Comédias a satirizar o Rock, internamente, sob a visão dos próprios Rockers,
geralmente são hilárias, casos de “This is Spinal Tap” e “The Rutles”, entre
outras obras nesse sentido. Comédias montadas através da visão externa, de quem
enxerga o Rock como algo estereotipado, também existem, e não necessariamente
podem ser consideradas desdenhosas em sua maioria, ainda que isso ocorra vez
por outra. No caso de “Pop Rocks” (“A Era do Rock”, como foi designada no
Brasil), trata-se de uma comédia romântica leve em via de regra, no entanto, a
contar com o Rock fortemente como espinha dorsal em seu mote e roteiro.
A história é
básica, mas funciona perfeitamente enquanto mote humorístico, a suscitar os
necessários pontos a gerar conflitos em termos de mal-entendidos, para dar
vazão às boas piadas que o filme contou, além de trazer um elemento até
impensável ao tratar-se de uma peça de entretenimento comercial de uma rede de
TV norte-americana, a ABC. Isso por que a questão da vontade de qualquer pessoa
para empreender o que gosta na vida, em detrimento das necessidades do mundo
material e a inerente sanha por dinheiro (ainda mais em uma sociedade
fortemente materialista, como a dos Estados Unidos), foi colocada de uma forma
surpreendente, na sua linha de frente e não apenas tratada de uma forma
subliminar, portanto, um mérito para o filme, mesmo ao se tratar de uma comédia
simples, cuja intenção seria em tese, apenas reunir a família em frente ao
aparelho de TV e provocar risadas inocentes.
Bem, o mote
é o seguinte: uma banda orientada pelo Glam Hard-Rock/Heavy Metal,
tipicamente oitentista e chamada como, “Rock Toxin” estava em seu auge, por
volta de 1982. O seu som era aquele bem característico de tal vertente pesada e
o teor das suas letras, ultrajante, a usar de sexismo e que tais, mediante
gírias de rua, palavrões e trocadilhos infames. No entanto, internamente a
banda apresentava problemas e isso é mostrado quando o vocalista, “Dagger” (um
apelido, que significa, “punhal”), tem uma atitude intempestiva ao quebrar uma
guitarra, danificar amplificadores e abandonar os companheiros em pleno
exercício de uma apresentação ao vivo.
Essa história é narrada por um repórter
de TV que estava a contar a história de tal banda que só gravara um disco; desaparecera
da cena artística depois disso e a grande pergunta ficara para a opinião
pública: onde foi parar o vocalista, “Dagger?” Pois o irascível vocalista
desapareceu e não deixou nenhum vestígio, ao abrir campo para todo o tipo de
especulação e criação de lendas urbanas subsequentes.
Bem, salto
para o futuro, quando chega-se ao ponto presente do filme, então em 2004, e
vê-se a figura do executivo financeiro, Jerry Harden (interpretado por Gary
Cole). É interessante notar que a fusão entres as imagens de 1982 e 2004,
deu-se pelo close em uma tatuagem de um punhal, que o vocalista, Dagger,
ostentava em seu braço, como a autoafirmar o seu apelido/nome artístico. Em
1982, a tatuagem mostrou-se naturalmente bem presente, mas quando a ação do
filme avança, vê-se que quem a ostenta, é Jerry, e claramente é explicitado que
a tatuagem fora retirada e apenas sobrara como resquício, o seu contorno,
levemente visível na pele. Portanto, é revelado ao espectador que Dagger e
Jerry, são na verdade a mesma pessoa.
Ele agora é um homem muito conservador, pai de
família austero e trabalha em um banco. Logo nas cenas iniciais caseiras, a
mostrar a família pela manhã, mostra-se que ele não gosta que o filho use
brincos (Liam Harder, interpretado por Asher Book), e ouça Rock e também exerce
uma marcação pesada sobe a filha adolescente (Olivia Harden, interpretada por
Johanna Braddy), preocupado com o assédio dos rapazes sobre a sua "princesa" etc.
Jerry trabalha
em um banco de pequeno porte, no entanto, a praticar um tipo de ação comercial
extremamente agressiva, bem naquela prerrogativa do capitalismo predatório.
Nesses termos, Jerry segue a cartilha ao ser pressionado a agir assim pelo seu
chefe e também ao demonstrar concordar com tal tipo de tática comercial. No
entanto, eis que tudo começa a mudar quando Jerry vê adentrar a agência em que
trabalha, uma figura absolutamente destoante daquele ambiente engessado.
Trata-se de Izzy (interpretado por David Jensen), o guitarrista do grupo
oitentista, “Rock Toxin”, ainda a usar o visual Rocker, como se estivesse a
viver nos anos oitenta, mediante uma longa cabeleira e pelo uso de um figurino
bastante espalhafatoso e típico daquela década citada.
Bem, Jerry
zela muito pela sua imagem e naquele ambiente conservador radical, ele teme que
alguém possa sequer imaginar que ele conheça uma figura como Izy e menos ainda
que ele mesmo fora, “Dagger”, o irreverente vocalista de uma banda de Gam
Hard-Rock. É evidente que deste ponto em diante, as piadas avolumam-se, pois
todas as confusões geradas para que Jerry tente a todo custo esconder o seu
passado, tanto no ambiente de trabalho, quanto no âmbito familiar, acontecem.
E o que
desejaria, Izy, tantos anos depois? Bem, segundo ele, um produtor
oferecera-lhe um ótimo cachet para que a banda voltasse para uma apresentação
única. Jerry rejeita de pronto, pois não quer de forma alguma dar chance para
que descubram o seu segredo do passado e assim manter a imagem de um homem
conservador e empenhado em ganhar dinheiro para bem prover a sua família.
Um contraponto para reforçar a
tensão e a possibilidade de se gerar mais graça ainda, dá-se quando entra em
cena a figura de Helen Hunter (interpretada por Shannon Eubanks). Ele é esposa
do banqueiro, Carl Hunter (interpretado por Joe Inscoe), onde Jerry trabalha e esta
senhora pleiteia uma vaga no City Council, o que corresponde ao mandato de um
vereador a atuar na Câmara Municipal, em nossa estrutura sociopolítica brasileira. E a
plataforma dessa senhora é baseada no apelo moralista, com ênfase no combate ao
Rock, portanto, um campo aberto para novas piadas.
Nesse
ínterim, o filho de Jerry ensaia na garagem da residência da família, com a sua
banda infantojuvenil e sonha com o Rock, mas Jerry não gosta, entretanto, a
conversa com Izy abriu-lhe uma latente fagulha Rocker, pois o pai emite uma opinião
bem embasada no ensaio dos garotos, a demonstrar conhecimento musical e isso
surpreendente o seu filho, Liam.
Nesse ponto, Jerry descobre que a sua filha
foi admitida em uma universidade, mas ele não dispõe do valor para bancar os
estudos de Olivia e laconicamente comenta com a sua esposa (Allison Harder,
interpretada por Sherilyn Fenn), para que ela não se preocupe, pois ele mesmo haverá
por encontrar uma solução. Bem, Jerry
procura Izy e comunica-lhe que fará o show, pois os setenta e cinco mil dólares
oferecidos para cada componente da banda, revelou-se um valor alto até para os
padrões norte-americanos, em face do que o "Rock Toxin" nunca fora uma banda com
uma mega projeção no meio.
Portanto, tal soma garantiria a faculdade de sua
filha e com sobras. E mais um ponto, Jerry deduziu que pelo fato da sua banda desde
o início ter adotado um visual mediante pesada maquiagem, ao estilo do "Kiss",
poderia portanto cumprir o show sem que ninguém percebesse a sua real
identidade, mas ao longo do filme, essa perspectiva não se cumpre a contento.
Izy aluga
uma casa para a banda ensaiar e claro, a corretora responsável pelo negócio,
foi Helen, a esposa de Jerry/Dagger. Os ensaios começam e a banda está muito
enferrujada. Dagger no entanto, apesar da completa virada que estabelecera em
sua vida, é o membro que mostra-se mais preparado, por incrível que pareça, ao
lado do novo baixista, que é jovem, e portanto preparou-se a contento para
atuar, visto que o baixista original nem aparece. Esse jovem, chama-se: Ramone
Saint (interpretado por Dane Hereford).
O baterista é o original da formação,
Stu (interpretado por Douglas M. Griffin), e mostra-se hilária a cena em que
Jerry/Dagger, chega para ensaiar e Stu foge em desespero, ao imaginar ser aquele
homem trajado com terno e gravata, um agente do FBI.
Izy então comunica aos
demais que antes do show, haverá uma apresentação prévia em uma casa noturna, e
mediante a avaliação do tal investidor é que a banda será aprovada ou não, para
fazer o show remunerado com aquele bom cachet antes aventado. Ora, Izy mentiu
para os demais e Jerry fica muito bravo a ameaçar abandonar o projeto, mas
pondera secretamente que precisa do dinheiro e recua na sua decisão.
Nesse
ínterim, a esposa de Jerry, Helen, pergunta para a secretária da imobiliária se
ela já ouvira falar de uma banda chamada, “Rock Toxin” e a bela moça alega que
a adora e até demonstra possuir um bom conhecimento pela sua citação. Ainda na
imobiliária, a candidata a vereadora está ali para convidar Helen, para chefiar
o seu comitê eleitoral e ao ouvir a conversa sobre o "Rock Toxin" ter alugado uma
casa com Helen, comenta com ar de repugnância: -“é o tipo de gente que não queremos em nosso
bairro”.
Por coincidência, a filha de Jerry & Helen, Olivia, vai a uma
lanchonete, acompanhada de uma amiga de sua idade e o pessoal da banda entra
para lanchar, mas sem o seu pai, quando o baixista, Ramone, flerta com ela e a
mocinha corresponde. Mais confusão à vista, portanto.
Os ensaios
engrenam enfim, com Jerry/Dagger a comandar as ações e a cobrar um melhor
desempenho de seus enferrujados colegas. Enquanto isso, a esposa, Helen, passa
a suspeitar do seu marido, que nos últimos dias tem voltado tarde para a casa,
sem saber dos ensaios e da identidade secreta dele, como o vocalista, Dagger e
assim a desconfiar que ele estivesse a encontrar-se com uma amante. Mais
coincidências e mal-entendidos para gerar confusões engraçadas.
No tal show
teste, a banda tem um desempenho horrível. São muitas as trapalhadas
amadorísticas que arruínam a performance da banda, mas curiosamente, o tal
investidor adora o desempenho, no entanto, por um motivo degradante. A banda fora
aprovada pelo fato do rapaz a ter considerado satírica, visto que as pessoas
riram muito da performance apresentada.
Em princípio, os rapazes se ofendem, mas eles
persistem e aceitam fazer o show remunerado, pelo dinheiro, é claro, todavia
também para redimir-se e calar a boca do sujeito que os humilhou. Para piorar a
situação, Jerry/Dagger, percebera a presença da filha no clube, quando sabia
previamente que ela havia alegado sair para estudar na casa de uma colega e
portanto, a mentir. Ele esforça-se para chegar rápido em casa, e a filha chega
a seguir com livros na mão e a fingir ter estudado, mas o pai a adverte
duramente, pois sabe que ela fora assistir um show de Rock em um clube, bebeu
cerveja e foi paquerada por muitos rapazes. Jerry quase foi desmascarado por causa disso, mas ainda
não foi dessa vez, pois salvou-se ao alegar que alguém contou-lhe ter reconhecido
Olivia, nesse ambiente.
Na verdade,
toda essa história da banda haver se reagrupado, mexera internamente com Jerry.
Antes convicto de sua vida como um austero agente financeiro, obcecado por
dinheiro, Jerry deixou o Dagger que estava obscurecido em seu íntimo, crescer
novamente e a cada dia no ambiente de trabalho, carregado por sentimentos
egoístas e fúteis da parte dos que o cercam, percebe que deseja voltar ao Rock.
Uma coletiva
de imprensa é montada e a banda caracteriza-se com a pesada maquiagem de
outrora. Jerry/Dagger, desespera-se no entanto, quando vê a sua esposa a
acompanhar a candidata a vereadora, no ambiente. A reacionária, Helen, faz
perguntas capciosas e é ironizada fortemente, principalmente pelo guitarrista,
Izy, que é debochado por natureza.
A esposa de Jerry vai ao camarim para tentar
falar alguma coisa e Jerry esconde-se em um closet. Em conversa estabelecida
sob tais condições adversas, com ele escondido atrás da porta, o teor do assunto deriva para o campo pessoal e Helen, sem desconfiar que Dagger é o seu próprio
marido, aproveita para dizer algumas coisas pessoais e Jerry/Dagger, aproveita a situação para
cometer o elogio à si próprio, mas a citar Jerry, logicamente e por ato falho,
profere um galanteio que costuma dizer à esposa, quando lhe diz que ela é “rara
e maravilhosa”.
Hilário, Dagger sai ainda maquiado e paramentado do ambiente e
no estacionamento é violentamente assediado por Helen, a falsa moralista, quando
esta confessa desejá-lo desde 1982, quando assistira o show do "Rock Toxin" a
abrir o "Van Halen" e a seguir, dá-lhe o seu soutien, com o número do telefone
anotado, para que este a procure. Incrível, um filme familiar produzido por uma
rede de TV, com uma abordagem assim a desvelar a hipocrisia pseudo conservadora?
Surpreendente.
Jerry chega
ao escritório, trajado com terno e gravata, mas esquecera-se de extrair a
maquiagem, portanto, gera uma situação hilária, porém muito constrangedora para
ele, naquele ambiente tão austero. Em casa, o filho de Jerry cria coragem e
confessa que gastou as suas economias para bancar a gravação de uma demo tape
de sua banda e a mostra ao pai, mas este o repreende e o menino desaponta-se. O
rapaz acha uma fita K7 com o som do "Rock Toxin" e a escuta com os seus amigos,
quando todos demonstram gostar do som. Ele pesquisa na internet e percebe que a tatuagem
da adaga, que Dagger ostentava no braço em fotos antigas dos anos oitenta, é
igual ao que sobrou em formato, na cicatriz que o seu pai tem e, portanto, fica bastante desconfiado
dessa coincidência.
Então o filho conta
aos amigos que tem certeza que o seu pai é Dagger. A esposa acha o soutien de
Helen no carro, com o número do telefone e parece ter confirmado a suspeita que
o marido teria mesmo uma amante, e pior ainda, por ser alguém muito próxima dela.
Só então, acuado, Dagger revela à família que fora o
vocalista de uma banda Heavy-Metal na década de oitenta. A seguir, Jerry
distribui convites do show do "Rock Toxin" para a sua família e amigos, ao
assumir ser Dagger e assim, alivia-se.
Então, Jerry/Dagger dá o seu grito de
liberdade total quando coloca o som do "Rock Toxin" no escritório, sobe na mesa e
faz uma performance tresloucada a dançar e cantar, para espanto total dos
funcionários do banco e principalmente do banqueiro, que fica furioso. No
entanto, ele inicia um discurso a confessar que é Dagger e a seguir, outros
funcionários vibram aos acordes da canção, “Leather Girl”, pois revelam-se como fãs da
banda, inclusive um cliente, que igualmente revelou-se como um antigo fã e a cantar e dançar de uma forma
comprometedora, para deixar o banqueiro boquiaberto. Bem, Jerry assumiu ser Dagger,
enfim e a postura Rocker venceu o capitalismo predatório dos rentistas sagazes.
No caminho
para o show, Dagger ouve a fita demo da banda do seu filho e surpreende-se com
o talento dos meninos. Pelo caminho, ele envolve-se em uma colisão no trânsito e o
policial mostra-se vagaroso para preencher a ficha da ocorrência, embora Jerry
afirme estar com pressa e quando apela e diz que está atrasado para o show, o
policial ironiza e diz ser "Mick Jagger e quando Keith Richards chegar, o
libera".
Desesperado, Dagger coloca a sua peruca e liga o som do Rock Toxin no
carro, para em seguida cantar e dançar na rua. O policial enfim revela estar
convencido que ele é Dagger e mais do que isso, confessa ser fã da banda.
Pronto, lá vai Dagger a vestir-se dentro da viatura, com o policial empenhado
em levá-lo ao show, com rapidez.
Na porta do teatro, o seu ex-chefe e a esposa,
estão com cartazes a protestar contra o show e Dagger aproveita para dizer ao
vivo para uma repórter de TV que transmitia dali da calçada, que Helen sempre
desejou ficar com ele e entrega-lhe de volta o soutien. Ela fica arrasada por
ser desmascarada em sua hipocrisia moralista ao vivo pela TV e o seu marido,
enfurecido pela traição da esposa.
Quando chega
ao camarim, Dagger vê o baixista Ramone abraçado com a sua filha e enfurecido, agride o
rapaz e este quebra a mão. A banda está atrasada e pressionada pelo produtor,
entra desfalcada, apenas com Izy e Stu a tocar para entreter momentaneamente a
plateia. Dagger entra em cena posteriormente e ao comunicar que o baixista
acidentara-se, convoca o seu filho para subir ao palco e tocar com a banda.
Totalmente inverossímel, é claro, mas o menino entra e toca como se fosse
baixista (ele tocava guitarra em sua banda de garagem), e mais do que isso, com
desenvoltura e a conhecer inteiramente o repertório do "Rock Toxin".
Bem, final
feliz total, pois o show mostra-se um sucesso, Dagger assume fazer o que gosta,
o seu filho é amplamente prestigiado em relação aos seus anseios em relação à
música e a família de Jerry/Dagger, reúne-se em um abraço no palco, perante a
presença do público, a demonstrar que os seus entes queridos aceitam a
verdadeira identidade de seu patriarca e ele torna-se pleno, também, por contar
com o apoio deles.
Muito bem,
final feliz, cabe acrescentar que o filme seguiu a sua proposta de apresentar o
humor leve em tom de comédia romântica, com a típica estrutura de roteiro a
privilegiar os mal-entendidos que dão o tom das confusões com idas & vindas
das personagens. Sobre o filme ter tido o mote do Rock, possibilitou à esta
produção a chance para tocar em um assunto que dificilmente o norte-americano
médio apreciaria assistir, através de um tipo de abordagem pelo ponto de
vista que não seja o tradicional, ou seja, ao quebrar-se um paradigma que é a
pedra fundamental das mentalidade capitalista, em torno do bem-estar material
acima de qualquer outro valor ou aspiração que não baseie-se no esforço diuturno
de se ganhar dinheiro. Ao mostrar a determinação de um homem comum, que abre
mão dessa segurança material em prol de um sonho que dificilmente vai angariar algo
concreto em termos de monetização, para buscar o que realmente ofertar-lhe o
prazer imaterial, da alma, tal filme, mesmo que de uma forma superficial, leve
e aparentemente descompromissado com nada mais sério, além do mero
entretenimento, mostrou uma faceta profunda, por incrível que pareça.
Apesar de
ter sido uma produção barata, com padrão de telemovie, o filme mostra
qualidade, inclusive nas cenas a mostrar a banda em ação, bem concebidas. O som
do "Rock Toxin" segue a proposta de uma banda Glam Hard/Heavy oitentista e o
figurino, ipsis litteris, a lembrar inúmeras bandas norte-americanas desse
período, como o "Mötley Crüe", "Twisted Sister" e similares.
Algumas piadas nesse
sentido do visual Glam oitentista, bem exagerado, são ótimas. É interessante
quando logo no começo, quase que a filha de Jerry flagra o pai a ensaiar em
casa o mise-en-scène antigo e totalmente paramentado com peças de figurino que
mal cabem adequadamente em seu corpo mais envelhecido e robusto. E a maneira
aviltante com a qual o guitarrista, Izy é tratado por ainda usar normalmente
esse estilo, inclusive no cotidiano, também rende boas risadas.
Assim como no
caso do primeiro show, quando o guitarrista, Izy, enrosca a sua cabeleira no
pedestal do microfone; o baterista, Stu, cai do banquinho e Dagger, cai
literalmente, mas ninguém nota pois ele é carregado pelo público, que
interpretara a queda como um mergulho proposital, em torno da prática do
infame, “stage dive”, um conceito bem oitentista.
Isso sem contar o fato de que
o preconceito a imputar ao guitarrista Izy, a pecha em ser um “perdedor”
(“loser”), em cenas onde a sua presença fora rejeitada na agência bancária, é
muito sintomática da mentalidade ultra capitalista, a julgar as pessoas pelas
suas posses acumuladas. Dentro dessa premissa, só é respeitável quem tem muito
dinheiro, e nesse caso, artistas que alcançaram o grande estrelato, são até
tolerados normalmente em seu modo de vida não tradicional, desde que tenha
amealhado muito lastro, caso contrário, aos demais, não bem sucedidos nesse sentido e não importa se legaram
obras incontestáveis sob o ponto de vista da cultura, são considerados
fracassados se a sua conta bancária for baixa.
Bem,
conceitos sociológicos à parte, o filme é interessante, provoca boas risadas e
merece ser visto, mesmo para alguém que não seja um fã da sonoridade
oitentista, meu caso, pois tal detalhe mostra-se irrelevante no cômputo geral.
Mais alguns
atores não citados anteriormente: Wilbur Fitzgerald (como Donaldson), Wendy
Talley (como Joanne), John McConnel (como o simpático policial Rocker), Andrea
Frankle (a secretária, Serafina), Amber Wallace (como Isabel), Matt Stanton
(como Ronnie Frank), Chip Julien (como Chip) e Sannon Floyd (como Lilly).
Dirigido por Ron Logomarsino, foi lançado em
setembro de 2004, com discreto resultado imediato. Recebeu críticas amargas por
ter sido considerada uma comédia ingênua, o que de certa forma, é verdade,
portanto, tirante esse fato inerente, como já observei, a obra teve os seus
méritos, sim, apesar do seu caráter prosaico, ou seja, os jornalistas
profissionais não tiveram a devida paciência para buscar entender por outro
ponto de vista.
Típico filme feito para a TV, logicamente que foi reprisado
muitas vezes em canais especializados em comédias e também em canais a focar em
música. Foi lançado em formato DVD, disponível em sites para a sua aquisição.
Está também alojado no YouTube para ser acessado, em versão integral.
Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll", em seu volume III, e está disponibilizada para a leitura a partir da página 137
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