sábado, 15 de junho de 2024

CD: Cantar/Pevê - Por Luiz Domingues

Artista versado pelas mais belas influências no campo do Rock, Blues, MPB e música Folk latino-americana de uma maneira bem ampla, Paulo "Pevê" Valério é também membro daquela confraria de outrora e tão rara nos dias de hoje, ou seja, aquele tipo de artista que presta atenção em tudo o que o envolve de uma maneira arguta e ao captar os sinais no ar, apanha o primeiro instrumento que tiver em suas mãos e transforma tais inspirações espontâneas em música.

Portanto, a sensibilidade é uma das características da obra de Pevê e neste quarto disco, ele mais uma vez nos mostra o fruto de suas observações acerca do mundo, da sociedade e das pessoas, através de um belo conjunto de canções.

Se no primeiro álbum o cartão de visitas se mostrara eclético e no segundo, o lado silvestre se pronunciou mais fortemente, eis que o terceiro álbum trouxe a verve mais Rocker & blueseira, mediante eletricidade e muita energia. 

Desta feita, o álbum "Cantar", quarta obra do artista, nos mostra uma obra com forte identificação com o dito "Rock Rural", a incrível vertente que misturou Rock, MPB e música Folk, a criar um riquíssimo caldo cheio de brasilidade e ao mesmo tempo, antenado na contracultura dos anos 1960, e assim moldar o Folk-Rock Brasileiro da década de setenta.

Pevê bebe muito dessa fonte e assim, foca no aspecto campestre, muitas vezes, embora eclético, não fique fechado apenas nessa vertente, haja vista a diversidade produzida através de seus trabalhos anteriores. 

E neste álbum "Cantar", ficou clara a proposta da mescla. Dessa maneira, ao lado das boas canções silvestres e versadas pelo "Rock Rural", há também os elementos do Blues-Rock, do Hard-Rock (ainda que bem ameno na dosagem), um pouquinho de psicodelia sessentista e do Rock Progressivo.

Pelo aspecto do Rock Progressivo, se trata de uma aproximação natural, eu penso, pois na medida pela qual existe solidificada de uma maneira muito natural uma linha importante existente dentro dessa vertente, ou seja o Folk-Prog Rock é um caminho natural quando se analisa a música Folk pelo viés do Rock, vide o pessoal do "Clube da Esquina" que foi fortemente influenciado por tal linhagem, e assim, Pevê também o fêz de uma maneira magnífica.

Na parte técnica do disco, desta vez o Pevê não convidou muitos músicos e pelo contrário, ele mesmo tocou quase todos os instrumentos e chamou apenas dois amigos para contribuir. É bem verdade que em uma determinada faixa, ele convidou mais dois músicos para gravar tal peça em específico, mas tal história eu faço questão de destacar mais adiante quando falar sobre tal faixa em si. E aliás, há um bonito texto do encarte do álbum, escrito pelo próprio Pevê e que narra com emoção como ele convidou tais músicos a aproveitar uma oportunidade que lhe surgiu.

Sobre o áudio do disco, gostei bastante da sua qualidade, inclusive com a observação dos belos timbres escolhidos para todos os instrumentos, tanto os acústicos, quanto os elétricos, que foram beneficiados por esse apuro. Aliás, a se tratar de uma marca registrada do artista e da equipe técnica que o assiste, haja vista o resultado também dos seus discos anteriores, a preservar o mesmo padrão.

Eu já tive o prazer de escrever resenhas para os três álbuns anteriores do Pevê e ao final desta resenha, disponibilizo ao leitor os respectivos links de todas  essas resenhas, para que se leia ou releia.

Sobre a parte gráfica, a capa do disco não poderia ser mais no espírito do "Rock Rural" brasileiro da década de setenta. Através de uma janela colorida, cheia de vida, ele posa através de uma casa com ares interioranos. 

Lançado bem no começo de 2024, inicialmente apenas de forma virtual, essa obra deverá ganhar versão tradicional via CD, mais para frente, eu acredito.

Sobre as canções que compõem este disco, eu aproveito para deixar mais algumas observações.

1) Quando a Noite Chega

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=V8QeEB0H0OY

Canção rica em docilidade, super setentista na sua essência melódica, apresenta uma carga forte de intervenções muito bonitas da parte das cordas acústicas ali incorporadas ao arranjo.

Em sua letra, sabores e odores tipicamente interioranos são arrolados com bastante poesia, a nos garantir uma viagem virtual ao ambiente bucólico de uma pequena localidade em meio à natureza, daquelas de onde só queremos os nossos livros, discos e nada mais, como diria Zé Rodrix.  

2) Minha Vitrola

Eis o link para ouvir no YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=fcfBzViPXzc

Singeleza é a palavra para traduzir o que essa canção transmite. Uma balada com sabor Blues, que apresenta solidez harmônica, mesmo nas partes mais pesadas, a incluir um certa intenção Hard-Rock, ainda assim, ela é doce na sua concepção, a me fazer lembrar de uma banda que exercia com maestria tal junção, o "Free", ali entre o final dos anos sessenta e início dos setenta. 

E sim, a ideia da "vitrola" é demarcar o quanto esse aparelho de som muito popular em todos os lares de um passado cada vez mais distante, garantiu espaço no coração e mente de todos os Rockers de outrora, ao abrir-nos as portas da percepção, como teria dito, Aldous Huxley, rumo ao infinito em termos de expansão da mente. E digo isso, porque sabemos, o Rock não é só um estilo de música. 

3) Sem Grilo

Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Ggq62SVt-eM

"Sem Grilo" é exatamente o que o seu título sugere, ou seja, a usar da velha gíria dos anos sessenta & setenta, a designar a falta de preocupação com as mazelas "caretas" (para usar outra gíria contemporânea), da sociedade em meio aos seus preconceitos, paradigmas e condicionamentos múltiplos advindos da pior parte da mentalidade pós-revolução industrial com a ideia de se impor a todo custo o hiper consumo e a desumanização dos indivíduos.

A estética nesse caso, é o Rock'n' Roll bem no estilo setentista dos bons tempos de grupos tais como: O Peso, A Chave, Rita Lee & Tutti-Frutti, Made in Brazil e outros tantos, com muita guitarra e teclados bem típicos dessa fase de ouro do Rock brasileiro e tudo deliciosamente alinhado com tal escola.

4) Viver

Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Ggq62SVt-eM

Nesta faixa, a canção tem bastante influência do Blues e também do estilo dos mineiros do "Clube da Esquina", com a guitarra a pontuar muito bem os contrasolos, mediante bom gosto.

5) Mistério

Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=_iDb372g6aM

Trata-se de uma balada com ótima harmonia e melodia na sua resolução final. Há um momento na interpretação a sugerir uma quase declamação da parte do Pevê, ou seja, a evocar a poesia explícita e tudo isso é pontuado por ótimas intervenções de guitarra. 

6) Caminos porteños

Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=xmOcdidCaYI

Exatamente como é sugerido no seu título, tal canção é  de fato, uma ode à música Folk-Rock praticada por nossos vizinhos argentinos e que sim, guarda um manancial gigantesco de exemplos de artistas espetaculares a ser exaltado e diga-se de passagem, "gracias a la vida". 

É belo o trabalho solado da guitarra a conferir o toque Rock e nesse aspecto, não há nada mais porteño, a reverenciar um público ultra Rocker por natureza intrínseca.

7) Amiga

Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=_47QAZktuw8

A Bossa Nova mostra a sua face com uma roupagem "jazzy" finíssima. O violão bem ritmado é enriquecido sobremaneira pelo piano Fender Rhodes, super bem timbrado, e também por uma guitarra viajante com apoio do ótimo uso da caixa Leslie.

8) Mais que um talvez

Eis o link para ouvir no YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=pq4jr1-fP6M

Com um violão a me fazer lembrar bem do Caetano Veloso em sua fase bem minimalista (do disco "Transa", por exemplo), a música ganha balanço mediante o uso de um ótima percussão e do timbre seco, sem ressonância do baixo, a evocar gravações do início dos anos setenta, bem naquela predisposição do som proposto pelos ditos "artistas marginais da mpb", como Sérgio Sampaio e Jards Macalé, além do Caetano citado, ou seja, acho que a inspiração foi baseada nessa ótima tendência proposta por artistas que eu mencionei. 

Claro, fica a advertência de se tratar da minha idiossincrasia, ou seja, foi a minha percepção pessoal e não necessariamente tais colocações correspondam ao que o artista de fato pensou como inspiração.  

9) Natureza

Eis o link para escutar no YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=MVBW0YkrPtc

Um som que lembra bastante o Rock brasileiro dos anos setenta, mostra muita contundência na sua instrumentação.

E ao mesmo tempo, em termos de letra, fica no setor do "Rock Rural" pela construção das imagens propostas, ou seja, é mais um exemplo de inspiração forte que o autor traz dessa estética. 

10) 2020

Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Mjaav6C8dks

Esta é uma canção que traz uma história incrível, além da sua beleza enquanto peça musical e há uma emocionante explicação para tal.
Ocorre que por conta de uma conjunção feliz dos astros, eis que o Pevê teve a felicidade de estar junto a dois grandes músicos históricos do Rock brasileiro e incontinente, não perdeu tempo para convidá-los a gravar. 

Sob uma oportunidade de ouro que a agenda lhe proporcionou, eis que a "cozinha" dos "Secos & Molhados", ninguém menos do que Willy Verdaguer e Marcelo Frias, tocam baixo e bateria nessa faixa, algo que abrilhantou a boa canção.

Eu publico abaixo a parte do encarte na qual o próprio Pevê descreve essa bela história:


Para encerrar, só posso recomendar com ênfase mais um álbum do multi-instrumentista, compositor, cantor e produtor musical, Paulo "Pevê Valério, um artista incansável, dotado de talento, extraordinária força empreendedora e muita convicção nos ideais da contracultura como um todo e que permeiam a sua obra. 

Aproveito como adendo final, para agradecer ao Pevê pela minha inclusão pessoal no seu release oficial do álbum, através de uma fala destacada de releases que eu elaborei sobre seus discos anteriores. 


E abaixo, eis o link para escutar o disco na sua íntegra:
https://www.youtube.com/watch?v=USnJM3MQvV0&t=6s

Leia também as minhas resenhas sobre os três álbuns anteriores do Pevê no meu Blog 1:

CD Pevê:
http://luiz-domingues.blogspot.com/2018/12/cd-peve-paulo-peve-valerio-por-luiz.html

CD Pevê II:
http://luiz-domingues.blogspot.com/2021/06/cd-peve-iipaulo-peve-valerio-por-luiz.html

CD Pevê III:
http://luiz-domingues.blogspot.com/2022/05/cd-peve-iiipaulo-peve-valerio-por-luiz.html

Ficha Técnica:

CD Cantar - Pevê

Gravado nos estúdios Green Box, Jardim Elétrico, e no QG do Pevê/De Poche estúdio móvel, entre janeiro de 2022 e fevereiro de 2023
Técnicos de captura de áudio: Marcelo Stock, Luizinho Maia e Nychollas Medeiros, entre março e novembro de 2023
Mixagem e masterização: Studio de Poche (Paris,França)
Projeto gráfico: Pevê e Pinky Maia
Foto (capa): Cláudia Laurent
Foto da contracapa: Fábio Luiz Kuntze
Edição: Edmar Hédi (Musital)
Produção geral: Pevê

Pevê: Voz, violão nylon, violão de 12 cordas, bandolim, teclados, baixo, guitarra, guitarra (fuzz, slide, rotary), percussão, cuatro venezolano

Músicos convidados:
Leandro "Pirata": Bateria
Alexandre Green: Teclados
Willy Verdaguer: Baixo em "2020"
Marcelo Frias: Bateria em "2020"

Para conhecer ainda mais o trabalho do Pevê, acesse: 

Canal de YouTube: 

https://www.youtube.com/c/PevêPauloValério

Instagram:

@peveguitarra

Facebook: 

https://www.facebook.com/paulovalerio.silva

Spotify:

https://open.spotify.com/imtl-pt/album/7g6AEBGwMf3zASwA5XQv76

Deezer:
https://www.deezer.com/br/album/527723492

Tidal:
https://tidal.com/browse/album/337743608

Contato direto com o artista:
paulovaleriopv1@gmail.com

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