Grupo de Rock com destaque na cena brasileira, o "Anarca" foi fundado em 1979, porém as suas raízes remontam a um passado mais longínquo, em torno dos esforços empreendidos pelo seu idealizador, o guitarrista, tecladista, cantor e compositor, Wagner, popularmente conhecido como: Wagner Anarca.
A paixão pelo Rock nasceu cedo para ele, ainda no decorrer dos anos sessenta, com os olhos e ouvidos grudados no monitor da velha TV em preto e branco a assistir e apreciar as jovens tardes de domingo, através do histórico programa de TV, "Jovem Guarda".
E ao mesmo tempo, o talento para o desenho se mostrava visível, na medida em que tudo o que pequeno Wagner absorvia culturalmente, expressava de imediato nas folhas de papel em branco, devidamente registrados na forma de ilustrações que ele criava e pelas quais impressionava os adultos por conta da sua habilidade precoce.
Já na adolescência, o estopim final para que ele mergulhasse no mundo da música veio da sua ida aos shows de Rock que foram abundantes nos anos setenta e de onde ele descobriu e se apaixonou por uma banda em específico, o Made in Brazil.
Inspirado na saga dos irmãos Vecchione, eis que Wagner e um grande amigo que ele arregimentou por conta da total identificação em torno dos mesmos ideais do Rock, fundaram uma banda, enfim, a qual batizaram como "Opção", mas que infelizmente não ultrapassou a fase inicial dos ensaios preliminares de construção do material. A seguir, a dupla Rocker montou outro grupo e este empreendeu voos maiores, ao fazer shows pelo circuito estudantil, este a atender pelo título de: "Shock".
No entanto, esse companheiro de luta montou outra banda e neste caso, falo sobre o saudoso, Lucio Zapparoli, que fundou o "Santa Gang" e Wagner, por sua vez, montou a banda que o marcaria para sempre, a partir de 1979, o "Anarca". A trilhar caminhos diferentes, os dois amigos brilharam a bordo dessas bandas ao longo dos anos posteriores.
Já com o Anarca sedimentado e famoso na cena, eis que a banda cometeu uma tremenda ousadia para os padrões da época, quando lançou um LP duplo ao vivo, que gerou furor pela produção tão avantajada (o Anarca também houvera lançado um compacto).
A banda tocou muito, colecionou muitas alegrias na carreira e angariou um público entusiasmado pela sua obra, mas eis que um dia, Wagner decidiu trocar de ares e se mudou para os Estados Unidos. Lá, ele conheceu músicos norte-americanos com os quais se entrosou muito bem e rapidamente montou uma banda, o "God's Gift", com a qual lançou dois discos, e tocou bastante.
A arte do desenho seguiu firme em paralelo para Wagner Anarca e não apenas para ilustrar as artes para as capas de discos e cartazes promocionais de shows, mas a render uma quantidade grande de livros publicados com a sua arte ilustrativa, com muita qualidade.
Muitos discos solo advieram, até que a ideia de reativar a Santa Gang de Lucio Zapparoli surgiu como uma possibilidade concreta em 2019, mediante a presença decisiva de Wagner a participar ativamente desse processo. Essa história está contada com mais detalhes em outra resenha que eu preparei, justamente para repercutir o lançamento desse disco, cuja produção ficara a cargo de Wagner Anarca, além da sua brilhante participação como guitarrista, logicamente.
Para quem não leu, fica o convite então, para tomar contato mais aprofundado com tal obra, através do meu Blog 1:
http://luiz-domingues.blogspot.com/2023/02/cd-lucio-zapparoli-tributosanta-gang.html
No entanto, eis que de forma súbita e muito triste, o Lucio nos deixou, infelizmente, e esse projeto não teve mais andamento por conseguinte.
O tempo passou a atenuar a ferida pela perda do amigo e foi quando o Wagner anunciou uma nova obra do Anarca, gravada nos Estados Unidos e recheada de grandes músicos convidados entre brasileiros e norte-americanos, a se tratar de um rol de artistas talentosos e também amigos de longa data dele (e alguns deles, amigos meus em comum, devo acrescentar).
Vitaminado com muitos bônus a representar as diversas fases da carreira de Wagner Anarca, além das músicas inéditas apresentadas, são muitas as surpresas sonoras oferecidas e a abranger gravações dos anos oitenta até os anos 2020, portanto este álbum traçou um apanhado geral não somente sobre o Anarca enquanto banda, como da persona de Wagner Anarca através de seus muitos trabalhos bem feitos com outras bandas e sob a condução de sua carreira solo, igualmente.
Com capricho no áudio e na apresentação gráfica, ou seja, duas das especialidades de Wagner, o CD Iron Man is Dead revela um apanhado de Rocks, blues e baladas sob diversas matizes, muito bem executados e com estratégica separação do material de forma bem didática em ordem cronológica decrescente.
Em suma, trata-se de um álbum bem robusto no quesito musical e ricamente ilustrado, inclusive a apresentar diversas páginas de encarte, com muitas fotos dos músicos envolvidos, fotos informais dos artistas e a discografia e bibliografia completa como catálogo, da obra de Wagner.
Sobre as canções, tenho mais algumas observações para acrescentar. Conforme eu mencionei anteriormente, as primeiras canções representam então o Anarca revisto dos anos 2020, através de cinco músicas com identidade moderna dentro do campo do Hard-Rock e do Heavy Metal, algumas até com certa dose de experimentalismo, influência de "Doom Metal" e outras vertentes mais contemporâneas do mundo do Rock pesado.
Para tal missão, ele convocou um especialista, na figura de Wagner Geronimo, vocalista de Heavy Metal brasileiro, famoso no Brasil por seu trabalho com a banda: "Máscara de Ferro" nos anos oitenta e radicado nos Estados Unidos há muitos anos. Também a contar com os ótimos trabalhos do ótimo baterista, Beto Salaberry, e do multi-instrumentista norte-americano, Brian Harelik, com esse quarteto o Anarca atual mostrou o seu lado mais pesado (Pat Scanlon também participou a cantar em uma faixa.
Eis as faixas dessa fase representadas no álbum:
1) Iron Man is Dead
2) Fast Track
3) Sell out Rick
4) I Will Forever
5) Leave it Alone
Daí em diante, o álbum mostra as faixas a representar outros trabalhos feitos pelo Wagner Anarca. Por exemplo, a faixa número seis mostra a participação dele como convidado da "Opera-Rock" composta por nosso amigo em comum, o baixista e compositor, Claudio Cruz, chamada: "O Renascer dos Tempos" ou também conhecida como "Musical Ópera Rock", que inclusive eu também fui convidado a participar e trabalho esse do qual eu pude gravar uma outra faixa.
No caso, a participação dele se deu com a música: "Carmen" neste álbum produzido pelo Claudio Cruz e que foi alojada como a sexta faixa do CD Iron Man is Dead.
A seguir, o disco apresenta um conjunto de canções produzidas em 2018, a mostrar um lado mais Rock'n' Roll, Blues-Rock e Country-Rock, tudo muito bem tocado ao extremo, através das faixas:
7) Tears of Rain
8) Won't you by me (Mercedes Benz?)
9) Tribute MIB (homenagem ao Made in Brazil)
10) My Friend (está no álbum CD "Lucio Zapparoli Tributo/Santa Gang")
11) Pode Esperar
12) Blues dor Brian (também está no álbum CD "Lucio Zapparoli Tributo/Santa Gang")
Uma boa mostra do trabalho que Wagner desenvolveu com a banda norte-americana, "God's Gift" vem a seguir, a exibir Hard-Rock com forte teor Pop midiático e a conter ecos do movimento grunge dos anos noventa. São faixas coletadas de 1997 a 1999, muito bem executadas por seus componentes.
13) Fire in the Hole
14) A Little Paradise
15) All Your Love
A faixa 16 mostra a canção "Sonho Perfeito", cantada em português, gravada em 1990, a conter um som bem característico do Hard-Rock Pop brasileiro da década de oitenta, a me lembrar inclusive o som praticado por uma banda contemporânea do Anarca, a se tratar do "Platina".
Uma canção instrumental, na qual Wagner toca todos os instrumentos e a mostrar doses graúdas de experimentalismo, é a de número 17, intitulada: "Stephaniee's Song"
Uma ótima nova para os fãs mais antigos do Anarca, eis que as faixas 18 e 19, são duas músicas do velho Anarca dos anos oitenta, sob performances ao vivo muito boas e a retratar a boa forma que a banda continha em suas apresentações. São as faixas: "Exposição" e "Contraste".
E para encerrar o álbum, a faixa: "Cartoon" é um trabalho de teclados a conter muitos efeitos sonoros e certamente a destacar a produção gráfica de Wagner como um grande desenhista que ele é.
Em suma, o disco está recheado de boas atrações, é eclético por visitar inúmeras tendências, algumas delas até dispares entre si, os músicos participantes são ótimos em todas as fases retratadas e por fim, o próprio Wagner Anarca brilha intensamente a tocar guitarra, teclados, harmônica e a cantar, além do trabalho de composição, elaboração de arranjos e produção geral.
O disco tem uma apresentação visual excelente e impressiona por tal apuro, além de conter o catálogo completo da discografia e bibliografia de Wagner Anarca e o material é extenso.
Eu, Luiz Domingues) a receber das mãos do músico e ativista cultural, Dalam Junior, a cópia do álbum "Iron Man is Dead" ofertada pelo Wagner Anarca e cuja missão de trazer diretamente dos Estados Unidos coube ao nosso amigo em comum, Dalam, que me entregou o disco em 7 de dezembro de 2023, na estação Klabin do metrô de São Paulo. Click (selfie), acervo e cortesia: Dalam Junior
Para a sua audição, somente existe (por enquanto), em termos físicos como CD tradicional. Talvez seja alojado nas plataformas Streaming e YouTube mais para a frente.
Para encerrar, eu recomendo a audição desse trabalho, certamente, e parabenizo o artista pela qualidade da obra e aliás, da carreira toda como um todo, o que aliás, é bem representado neste álbum.
Ficha técnica:
CD Iron Man is Dead
Gravado ao vivo e também em estúdio sob diversas fases e circunstâncias de 1986 a 2023.
Wagner Anarca: Guitarra, voz, efeitos de voz, harmônica, bateria e teclados (todas as faixas)
Wagner Geronimo: Voz (faixas 1 a 4)
Beto Sallaberry: Bateria (faixas 1 a 5)
Paul Scanlon: Voz (faixa 5)
Brian Harelik: Baixo, guitarra, bateria e teclados (faixas 1 a 6, 10, 11 e 12)
Dan O'Brien: Guitarra, baixo e bateria (faixas, 7,8 e 9)
Lucio Zapparoli (in memoriam): Voz (faixas 10,11 e 12)
Ricardo Kako: Bateria (faixas 10 e 11)
Junior: Bateria (faixa 12)
Derek J. Labor: Guitarra e voz (faixas 13, 14 e 15)
Paul Thomas: Baixo e voz (faixas 13, 14 e 15)
Steve Zingo: Bateria (faixa 13)
Willy Anido: Bateria (faixas 14 e 15)
Ulisses Rocha: Voz (faixa 16)
Fabio Xepa: Bateria (faixas 16, 18 e 19)
Rogério GG: Baixo (faixa 16)
Sérgio Testa: Baixo (faixa 18)
William Kusdra: Baixo (faixa 19)
Para conhecer melhor o trabalho de Wagner Anarca, e banda Anarca, acesse:
Anarca - Discogs:
https://www.discogs.com/pt_BR/artist/1791492-Anarca
Anarca no Blog "Toca do Shark", do comunicador, Alexandre Quadros (o qual agradeço inclusive, pois dessa entrevista que ele publicou com o Wagner, eu extraí informações importantes para elaborar a minha resenha)
http://tocadoshark.blogspot.com/2014/03/wagner-anarca-um-dos-herois-do-som.html
Canal de YouTube de Wagner Anarca:
https://www.youtube.com/channel/UCdtArQwvc-wtUqY0PJf4K9w
Wagner Anarca - Spotify:
https://open.spotify.com/intl-pt/artist/07tqg0R3CNLQyYujZqg9ng
Anarca Site:
anarca.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário