrumentista, além de bom letrista.
Além do mais ele traz consigo toda a experiência no ramo da arte dramática por ser ator e diretor profissional de teatro & cinema e produtor de audiovisuais. Como se não bastasse essa multiplicidade toda, ele também é professor de música, e gerencia uma escola nesse sentido, é produtor musical e fonográfico a gerir a sua própria gravadora e cria, faz o lay-out das capas dos discos que lança e ainda teve tempo para mergulhar na literatura mediante um livro que escreveu e publicou, sendo este, também devidamente resenhado em meu Blog.
Além disso, eu já resenhei uma obra oriunda de uma das bandas pelas quais ele é componente em paralelo, portanto, impressiona-me a enorme energia e sobretudo o talento que ele demonstra para trabalhar tanto e com essa qualidade assegurada em tudo o que produz.
Este é mais um disco solo da sua discografia bem grande e sempre em expansão, denominado: “Voo Livre”. Trata-se de um conjunto de quinze canções, todas da autoria de Ronaldo Estevam e apenas uma delas a conter a pareceria do compositor, Dudé.
No cômputo geral, o estilo do Pop-Rock predomina, porém, diversas outras nuances são apresentadas, seja no campo generalizado do Rock, como em outras vertentes, como por exemplo a Black Music de uma forma bem ampla e a MPB, igualmente, sob o leque aberto das possibilidades que o artista alcança com tal proposta.
Sobre o aparato gráfico, Ronaldo manteve o seu padrão de apresentar os seus trabalhos com bom gosto e mesmo que quase sempre utilize o recurso da fotografia de sua imagem como proposta visual da capa frontal, ao contrário de outros artistas que não inovam muito além da troca de figurino e postura ao posar, ele não se acomoda nesse aspecto, e dessa forma, sempre busca elementos diferentes.
Neste caso, Ronaldo optou por usar o seu rosto e parte do próprio tórax como uma tela viva a conter sinais de pintura em seu corpo e mediante o uso de um fundo difuso, passa a imagem de uma pintura viva em um cavalete. Além de deixar implícita a ideia de liberdade, pois de certa forma tais traços de pintura lembram as cores vivas naturais da penugem de pássaros tropicais multicoloridos.
Na parte interna do encarte, há a presença de várias fotos promocionais do artista, desta feita com postura clássica a segurar em mãos uma guitarra, e com a presença de algumas informações bem sucintas da ficha técnica do disco. E na outra lâmina, há uma foto casual do artista a caminhar pelo espaço público e que traz a sensação do cotidiano, com certeza.
Para encerrar o encarte, a foto do artista de costas a usar chapéu do estilo “côco” e com a providência adotada a respeito dos óculos alojados na nuca, certamente remeteu à René Magritte e a homenagear, por conseguinte, a escola surrealista. Na contra-capa, há a presença dos títulos das canções, sob uma foto do artista com guitarra na mão, extraída da mesma sessão fotográfica, é evidente, e a manter uma sobriedade muito boa.
A falar sobre as músicas que estão contidas neste disco, agora acrescento:
Assista o clip da música: Come Back to Me":
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Nduv6GrINNI
“Come Back to Me” é uma balada clássica no sentido de se mostrar bem emocional. Na sua constituição musical, lembrou-me bastante o Pop-Rock setentista no sentido de mesclar bastante delicadeza harmônica com algum momento do arranjo a imprimir mais densidade, no entanto, sem perder a ternura jamais, bem no estilo de bandas como “Bread”, “The Marmalade” e “Badfinger” que tão bem atuaram no início daquela década no cenário internacional.
Escute a música: “A Coma”:
Eis o link para ouvir a música:
https://www.youtube.com/watch?v=CXA1abCLPuE
“A Coma” tem um embalo bom, a lembrar bastante a produção Pop-Rock oitentista. Neste caso, esta faixa em em específico, se trata de uma gravação do grupo “Modelo T”, uma das bandas nas quais o Ronaldo atuou ou ainda atua e aqui inserida naturalmente por ele ter sentido que a canção cabia no conceito geral do álbum.
Ouça a música “Carrossel de Ilusões”:
Eis o link para assistir no YouTube:
“Carrossel de Ilusões” é um Rock que se apresenta com bastante vigor e a explorar bem os espaços de pausas da sua base para a construção da linha melódica. Eis que a sua parte “B” investe em uma roupagem com bastante apoio de sintetizador deveras interessante a lembrar a vertente “New Romantic” do espectro oitentista, oriundo do movimento Pós-Punk e certamente a la “Duran Duran” e também a resvalar no estilo Pop radiofônico do britânico-brasuca, Ritchie.
Ouça a música: “Faça Amor, Não Faça Guerra”:
Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=5z66w1YiVms
“Faça Amor, Não Faça Guerra” é empolgante pelo seu ritmo. O trabalho de guitarra junto ao timbre clássico de órgão Hammond no apoio, garante um apelo Hard-Rock à canção.
Escute a música: You Don’t Know”:
Eis o link para ouvir no YouTube:
“You Don’t Know” tem uma atuação muito boa do Ronaldo ao violão e guitarra como destaque, inclusive pela guitarra base com timbre que lembrou demais o estilo clássico da Country Music bem tradicional e ainda mais a se pensar em trilhas de filmes no estilo “Spaghetti Western” de Sergio Leone e seus contemporâneos. Canção intensa na sua formulação geral, é outra, assim como “Come Back to Me”, em que o autor optou pelo uso do idioma inglês para se expressar.
Escute a música “Lorde Místico”:
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ELbsFAXvaGM
“Lorde Místico” tem em seu início uma sonoridade bem pesada, a se mostrar como um Hard-Rock, quase no limite do Heavy-Metal. Mas a se mostrar híbrida, tem uma parte mais amena em torno do Pop-Rock e outra, a se caracterizar como uma parte “C”, na qual se apresenta como um Reggae, ou seja, o ecletismo é total dessa obra.
Escute a música: “A Melodia, o Vento e o Tempo”:
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Nuk_tBDltXw
“A Melodia, o Vento e o Tempo” é a sétima faixa e se mostra na forma de uma balada com ar de “madrigal”, pois, tem no teclado que simula um “cravo” essa marca registrada. Advém uma parte que tem bastante influência do Rock Progressivo, mediante o bom apoio do órgão Hammond a lembrar de certa forma o som do grupo britânico, Procol Harum.Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=lhLDZxR8b-g&list=O
“Não é por aí” também busca no Pop-Rock a sua fonte de inspiração. Gostei do solo de guitarra bem curto, mas a dar o recado certeiro, inclusive a explorar o acorde diminuto sutil na formulação harmônica, muito bem.
Ouça a música: “As Horas”:
Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=XSRFf4WMvNA
“As Horas” é mais uma balada, desta feita com sabor R’n’B, ou seja, a conter um balanço implícito, mesmo em meio a uma linha melódica suave.
Escute a música: “Inquisidor”
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=SOCgUySWMZg
“Inquisidor” tem um apoio de flauta muito bom, a colorir bem a sua boa melodia. Tem muito a ver com a MPB a revelar um pé no Folk-Rock setentista e assim, é agradabilíssima. Curiosamente, a doçura da canção tem um contraste e tanto quando o autor trata através da letra de um assunto mais pesado, ou seja, teria sido fácil elaborar metáforas sobre a vida silvestre e afins, mas ele investiu nas relações humanas conflituosas para narrar a história, portanto, eu achei criativa a sua escolha.
Escute a música: “A Angústia”
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=VZmxoJEJmhY
“A Angústia” tem uma saborosa vestimenta Soul Music, e com ótima instrumentação e vocalização, Ronaldo avança a falar sobre os dissabores da vida amorosa, algo passível de acontecer com qualquer pessoa. São muito boas as atuações de guitarra e teclados.
Escute a música “Sonho nº 2”:
Eis o link para ouvir no YouTube:
“O Sonho nº 2” tem um belo trabalho de cordas, mediante linha melódica a apontar fortemente para a MPB mais introspectiva. Um determinado trecho em compasso 2/4 com variação para o 6/8, que traz uma sofisticação para a canção, além do baixo a traçar uma linha ao estilo sonoro sem trastes de um baixo acústico.
Escute a música “Oásis”:
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Q-TePvki4Zw
“Oásis” é uma balada muito boa, com uma temática bastante interessante a abordar o dilema das pessoas presas a um sistema tão opressivo e nesse sentido, a busca pelo “oásis” se torna um privilégio para aquelas que conseguem enxergá-lo, enfim.
Escute a música: ”Vivendo em São Paulo”
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=6hHIxYUuJB0
“Vivendo em São Paulo” é praticamente uma continuação da anterior, “Oásis”, no sentido de que a temática sobre o embrutecimento do Ser Humano na selva de pedra e sobretudo absorto na loucura que é a luta pela sobrevivência, se mostra contundente enquanto uma denúncia do artista. O tema começa ameno, mas no seu avançar, se transforma em um Rock bastante incisivo.
Escute a música: “O Druída”:
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=VMdJJm7L6qk
“O Druida” fecha o álbum. Com início em ritmo de “staccato”, a melodia é bem desenhada em torno dessa base. Teclados etéreos e boas intervenções de violões entram a seguir no arranjo de uma forma criativa. Pela formatação geral desse arranjo, lembra os trabalhos de David Bowie na década de oitenta.Para encerrar, digo que este CD mantém a tradição de Ronaldo Estevam em torno do seu padrão de qualidade artística no tocante à criação, e também no padrão de produção da obra, portanto, vale a pena ser bem escutado. E mais um dado que enaltece o artista: com exceção da flauta executada por um músico convidado, todos os instrumentos, vozes e produção de áudio desse disco, além da arte gráfica e produção fonográfica, são feitos do Ronaldo Estevam, ou seja, isso é que é ser independente, mesmo!
Ouça o CD “Voo Livre” de Ronaldo Estevam na íntegra, no YouTube Music mediante tal link:
https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kHCtwM92qwtLBOjpoj11e7XZZne-v-Ykk
Gravado no Studio Lambreta Records de São Paulo entre novembro de 2018 e abril de 2019.
Gravação da música "A Coma" com o grupo "Modelo T", em 2000 no estúdio Mosh de São Paulo
Produção de áudio, arte gráfica e lay-out: Ronaldo Estevam
Fotos e maquiagem: Bruna Rodrigues
Ronaldo Estevam: Vozes, violões, guitarras, teclados, baixo e bateria
Músico convidado:
Guica Carmo: Flauta em "Inquisidor"
Produção fonográfica e executiva: Ronaldo Estevam
Para conhecer melhor o trabalho de Ronaldo Estevam, acesse:
Resenha sobre o livro “Manual do Candidato a Pop Star” de Ronaldo Estevam no Blog Luiz Domingues 1:
http://luiz-domingues.blogspot.com/2014/02/manual-do-candidato-pop-star-de-ronaldo.html
Resenha sobre o CD “Preso por Querer” de Ronaldo Estevam no Blog Luiz Domingues 1
http://luiz-domingues.blogspot.com/2021/05/cd-preso-por-quererronaldo-estevam-por.html
Resenha sobre o CD “Ainda Correndo Atrás” do grupo de Rock, “Picles”:
http://luiz-domingues.blogspot.com/2021/08/cd-ainda-estou-correndo-atraspicles-por.html
Site oficial de Ronaldo Estevam:
https://www.ronaldoestevam.com.br
Gravadora Lambreta Records - YouTube:
https://www.youtube.com/channel/UCRzQ7D4P6isphjdauTT9xPg
Escola Violão & Cia. Sob direção de Ronaldo Estevam:
https://ronaldoestevam8.wixsite.com/violao-e-cia