Tenho como
princípio pessoal, viver intensamente o presente e encarar o passado como um
grande arquivo de experiências acumuladas, cujo teor eu posso usar como material de
pesquisa, sempre que julgar necessário, ante qualquer situação em que uma
experiência pregressa, boa ou má, poderá servir-me de alerta para não repetir
equívocos ou a indicar um caminho diferente, doravante.
E o futuro simplesmente não existe na minha maneira de enxergar a vida e para os que argumentam que não preocupo-me com o porvir, portanto seria um irresponsável, a minha contra-argumentação é a de que empreender o melhor no presente é a única solução plausível para construir um “futuro” melhor, portanto, é uma ação baseada na prudência, sem dúvida alguma.
Já no cômputo final desse raciocínio, o futuro, é apenas uma projeção, uma expectativa idealizada, mentalizada e a vida transcorre em sua realidade apenas na ação viva do presente. Porém, sobre o passado, existem reflexões a serem consideradas.
E o futuro simplesmente não existe na minha maneira de enxergar a vida e para os que argumentam que não preocupo-me com o porvir, portanto seria um irresponsável, a minha contra-argumentação é a de que empreender o melhor no presente é a única solução plausível para construir um “futuro” melhor, portanto, é uma ação baseada na prudência, sem dúvida alguma.
Já no cômputo final desse raciocínio, o futuro, é apenas uma projeção, uma expectativa idealizada, mentalizada e a vida transcorre em sua realidade apenas na ação viva do presente. Porém, sobre o passado, existem reflexões a serem consideradas.
Em primeiro lugar, ao enxergar pelo
lado mais psíquico e/ou místico da vida, existe a questão do apego às
lembranças e claro que tal sentimento de nostalgia em demasia poderá vir a ser
uma bola de neve auto-gerada que tende a rolar montanha abaixo, ao ganhar
impulso, avolumar-se e quando percebemos, a avalanche já consumiu-nos e
existem os casos em que nem notamos que já estamos soterrados.
Certamente, neste aspecto, já trata-se de um caso patológico e passível de apoio da parte de profissionais da psicologia & psiquiatria ou mesmo os terapeutas holísticos versados em inúmeras técnicas alternativas e sob múltiplas visões. Portanto, deixo claro que é evidente que não concordo e compactuo com a ideia do apego doentio ao passado, sob a pena de não apenas adoecer-se psiquicamente, mas também pelo aspecto da sufocante estagnação em que qualquer pessoa que embarque nesse tipo de conduta, coloca-se em sua existência, e logicamente com repercussão imediata em seu entorno familiar; social, profissional etc.
Certamente, neste aspecto, já trata-se de um caso patológico e passível de apoio da parte de profissionais da psicologia & psiquiatria ou mesmo os terapeutas holísticos versados em inúmeras técnicas alternativas e sob múltiplas visões. Portanto, deixo claro que é evidente que não concordo e compactuo com a ideia do apego doentio ao passado, sob a pena de não apenas adoecer-se psiquicamente, mas também pelo aspecto da sufocante estagnação em que qualquer pessoa que embarque nesse tipo de conduta, coloca-se em sua existência, e logicamente com repercussão imediata em seu entorno familiar; social, profissional etc.
Posto isso,
o segundo aspecto alude ao contraponto da ideia exposta anteriormente, ou seja,
o conceito do niilismo, que espalhou-se pela sociedade desde meados do século
XIX, e que só ajudou a estigmatizar uma tendência para muitas pessoas (quiçá a
maioria, ao dar-lhe uma suposta substância intelectual e acadêmica), ao demolir o
passado, como se todo o progresso da civilização humana vivesse em torno de ciclos de
destruição e reconstrução. O conceito de que uma estética tem que ser
aniquilada para que nasça outra mais moderna, passa pelo sentimento do repúdio,
portanto cria-se o sentimento de desprezo e isso sempre incomodou-me muito.
Desde
criança, sempre nutri admiração pela história e ao contrário do pensamento
generalizado, achava extraordinária a ideia da formação da civilização sob
todos os aspectos, não só a pensar em questões culturais e subjetividades
intelectuais, mas também no cotidiano, em termos de avanços tecnológicos a visar
o progresso da humanidade, mesmo que visto pelo prisma mais prosaico e ingênuo de quem sempre espera a boa vontade nesse sentido, isto é, a minha perspectiva infantil em não levar em consideração os interesses escusos.
Eu era ainda muito pequeno e já detestava a brincadeira recorrente das crianças em ironizar aspectos culturais até bem próximos de sua própria realidade, como por exemplo, as lembranças pessoais dos pais e avós. A expressão: “isso é do tempo de sua avó”, para diminuir qualquer coisa que remetesse ao passado, incomodava-me sobremaneira, pois eu não conseguia entender o por quê da observação desdenhosa. Qual o problema em ser alguma coisa do passado, em desuso, ou até obsoleta ? Qual o demérito em ter ficado para trás?
Eu era ainda muito pequeno e já detestava a brincadeira recorrente das crianças em ironizar aspectos culturais até bem próximos de sua própria realidade, como por exemplo, as lembranças pessoais dos pais e avós. A expressão: “isso é do tempo de sua avó”, para diminuir qualquer coisa que remetesse ao passado, incomodava-me sobremaneira, pois eu não conseguia entender o por quê da observação desdenhosa. Qual o problema em ser alguma coisa do passado, em desuso, ou até obsoleta ? Qual o demérito em ter ficado para trás?
Senão,
vejamos: o adolescente inebriado pela última novidade tecnológica de seu “Smartphone”,
tende a pensar dessa forma desrespeitosa em relação ao passado, certamente. Mas
é incrível como não estabeleça a conexão correta, que seria a de deduzir que se
tem em mãos essa tecnologia moderna, isso não materializou-se do “nada” como
pensam os niilistas (“Nihil” é o termo latim para “nada”, origem do conceito,
ou seja, uma cultura que nasce da terra arrasada pela destruição do modus
operandi do sistema anterior), mas que pelo contrário, é fruto de séculos de avanços científicos lentos; labuta, sacrifícios, muita “pestana”
queimada e muitas vezes tais esforços a ser altamente periculosos, pois a ignorância
generalizada sempre perseguiu cientistas, artistas & pensadores, ou seja,
quem pensa e esforça-se para produzir luz em meio às trevas.
Então, como
posso ironizar quem viveu antes, ao ridicularizar o seu modo de vida com menos
tecnologia da qual disponho nos dias atuais; as suas convicções culturais, usos
& costumes e tudo mais que for inerente, se o usufruto de tudo que serve-me agora, é obra da
eterna construção do “presente” de cada um desses humanos que viveram antes de
nós?
Sei que soa piegas, mas eu não desprezo tal predisposição e pelo contrário, reverencio o troglodita anônimo que pensou, pensou e construiu um objeto de circunferência redonda que ao girar sobre si mesmo, possibilitou impulsionar qualquer outro volume, incluso pessoas e objetos pesados, dentro de uma armação acoplada.
Portanto, ao criar a “roda”, o avanço que proporcionou-nos foi incomensurável, na mesma medida que outro anônimo e igualmente genial “homem das cavernas”, percebeu que era possível gerar fogo através do atrito de gravetos e dessa maneira, não depender apenas de um fortuito raio cair do céu e fulminar uma árvore.
Sei que soa piegas, mas eu não desprezo tal predisposição e pelo contrário, reverencio o troglodita anônimo que pensou, pensou e construiu um objeto de circunferência redonda que ao girar sobre si mesmo, possibilitou impulsionar qualquer outro volume, incluso pessoas e objetos pesados, dentro de uma armação acoplada.
Portanto, ao criar a “roda”, o avanço que proporcionou-nos foi incomensurável, na mesma medida que outro anônimo e igualmente genial “homem das cavernas”, percebeu que era possível gerar fogo através do atrito de gravetos e dessa maneira, não depender apenas de um fortuito raio cair do céu e fulminar uma árvore.
Assistir, "Laura", clássico "Noir" dos anos quarenta do século XX, obra do grande diretor, Otto Preminger, em Preto & Branco é muito melhor, sem dúvida
Ao falar sobre questões mais próximas de nós, não faz muito tempo, refiro-me à década de
oitenta, produtores de cinema & TV resolveram “modernizar” a produção de
filmes lançados em preto e branco, a tratar-se de um acervo enorme de clássicos dos anos, 1910
a 1950, principalmente, sob a alegação de que a juventude de então, rejeitava a
filmografia antiga, por conta da ausência de cores, visto ser uma geração que
nascera acostumada a ver filmes coloridos no cinema e sobretudo na TV.
Uma safra de obras clássicas passou por um processo infame de “colorização por computadores”, como se propagou à época, ao tornar as imagens padronizadas com uma horrível coloração pastel, opaca, e assim destruir completamente as opções de época, pensadas em contraste e brilho; uso de sombras para realçar a dramaturgia e signos inerentes próprios dessas obras etc.
Ora, não seria mais lógico ensinar as crianças e adolescentes a entender que em 1940, um filme da escola, “Noir”, era perfeito nessas condições tecnológicas de sua época e não havia nada de “errado” nisso e pelo contrário, isso fora um recurso moderno para aquele momento (sem contar o caráter proposital sob o ponto de vista artístico, como já observei), e se tornou-se obsoleto, pelo aspecto tecnológico no decorrer dos tempos, é por que faz parte da absoluta normalidade do avançar humano dentro da história?
Uma safra de obras clássicas passou por um processo infame de “colorização por computadores”, como se propagou à época, ao tornar as imagens padronizadas com uma horrível coloração pastel, opaca, e assim destruir completamente as opções de época, pensadas em contraste e brilho; uso de sombras para realçar a dramaturgia e signos inerentes próprios dessas obras etc.
Ora, não seria mais lógico ensinar as crianças e adolescentes a entender que em 1940, um filme da escola, “Noir”, era perfeito nessas condições tecnológicas de sua época e não havia nada de “errado” nisso e pelo contrário, isso fora um recurso moderno para aquele momento (sem contar o caráter proposital sob o ponto de vista artístico, como já observei), e se tornou-se obsoleto, pelo aspecto tecnológico no decorrer dos tempos, é por que faz parte da absoluta normalidade do avançar humano dentro da história?
Qual o demérito
dos Beatles em terem gravado muitas de suas músicas sob tecnologia hoje
considerada obsoleta, com parcos dois canais de captura sonora em estúdio e quando passaram a gravar em quatro, foi
um avanço de deixar à todos boquiabertos? Pois foi o máximo de tecnologia de áudio
de que dispunham na época e claro que a excelência da obra artística suplanta qualquer
consideração em contrário.
Robert Johnson, um ícone do Blues, registrou a sua obra monumental em condições ainda mais precárias em 1936-1937, e isso diminuiu a sua relevância artística?
Homero escreveu a Odisséia em papiros, a usar tintas primitivas; Shakespeare com bico de pena de uma ave, Dostoiévksi com uma pesada e precária lamparina a iluminar o seu gabinete escuro etc.
E assim, se formos a analisar ponto a ponto, são milhares, muito provavelmente milhões de itens a serem considerados sob quaisquer aspectos do desenvolvimento humano em que citarmos, em que tudo, absolutamente tudo, do pensamento filosófico mais sofisticado ao objeto mais simples de cozinha que você pagou R$ 1,99 na loja de bugigangas da esquina, que não seja fruto da longa jornada construída lentamente pela humanidade desde tempos imemoriais, portanto, o grande manancial de experiências construídas sob uma perspectiva de vivência “presente”, que sempre passa rápido e aloja-se em um “passado” que é acumulativo enquanto arquivo permanente.
Dessa forma, nutrir desprezo por esse manancial, parece-me algo descabido. Em países desenvolvidos e com respeito à sua própria história, esse tipo de sentimento é muito reduzido, mas em um país como o Brasil, que pauta-se pelo paradigma do imediatismo, isso amplifica-se e ouso dizer, por esse motivo, o Brasil tem a falsa esperança de que vai ser “o país do futuro”, quando na verdade, se o futuro não existe na prática, e o presente é vivido em torno dessa ideia de postergação, aliado ao profundo desprezo ao passado, é bem óbvio que esse “futuro brilhante” não chegue nunca.
Em suma, isso explica muita coisa, certamente.
Robert Johnson, um ícone do Blues, registrou a sua obra monumental em condições ainda mais precárias em 1936-1937, e isso diminuiu a sua relevância artística?
Homero escreveu a Odisséia em papiros, a usar tintas primitivas; Shakespeare com bico de pena de uma ave, Dostoiévksi com uma pesada e precária lamparina a iluminar o seu gabinete escuro etc.
E assim, se formos a analisar ponto a ponto, são milhares, muito provavelmente milhões de itens a serem considerados sob quaisquer aspectos do desenvolvimento humano em que citarmos, em que tudo, absolutamente tudo, do pensamento filosófico mais sofisticado ao objeto mais simples de cozinha que você pagou R$ 1,99 na loja de bugigangas da esquina, que não seja fruto da longa jornada construída lentamente pela humanidade desde tempos imemoriais, portanto, o grande manancial de experiências construídas sob uma perspectiva de vivência “presente”, que sempre passa rápido e aloja-se em um “passado” que é acumulativo enquanto arquivo permanente.
Dessa forma, nutrir desprezo por esse manancial, parece-me algo descabido. Em países desenvolvidos e com respeito à sua própria história, esse tipo de sentimento é muito reduzido, mas em um país como o Brasil, que pauta-se pelo paradigma do imediatismo, isso amplifica-se e ouso dizer, por esse motivo, o Brasil tem a falsa esperança de que vai ser “o país do futuro”, quando na verdade, se o futuro não existe na prática, e o presente é vivido em torno dessa ideia de postergação, aliado ao profundo desprezo ao passado, é bem óbvio que esse “futuro brilhante” não chegue nunca.
Em suma, isso explica muita coisa, certamente.