O Subtotal nasceu no início dos anos 1980, bem no meio do furacão que o movimento BR-Rock 80’s havia gerado. Porém, diferentemente da maioria das bandas surgidas nessa safra, ao se mostrarem orientadas pelas várias vertentes oriundas do movimento Punk e sobretudo da sua continuidade em torno do Pós-Punk (e tampouco pelos admiradores do Heavy-Metal e Hard-Rock oitentista), neste caso o Subtotal se colocou na cena com outro tipo de abordagem e influência.
A formação clássica do Subtotal nos anos 1980
Com admiração confessa pela Bossa Nova cinquentista, movimento tropicalista dos anos sessenta e pela então mais recente, Vanguarda Paulista dos anos 1980, a inspiração não foi exatamente o Rock, mas a buscar misturar a MPB mais vanguardista e sobretudo, urbana na sua constituição sonora e na construção poética de suas letras.
O Subtotal atuou até o final da década de oitenta quando encerrou atividades. No entanto, foi em 2006, muito tempo depois, que surgiu a proposta da banda voltar e nesse aspecto, veio com toda a força, a alimentar uma agenda boa desde então, e melhor ainda, a buscar o registro fonográfico para enfim perpetuar o seu legado artístico.
Dessa forma, foi em 2012 que a banda aproveitou bem a oportunidade de gravar e filmar um show realizado em um espaço famoso de São Paulo, ou seja, o palco do Sesc Belenzinho, unidade localizada no bairro homônimo da zona leste de São Paulo, para produzir um belo CD e DVD ao vivo.
Denominado como: “M.úsica P.ropositalmente B.izarra”, o disco traz um conjunto de onze canções, a maioria composições da banda e mais cinco canções adicionais, uma delas da parte da dupla formada por Lé Dantas e Cordeiro, valorosos compositores egressos dos anos setenta, duas do compositor e violonista osasquense, Eron Meira e duas de Edvaldo Santana, um outro bom artista que se notabilizou por criar uma linha de MPB bem próxima do Blues em sua carreira como compositor e intérprete.
Inclusive, o próprio Edvaldo Santana participou do espetáculo como um convidado muito especial e assim, deixou a sua ótima colaboração no CD e também no DVD que está anexado como um bônus do álbum.
O projeto gráfico do disco é de muita criatividade, a apresentar em sua capa frontal a foto de um automóvel da marca Volkswagen, o popular “fusca”, submerso, no leito do mar (ou de um rio), com a sua carcaça já dominado pela vegetação submarina, portanto a denotar o aspecto do possível naufrágio, por conseguinte a abrir uma gama de possibilidades para promover diferentes interpretações sobre o significado que a imagem possa adquirir.
Na parte interna, há uma foto bem conceitual do equipamento da banda a postos no palco para o show, sob a perspectiva do “headstock” de uma guitarra, portanto, a se revelar um belo click.
E na contracapa a exibir a foto da formação da banda que gravou esse disco e que nos dias atuais se modificou levemente, por conta do falecimento do baixista e backing vocalista original da banda, Gilberto Campos, que não está mais entre nós, lamentavelmente, desde 2015.
No encarte vem assinalado o repertório que consta no disco e na contracapa, há uma ficha técnica boa e a descrição completa sobre a formação da banda nessa ocasião.
Assista a performance de “New Funk”, abaixo:
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=XG84nge1zG8
Sobre o repertório do disco, a primeira faixa, “New Funk” traz como sugere o seu título, um super balançado tema versado pela influência do bom Funk, aquele nobre derivado da Soul Music e do R’n’B e neste caso fortemente adaptado à linguagem da MPB com aquele sabor da Vanguarda Paulista de 1980, e por conta de tal característica, lembra demais o trabalho de Itamar Assumpção.
O groove do baixo, bateria e percussão é muito bom, a interpretação vocal segue aquela linha verborrágica e afiada ao estilo de Itamar, como já salientei e a guitarra solo pontua de uma maneira bastante salutar. Destaque também para a excelente dinâmica que a banda desenvolve, com contrastes muito bem colocados entre a intensidade e a amenidade como um recurso muito bem ensaiado.
A letra fala sobre o amor, mas de uma maneira nada usual, daí mais uma semelhança com a poesia alternativa recorrente entre os artistas do movimento da Vanguarda Paulista. Observe:
“Faz-me desesperar/Eu nunca sei dizer/Parece ser tão fácil ter você/Mas eu me atrapalho/E fico falando coisas inúteis/Tento saber o que você sente/Tenho claro o destino de nós dois"
"Será que a minha presença te incomoda/O tanto quanto a sua a mim/E já nem sei se tenho medo/Ou se tudo o que eu sentia se acabou/As formas do seu corpo/Não atentam tanto quanto ontem/E é uma pena/Que nada entre nós chegasse a ser completo”
Assista abaixo a performance de “Essa Menina”:
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=975n9ZHasJA
“Essa Menina” tem o sabor gostoso de um xote, mas este a se mostrar todo ambientado com uma intenção Pop-Rock ao modo oitentista e assim, poderia tranquilamente ser uma faixa radiofônica.
Em sua letra, há a citação explícita de um verso de uma canção dos Secos & Molhados (“Sangue Latino”), naturalmente a se constituir de uma homenagem e que encaixou bem.
E a instrumentação é toda muito boa, são ótimos músicos e isso soma demais ao trabalho, naturalmente.
Assista abaixo a performance de “Buscapé Xangô”:
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=yEH4uSANM4c
“Buscapé Xangô” é uma canção da dupla, Lé Dantas e Cordeiro, este duo a apresentar relevantes serviços prestados à MPB desde os anos setenta.
Sobre a canção propriamente dita, ela é versada por uma identidade daquela sonoridade que misturava raízes folclóricas com a MPB e a esbarrar no Rock, ou seja, é um tipo de manifestação artística bem setentista em tese, por tal intenção e empolga não só por essa lembrança boa de uma época tão empolgante culturalmente, mas por ela em si, que leva a banda a praticar uma linha de interpretação muito boa.
É ótima a instrumentação, tanto na parte mais amena do início da canção, com ótimas intervenções no arranjo das duas guitarras, quanto na parte mais acelerada e na qual os backing vocals se destacam, além disso, também pelo ótimo final, no qual a percussão se destaca muito positivamente ao ficar isolada e empolgar a plateia.
Assista abaixo a performance de “Energia Primitiva”:
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=wM5K8wZZ3eg
“Energia Primitiva” tem um uma força muito grande a soar Pop-Rock, mas com raiz do reggae bem sutil. Mais uma vez a banda se apresenta muito bem em todos os sentidos. Canção do compositor Eron Meira, tem na interpretação do Subtotal, um requinte muito grande. Gostei do solo de guitarra, bem melódico e também da base do violão bem batido.
Assista abaixo a performance de “Jererê:
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=L33aik2HgFA
“Jererê” é também uma composição de Eron Meira, que apresenta uma bela harmonia no cômputo geral e por ter sido cantada em duo em alguns trechos e neste caso, a melodia se destaca.
Gostei bastante da linha de baixo, muito criativa e que deu uma sustentação excelente à canção. Há um vocalize deveras interessante e enigmático, pois não fica claro se foi disparado durante a realização do show ou se algum cantor não revelado o emitiu da coxia, secretamente, visto que ninguém no palco o entoou pelo que se observa no vídeo, mas que também chama a atenção em seu decorrer.
Assista abaixo a performance de “Nova Ironia”:
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=y5wsOe7NeV0
“Nova Ironia” é a sexta faixa e se trata de uma balada com boa influência da MPB, todavia, pelo viés da Vanguarda Paulista, novamente a lembrar bastante o trabalho do grupo "Rumo", ao menos na minha impressão muito pessoal, não tenho a convicção de que tenha sido essa em específico a influência da banda neste caso.
A guitarra base pontuada por efeitos, com a segunda a estabelecer delicados desenhos com certa menção bluesy, ficou muito agradável. E no mais, baixo e bateria flutuam em perfeita sintonia, enquanto a percussão também cria atmosferas bem amenas, pontuais e muito felizes em suas escolhas. É ótimo o solo de guitarra, embora bem curto.
Assista a performance de “Raios do Oriente Médio” abaixo:
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=MYrqY1PRXfM
“Raios do Oriente Médio” é uma canção do Edvaldo Santana e ele em pessoa foi um convidado especial para abrilhantar a performance do Subtotal.
E o tema é um Blues misturado com o Reggae, com rica melodia, letra poética muito bem construída. A banda a interpreta de uma forma muito competente. Drausio Silva pontua muito bem ao tocar o acordeon e assim enriquece a performance.
Assista a performance de “Dobradinha” abaixo:
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Gt0GB_8JBV4
“Dobradinha” é um tema bastante interessante pela sua condução bem executada. Gostei bastante da base de guitarra com bastante efeito de caixa Leslie, vocal com bom apoio de backing vocals e bateria com batida seca e muito bem tocada, incluso em uma parte levada na divisão “staccato”, muito interessante e também do solo bluesy com ótimo timbre da guitarra.
Assista a performance de “Menina do Poeta” abaixo:
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=01PmaxTq0Lo
“Menina do Poeta” também tem uma intenção Reggae em sua constituição base, porém, na melodia, há um aspecto de inovação mais vanguardista na sua essência a se mostrar como um diferencial.
Em sua letra, o jogo de palavras chama a atenção, como neste trecho, por exemplo:
“A linha ondulante/Cortando sua face/Bordando,
vestindo
Sou corpo ao meu/Que fazes da vida?/Mendigas palavras?/O que diz o poeta ao
papel?/Rouba da mente o inconsciente agente/Detalhas tudo que faz”
Assista a performance de “Toda Dúvida” abaixo:
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=wz54HcQfG60
Já sobre a faixa: “Toda Dúvida”, esta música investe no Rock com aquele viés oitentista, ou seja, versado pela estética Pós-Punk que se mostrara predominante naquela década. Lembra bastante o som de bandas como Titãs, Cabine C, Smack e outras que fizeram sucesso naquela ocasião.
Chama a atenção a intervenção do acordeon conduzido por Drausio Silva, tanto pela execução em si ao pontuar bons fraseados em duo com a guitarra, quanto na sua inclusão no arranjo da canção, por não ser algo muito habitual no cenário do Rock.
“Quem é que não quer ser Feliz” é a última canção do álbum e se trata de mais uma composição de autoria de Edvaldo Santana que a banda interpretou, e diga-se de passagem, de uma forma bem efusiva. A sua sonoridade lembra a grosso modo o som daquela vertente bem setentista do dito estilo do “Samba-Rock” praticado por artistas da pesada tais como: Jorge Bem, Trio Mocotó, Luiz Melodia e outros.
Nesses termos, a banda tem uma performance rica em nuances rítmicas com a percussão e bateria a trabalharem com muita felicidade. Edvaldo Santana a cantou e a sua interpretação vocal também é muito boa, gostei bastante.
O recurso de forçar o efeito do “fade out” natural ao vivo, caiu muito bem, pois forçou a interação da plateia, para depois a banda poder voltar ao tema, girar em sua harmonia mais uma vez e enfim decretar o seu encerramento sob alta vibração.
O álbum tem um padrão de gravação e acabamento final pós-mixagem e masterização, muito bom. Mediante timbres agradáveis, equilíbrio muito feliz nos planos de volume e inteligibilidade perfeita na parte vocal, no tocante às letras. Dessa forma, proporcionou à banda ter um produto de ótima qualidade para ofertar aos seus fãs.
Como um bônus de luxo, há na mesma embalagem a presença de um DVD com o show ao vivo, na íntegra e o padrão da filmagem também se mostra muito bom. Portanto, trata-se de algo mais do que um bônus, mas um verdadeiro presente para o fã do Subtotal ter esse DVD para assistir no conforto do seu lar.
Em suma, o álbum: “M.úsica P.ropositalmente B.izarra" apresenta uma ótima performance ao vivo da parte do Subtotal e assim, a dar uma mostra muito convincente da sua proposta artística.
A atual formação do Subtotal. Em pé, da esquerda para a direita: Rey Bass, Douglas Silva, Drausio Silva e Jurah Di Ann. Agachados: André Piovan e marcos Soledade "Pepito". Foto: Eduardo Soledade
Com o falecimento do ótimo baixista Gilberto Campos, a banda tem nos dias atuais apenas os irmãos Silva, Drausio e Douglas da formação original dos anos 1980, e alguns companheiros que estiveram na gravação do disco de 2012, como os ótimos percussionistas Marcos Soledad “Pepito” e Jurah Di Ann (no disco, o “Pepito” tocou apenas bateria), e doravante passou a atuar com o acréscimo do não menos ótimo baixista e backing vocalista, Rey Bass e do bom baterista, André Piovan.
Mais um detalhe a ser comentado, o título desse álbum contém notadamente uma intenção ousada sob o ponto de vista da sua apresentação nominal, ao demarcar a sua estranheza ortográfica que insinua a experimentação musical como um mote, mas não chega a ser na prática assim com tamanha radicalização que funciona o som do Subtotal. Há sim, flertes com recursos não exatamente tradicionais presentes na música Pop em geral, porém, a proposta do Subtotal está mais para a formatação musical tradicional e não pela aposta no radicalismo experimental mais intenso.
Formação do Subtotal neste disco:
Drausio Silva: Voz, violão, guitarra e acordeon
Douglas Silva; Guitarra, gaita e backing vocals
Gilberto Campos (in memoriam): Baixo e backing vocals
Jurah Di Ann: Percussão e backing vocals
Marcos Soledade “Pepito”: Bateria
Músico convidado:
Edvaldo Santana: Voz e violão nas canções: “Blues do Oriente Médio” e “Quem é que não quer ser Feliz”
M.úsica P.ropositalmente B.izarra foi gravado ao vivo no palco do Sesc Belenzinho de São Paulo-SP, em agosto de 2012.
Editado, mixado e masterizado no estúdio Big Red (www.estudiobigrec.com.br)
Técnico de gravação, mixagem e edição: Mauricio Pastori
Técnico de masterização: Bill Reinikova
Assistente de palco: Pedro Campos
Projeto gráfico e edição de vídeo: Douglas Silva (www.zpolt.com.br)
Produção do vídeo: Visual Design Produtora Audiovisual
Fotos: Alex Mustard (capa) (www.amustard.com)
Sérgio Ribeiro de Barros (contracapa)
Para conhecer melhor o trabalho do Subtotal, acesse:
Site Oficial do Subtotal:
Página no Facebook:
https://www.facebook.com/BandaSubtotal/
Contato direto com a banda:
YouTube:
https://www.youtube.com/channel/UCnviJNyETAEW2qvXgF1eKIw/featured
Spotify:
https://open.spotify.com/album/1sB5e2sGT4DgnO4jFQZcQN?si=4hZmYQpIQJCVcneI2WLwVg&fbclid=IwAR3hDx440QMQGnYdvapMXt2c8roAbkZclaTKwIAa140CLuVQyE3_jpRt_BM&nd=1