sexta-feira, 29 de abril de 2016

Klaatu : Mais uma Lenda Urbana Beatle - Por Luiz Domingues



Como se não bastasse toda a especulação que perpetrou-se, ainda nos anos sessenta, com o boato sobre a suposta morte de Paul McCartney, em 1966, e a sua substituição por um sósia chamado, supostamente, “Billy Shears”, outros boatos absurdos envolveram os Beatles, a espalhar-se entre fãs e jornalistas. Um dos mais curiosos, ocorreu nos anos setenta, quando uma misteriosa banda lançou-se no mercado, envolta sob brumas espessas, pelo fato de não apresentar através das fichas técnicas de seus discos, nenhuma foto, tampouco o nome de seus componentes, uma prática no mínimo curiosa como estratégia de divulgação, mas sobretudo por apresentar em sua sonoridade, inúmeros elementos típicos da “estética Beatle”, e assim dar margem à suspeitas. 
Tratou-se do “Klaatu”, uma banda formada em 1973, mas que só começou a ficar famosa em maior escala em 1976, ao despertar a suspeita de que seriam os ex-membros dos Beatles a gravar novamente juntos, mas sob o mistério de uma identidade secreta. Assim que as canções do Klaatu, com tal sonoridade começaram a tornar-se públicas, foi inevitável não associar tal mistério desse anonimato dos componentes da banda à incrível semelhança estilística das suas composições, reforçado pelos arranjos observados nas músicas, a evocar diversas marcas registradas do quarteto de Liverpool, e de certa forma, também a acrescentar uma similaridade de áudio, com os timbres dos instrumentos, e até nas vozes dos vocalistas da banda.
Claro, rapidamente a lenda urbana formou-se, e uma série de supostas “evidências” arroladas por fãs; jornalistas e músicos mais observadores e detalhistas, pôs-se a formatar um caldeirão borbulhante a alimentar os boatos. De fato, ao escutar-se os discos do Klaatu, a similaridade com a obra dos Beatles, é bem grande. 
O caráter Pop das canções é evidente sob uma primeira audição, mas a análise vai além. Parece que tais artistas esmeraram-se não apenas em buscar inspiração na fase inicial da carreira dos Beatles, com o chamado. “Bubblegum”, típico do início / meio da década de sessenta, mas também a investir em outras escolas estilísticas que os Beatles utilizaram para construir fases mais avançadas de sua carreira e neste caso, o Klaatu seguiu a mesma orientação artística.


O elemento psicodélico também faz-se presente, além da sonoridade mais agressiva do "Acid Rock", e também a conter pitadas generosas da Black Music americana; a insinuação Prog-Rock, bem de seu início (falo sobre 1969 / 1970), além de um nítido avançar pelo Pop setentista, algo praticado pelos quatro Beatles, individualmente, em seus álbuns a constar de suas respectivas carreiras solo, igualmente.


Sobre a lenda misteriosa, se não foram os ex-componentes dos Beatles a brincar de gravar como uma banda secreta, no mínimo, seria uma banda cover ou banda tributo, especializados em reproduzir com perfeição o som do "Fab Four", e dessas bem detalhistas, com muitos requintes sonoros, perfeitamente coadunados com o som da grande banda de Liverpool.


O primeiro single do Klaatu, foi lançado em 1973, mas a especulação sobre a banda ser formada pelo membros dos Beatles, disfarçados, só explodiria mesmo em 1976, quando o LP “03:47 Est”, foi lançado. A começar pelo título do disco, aliás... 
Esse horário em questão, referiu-se ao horário em que a nave do alienígena “Klaatu”, aterrissou próximo ao Capitólio, em Washington / DC, dentro da ficção exibida no filme norteamericano : “The Day the Earth Stood Still”, que aliás, é um dos mais espetaculares filmes com teor "Sci-Fi", já realizados pelo cinema.
Ora, foi justo que a banda fizesse tal citação, visto que o nome da banda era uma ideia extraída justamente da personagem protagonista da película, contudo, a imaginação das pessoas aflorou, pois dois anos antes, o ex-baterista do Beatles, Ringo Starr, havia lançado o LP “Goodnight Vienna”, cuja capa era uma homenagem ao mesmo filme, com o próprio, Ringo, caracterizado como o alienígena “Klaatu” do filme citado, a descero da sua nave, em companhia do gigantesco Robot, Gort. 
O primeiro jornalista a levantar a questão sobre o Klaatu ser uma banda formada secretamente pelos componentes dos Beatles a usar um pseudônimo, foi Steve Smith, do Providence Journal, ao publicar a sua tese, com várias suposições que abalizariam tal suspeita de sua parte. Realmente, as vozes dos rapazes lembravam os timbres vocais de Paul, John e George, principalmente. Solos realizados com o efeito do "slide guitar", com a presença de caixa Leslie como apoio, de fato, eram muito semelhantes ao estilo de George Harrison, como guitarrista. Vocais mais guturais e intensos, lembravam Lennon; os mais adocicados, Paul. 
Muita psicodelia, com vozes estranhas a balbuciar falas desconexas e a passear pelo stereo; cítaras e percussão indiana; solos de guitarra ao estilo “backwards” (montados ao contrário); teclados a estabelecer pontuações; canções baseadas em marcação "staccato" ao piano; uso de violões ao estilo “Folk”; o efeito "flanger" em peças do Kit de bateria; o uso de efeito "fuzz" em solos de guitarra mais agressivos; vocalizações em harmonia; uso de instrumentos de sopro a gerar naipes bem ao estilo da Black Music; eventuais arranjos de orquestras de câmera a fornecer sofisticação erudita; uso de instrumentos étnicos exóticos... 
Como baixista que eu sou, não posso deixar de observar que o baixo do Klaatu seguiu a cartilha Beatle : o som do baixo da marca Hofner, com aquele timbre grave e charmosamente com pouco "sustain", mescla-se ao som do baixo Rickembacker 4001, com a chave de captação ajustada no meio, ao buscar-se o grave metálico e único proporcionado por esse instrumento. Portanto, absolutamente dentro do padrão de Paul McCartney. Nesse quesito, o esmero foi grande, pois em canções mais setentistas, o timbre do Rickembacker é idêntico ao do som que McCartney gerava no Wings, a sua banda nos anos setenta. 
No auge dos boatos, um técnico foi convocado para analisar as vozes dos vocalistas do Klatu e “provar” que seriam os Beatles a atuar, na verdade. Logo surgiu a “confirmação” de que o LP seria na verdade, um álbum engavetado dos Beatles, que teria chamado-se, “Sun”, e descartado com o final oficial da banda, em 1970. Realmente, a capa do álbum do Klaatu tem um enorme sol estilizado, a lembrar a estética dos povos pré-colombianos.


Não demorou e uma outra suposta prova, trouxe de volta a velha mania em buscar-se mensagens subliminares gravadas secretamente nos discos de vinil, e somente passíveis em ser ouvidas, ao forçar-se a agulha do "pick up" de uma vitrola, para forçar ouvir o disco em seu sentido anti-horário. Segundo tais pessoas que acreditavam na lenda urbana, na música : “Sub Rose Subway”, ouvir-se-ia a voz de Paul a dizer : “somos nós, somos os Beatles”... 
Em “Doctor Marvello”, a viagem psicodélica lembra demais “Blue Jay Away” e claro, o nome da canção seria uma citação de outra música dos Beatles, “Doctor Robert”. 
Deliberada ou não, a teoria conspiratória certamente ajudou a projetar o Klaatu, e mesmo quando os seus membros verdadeiros vieram a público e apresentaram-se, finalmente, muita gente ainda continuou a acreditar na farsa, ao alegar que a identificação dos componentes fora uma farsa para ocultar a verdadeira identidade dos Beatles, que estavam a apreciar gravar sob esse manto de invisibilidade. 
A verdade, no entanto, é que o Klaatu foi um trio formado por três músicos canadenses :  John Woloschuck; Terry Drapper, e Dee Long. Tais artistas lançaram alguns singles entre 1973 e 1975, com o primeiro LP inteiro, apenas em 1976.
No ano de 1977, sua canção, “Calling Occupants of Interplanetary Craft”, foi regravada pelos "Carpenters", uma dupla Pop / Soft Rock, formada pelos irmãos, Karen e Richard Carpenter, ao obter sucesso com um arranjo ainda mais "Beatles", muito bonito por sinal.
Além de “03:47 Est”, o Klaatu lançou posteriormente, mais quatro álbuns, até 1981, quando a banda dissolveu-se. Em 1988, a banda fez uma tentativa de volta com o lançamento de mais um disco, mas que não despertou muito interesse público, infelizmente. Somente em 2005, O Klaatu reagrupou-se novamente e lançou um disco acústico e ao vivo. E novamente em 2009, mais um trabalho sazonal foi anunciado (CD “Solology”). A banda mantém um site atualizado e bem recheado com informações sobre toda a sua carreira : http://www.klaatu.org/ 
Lenda absurda à parte, e a descontar o fato concreto que a influência dos Beatles sobre o seu trabalho foi mesmo brutal, o som do Klaatu é bastante agradável para ouvir-se, pela sua qualidade técnica, instrumental e vocal; por conta das melodias inspiradas e sob harmonização rica, a conter muitas variantes rítmicas; arranjos muito bem planejados, ótima produção de áudio, com timbres acentuados e memoráveis para quem aprecia a estética dos anos sessenta e setenta. 
Se tudo foi uma armação proposital criada por marketeiros, eu não posso afirmar, mas a acrescentar um elemento a mais para tal desconfiança, digo que justamente em 1976, houve aquele assédio de um empresário milionário (Sid Bernstein), que teria oferecido uma fortuna para os Beatles reagrupar para um concerto beneficente em prol de populações carentes do planeta, que via ONU / Unesco, receberiam doações de toda a parte para ajudar a erradicar a fome no mundo, em suma, uma espécie de “Criança Esperança“ ou “TeleTon” de alcance mundial. Tal oferta causou frisson, mas os quatro ex-membros dos Beatles prontamente recusaram a proposta, talvez a desconfiar da real intenção por trás dessa proposta. 
Curiosamente, o Klaatu lançou o seu LP com essa sonoridade 100% Beatle, e envolto no mistério total sobre a identidade de seus membros, na mesma época. Ninguém nunca admitiu haver ligação entre esses fatos, mas é no mínimo, uma estranha coincidência... 
 
 
Como diria o ET e “gentleman”, Klaatu, do filme : "The Day the Earth Stood Still", lançado em 1951 (na interpretação do ator, Michael Rennie) : “Klaatu, Barada Nikto”... 

sábado, 9 de abril de 2016

Zé do Caixão Também Assustou nos Quadrinhos - Por Luiz Domingues




Em 1968, o cineasta, José Mojica Marins estava consolidado como cineasta, e a sua fama pessoal como diretor e produtor de cinema confundia-se totalmente com o seu personagem, Zé do Caixão. Por viver um momento midiático total, pois além do barulho pró e contra que os seus filmes faziam desde 1963, quando do estouro de seu filme, “À Meia Noite Levarei Tua Alma”, Mojica estava na boca do povo, a participar cada vez mais de programas de TV, e isso motivou a sua ida para tal veículo, com direito a um programa próprio, nas noites de quinta, quando as suas pequenas histórias macabras, em formato de curta metragem, passaram a ser exibidas.
Sob um efeito dominó, surgiu a oportunidade para intensificar a sua atuação, e assim, uma adaptação do personagem, Zé do Caixão, foi concebida também para chegar às bancas de jornais e revistas, na forma de uma revista em quadrinhos. Gibis a explorar o mote do terror não foi novidade no mundo dos Comics / HQ. Na verdade já era uma tradição em vários países, notadamente nos Estados Unidos, onde o mercado editorial desse segmento detinha uma estrutura industrial, há décadas.
E até no Brasil já havia tal nicho dedicado às publicações com histórias macabras, caso da revista, "A Cripta", por exemplo.

Não por coincidência, os produtores da revista, "A Cripta", estavam envolvidos com José Mojica Marins na produção do programa de TV, “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”,  e do filme longa-metragem, homônimo lançado em 1968. O roteirista Rubens Francisco Lucchetti e o desenhista, Nico Rosso tiveram a percepção genial de que Mojica / Zé do Caixão estava na crista da onda, e dessa maneira, certos de que a revista em quadrinhos seria um estouro, portanto, rapidamente convenceram os mandatários da editora Prelúdio, a investir na produção.
                  Rubens Francisco Lucchetti, um artista genial

Lucchetti era um ótimo profissional, com a desenvoltura de um roteirista experiente para histórias em quadrinhos; cinema & TV, e Rossi, um excelente desenhista, sendo assim, somado ao fato da editora Prelúdio também ter o seu padrão de qualidade reconhecido no mercado editorial brasileiro, o sucesso dessa produção estava praticamente assegurado.
Mais do que ter qualidade, a produção do gibi trouxe ousadia estética. Isso por que ao fugir ao padrão tradicional, fotos dos personagens em ação, foram incorporadas, a misturar o conceito de uma história em quadrinhos tradicional com o formato de uma fotonovela.
Para tanto, procuraram a participação do fotógrafo oficial de Mojica, Luiz Fidélis Barreira que cedeu muito material que detinha em seu acervo, mas mesmo assim, sessões extras de fotos, foram realizadas especialmente para atender as necessidades da revista. Sobre o mote, Lucchetti e Rossi estavam habituados a lançar histórias de terror mais centradas no universo clássico do gênero. Tratava-se de histórias sobre vampiros; lobisomens; espíritos e afins, mas ambientados naquela tradição europeia típica de sabor gótico, a evocar uma aristocracia decadente, com castelos medievais assombrados e abandonados; histórias com bruxas medievais em florestas; seres elementais e / ou diabólicos a denotar a inspiração na fonte do paganismo pré-cristão etc.
Ao associar-se com Mojica / Zé do Caixão, um outro universo abriu-se, para acrescentar um tipo de terror com elementos diferentes, a conter alguma brasilidade até, por esbarrar em tradições folclóricas caboclas; indígenas & afrobrasileiras. Um outro elemento diferenciado, e típico dos filmes do Zé do Caixão, foi o da exploração do sadismo, via torturas e taras sexuais macabras, uma tendência que o cinema de horror norteamericano e europeu só veio a explorar com muita contundência, décadas depois.
Nesse sentido, Mojica também mostrara o seu diferencial, e não foi à toa que o seu cinema despertara a atenção de críticos e outros cineastas, caso de Glauber Rocha, por exemplo, que o considerava um gênio. Com produção gráfica sob bastante qualidade, o gibi teve o seu primeiro número a ser distribuído às bancas brasileiras, em janeiro de 1969.
Batizado com o nome do filme e também do programa de TV, “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, fez obteve sucesso naquele instante e controvérsia também, pois se não houvesse o forte elemento erótico nas suas entrelinhas e tivesse apostado no terror tradicional tão somente, talvez não incomodasse os moralistas de plantão. Apesar do aparente sucesso todo que recebeu, a revista não teve grande longevidade. Após o lançamento do número seis, em junho de 1969, extinguiu-se. E não foi por falta de interesse do público consumidor, diga-se de passagem. Após alguns anos, outras produções em torno das publicações "HQ" a envolver o personagem, Zé do Caixão, surgiriam, mas certamente não tão bem acabadas como foi “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, em 1969.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2016

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Os Kurandeiros - 9/4/2016 - Sábado / 21:00 H. - Santa Sede Rock Bar - Santana - São Paulo / SP

Os Kurandeiros

9 de abril de 2016 

Sábado - 21:00 Horas

Santa Sede Rock Bar

Avenida Luiz Dumont Villares, 2104

Santana

Estação Parada Inglesa do Metrô

São Paulo - SP

Os Kurandeiros :

Kim Kehl - Guitarra e Voz
Carlinhos Machado - Bateria e Voz
Luiz Domingues - Baixo